domingo, 30 de junho de 2019

Teoria de SKINNER sobre a personalidade


1- Introdução

Segundo uma vasta literatura sobre a personalidade, sugere-se que o estudo da personalidade desenvolveu-se à parte da área da psicologia experimental e foi iniciado por médicos franceses, tal como Charcot, que estavam interessados no estudo e no tratamento da personalidade anormal, em especial, da histeria. Entretanto, segundo as fontes consultadas neste trabalho, dizem que é possível que a primeira das teorias tenha aparecido cerca de 400 anos a.C., com o médico grego Hipócrates, que propunha tipos de temperamentos baseados nos quatro humores do corpo. Estes, por sua vez, estavam baseados nos quatro elementos cósmicos propostos pelo filósofo grego Empédocles, cerca de 50 anos antes. 

O relacionamento entre os elementos (terra, ar, fogo e água), suas características (frio e seco, quente e húmido, quente e seco ou frio e húmido) e os humores (bílis preta, sangue, bílis amarela e flegma) poderiam determinar os seguintes temperamentos: melancólico, sanguíneo, colérico ou fleumático.

Desde então, vários autores vêm tentando explicar os diferentes tipos de comportamentos, elaborando teorias das mais diversas, na intenção de compreendê-los e descrever as suas opiniões acerca do assunto. Das muitas teorias de personalidade que proliferam na psicologia, grande número usa o conceito de traço e, em muitas dessas teorias, a organização dos traços constitui a personalidade.

Um conceito que podemos trazer logo a priori é de Ferreira (2000), que define a personalidade como o “carácter ou qualidade do que é pessoal” ou “o que determina a individualidade de uma pessoa moral; o que a distingue de outra”. Este termo vem da palavra latina persona que, originalmente se refere à máscara teatral utilizada no drama grego. 
Ampliando-se o conceito ou ao longo do tempo, o termo “persona” passou a significar a aparência externa. Assim, a partir de sua origem, conclui-se que a personalidade diz respeito às características externas e visíveis que outras pessoas enxergam nos outros. E nós podemos definir do nosso jeito de que personalidade é a qualidade ou característica de ser “único”, isto é, personalidade é a representação de característica que identificam uma pessoa e diferencia das outras.


Dito isto, o presente trabalho apresenta uma visão de Skinner a respeito da personalidade, onde há descrição de breve contexto histórico sobre as primeiras propostas de abordagem sobre a personalidade, na visão de B.F. Skinner sobre a sua teoria behaviorista radical, que apresentou uma visão funcionalista do comportamento humano através da interacção dinâmica entre organismo e meio, definindo a personalidade como um produto desta interacção.

2- Personalidade

Shultz e Shultz (2002) definem personalidade como sendo “os aspectos internos e externos peculiares, relativamente permanentes do carácter de uma pessoa, que influenciam o comportamento em situações diferentes”.

De acordo com Pervin e John (2004), “o campo da personalidade diz respeito àquilo que é geralmente verdadeiro das pessoas, a natureza humana, assim como às diferenças individuais”. Ainda de acordo com estes autores, a personalidade “representa aquelas características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos, pensamentos e comportamentos”.

Ao analisarmos as definições destes autores, vemos que eles interessam-se pela maneira como os sentimentos, pensamentos e comportamentos se relacionam para formar o indivíduo. Eles sugerem que se tenha atenção a padrões consistentes de comportamento e a qualidades internas da pessoa, que explicam estas regularidades, em oposição, por exemplo, a enfocar qualidades no ambiente que as expliquem.

Conforme o conceito de personalidade podemos entender que trata de características que são únicas de um individuo. O que significa que não pode existir uma pessoa que que pensa do mesmo jeito como outra pessoa, ou pessoas que pensem do mesmo jeito.

Uma definição proposta por Norman Cameron descreve a personalidade como sendo “...a organização dinâmica de sistemas de comportamento interligados, que cada um de nós possui, à medida que evolui de recém-nascido biológico para adulto biossocial em um ambiente de outros indivíduos e produtos culturais” (Lundin, 1977).

3- Teoria de Personalidade na perspectiva de B. F. Skinner e o Behaviorismo Radical

3.1- Breve abordagem sobre a vida e obra

Burrus Frederic Skinner nasceu em 20 de Março de 1904 (Nye, 2002), na cidade de Susquehanna, no estado da Pensilvânia uma pequena cidade no nordeste do Estado. Seu pai exercia a advocacia.

Assim, Skinner construíra um pequeno estúdio em sua casa e pôs-se a trabalhar (Fadiman & Frager, 1986). Infelizmente, foi uma experiência catastrófica e desastrosa, pois Skinner não conseguira escrever quase nada e o que escrevia, era de pouca qualidade. Dessa maneira, assim como seus pais haviam previsto, fracassara na sua tentativa de ser escritor (Cloninger, 1999).

A literatura consultada (Fadiman & Frager, 1986) refere que esse fracasso como escritor abalou profundamente ao autor, que pensou em até procurar um psiquiatra. Entretanto, depois de algum tempo, Skinner atribuíra seu fracasso à literatura, e não a ele próprio; o mesmo dizia que “falhara como escritor porque não tinha nada de interessante a dizer... o erro deve estar  na literatura”  (B.  F. Skinner, 1967 citado por Fadiman e Frager, 1986).

Dessa forma, ele transferiu todo o seu interesse pela escrita para o funcionamento do comportamento humano, mas não de uma maneira literária, e sim científica (Fadiman & Frager, 1986). Assim, Skinner se ingressou na faculdade, onde se tornou um aluno estudioso, em contraste ao comportamento rebelde exibido no colegial.

Em 1948, Skinner escreve um romance chamado Walden Two, que descreve de maneira hipotética, uma comunidade que vivia de acordo com a sua teoria. Esse livro, apesar de ser muito polémico, foi considerado um best-seller, vendendo mais de um milhão de cópias (Fadiman & Frager, 1986).

Este autor, durante toda a sua vida, também se interessou pelo comportamento animal, a qual veio desenvolver a sua teoria comportamental. O primeiro animal utilizado por ele em suas experiências foi um esquilo. Posteriormente, passou a trabalhar com pombos e ratos (Cloninger, 1999).

Relativamente a sua teoria comportamental, Skinner, é tido como o autor mais influente teórico do campo da psicologia, pois seus postulados foram tão marcantes que “em 1982, um historiador da psicologia disse ser ele inquestionavelmente, era o mais famoso psicólogo americano do mundo”( Schultz & Schultz, 2002).

Ele foi um comportamentalista ardente, confiante e convencido do método positivista, exibindo um rigor inexorável em seus experimentos psicológicos (Lindzey, Campbell & Hall, 2000). Foi Skinner quem pela primeira vez deu um carácter “científico” à psicologia, e a colocou num patamar de objectividade e fidedignidade diante da ciência positivista, excluindo todos os aspectos mentalistas e ficções explanatórias presentes até então na terminologia psicológica.

Ele excluiu os aspectos internos do indivíduo, focalizando sua atenção somente naquilo que pode ser observado, neste sentido, o comportamento, deixando de lado conceitos pregados pelas “pseudociências” da psicologia, como self, subjectividade, ego, consciente entre outros conceitos não observáveis.

Com a sua teoria, ele conquistou o meio científico vigente na época, e sua teoria comportamental foi e continua sendo a base para muitos projectos científicos e pesquisas sobre o comportamento humano.

Skinner escreveu vários outros livros que são importantes para compreender sua visão da personalidade e comportamento humanos. Estes incluem: Ciência e Comportamento Humano (1953), Cumulative Record (1959, 1961, 1972), The Technology of Teaching (1968), O Mito da Liberdade (1971) e About Behaviorism (1974).

3.2- Resumo dos aspectos importantes da teoria de Skinner

Na teoria de Skinner, o termo personalidade significa a colecção de padrões de comportamento. Situações diferentes evocam diferentes padrões de respostas. Cada resposta individual é baseada apenas em experiências prévias e história genética. Skinner argumenta que, se a pessoa basear a definição do eu em comportamento observável, não é necessário discutir o eu ou a personalidade.

Skinner acreditava que a personalidade é nada mais, nada menos que uma colecção de padrões comportamentais. Nesse caso, diferentes situações evocam diferentes padrões de respostas, fazendo com que cada indivíduo desenvolva determinados tipos de comportamento (Fadiman & Frager, 1986). Infelizmente, muita gente confunde esses padrões e respostas comportamentais aprendidas no decorrer da vida do indivíduo com os reforços positivos, negativos ou punições decorrentes da história do indivíduo. Esses comportamentos são confundidos com aspectos da personalidade interior. Para Skinner (idem, Fadiman & Frager, 1986), não importa o que está sob a pele do indivíduo. Ele não contesta os aspectos subjectivos e interiores. Somente dizem que não são relevantes, acreditando que somente podemos entender a personalidade através da análise dos seus comportamentos observáveis e sua história de reforços.

Skinner na sua teoria critica a psicanálise. Ele sugere que a ênfase na infância dada pela psicanálise é distorcida. Sigmund Freud diz que os conflitos internos ocorridos nas fases pré-edipianas e edipianas estruturarão a “personalidade” do indivíduo, e Skinner refuta essa acepção. Dessa forma, tudo o que ele fizer quando adulto, será de acordo com os remanescentes de conteúdos reprimidos da esfera inconsciente. 

Aquando da nossa leitura do livro de Fadiman e Frager (1986) em nossa posse, percebemos que Skinner discorda completamente dessa teoria, mas diz que na infância, a criança recebeu sucessivos reforços que podem na vida adulta, fazer com que a mesma exiba certos padrões de comportamento que exibia na sua infância, mas não em consequência de conteúdos reprimidos, mas sim por um fenómeno chamado de generalização. Portanto, para Skinner, a personalidade, dessa perspectiva, é formada por algo exterior ao indivíduo e não se encontra dentro dele.

O que compreendemos na teoria de Skinner segundo Fadiman e Frager (1986) é que Skinner tratou, principalmente, do comportamento modificável. Ele não dava importância a características comportamentais que parecem ser, relativamente, permanentes. A personalidade, para Skinner, pode ser explicada em termos de estímulos que determinam certos tipos de respostas e os reforços que as mantém.

Em suma, os aspectos importantes da sua teoria são:
·         Análise científica do comportamento;
·  Quanto a Personalidade: colecção de padrões de comportamento;
·         Condicionamento respondente;
·         Condicionamento operante;
·         Reforço incondicionado;
·        Reforço positivo, intermitente, de intervalo, de razão, razão fixa, razão variável, saciação;
·         Reforço diferencial;
·         Aproximações sucessivas;
·         Punição;
·         Controle do comportamento;
·         Esquema de reforço;
·         Extinção;
·         Modelação;
·         Ficções explanatórias - homem autónomo, liberdade, dignidade, criatividade.

3.3- Estrutura da personalidade


a) Self – ficção explanatória

Skinner considera o termo self ficção explanatória. Conforme ele afirma que: “Se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do homem dizemos que ele mesmo é responsável pelo comportamento. Os precursores da ciência física adoptavam outrora o mesmo procedimento, mas o vento já não é soprado por Eolo, nem a chuva é precipitada por Júpiter Pluvius… A prática aplaca a nossa ansiedade a respeito dos fenómenos inexplicados e por isso se perpetua... Um conceito de eu não é essencial em uma análise do comportamento…” (Skinner, 1953 citado por Fadiman & Frager, 1986).

b) Relacionamento social

Skinner afirma que não existe um significado especial do comportamento social que seja diferente de outro comportamento. Ele acredita que o comportamento social é caracterizado somente pelo facto de envolver uma interacção entre duas ou mais pessoas por (Fadiman & Frager, 1986).

Ele dedica considerável atenção à importância da comunidade verbal e seu papel em modelar quase todo comportamento, especialmente o desenvolvimento precoce da linguagem e outros comportamentos infantis. A comunidade verbal é definida como as pessoas (incluindo nós mesmos) do meio ambiente que respondem ao comportamento verbal de modo a modelar e manter o comportamento. O comportamento de uma pessoa é continuamente modificado e modelado por outros do meio ambiente. Isto é senso comum; mas Skinner continua dizendo que não há outras variáveis relevantes além da história passada da pessoa, seus dotes genéticos e os factores externos da situação imediata (idem).

c) Vontade

Vontade e outros termos como livre arbítrio, força de vontade, são conceitos que para Skinner são ficções explanatórias mentais que não podem ser observáveis. Para ele, não existe um comportamento livre. Assim, vontade para Skinner é um modo confuso (Fadiman & Frager, 1986).

d) Emoções

Skinner entende que as emoções são excelentes exemplos das causas fictícias às quais frequentemente atribuímos o comportamento.

e) Intelecto

Skinner define o conhecimento como um reportório de conhecimentos. Para este autor, o conhecimento é o comportamento que se manifesta quando um estímulo particular é aplicado. Ele referencia autores que têm tendência de considerar comportamentos tais como nomear o personagem principal de Hamlet, ou explicar a influência da produção alemã de prata na História da Europa medieval, como “sinais” ou indícios do conhecimento.

3.4- Crescimento e desenvolvimento da personalidade

O crescimento psicológico é descrito sutilmente por Skinner. Assim, para ele o crescimento é minimizar condições adversas e aumentar o controlo benéfico do nosso meio ambiente (Fadiman e Frager, 1986). 

Dessa maneira, Skinner não procura o crescimento através dos insights psicológicos, valorização do self, equilíbrio entre contacto e fuga da realidade ou satisfação da hierarquia das necessidades. Skinner afirma que o crescimento e a maturidade estão somente na análise funcional do nosso próprio comportamento, fazendo que procuremos contingentes que reforcem as condições benéficas para o nosso próprio desenvolvimento.

Skinner, além de apresentar o crescimento e desenvolvimento da personalidade, identificou também alguns entraves ao crescimento da personalidade (Fadiman & Frager, 1986). Assim, nesta perspectiva Skinner sugeriu dois conceitos que são os principais entraves ao crescimento e desenvolvimento do indivíduo, a punição e a ignorância.

De referir que o primeiro elemento que serve de entrave para o crescimento da personalidade está relacionado com a aprendizagem. Assim, a punição, segundo Skinner, é o maior impedimento para uma real aprendizagem, pois ela informa somente aquilo que não se deve fazer, além de que, os comportamentos punidos não desaparecem, voltando quase sempre ligados a outros comportamentos (Fadiman & Frager, 1986). Por outras palavras quer dizer que a punição não capacita uma pessoa a aprender qual é o melhor comportamento para uma dada situação. É o maior impedimento para uma real aprendizagem.

Para o caso da ignorância, segundo Skinner, é o não conhecimento daquilo que causa um determinado comportamento. Dessa forma, a ignorância faz com que os indivíduos acreditem e sigam aquilo que é pregado pelas ficções explanatórias, impedindo que o mesmo conheça os motivos e causa reais do seu comportamento (Fadiman e Frager, 1986).

4- Conclusão

Concluímos que a teoria de Skinner é de suma importância para compreender o comportamento do individuo mediante a personalidade. Skinner, na sua teoria acredita que somos seres superiores, com um potencial inato para o crescimento e amadurecimento. Ao que percebemos nesta teoria, Skinner baseia a sua teoria em conceitos positivamente científicos, excluindo termos como subjectividade, liberdade e consciência, aproximando a psicologia às ciências biológicas e naturais.

Entretanto, apesar das suas contribuições sobre a compreensão da personalidade, a literatura indica que as ideias de Skinner são muito criticadas, mas também afirma-se que Skinner deixou uma grande contribuição através da sua teoria, que pode ser utilizada eficazmente para a modificação ou até mesmo a extinção de possíveis sintomas, além de poder ajudar no processo de aprendizagem e na área organizacional. Enfim, somos de opinião de que o comportamento não é nada mais do que sintomas de que algo não vai bem dentro do indivíduo. Dessa forma, acreditamos que um ponto negativo de Skinner é o facto de não dar atenção aos sintomas internos e subjectivos.

5- Referências bibliográficas

Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da Personalidade. Editora: Harbra. Coordenação da tradução Odette de Godoy Pinheiro; tradução de Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo.

Ferreira, A. B. H. (2000). Mini Aurélio Século XXI. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro.

Hall, S. C.; Lindzey, G. & Campbell, B. J. (2000). Teorias da Personalidade. Editora Artmed (4ª ed.), Porto Alegre.

Lundin, R.W. (1977). Personalidade. Ed. EPU. São Paulo.

Nye, D. (2002). Robert. Três Psicologias. Editora Pioneira, São Paulo.

Pervin, L. A & John, O. P. (2004). Personalidade: Teoria e Pesquisa. Ed. Artmed. Porto Alegre.

Schultz, P. D. & Schultz, E. S. (2002). História da Psicologia Moderna. Editora Cultrix (15ª ed.), São Paulo.





1 Comentários:

Às quinta-feira, 06 maio, 2021 , Anonymous Anónimo disse...

muito bom

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial