Teoria de Personalidade de Alfred Adler e a Psicologia Individual
Introdução
Para
os aspectos relacionados com a personalidade, existem diversos autores que se
preocuparam em apresentar suas contribuições sobre essa temática.
Deste modo, o
estudo da personalidade tem constituído um domínio interessante na área da
psicologia, pois desde os primórdios o conceito de personalidade tem sofrido
significativas mudanças, o que nos permite reflectir acerca do quão complexo é
esta temática bem como de todas as componentes intimamente relacionadas.
A personalidade e suas possíveis teorias a respeito de seu surgimento tornam-se
restringidas e limitadas a determinadas correntes de pensamentos, geralmente
são correntes de pensamentos que ora são tradicionalistas ou radicais.
Conforme referimos anteriormente, existem diversos autores
que se preocuparam em estudar a personalidade e suas múltiplas facetas, mas
neste trabalho o nosso foco serão as contribuições de Alfred Adler sobre a personalidade. Neste âmbito, será feito
uma breve abordagem sobre a vida e obra do autor em destaque, veremos mais
adiante os aspectos importantes da sua teoria, suas concepções sobre a
estrutura da personalidade, os processos da personalidade e como acontece o desenvolvimento
da personalidade.
2. Alfred Adler e a Psicologia Individual
2.1. Breve abordagem sobre a vida e obra
Alfred
Adler era filho de um comerciante judeu de classe média, nasceu num subúrbio de
Viena no dia 7 de Fevereiro de 1870 e veio a perder a vida em 1937.
Este autor, quando era criança sofreu
um grande número de doenças sérias, incluindo raquitismo, este autor lutou
muito para superar sua fraqueza física.
Ele adorava brincar fora de casa com as
outras crianças da vizinhança e era um menino muito popular. Sua posterior
ênfase teórica na importância do interesse social e da compensação de
inferioridades orgânicas não está desligada de suas experiências precoces.
Adler,
aos 18 anos, entrou na Universidade de Viena para estudar Medicina. Estava
profundamente interessado no socialismo e compareceu a um certo número de
reuniões políticas. Foi numa dessa reuniões que encontrou sua esposa, Raissa Epstein,
uma estudante originária da Rússia, que frequentava a Universidade de Viena.
Foi
em 1902, tornou-se um dos quatro primeiros membros do círculo íntimo que se
desenvolveu em torno de Freud (Fadiman & Frager, 1986). Adler era considerado como um dos
membros mais activo do grupo e gozava de uma alta estima por parte de Freud. Nessa
altura, seus pontos de vista sobre neurose já tinham começado a diferir das
ideias de Freud, de forma significativa, em 1910 este último indicou-o para
primeiro presidente da Sociedade Psicanalítica Vienense.
Por
volta de 1911, as diferenças teóricas de Alfred Adler tinham-se tornado inaceitáveis
para Freud e para muitos outros membros da sociedade em que Adler fazia parte.
Por causa dessas divergências de ideias, Adler teve que renunciar à presidência
e abandonou a sociedade junto com nove dos outros vinte e três membros (Fadiman
& Frager, 1986).
De seguida, Adler fundou sua própria organização, a chamada “Associação de
Psicologia Individual, que gradualmente se propagou pela Europa.
A
sua obra da psicologia individual estuda e investiga o sentimento de
inferioridade que determina a «vontade de potência». Esse sentimento, provoca a
obtenção de «compensações psíquicas» e o estabelecimento dum «plano de vida»,
que muitas vezes degeneram nas ficções neuróticas. É uma teoria sobre a
personalidade, que incorpora factores tanto sociais, como biológicos. Adler
propôs o conceito de interesse social, definido como o potencial inato de
cooperar com os indivíduos para atingir metas pessoais e sociais. Sua teoria da
personalidade postulou um empenho por auto-estima e tentativa de superar um
sentimento de inferioridade.
Adler era um autor que as suas ideias divergiam com as
ideias de Freud em alguns pontos de vista sobre neurose e infantossexuais,
motivo que o levou a posteriormente romper seus vínculos com uma sociedade, o
qual ele presidia. Sua teoria da personalidade postulou um empenho por
auto-estima e tentativa de superar um sentimento de inferioridade. Adler
publicou muitos escritos e monografias e também começou a dedicar grande parte
de seu tempo a excursões para fazer conferências pela Europa e Estados Unidos (idem).
2.2. Aspectos
importantes da sua teoria
Segundo
Fadiman e Frager (1986) este autor é tido como o fundador do sistema holístico da
psicologia individual, que enfatiza uma abordagem, a qual compreende cada
pessoa como uma totalidade integrada dentro de um sistema social.
Alfred
Adler na sua teoria sobre a personalidade igualava saúde psicológica à
consciência social construtiva. Dessa maneira, ele desenvolveu um sistema de análise
psicológica, o qual denominou de psicologia individual, este ainda continua
ainda sendo utilizado em clínicas localizadas em diversos países (Fadiman &
Frager, 1986).
Segundo Fadiman e Frager (1986), Adler foi enormemente
influenciado por algumas correntes teóricas, como as ideias darwinistas em
relação ao processo evolutivo humano. Ele observava as pessoas como seres em
plena união, apesar de serem entidades biológicas distintas. Adler acreditava
que havia um darwinismo social, o qual enfatizava o facto de haver a
sobrevivência das pessoas mais fortes e adequadas ao meio social.
Dessa forma, na sua concepção, os indivíduos que não
estiverem devidamente adaptados não sobreviveriam no interior da sociedade. Em
fim o mundo é dos mais fortes e adaptados, viver na sociedade é um privilégio
dos melhores.
O homem individualista para Adler era aquele que estava apto
ao lema “conhece-te a ti mesmo” e conheceras o universo e os deuses. No
entanto, este não deveria privar-se da colectividade cooperativa, visto que
esta é um aspecto muito importante do comportamento social. Somente a partir da
cooperação com outros e do perfeito funcionamento cognitivo, podemos superar
nossos sentimentos de inferioridade.
Sua principal contribuição para a sociedade mundial foi o
estabelecimento de centros de orientação psicológica na área infantil em Viena,
os quais serviram como base para a criação de outros centros orientadores em
toda parte do mundo.
Na
sua teoria da personalidade, o autor postulou existir um empenho por auto-estima
e uma tentativa de superar um sentimento de inferioridade que é um dos seus
conceitos principais, isto é, o “complexo de inferioridade”, que é um meio da
procura compensatória de poder, domínio, superioridade, que seriam alcançados
por suas actividades e interesse social no bem comum. Adler é um autor que achava
e acreditava que toda criança tem um sentimento de inferioridade por comparação
realista com os adultos, maiores e mais hábeis, cuja superação seria sua principal
meta na vida.
Adler
considerava o individuo como uma pessoa inteira, cuja vida passa da imaturidade
para maturidade. Este autor refere que as pessoas decidem o rumo que as suas
vidas vai tomar e que independentemente da direcção tomada, procuram alcançar a
perfeição dentro do que eles próprios estabelecem. Um aspecto fundamental da
teoria de Adler assenta no facto de que o homem deve cumprir 3 tarefas na vida:
inserir-se na sociedade, consagrar tempo a um trabalho e desenvolver relações
amorosas. Neste âmbito, através destes 3 elementos que uma criança vai
desenvolver os seus interesses sociais (Fadiman & Frager, 1986).
Segundo
Adler, em cada indivíduo, certos órgãos são de algum modo mais fracos que
outros, o que torna a pessoa mais susceptível a doenças e enfermidades envolvendo
estes órgãos mais frágeis, ou seja, no nosso entender, este autor agrupou as
personalidades humanas tendentes à doença psíquica em três tipos: da acção,
tendendo à agressividade e dominação, podendo resultar, por exemplo, em
sadismo, dependência química, ou suicídio; da submissão ou dependência,
tendentes a desenvolver fobias, obsessões, compulsões, histeria etc.; e da
evitação ou fuga, tendentes à psicose (idem).
Adler
criou alguns conceitos muito importantes para a psicologia da personalidade, as
quais descrevemos a seguir:
Inferioridade e compensação, nesse âmbito, há a inferioridade
orgânica, pois, para Adler, cada região do corpo apresenta uma inferioridade
básica, inferioridade essa que existe em virtude de herança ou de alguma
anomalia do desenvolvimento.
Luta pela
Superioridade, a
luta pela superioridade para Adler é um elemento do crescimento e desenvolvimento da
personalidade, pois conduz a pessoa de um estágio de desenvolvimento a outro superior. Por
outras palavras, corresponde ao objectivo superior do homem na sua luta
contra os obstáculos: ser agressivo, poderoso superior.
Objectivos de Vida, segundo Adler, cada indivíduo desenvolve
um objectivo de vida específico que funciona como centro de realização,
influenciado por experiências pessoais, valores, atitudes e personalidade,
formando-se no início da infância. Esses objectivos na óptica do autor são
formulados a partir da infância quando a criança procura formas de compensação
de sentimentos de inferioridade, insegurança e desamparo num mundo adulto.
Adler salienta que os traços de carácter necessários para atingir o objectivo
de vida não são nem inatos nem imutáveis, sendo adoptados como facetas
essenciais da direcção do objectivo do indivíduo.
O Estilo de vida, o estilo de vida para Adler corresponde
ao princípio do sistema pelo qual a personalidade funciona; é considerado como o
todo que comanda as partes. É o princípio que explica a singularidade da
pessoa. Cada pessoa tem um estilo de vida e não há dois iguais. O estilo de
vida é o único caminho que um indivíduo escolhe para buscar seu objectivo.
O Esquema de Apercepção, esquema de apercepção é a concepção de que cada indivíduo
desenvolve de si mesmo e do mundo, dentro de um estilo de vida. O conceito de
mundo de uma pessoa é que determina seu comportamento. Entretanto, isto
significa dizer que nossos sentidos não percebem factos reais, mas apenas
imagens subjectivas deles, como se fosse um reflexo do mundo externo.
O Poder Criador do Self, o Self corresponde a um sistema altamente personalizado e
subjectivo que interpreta e tornam significativas as experiências do organismo.
Para Adler, o “self” é criador, unitário, consistente e soberano na estrutura
da personalidade.
No nosso entender, a estrutura do self é algo que intervém
entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as respostas que ela oferece.
Nesta perspectiva, o homem constrói sua personalidade com a matéria-prima
da hereditariedade e da sua experiência. Apenas o self criador dá sentido à
vida; cria tanto o ideal como os meios de atingi-lo. O self é o princípio
activo da vida humana.
Interesse Social, Adler, na sua obra da Psicologia Individual
acredita que
“todo comportamento humano é social” porque crescemos num meio social e nossas
personalidades são socialmente formadas. Interesse social, poderia ser assim
entendido como um aspecto de senso de solidariedade, na qual fazem parte os sentimentos
de afinidade com o desenvolvimento da comunidade ideal de todo o género humano,
o que seria o último estágio da evolução.
Cooperação, a cooperação é considerada por Adler como
um método de sobrevivência da raça humana, é também uma das formas mais
efectivas de adaptação ao meio ambiente. Adler acreditava que somente através
da cooperação com outros, e operando como um membro cooperativo eficaz da
sociedade, poderemos superar nossas inferioridades reais ou nosso sentimento de
inferioridade.
Outro
factor primordial para o desenvolvimento da personalidade observado por Adler é
o facto de as crianças que são primogénitas quando deixam de possuir tal
característica em virtude de ter nascido outra criança mais nova, tornam-se
conservadoras, deixam de lado a pastilha, ficam inseguros.
2.3. Estrutura da
personalidade
De
acordo com Fadiman e Frager (1986) Adler entende que cada indivíduo, incluindo seus ideais e os
meios que visa para alcançá-los, constituem seu “papel de vida”, o qual jaz, em
parte, no seu subconsciente. Coerentemente a este papel, o indivíduo subordina
suas emoções e desejos específicos. O papel de vida forma-se na primeira
infância, sob influência de factores como ordem de nascimento, inferioridade ou
superioridade física, e descaso ou super protecção dos pais.
Corpo
Adler
diz que o corpo é a maior fonte de sentimentos de inferioridade na criança, que
está rodeada por aqueles que são maiores e mais fortes e que fisicamente actuam
de forma mais efectiva. Salientava que o mais importante são as nossas atitudes
em relação ao nosso corpo (Fadiman & Frager, 1986).
Referia que muitos homens e mulheres
atraentes nunca resolveram sentimentos de feiura e não-aceitação que sentiram
na infância, e ainda se comportam como se não tivessem atractivos. Ele era de
opinião de que os deficientes físicos podem lutar e melhorar o seu aspecto
físico além da média.
Relacionamento Social
Adler
dá valor aos relacionamentos sociais como essenciais no desenvolvimento de um
estilo de vida construtivo e realizador.
Vontade
Já
a vontade é um dos elementos centrais da teoria de Adler, pois para ele, a
vontade é um sinónimo de luta pela superioridade e realização de objectivos de
vida.
Emoções
Quanto
as emoções, Adler apresenta-nos dois tipos: as emoções socialmente disjuntivas,
que são aquelas que se referem à consecução de objectivos individuais, e
emoções socialmente conjuntivas, aquelas que têm tendência de promover as interacções
sociais do individuo.
Assim,
fazem parte das emoções disjuntivas, a raiva, medo ou repulsa, que na sua
opinião podem ocasionar uma mudança positiva na situação de vida do indivíduo,
embora, às vezes, às custas de outros. Esse tipo de emoções na perspectiva do
autor resultam de um sentimento de fracasso ou inadequação e servem para
mobilizar a força do indivíduo a fim de realizar novos esforços (Adler, 1956
citado por Fadiman & Frager, 1986).
Em relação as emoções disjuntivas, Adler entende que
estas são orientadas socialmente quando a pessoa tem desejo de compartilhar a
sua alegria com as demais pessoas.
Intelecto
Quanto
a essa questão, Adler afirma que neuróticos, criminosos e outros que
fracassaram em actuar na sociedade são bastante inteligentes, pois com
frequência dão argumentos e justificativas perfeitas e lógicas para o seu
comportamento. Adler denominou esse acto de inteligência por “inteligência
pessoal” que vê como uma superioridade pessoal (ibid).
Self
Adler
entende que o self é o estilo de vida do indivíduo. É a personalidade
considerada como um todo integrado.
2.4. Processos da
personalidade
Para
Adler, o crescimento da personalidade é principalmente uma questão de mover-se
a partir de uma atitude autocentrada e do objectivo de superioridade pessoal
para uma atitude de domínio construtivo do meio ambiente e de desenvolvimento
socialmente útil. A luta construtiva pela superioridade e o forte interesse
social e cooperação são os traços básicos do indivíduo saudável (Fadiman
& Frager, 1986).
Em
sua teoria da personalidade, Adler menciona que há um princípio dinâmico, este
direcciona cada um de nós ao futuro sempre direccionando a uma meta específica.
Uma vê, que a meta passa a tornar-se foco geral nosso aparelho psíquico modifica-se
rumo à concretização dele. Outro facto é que o mundo real deve agir sobre o
mundo das ideias, de modo que as fantasias tornem-se meros objectos acessórios
e não principais (op. cit.).
Para
ele, as três maiores tarefas que um ser humano defronta-se são o trabalho,
amizade e o amor. Todas elas são inerentes a condição da existência humana, não
importa de qual pessoa analise e observe. O ambiente social molda a sociedade
em si.
2.5. Crescimento e desenvolvimento da personalidade
Para
Adler o ambiente social possui considerável importância para o desenvolvimento
da personalidade de um individuo. No nosso entender, Adler busca compreender o
comportamento humano por seus objectivos e finalidades, mais do que através de
suas causalidades.
Ele acaba por interpretar que o meio social influencia muito
mais do que o meio interior, no que condiz ao desenvolvimento ou organização do
factor psíquico (Fadiman & Frager, 1986).
Segundo
Adler, as crianças superprotegidas não conseguem desenvolver sentimentos
sociais; tornam-se déspotas, à espera de que a sociedade se conforme com seus
desejos egoístas.
Adler considerava esse facto como um dano para à
sociedade, mas também, ele acreditava que a rejeição também produz
consequências desastrosas nas crianças. Maltratadas na infância, tornam-se
adultas inimigas da sociedade. Para o caso dessas crianças maltratadas, seu
estilo de vida é dominado pela necessidade de vingança. Significa isto que essas
condições de superprotecção e rejeição, produzem mais tarde, na pessoa concepções
erróneas sobre o mundo, o que faz resultar num estilo patológico de vida (Fadiman
& Frager, 1986).
O ser perfeito é aquele que busca a sua superação, não
acreditando que estar inferior aos demais, sendo assim ele adopta o sentimento
motivador como a chave de sua vida, dessa maneira ele sobrevive e prospera num
mundo onde há uma selecção natural dos seres existentes. Valem lembrar que
muitos obstáculos irão bater de frente contra os homens, no entanto o forte
derruba todos eles.
3. Conclusão
Neste
trabalho foram abordados as contribuições de Alfred Adler sobre a
personalidade. Durante a leitura e interpretação do material bibliográfico, foi
possível compreender que apesar de existirem vários autores com concepções
diferentes, eles se cruzam em alguns pontos. Mas, para todos os efeitos, para
caso específico de Adler, compreendemos que a sua teoria apresenta um valor de
relevância especificadamente único, visto que a sua abordagem teórica busca
fornecer informações relevantes sobre o desenvolvimento da personalidade.
Vimos
que a teoria de Adler é um resultado
de ramificações ideológicas surgidas no decurso da árvore dos estudos
psicológicos e psicanalíticos. Na verdade, o que importa é compreender taxativamente o conceito de
personalidade, visto que esta apresenta traços semelhantes nos escritos dos
mais variados autores e estudiosos do ramo da psicanálise. O que varia é o
conceito atribuído a origem da mesma, interessando tal estudo a todas as
ciências humanas.
4. Referências
Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da
Personalidade. Editora: Harbra. Coordenação da tradução Odette de Godoy
Pinheiro; tradução de Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo.
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