terça-feira, 13 de abril de 2021

Breve Historial dos sistemas de informação

Nos dias de hoje a informação é considerada o principal activo da sociedade. Ter a informação certa no momento certo pode representar a diferença entre o lucro e o prejuízo, entre a decisão correcta e a errada, entre sucesso e fracasso.

Porém, essa importância não é consequência do desenvolvimento dos computadores, antes esta importância foi se consolidando ao longo dos anos, sendo os computadores a consequência desta consolidação.

Assim, de acordo com Bio (1991); Braga (1996), a evolução da escrita se apresenta como a primeira estruturação da informação, permitindo sua reprodução de geração em geração. Antes da escrita, boa parte do conhecimento se perdia, pois esta era passada de forma verbal. A escrita permitiu que esse conhecimento ficasse registado e se perpetuasse na história. Porém, a utilização dos escribas como meio de reprodução da informação era ineficiente, além do risco ao conteúdo, inerente ao processo. A importância dada à informação motivou o primeiro grande salto tecnológico da informação: A prensa de tipos móveis, Inventada por Bi Sheng na China entre 1041 e 1048 e aperfeiçoada e popularizada por Gutemberg por volta de 1439, se tornou o primeiro salto tecnológico da informação, bem como o alicerce do desenvolvimento tecnológico da humanidade.

Quando Martinho Lutero liderou a chamada reforma protestante, uma das suas primeiras acções foi traduzir a Bíblia, livro sagrado do cristianismo, do latim para o alemão e disponibilizá-la de forma impressa para a população. Tal acção serviu não só para disseminar informação e conhecimento acerca das escrituras e fortalecer a crença na sua doutrina, mas também teve papel relevante na evolução e aperfeiçoamento da língua alemã (Bio, 1991; Braga, 1996).

Por conta da evolução tecnológica, o mundo também presenciou a primeira consequência da má utilização das tecnologias aplicadas a informação: A Bíblia maldita. Por conta de um erro tipográfico, em 1631, foi publicada uma versão da Bíblia esquecendo-se do “não” do nono mandamento, sendo este impresso como “Cobiçarás a mulher do próximo”, e que custou aos responsáveis uma multa de $300 libras – equivalente a algo próximo a $44.000 libras nos dias actuais – além da revogação do direito de imprimir a Bíblia e muitos problemas na relação do povo com o texto sagrado (Cautela & Polloni, 1982).

A evolução do conhecimento e das tecnologias ao longo do tempo permitiram o surgimento da revolução industrial, quando houve uma drástica mudança na forma de se produzir, surgindo junto a necessidade de entender como o processo de produção acontecia, pois era fundamental para a lucratividade do negócio. Desde então o ser humano começou a estruturar as informações de maneira que pudesse acessá-la da forma rápida, simples e o mais confiável possível.

Não existe uma data definida para o início da revolução industrial, antes, foi um processo lento que durou algo em torno de 80 anos, entre 1760 e 1840. Marcando o fim do período feudal, a revolução industrial inaugurou uma nova forma de produção. O desenvolvimento da máquina a vapor e os avanços na utilização do ferro favoreceram a produção em larga escala, o que transformou o modo de vida e ampliou o acesso aos produtos no mundo inteiro.

Neste mesmo período houve uma das mais importantes evoluções na gestão da informação: O surgimento da contabilidade de custos e da contabilidade gerencial. Com a produção baseada em máquinas evoluindo de forma significativa, o controlo dos custos tornava-se cada vez mais complexo, especialmente pelo volume e complexidade da produção. Passar a ter controlo efectivo sobre estes custos e seus impactos nos resultados das empresas se tornou imprescindível para a evolução dos sistemas de produção, que precisavam ser rentáveis para que pudessem manter os investimentos necessários que o manteriam viáveis comercialmente. Pamplona (1998, p. 2) cita que as primeiras organizações a desenvolverem sistemas de contabilidade gerencial foram as tecelagens de algodão nos Estados unidos, aproximadamente em 1812.

Em 1858, motivados pelas relações comerciais, o americano Charles Field e os britânicos Charles Bright com os irmãos John e Jacob Bret fundaram uma empresa e lançaram um cabo telegráfico entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Apesar do fracasso do empreendimento, já que o cabo falhou poucas semanas depois de inaugurado, foi lançado oito anos depois uma solução definitiva para a comunicação intercontinental, reduzindo assim o tempo das comunicações entre os dois países da casa de aproximadamente dez dias para questão de minutos, o que agilizou a obtenção de informações para o processo comercial e de produção.

Para Oliveira (2004) com o passar do tempo a evolução, não só dos processos de gestão da informação mas também das tecnologias, em especial da electrónica, permitiu ao ser humano armazenar cada vez mais informação e de forma cada vez mais simplificada. A partir da sétima década do século XX, com o avanço da electrónica, popularizou-se o armazenamento e o processamento electrónico das informações, o que causou um salto de qualidade nas informações disponíveis, aumentando em muito a qualidade das decisões corporativas.

O grande salto evolutivo nos sistemas de informação aconteceu nos anos 1980, com a popularização dos computadores. A globalização, segundo Boaventura (2001) que teve início no final dos anos 70 do século XX, aumentou significativamente as transacções comerciais entre as nações, o que impactou directamente a produção das empresas. Apesar de existir um sistema de gestão de informação estruturado sendo utilizado pelas empresas, este possuía limitações operacionais, por conta do volume de informação que ele poderia conter sem perder a agilidade na manipulação destas, e de custos, por conta do número de pessoas que seriam necessárias para manipular um volume muito grande de informações.

O Computador rompeu esta barreira e permitiu manipular um volume significativo de informação que, de outra forma, não poderia ser manipulada com precisão e segurança. Além da velocidade na manipulação de informações, os computadores permitiram também a redução no número de pessoas necessárias para manipulá-las, bem como impactou de forma significativa o tempo necessário para a tomada de decisão. Com isto houve uma redução significativa nos custos indirectos da empresa, bem como um aumento significativo na qualidade do processo de tomada de decisão.


Referências Bibliográficas

Bio, B. F. (1991). Sistemas de informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas.

Boaventura, I. A. G. (2001). Fundamentos organizacionais de sistemas de informação. Unesp.

Braga, A. (1996). A gestão da informação. Portugal.

Cautela, A. L. & Polloni, E. G. F. (1986). Sistemas de informação. Rio de Janeiro: McGraw-Hill,.

Oliveira, D. P. R. (2004). Sistemas de informações gerenciais: estratégias, tácticas, operacionais. 9 ed. Atlas. São Paulo.

Pamplona, E. O. (1998). A contabilidade Gerencial. São Paulo: Ed. Pioneira volume.




[1] Idem, CAUTELA e POLLONI (1982)

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

História de Moçambique: Moçambique no auge do colonialismo, 1938-1944

História de Moçambique: Moçambique no auge do colonialismo, 1938-1944

A Reestruturação da Sociedade Moçambicana, 1938-1944

1.1 Características gerais do período 1938-1944

Uma característica desse período é que havia procura renovada de matéria-prima. Assim, em 1938, o estado português começou a desenvolver métodos novos e mais eficazes para o aumento da produção de algodão nas colónias. Se bem que a produção em Moçambique tivesse aumentado, entre 1931 e 1937, isso representava apenas cerca de 20% das necessidades da indústria têxtil portuguesa.

Uma das matérias-primas que era buscada era o algodão e com a crescente procura mundial, o preço do algodão no mercado internacional aumentou. Foi nesta altura que a indústria têxtil portuguesa recebeu um grande estímulo para o seu desenvolvimento através do acesso ao mercado têxtil em Espanha, cujas fábricas diminuíram a produção durante a prolongada guerra civil que atingiu esse país europeu (1936-1939).

Pressionado pelos proprietários da indústria têxtil, o governo de Salazar alterou o antigo sistema de prémios financeiros e criou instrumentos administrativos capazes de fomentar, directa e mais eficazmente, a cultura e comercialização do algodão. O seu objectivo era garantir a auto-suficiência em algodão, a preços baixíssimos, dentro do chamado “Império Português”.

O governo português, através de legislação para o efeito, passou a poder controlar, a partir de Lisboa, todos os aspectos da produção e comercialização do algodão nas colónias. Lembremos que Moçambique era uma das suas colónias. Deste modo, criou-se, em 1938, a Junta de Exportação de Algodão Colonial em que a sua sede estava localizada em Lisboa. Através deste organismo, o governo pretendeu estabelecer um maior controlo sobre as companhias concessionárias em Moçambique. O sistema de produção camponesa mantinha-se, e as companhias obrigaram-se a desenvolver, mais activamente, a cultura do algodão em concessões alargadas. Toda a exportação tinha de ser aprovada pela JEAC, caso não, perderia as suas concessões.

Para além da crescente procura do algodão, a II Guerra Mundial, que durou de Setembro de 1939 até Setembro de 1945, e que envolveu todos os países industrializados, provocou graves perturbações no comércio mundial de matérias-primas. Esse fenómeno afectou muito a economia moçambicana, e o país era o maior fornecedor desses recursos. Desenvolveu-se uma guerra marítima de grande envergadura, em que cada beligerante procurou estabelecer o controlo exclusivo sobre as rotas do comércio, assegurando dessa forma, o fornecimento de matérias-primas para garantir o aumento da sua produção industrial bélica. Por outro lado, cada um dos blocos em conflito pretendia impedir, ao seu oponente, o acesso às fontes dessas matérias-primas, como forma de enfraquecer a respectiva indústria.

As enormes perdas de recursos provocadas pela guerra (por exemplo, navios carregados afundados) e a produção industrial elevada tiveram como resultado a elevação dos preços das matérias-primas. A Grã-Bretanha, em especial, pagava altos preços pelas suas importações de produtos alimentares.

A deslocação do comércio marítimo e dos mercados mundiais reforçou a estratégia da burguesia portuguesa em se abastecer com diversas dificuldades de matérias-primas das suas próprias colónias, incluindo o algodão. Além disso, Portugal, aproveitando a crescente procura internacional de matérias-primas, foi grande fornecedor de produtos das suas colónias aos blocos beligerantes.

Portugal utilizou a sua neutralidade de modo bastante lucrativo e em benefício da sua própria acumulação. Os dirigentes colonialistas portugueses apresentaram a guerra como um “flagelo necessário”, a suportar por todas as partes da Nação. Era a 'economia de guerra', de 1939 a 1945, que se podia resumir no seguinte:

i. Um processo de acumulação maciço de capital, centralizado, pelos mecanismos do estado corporativo, na grande burguesia industrial e bancária portuguesa com as suas ramificações coloniais;

ii. um processo de acumulação assente na sobre exploração dos trabalhadores e no saque colonial. A não participação na Guerra e a posição ambígua face aos blocos em conflito, irá permitir o reforço da posição de Portugal a nível do comércio externo, com base no aproveitamento das matérias-primas de Moçambique e das outras colónias.

1.2 Capital português e, reorganização da administração colonial

A história diz que as circunstâncias da guerra facilitaram também a crescente substituição do capital não português em Moçambique por capital português que, após dez anos da política económica de Salazar, já tinha atingido um certo nível de acumulação. No fim da década de 30, a burguesia portuguesa procurou colocação segura, garantida pelo estado, para os seus capitais e investimentos.

O exemplo mais evidente deste processo foi a transformação da Société Colonial Luso-Luxembourgeoise, antiga concessionária de algodão no norte de Moçambique. Depois da ocupação do Luxemburgo pela Alemanha, o ministro português das colónias julgou conveniente encorajar capitalistas portugueses a pagar 50 milhões de escudos aos antigos proprietários pela sua parte na companhia (Baptista, 1962). Em 1942, esta sociedade foi absorvida pela Companhia dos Algodões de Moçambique que, recém-constituída com capitais portugueses e detendo o monopólio da produção algodoeira de Nampula e de vastas regiões de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia, se tornou, de longe, na maior companhia de algodão em Moçambique.

Em 1943, o governo português legislou sobre a actividade de capitais estrangeiras em Portugal e nas suas colónias. Foi então promulgada a Lei de Nacionalização de Capitais, a qual explicitava que a exploração de serviços públicos, actividades em regime exclusivo ou quaisquer outras de interesse fundamental para a defesa do estado ou para a economia, só seria permitida a empresas portuguesas. A lei especificava que empresas portuguesas eram todas aquelas em que pelo menos 60% do capital fosse pertença de portugueses.

Em 1940, chegou a Moçambique um novo Governador-Geral: José Tristão de Bettencourt. Homem da máxima confiança nos círculos dirigentes portugueses, Bettencourt teve o papel de dinamizar o aparelho de Estado colonial no sentido de coordenar, de uma maneira mais rigorosa do que anteriormente, a produção nas zonas rurais de Moçambique, para que a burguesia portuguesa aproveitasse plenamente as circunstâncias da Guerra.

2. As culturas forçadas

2.1 Mercado de Nametil, Nampula.

Os baixos preços e vigarices praticados nos mercados de algodão provocaram a constante resistência dos produtores. De facto, a partir de 1938, o cultivo do algodão, nas concessões reorganizadas, iniciou uma longa luta entre os produtores camponeses por um lado, e as companhias e administradores por outro, que decorreu numa primeira fase até 1942, e durante a qual foram elaborados, passo a passo, os mecanismos de um sistema de cultura forçada.

2.2. Generalização da cultura obrigatória

Em reacção à crescente resistência à cultura do algodão em vastas áreas, as Companhias e o Estado colonial começaram a desenvolver os seus métodos para forçar o cultivo, quaisquer que fossem as condições dos solos. Os meios de intimidação utilizados incluíam os sipaios, agentes da administração colonial, cuja função era geralmente acompanhar os recrutadores de mão-de-obra forçada. Do ponto de vista da burguesia portuguesa, a expansão do uso de tais métodos violentos de compulsão obtiveram o efeito desejado.

Em 1941, a produção do algodão excedeu a de 1939, o primeiro ano da propaganda generalizada. Então, em 1942, os jornais de Lisboa orgulhavam-se ao anunciar que a produção do algodão colonial passara a cobrir mais de 90% das necessidades portuguesas, comparada com os 40% dos dois anos anteriores, sendo a maior parte produção moçambicana.

2.3 O cultivo forçado de arroz

Para além do reforço da política já estabelecida para a cultura de algodão, as circunstâncias da II Guerra Mundial exigiram uma nova política para a cultura de arroz. Na década 1929-1939, a produção e comercialização de arroz em Moçambique diminuiu, tornando-se mais barato importar arroz a granel do sudeste asiático (via Singapura). Esta importação atingiu cerca de 11,000 toneladas em 1939 (Rego, 1942).

No entanto, a redução significativa da navegação comercial e o desenrolar dos acontecimentos políticos no sudeste asiático, nomeadamente a expansão do Japão e a queda de Singapura em seu favor, provocaram a interrupção no fornecimento do arroz. Em resposta a esta última situação, e para promover a auto-suficiência em arroz, o governo colonial decidiu introduzir a produção obrigatória do arroz.

Os concessionários deviam distribuir as sementes, fertilizantes e sacos, tendo cada homem que cultivar um hectare e cada mulher meio-hectare. O arroz devia ser vendido pelo camponês apenas ao concessionário, a um preço baixo, fixado pelo governo. O concessionário processava e revendia o produto, enriquecendo-se, dessa forma, em todo o processo de comercialização.

Paisagem da cultura da Chá, Gurúè, Zambézia

Tendo a II Guerra Mundial despertado a procura de todas estas matérias-primas, os proprietários das plantações começaram, simultaneamente, a dinamizar a produção, necessitando, por isso, de urgentes e maiores fornecimentos de mão-de-obra.

Essa procura foi acentuada pela política de culturas obrigatórias: a produção forçada do algodão e do arroz levou a que muitos homens, nas zonas em que a venda de tais produtos era suficiente para pagar o imposto, deixassem de ter interesse em serem trabalhadores sazonais nas plantações. Na verdade, em áreas de solos apropriados e havendo boas condições climatéricas, o cultivo de algodão podia ser mais lucrativo do que o trabalho na plantação.

Actuação do governo colonial face à crise de mão-de-obra

Em reposta às crescentes queixas dos proprietários das plantações, que desejavam apropriar-se dos lucros rápidos que se podiam obter com os preços praticados durante a guerra, o Governador-Geral visitou as províncias do Norte para apreciar a extensão da crise. Na Zambézia, província mais afectada, o governo reuniu pela primeira vez os dados populacionais de cada administração. Para toda a província, o total de homens disponíveis era adicionado de mais 40 mil homens, número suficiente para resolver a crise de mão-de-obra nas plantações. Com tais informações, Bettencourt optou por uma solução administrativa para obstar a falta de 'incentivo' para o trabalho nas plantações.

Reforço dos auxiliares administrativos: régulos e sipaios

Uma outra política, dinamizada por Bettencourt, na reorganização da força de trabalho rural, dizia respeito aos poderes dos régulos. Uma cláusula da circular 818/D7 deu aos régulos, quando fossem encarregados nesse sentido pelos administradores e chefes de posto, o papel de reunir aqueles que não tivessem cumprido integralmente as suas obrigações, a fim de serem distribuídos pelas empresas que precisavam de mão-de-obra.

Contudo, segundo Bettencourt, a divisão dos chefados tradicionais tinha sido demasiado grande, nos decénios que se seguiram a conquista colonial, e o poder da maioria dos chefes ficara reduzido a tal ponto, que eles eram mais símbolos de decadência do que de autoridade.

Em 1944, o regime colonial completou uma reorganização profunda de toda a política referente aos 'auxiliares' da administração civil, nomeadamente os sipaios, intérpretes e régulos. O regulamento promulgado detalhava exaustivamente os deveres dos régulos, chefes de grupos de povoações e chefes de povoações, preconizando o seu papel fundamental como "executores" da "intervenção superior portuguesa".

Desta reorganização, nos anos seguintes, tiravam alguns régulos proventos consideráveis, como: percentagem do imposto de capitação, prestações de serviços dos camponeses nas suas próprias machambas de algo dão e outras culturas, multas aos infractores das leis coloniais e tradicionais, pagamento de tributos em dinheiro, aquando de cerimónias e ritos, etc.

4. A estrutura de produção e as suas consequências

4.1 Crescente exploração do campesinato

A crescente taxa de exploração, que exigia a manutenção e até a intensificação da pressão administrativa, pode-se avaliar através do custo de vida. Nas zonas rurais, a medida habitual disto era o preço de tecidos de algodão, o produto transformado mais procurado. Informações da Zambézia e de outras zonas do Norte mostram que, no período da Guerra, o preço dos panos subiu 300% em relação ao valor que tinham antes da Guerra, descendo substancialmente na sua qualidade e duração.

De facto, a indústria portuguesa, agora sem concorrência dos Indianos e Ingleses, vendia produtos de qualidade inferior nas suas colónias. Um inspector colonial chegou mesmo a aconselhar a população, através dos régulos, a poupar o seu pouco dinheiro na esperança da chegada de melhores tecidos, depois da guerra.

Da mesma forma, a maioria dos contratados continuou a receber o salário mínimo estabelecido em 1930. Se uma minoria de trabalhadores das fábricas recebia 2$50 escudos por dia, sem alimentação, esta remuneração representava uma diminuição considerável, se se considerar a inflação dos preços, especialmente dos tecidos. O custo da alimentação também aumentou, rapidamente, durante a Guerra. O custo fixado para alimentação, nas plantações do norte, em 1930, foi de 50 centavos. Em 1944, 1 escudo já não era suficiente: a alimentação fornecida aos soldados custava 2$70 por dia, o que explicava o facto de não faltarem homens a oferecerem-se para o recrutamento militar, onde o trabalho, em tempo de paz, não se comparava, em dispêndio de energia, com o do trabalhador rural, que passava 9 horas de enxada na mão.

No Sul do Save, onde o nível de salários e impostos era mais alto, agravou-se também a inflação de custos. O próprio Governador propôs um aumento de 25% dos salários, para evitar manifestações de descontentamento (Rego, op.cit., 1944, p.395. 26. Ibid., p.362.126).

A elevação de preços, incluindo o dos géneros alimentícios, colocou o camponês de todo o país numa situação muito difícil. Com efeito, um hectare de amendoim rendia, normalmente, 700 escudos e com menos trabalho que um hectare de algodão, que dava, na melhor das hipóteses, apenas 200 escudos. No entanto, ainda em 1944, o Governo-Geral diminuiu, ainda mais, o preço de compra do algodão. Pode dizer-se que a força policial e o clima de tensão foram, cada vez mais, necessários nas zonas rurais para induzir o camponês a produzir algodão, quando estava mais interessado em produzir outras culturas.

Em Chemba, nesse mesmo ano, um agricultor, com a ajuda das suas 12 mulheres e 24 filhos, produziu 250 sacos de algodão e 1.070 sacos de mapira. Com a venda de 500 sacos de mapira, a 50 escudos cada um, realizou 25.000 escudos, para além do valor do algodão. Em Matire, distrito de Buzi, 3 agricultores de arroz conseguiram, apesar das cheias que assolaram a zona, vendas no valor de 6.600, 7.200 e 13.200 escudos. Quase todos os agricultores destas zonas pediram, às autoridades, ajuda na aquisição de equipamento, como charruas de disco e tractores para obviar as perdas em bois abatidos pela tripanosomiase, e camiões para assegurar o transporte conveniente.

Desejavam aumentar os seus rendimentos, através de produção mais intensiva e da sua participação na rede de transportes e comércio rural, que rendiam maiores lucros, mas eram normalmente monopolizados pelas empresas coloniais (incluindo comerciantes asiáticos).

No sul, apesar do aumento do número de agricultores negros com charruas e bois, a subida dos preços atraiu novos machambeiros brancos aos melhores solos, originando, por conseguinte, a expulsão dos negros.

Nesta região, também, os interesses dos criadores de gado negros entraram, cada vez mais, em choque com os dos criadores brancos e as necessidades da capital colonial. Na altura do cancelamento das importações de carne da África do Sul no início da II Guerra Mundial, em vez de aumentarem a quantidade de cabeças proveniente de criadores negros para abate no matadouro municipal ao preço de compra estabelecido para os criadores brancos, promoveram várias campanhas para venda compulsiva de gado. A venda fazia-se em feiras especiais, nas quais eram oferecidos preços geralmente baixos aos criadores negros.

Isto originou uma forte resistência destes criadores porque, além do preço baixo, surgiram dúvidas sobre o destino do gado vendido. Suspeitava-se que era, em parte, acrescido às manadas dos brancos, o que foi confirmado pelo Chefe dos Serviços Agrícolas, em 1944 (Grilo, 1946). Como resultado destas aquisições, no mesmo ano, a Cooperativa de Criadores de Gado, que representava os criadores brancos, fornecia já um número considerável de cabeças de gado para abate. Esta organização, numa tentativa de aumentar os seus lucros, começou a pressionar as autoridades para reduzirem a compra, para abate, aos criadores negros.

No período da Guerra aumentou, consideravelmente, o número de moçambicanos que trabalhavam temporária ou permanentemente nos territórios vizinhos.

Segundo as estatísticas oficiais, o número de trabalhadores moçambicanos, na África do Sul, passou de 105.286, no começo de 1940, para 137.676, no fim de 1944. Na Rodésia do Sul, no mesmo período, de 68.304 passou para 93.977.

Neste país, a partir de 1940, o número de trabalhadores moçambicanos ultrapassou o número proveniente dos fornecedores tradicionais, nomeadamente, Niassalândia e Rodésia do Norte.

Este aumento explica-se pela conjunção de dois factores. A crescente actividade produtiva destes países, que aumentaram, rapidamente, o fornecimento de matérias-primas a Grã-Bretanha e construíram novas indústrias locais, capazes de substituir importações daquele país, provocou uma grande procura de mão-de-obra. Moçambique, país já constituído como reserva de mão-de-obra, estava em condições de responder, prontamente, a essa procura, porque as más condições de vida, causadas, particularmente, pelas culturas forçadas e pela elevada taxa de exploração absoluta, estimularam a saída de muitos trabalhadores, atraídos pelos melhores salários oferecidos, nesse tempo de expansão económica.

Verificam-se, porém, ligeiras alterações no destino que levavam os migrantes moçambicanos. Por exemplo, deu-se uma redução do número de migrantes para as minas do Rand, onde os salários estavam fixados em 3 libras (300 escudos), enquanto aumentava o número dos que iam para as plantações de açúcar do Natal, onde se pagava 4 libras (Legassick & Clerq, 1978).

5. A resistência ao colonialismo

A crescente exploração colonial provocou, novamente, uma forte e contínua resistência do povo moçambicano, particularmente, contra as culturas forçadas, que afectaram simultaneamente vastas áreas do país de norte a sul.

5.1 A resistência generalizada às culturas forçadas

Os camponeses, submetidos a uma intensa exploração, reagiram das mais variadas formas: são numerosos os exemplos dessa resistência, que se verificou em tão diversas regiões de Moçambique.

Em 1939 a 1940, os administradores de áreas próximas das fronteiras com a África do Sul e Suazilândia assinalaram que algumas famílias preferiam incendiar as suas próprias palhotas e atravessar a fronteira a cultivar o algodão. Igualmente, em Cabo Delgado, recomeçou a emigração de famílias para o Tanganhica, logo após a introdução da cultura forçada do algodão. O mesmo aconteceu em áreas mais distante da fronteira, como Manjacaze, em Gaza.

No fim da campanha agrícola de 1940, em Mulevala, ao norte da Zambézia, alguns camponeses preferiram queimar as suas colheitas a receber as somas baixíssimas, que os seus vizinhos tinham recebido, o correspondente a uma média de 11 escudos por cultivador.

5.2 O movimento associativo

A II Guerra Mundial foi, para toda a África, de uma importância decisiva. Os africanos das colónias não-portuguesas foram largamente utilizados, dentro e fora da África, integrados nos exércitos coloniais. O chamado 'esforço da guerra' tinha levado, ainda, à intensificação da produção e da exploração do trabalho, nos vários países colonizados. Disto resultou a morte de milhares de africanos nos teatros de guerra (estima-se que só a África oriental terá perdido cerca de 50 mil homens).

Nas então colónias portuguesas, o impacto das transformações também se fez sentir, salvaguardadas algumas diferenças. Se nas outras partes de África, incluindo a África do Sul e a Rodésia do Sul, os partidos e os sindicatos se apresentaram como os núcleos nacionalistas mais activos, em Moçambique e nas outras colónias portuguesas esse papel ficou circunscrito as associações. De facto, o atraso do desenvolvimento económico, a acção controladora e repressiva do colonial-fascismo, e a política deliberada de 'assimilação' não permitiram que as associações se transformassem em verdadeiros partidos.

A vida e acção destas associações continuavam a processar-se segundo duas perspectivas. De um lado estavam as autoridades coloniais, que mantinham o controlo e a vigilância sobre a camada que se agrupava nas associações e na qual confiavam como agentes da sua política, mas que, ao mesmo tempo, receavam como potencial oposição anticolonial nacionalista. Do outro lado estava a comunidade colonizada que encarava as associações, na pessoa das suas direcções, como intermediários, advogados das suas causas.


Nota:

Este texto foi retirado do livro: História de Moçambique, Vol. 3, Moçambique no auge do colonialismo, 1930 - 1961.


 

Referências bibliográficas

Baptista, J. do Amparo. [coord], Moçambique, província portuguesa de ontem e hoje, Vila Nova de Famalicão, 1962, p.401.

Grilo, F.M. Relatório do Chefe da Repartição Central dos Serviços Agrícolas, Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1946, partes II/III, p.288.

Legassick, M. & Clerq, F. Capitalism and migrant labour in southern Africa: the origins and nature of the system. Universidade de Londres, Institute of Commonwealth Studies, mimeo, 1978.

Rego, P. Relatório do Governador interino da Província do Sul do Save, relativo ao ano de 1942, pp,400-402.

  

sábado, 14 de novembro de 2020

Geografia do Turismo

Introdução

Neste pequeno artigo, começo por dizer que a Geografia desde a sua sistematização como ciência procedia na análise dos fenómenos e como estes estavam dispersos pelo espaço, lido então, como “geográfico”. Assim, a geografia do turismo é uma área independente dentro da propria Geografia, mas ela faz parte dela. Especificamente neste artigo, corremos em volta do turismo que, consderado uma actividade muito importante para as pessoas quando se fala a nivel nacacional e internaciona.

Definição

CAZES (1992) cit in ALBACH e GÂNDARA (2011) define a Geografia do turismo como aquela que estuda a distribuição da actividade turística no espaço, a produção espacial turística e a articulação espacial do sistema turístico com o sistema local.

Sem mais nos alongarmos, podemos dizer que a Geografia do turismo  é aquela em que os visitantes fazem ou consideram como uma actividade cultural e social.

Tipos de turismo

Segundo a nossa literatura consultada, vamos descrever e caracterizar cerca de 10 tipos de turismos, nomeadamente: turismo social, ecoturismo, turismo cultural, turismo de estudos de intercâmbio, turismo de exportes, turismo de pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia, turismo de negócios e eventos, turismo rural e turismo de saúde (BRIZOLLA, s/d).

Turismo social

O Turismo Social não é visto apenas como um segmento da actividade turística, mas como uma forma de praticá-la com o objectivo de obter benefícios sociais. Assim, define-se que Turismo Social é a forma de conduzir e praticar a actividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão (BRIZOLLA, s/d).

O sentido humanístico, a razão de ser do Turismo Social e sua função estão focados na efectivação de condições que favoreçam o exercício da cidadania - igualdade de direitos e deveres-, entendendo e trabalhando o turismo com uma perspectiva de complementaridade à vida, além da questão económica e da carência material.

Ecoturismo

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1995) o Ecoturismo é um segmento da actividade turística que utiliza, de forma sustentável, o património natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. A prática do Ecoturismo pressupõe o uso sustentável dos atractivos turísticos.

Turismo cultural

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1995) Turismo Cultural compreende as actividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do património histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.

A definição de turismo cultural está relacionada à motivação do turista, especificamente de vivenciar o património histórico e cultural e determinados eventos culturais, de modo a preservar a integridade desses bens. 

Vivenciar implica, essencialmente, em duas formas de relação do turista com a cultura ou algum aspecto cultural: a primeira refere-se ao conhecimento, aqui entendido como a busca em aprender e entender o objecto da visitação; a segunda corresponde a experiências participativas, contemplativas e de entretenimento, que ocorrem em função do objecto de visitação.

Turismo cívico

O Turismo Cívico ocorre em função de deslocamentos motivados pelo conhecimento de monumentos, factos, observação ou participação em eventos cívicos, que representem a situação presente ou a memória política e histórica de determinados locais (BRIZOLLA, s/d). Este tipo de turismo abrange elementos do passado e do presente, relacionados à pátria: factos, acontecimentos, situações, monumentos referentes a feitos políticos e históricos.

 

 

Turismo Religioso

O Turismo Religioso configura-se pelas actividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas (BRIZOLLA, s/d).

A busca espiritual e a prática religiosa, nesse caso, caracterizam-se pelo deslocamento a espaços e eventos para fins de:

  1. Realização de peregrinações e romarias;
  2. Participação em retiros espirituais;
  3. Participação em festas e comemorações religiosas;
  4. Contemplação de apresentações artísticas de carácter religioso;
  5. Participação em eventos e celebrações relacionados à evangelização de fiéis;
  6. Visitação a espaços e edificações religiosas (igrejas, templos, santuários, terreiros);
  7. Realização de itinerários e percursos de cunho religioso, entre outros.

Turismo Místico e Esotérico

O Turismo Místico e o Turismo Esotérico caracterizam-se pelas actividades turísticas decorrentes da busca da espiritualidade e do autoconhecimento em práticas, crenças e rituais considerados alternativos (BRIZOLLA, s/d). Dentre as actividades típicas desse tipo de turismo, pode-se citar as caminhadas de cunho espiritual e místico, as práticas de meditação e de energização, entre outras.

Turismo Étnico

O Turismo Étnico constitui-se das actividades turísticas decorrentes da vivência de experiências autênticas em contactos directos com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos. Busca-se estabelecer um contacto próximo com a comunidade anfitriã, participar de suas actividades tradicionais, observar e aprender sobre suas expressões culturais, estilos de vida e costumes singulares (BRIZOLLA, s/d).

Turismo de estudos de intercâmbio

O Turismo de Estudos e Intercâmbio constitui-se da movimentação turística gerada por actividades e programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional (BRIZOLLA, s/d). 

 

Podem-se constituir actividades desse tipo de turismo: o intercâmbio estudantil, esportivo e universitário; a operacionalização de acordos de cooperação entre países, estados e municípios na área educacional e entre instituições pedagógicas; os cursos de idiomas, cursos técnicos, profissionalizantes e cursos de artes; e as visitas técnicas, pesquisas científicas e os estágios profissionalizantes, além dos trabalhos voluntários com carácter pedagógico.

Turismo de exportes

Sendo assim, considerando o movimento turístico motivado pelo exporte, estabelece-se que Turismo de Exportes compreende as actividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades esportivas (BRIZOLLA, s/d).

Turismo de pesca

Assim, o Turismo de Pesca compreende as actividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora (BRIZOLLA, s/d).

As actividades turísticas que se efectivam em função da prática da pesca amadora:

  • Operação e agenciamento
  • Transporte
  • Hospedagem
  • Alimentação
  • Recepção
  • Recreação e entretenimento
  • Eventos
  • Actividades complementares

Turismo náutico

Turismo Náutico caracteriza-se pela utilização de embarcações náuticas com finalidade da movimentação turística (BRIZOLLA, s/d).

O Turismo Náutico requer políticas e acções integradas que possam incentivar a elaboração de produtos e roteiros turísticos e a estruturação de destinos tais como a construção de marinas públicas, a adequação dos portos, a implantação e a qualificação de serviços de receptivo e equipamentos turísticos nas regiões portuárias e outros locais onde ocorram actividades pertinentes ao segmento.

Turismo de aventura

Define-se o Turismo de Aventura como os movimentos turísticos decorrentes da prática de actividades de aventura de carácter recreativo e não competitivo.

As actividades de aventura pressupõem determinado esforço e riscos controláveis, e que podem variar de intensidade conforme a exigência de cada actividade e a capacidade física e psicológica do turista. Isso requer que o Turismo de Aventura seja tratado de modo particular, especialmente quanto aos aspectos relacionados à segurança (BRIZOLLA, s/d).

Turismo de sol e praia

Turismo de Sol e Praia constitui-se das actividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor (BRIZOLLA, s/d).

Turismo de negócios e eventos

Os deslocamentos realizados para trocas comerciais e para participação em eventos ocorrem desde as antigas civilizações e tornaram-se comuns a partir da Revolução Industrial, quando as viagens tomaram grande impulso, facilitadas principalmente pelo aprimoramento dos meios de transporte e de comunicação (BRIZOLLA, s/d).

 

Desta forma o Turismo de Negócios e Eventos compreende o conjunto de actividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de carácter comercial, promocional, técnico, científico e social.

Turismo rural

A conceituação de Turismo Rural segundo (BRIZOLLA, s/d) fundamenta-se em aspectos que se referem ao turismo, ao território, à base económica, aos recursos naturais e culturais, à sociedade, e ao campo afectivo. Com base nesses aspectos, define-se que Turismo Rural é o conjunto de actividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agro-pecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o património cultural e natural da comunidade.

Turismo de saúde

Os primeiros deslocamentos em busca de soluções para os males físicos remontam às civilizações grega, romana e árabe, e ao uso de águas medicinais principalmente sob a forma de banhos. Na Grécia, os templos chamados “athleticus” eram construídos para banhos aos quais se atribuía a capacidade de curar doenças. Os gregos também iniciaram a utilização de práticas hidroterápicas, acompanhadas de massagens e dietas especiais (BRIZOLLA, s/d).

Seguindo este sentido, o Turismo de Saúde constitui-se das actividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos.

Principais áreas turísticas do mundo

A seguir são apresentadas as principais áreas turísticas do mundo.

Tabela 1: Os 10 maiores destinos do turismo internacional em 2008

Posição

País

Continente

1

França

Europa

2

Estados unidos

América do norte

3

Espanha

Europa

4

China

Ásia

5

Itália

Europa

6

Reino unido

Europa

7

Ucrânia

Europa

8

Turquia

Europa

9

Alemanha

Europa

10

México

América do norte

 

As principais áreas turísticas de Moçambique

Moçambique possui um potencial turístico baseado nos ricos e ainda por explorar recursos naturais, uma cultura diversificada com um povo hospitaleiro. A combinação do turismo de praia tropical ao longo da imensa costa, com a vida cosmopolita das nossas cidades, a incomparável e rica diversidade de flora e fauna assim como o magnífico mosaico cultural, oferecem uma plataforma sustentável para um destino turístico incontestável (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006).

Historicamente, Moçambique conquistou a posição de destino turístico de primeira classe em África e este sector jogava um papel importante na economia do País. O turismo desenvolveu-se em torno de 3 temas: as praias, a fauna e o ambiente dinâmico oferecido pelos centros urbanos e concentrava-se principalmente nas zonas Sul e Centro do País. 

O produto faunístico encontrava-se muito desenvolvido e o Parque Nacional de Gorongoza era considerado uma das melhores reservas de animais de África Austral e a caça nas coutadas, na zona Centro, possuía padrão internacional (Ministério do Turismo, 2006).

 

Desta maneira, as principais regiões geográficas do turismo em Moçambique são: Norte (Nampula, Cabo Delgado e Niassa), Centro (Sofala, Manica, Tete e Zambézia) e Sul (Província e cidade de Maputo, Inhambane e Gaza).

Importância do turismo para a economia dos países

O Turismo é um sector económico em constante crescimento em todo o Mundo. É uma actividade económica internacional que, em 2001, contribuiu com 4.2 % para o Produto Interno Bruto (PIB) da economia Global e empregou 8.2% da população economicamente activa do mundo. É um negócio internacional com crescimento altamente competitivo (PEDTM 2003-2014).

Segundo os indicadores de referência na área do turismo (2010), as chegadas internacionais totalizaram 2.030.000 turistas e visitantes a Moçambique em 2008 (MITUR, 2010 citado por MAIELA, 2013).

Segundo SILVA (2005) citado por NODARI (2007), “o turismo se preocupa com a produção e distribuição de bens e serviços que tornam possíveis os benefícios esperados pelos turistas em viagens”, embora tais bens e serviços possam ser produzidos em diversos sectores da economia.

A expansão turística representa aumento na demanda por produtos agrícolas, mobiliários, transportes, construção civil e outros. A aquisição de produtos na localidade contribui para a elevação do número de empregos, gera mais receita para empresários, aumenta a receita tributária e fixa a população. Os impactos económicos gerados pela actividade turística são: Redução dos desequilíbrios regionais – nas regiões com nível baixo de renda média, o aumento da demanda turística provoca uma série de efeitos multiplicadores sobre diferentes sectores produtivos que lá funcionam (NODARI, 2007).

Esta demanda adicional enseja uma ampla gama de aquisições de bens e serviços que, por sua vez, faz com que outros bens e serviços sejam adquiridos, e assim sucessivamente. Contribuição na Arrecadação de Impostos – A actividade turística tem uma importante contribuição para a arrecadação de tributos.

 

Impacto ambiental do turismo

O exercício da actividade turística provoca impactos ambientais positivos e negativos, envolvendo o ambiente natural, o ambiente transformado e o ambiente sociocultural. No entanto, o ambiente natural é mais vulnerável aos impactos ambientais negativos do turismo.

Os impactos positivos do turismo decorrem do facto de esta actividade poder subsidiar os custos de conservação do ambiente (BELTRÃO, 2001 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).

Outros impactos positivos do turismo são a conservação da herança cultural, o fortalecimento da identidade cultural e o intercâmbio intercultural (DIAS, 2005 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).

Os principais impactos ambientais negativos do turismo são: poluição e contaminação de cursos de água e de praias; poluição atmosférica, visual e sonora; desmatamento, distúrbios à vida selvagem e perda de biodiversidade; congestionamento; compactação, erosão e perda de fertilidade do solo; danos a monumentos, sítios arqueológicos, lugares e construções históricas; choques culturais; transformação dos valores e condutas morais; difusão de epidemias; sexo, crime e mercantilização da cultura (FERRETTI, 2002; DIAS, 2005 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).

De acordo com DIAS (2005) citado por FANDÉ e PEREIRA (2014): “[...] uma lista dos impactos ambientais provocados pelo turismo será sempre incompleta pela diversidade de efeitos que a actividade provoca no meio ambiente, daí a necessidade de monitoramento permanente”.

Contudo, diz-se que os efeitos negativos do turismo podem ser evitados ou atenuados através de planeamento turístico integrado, que considera aspectos tradicionais do planeamento (mercado, económicos, financeiros, técnicos e coordenação do território) e planeamento ecológico, que inclui aspectos ambientais (CASASOLA, 2003 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014). O planeamento sustentável do turismo pode gerar conflitos durante seu desenvolvimento, mas a compensação virá no futuro, com rentabilidade a longo prazo (VALLS, 2006 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).

Conclusões

O presente trabalho discorreu em volta do turismo. Assim, quanto ao turismo este aparece como temática em evolução. E encontra na Geografia oportunidade para aprimorar sua compreensão. Dentre diversas rotulagens, a Geografia do Turismo surge para ser pensada dentro de uma ciência que historicamente liga-se a estudos do meio físico, e quando há um olhar para a sociedade, evidenciam-se os movimentos sociais e as minorias. O turismo exige da economia um conjunto de actividades produtivas, no qual os serviços têm um carácter prevalente que interessam a todos os sectores económicos de um país ou uma região. O turismo se caracteriza por possuir, uma interdependência estrutural com as demais actividades, em maior grau e intensidade que qualquer outra actividade produtiva.

Referências

ALBACH, V. M. & GÂNDARA, J. M. G. Existe uma Geografia do Turismo? Revista Geográfica de América Central, Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica, II Semestre 2011, pp. 1-16.

 

BRIZOLLA, T. (coord.). (s/d). Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. 

FANDÉ, M. B. & PEREIRA, V. F. G. C. Impactos ambientais do turismo: um estudo sobre a percepção de moradores e turistas no Município de Paraty-RJ. Revista do Centro do Ciências Naturais e Exactas - UFSM, Santa Maria Revista Electrónica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental – REGET e-ISSN2236 1170 - V. 18 n 3 Set-Dez 2014, p.1170-1178.

MAIELA, A. A. Turismo: Factores de Desenvolvimento Social: estudo multicasco. Pemba. Moçambique. Dissertação (Mestrado). Pemba, 26 de Setembro de 2013.

NODARI, M. Z. R. As contribuições do turismo para a economia de foz do Iguaçu. Dissertação (Mestrado). Curitiba, Agosto de 2007.

OMT. Introdução à metodologia da pesquisa em turismo. São Paulo: Roca, 2005.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Ministério do Turismo. Estratégia De Marketing Turístico 2006-2013. Maputo, Novembro de 2006.

 

 












domingo, 25 de outubro de 2020

Principais problemas enfrentados pelos jovens moçambicanos com rendimentos baixos

Introdução 

Neste trabalho proponho-me a analisar e descrever alguns dos principais problemas enfrentados pelos jovens com rendimentos baixos na sociedade moçambicana e saber como estes enfrentam tendo em conta a realidade moçambicana. Nos referimos a realidade moçambicana, já que o país enfrenta diversos problemas de ordem económica, o que tem dificultado as oportunidades para a camada juvenil. Não pretendo citar ou refernciar todos o problemas que todos nós conhecemos, mas apenas apontar os que acho serem os principais na minha visão. Caso eu não aponte todos, caro leitor ajudará um pouco.   

Referencial Teórico 

Para começar este enquadramento teórico/referencial teórico sobre o tema, importa referir que a noção de juventude adquire importância no correr do século XX. Antes definida com base em marcos etários, hoje ela se refere principalmente ao período “marcado por ambivalências, pela convivência contraditória de elementos de emancipação e subordinação, sempre em choque e negociação” (NOVAES & VANUCCHI, 2004:12), durante o qual o sujeito elabora seu próprio amadurecimento. Assim, na totalidade, o ingresso na juventude requer a saída do espaço protegido da família, o questionamento de valores, a inserção em novos círculos de convivência e a adopção de novos empreendimentos, frequentemente múltiplos e às vezes díspares. “São muitas as juventudes e entre elas sempre há territórios de resistências por força da criatividade” (NOVAES & VANUCCHI, 2004:11). 

Integra esse processo a redefinição dos problemas que tocam mais de perto os jovens, bem como o reequacionamento de recursos e formas para enfrentá-los. Por outras palavras, um componente das tensões da juventude se expressa na equação que opõe os obstáculos ao crescimento aos anseios de liberdade. 

Essas tensões não se definem com base na experiência isolada. Principais problemas enfrentados pelos jovens com rendimentos baixos e como eles enfrentam tendo em conta a realidade moçambicana Como forma de descrever os problemas enfrentados pelos jovens, tomamos como referencia um estudo realizado por GONÇALVES et al., (2008) em que o estudo revelou que um dos problemas enfrentados pela juventude são as drogas. 

Estamos a citar a questão de droga por ser um dos problemas verificados em Moçambique pela camada juvenil e não se pode negar, pois vemos que pela deficiência de oportunidade de emprego existente em Moçambique, muitos jovens acabam se metendo nas drogas como forma de relaxar seus problemas. Por exemplo, no caso do estudo que citamos, o estudo captou resultados que indicavam que as drogas são como o principal problema dos jovens. 

Ora, precisamos perceber que neste consumo de drogas, além do relaxamento, busca-se ainda o prazer. Citamos a droga como um problema é que no uso da droga busca-se a princípio o prazer, a extroversão e as sensações novas (SCHENKER & MINAYO, 2005), por outro lado a droga visa a evitação das dificuldades e com isso impede o jovem de enfrentá-las e superá-las. 

E na verdade, se fizermos uma análise mais profunda vamos ver que o uso da droga compromete assim os projectos futuros. E só para darmos sentido nosso argumento, os jovens consomem a droga com propósito de ultrapassar ou enfrentar os seus problemas, mas que na verdade os problemas não acabam. 

Um segundo problema a referenciar neste trabalho, é a falta de oportunidades de trabalho ou emprego. Se alguém for a fazer um estudo de qualitativo aos jovens de qualquer ponto do país, e perguntar quais são os problemas que a juventude enfrenta actualmente, é muito provável que a falta de oportunidade seja referenciada muito rigor. E na verdade, muitos jovens moçambicanos lamentam a falta de oportunidades antes e depois de concluírem os estudos. Assim, devido à falta de oportunidades, uma das formas de enfrentar esse problema que nos referenciamos de falta de oportunidades de trabalho ou emprego, os jovens buscam diferentes meios para a subsistência. Por exemplo, é muito comum encontrar muitos jovens envolvidos no comércio informal nos diferentes pontos do país. Ou seja, em quase todas províncias o número de jovens no comércio formal e informal é recorrente. Por exemplo, um estudo da DW África (em Moçambique) conversou com alguns jovens da província de Inhambane e constatou que as dificuldades são muitas e podem divergir, de acordo com o sexo. 

No caso das jovens, para conseguir algum rendimento, acabam por abandonar os estudos para se dedicar à prostituição. Para o caso dessas jovens, acreditamos nós que o dinheiro é que as induz, por isso fazem isso. 

Como estamos a ver, alguns jovens para enfrentar seus problemas fazem comércio formal e informal, outras preferem prostituir-se, tudo isso para ganhar algum dinheiro e suprir as necessidades pessoais. Na verdade, mesmo depois de se concluir o ensino, seja ele básico, médio, técnico-profissional ou ensino superior, ainda há dificuldades de encontrar emprego em Moçambique. 

Um terceiro problema a qual merece nossa atenção no presente trabalho e que a nosso ver é um dos problemas enfrentados pela camada juvenil moçambicana é a falta de habitação. Citamos a falta de habitação como outro problema enfrentados pelos jovens, porque de acordo com a nossa analogia pessoal, vemos que se a pessoa não tem um emprego, dificilmente pode ter ou adquirir uma casa, pois para nós, apenas os que possuem um emprego formal têm acesso ao financiamento dos bancos para a construção de residências. 

Os desempregados, que são a maioria, continuarão a viver nas casas dos seus pais juntos com as suas esposas e filhos, sem querer abusar, mas este é um fenómeno que se verifica muito nas Cidade e província de Maputo, não estamos a excluir, no entanto, as outras partes do país. Mas, segundo DW África (2018) para o caso de Inhambane onde decorreu seu estudo indica-se que para resolver o problema da falta de habitação, o Governo provincial distribuiu cerca de cinco mil (5,000) Direitos do Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT) a igual número de jovens desde o ano de 2017, mas muitos deles esbarram na burocracia e não conseguem todos os documentos exigidos pelas autoridades. 

Só para enfatizarmos essa questão da falta de habitação para a camada juvenil moçambicana, MACHAVA (2020) refere tratar-se de um teatro vergonhoso do Governo perante o sofrimento dos jovens que não têm acesso à habitação. Ora, se formos a visitar a Constituição da República de Moçambique, veremos que o Artigo 91 da Constituição da República preconiza que o direito à habitação é um direito constitucional de todos os cidadãos, cabendo ao Estado a responsabilidade de criar as condições institucionais, normativas e infra-estruturais para que tal se materialize. 

Portanto, cabe ainda ao Estado fomentar e apoiar as iniciativas das comunidades, autarquias locais e populações, estimulando a construção privada e cooperativa bem como o acesso à casa própria. Ainda na questão acima de falta de habitação para a camada juvenil a MACHAVA (2020) refere que no país mesmo indivíduos com rendimentos mensais na ordem de 100 mil meticais têm dificuldades de aceder ao crédito de habitação devido às altas taxas de juro cobradas pelos bancos comerciais. 

Um dos exemplos mais recentes é o caso das 12 casas que o FFH inaugurou no passado dia 12 de Junho, na Cidade de Chimoio, no âmbito de um projecto que prevê a construção de 100 habitações para jovens recém-graduados de universidades e institutos, incluindo funcionários públicos. Por uma casa do Tipo 2, os beneficiários deverão pagar mensalmente 13.600 meticais, durante 15 anos. Mas, na análise da MACHAVA (2020) é neste ponto onde reside o problema dos programas de “habitação social” do FFH. Portanto, os jovens recém-graduados e os funcionários que fazem parte da classe sócio-económica de baixos rendimentos não podem ter acesso a essas habitações. 

Um quarto problema a referenciar no presente documento e que merece a nossa análise, é a questão da violência ou comportamentos desviantes. A escolha desse fenómeno como sendo um dos problemas, sem muitos detalhes é que este fenómeno envolve muitos aspectos como a criminalidade, com os jovens a virarem bandidos, a se envolverem nos roubos; assassinatos; muita violência; homicídios, suicídios. 

Tudo isso muitas vezes está envolvido com a falta de oportunidades de emprego o que faz com que o jovem tenha comportamentos desviantes. Essa atitude pode, no entanto, reflectir certo grau de abandono institucional diante do qual a evitação ou a negação de um emprego e vida condigna, restam como única alternativa. Após esse ponto em que descrevemos os problemas e as formas do seu enfrentamento dos mesmos, no ponto a seguir tecemos as nossas considerações finais, apontando que neste trabalho não descrevemos todos os problemas que afectam a juventude, pois existem um milhão de problemas.   

Considerações finais 

Neste trabalho, a questão original pode ser anunciada como a proposta de identificar os principais problemas enfrentados pelos jovens com rendimentos baixos e como eles enfrentam tendo em conta a realidade moçambicana. E conforme o texto, as drogas, falta de oportunidades de trabalho ou emprego, falta de habitação e violência ou comportamentos desviantes são os problemas que mais afectam a juventude moçambicana. Apontamos esses problemas como principais, porque referenciamos algumas fontes credenciadas em Moçambique para fazer análise dessas questões, mas estes não apenas os problemas que afectam a camada juvenil, há muitos outros que não precisamos referenciar neste documento por serem muitos. Portanto, um aspecto que merece análise, mas que não foi tratado no corpo deste trabalho, é a possibilidade de que, enfrentando dificuldades problemas, o jovem seja ele formado ou não, deve optar pelo empreendedorismo e o jovem pode acercar-se da sua realidade, conferir-lhe um carácter mais real e menos imaginário. Se isso implica em diluir os sonhos e as fantasias contidos em seus projectos de vida, por outro poderia contribuir para tornar mais factíveis seus empreendimentos. Dizem que é preciso ter esperança. 

Referências bibliográficas 

GONÇALVES, Hebe Signorini et al., Problemas da juventude e seus enfrentamentos: um estudo de representações sociais. Psicol. Soc. vol.20 no.2 Porto Alegre May/Aug. 2008. 

MACHAVA, Agostinho. Até quando este “teatro” vergonhoso do Governo perante o sofrimento dos jovens que não têm acesso à habitação? Maputo, 02 de Julho, 2020, Número 24. 

NOVAES, Regina & VANNUCHI, Paulo. (Orgs.). Juventude e sociedade. São Paulo, SP: Editora da Fundação Perseu Abramo, 2004. 

SCHENKER, Miriam & Minayo, Maria Cecília de Souza. Factores de risco e de protecção para o uso de drogas na adolescência. Ciência e Saúde Colectiva, 10(3), 2005, 707-717. Sítio de internet consultado: