Ensino: questão de amor às crianças ou competência profissional?
Ensino: questão de
amor às crianças ou competência profissional?
Teaching: question of
love for children or professional competence?
Resumo
O presente artigo teve como objectivo compreender a questão
de ensino, como uma questão de amor às crianças ou competência profissional.
Para tal, fez-se uma busca de alguns eixos temáticos acerca do tema para sua
contextualização. O artigo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa
bibliográfica, feito através de consulta de alguns artigos e revistas que
trazem algumas contribuições sobre o tema. A partir da leitura feita sobre o
tema concluiu-se que o ensino é uma questão de amor às crianças.
Palavras-Chave:
Ensino, Amor, Crianças, Competência profissional.
Abstract
This article had as objective to understand the question about
teaching, whether it is a question of love to children or professional
competence. For this, a search
was made of some thematic axes about the theme for its contextualization. The article was developed from a
bibliographic research, made through consultation of some articles and
magazines that bring some contributions on the theme. From the reading on the subject it was
concluded that teaching is a matter of love for children.
Keywords: Teaching,
Love, Children, Professional competence.
Introdução
A tarefa de ensinar a criança não incumbe apenas ao
professor, os pais e outros responsáveis também são partes integrantes no
processo. Assim, quando o indivíduo é ensinado, ele é ao mesmo tempo
socializado, como a escola, e o professor, influenciam em uma das primeiras
socializações do indivíduo. As pessoas que escolhem “ensinar” muitas vezes
sofrem influências intrínsecas e extrínsecas. No caso dos aspectos extrínsecos
à profissão docente, encontramos a falta de opção, empregabilidade, melhor
opção acessível, estabilidade, acesso mais rápido ao mercado de trabalho, entre
outras), mas estudos indicam que a maioria dos professores tem uma maior
motivação por factores “intrínsecos” à profissão (como gosto pela profissão,
por ensinar, por querer mudar o mundo, por gostar de crianças, entre outras).
Posto isso, o presente trabalho teve como objectivo
compreender a questão de ensino, como uma questão de amor às crianças ou
competência profissional. Acredita-se, que este trabalho possa contribuir a
perceber se na verdade ensinar é amor às crianças ou uma competência
profissional.
Ensino: questão de
amor às crianças ou competência profissional?
Para iniciarmos a nossa reflexão em volta do tema, buscamos
num primeiro momento algumas contribuições dos autores Esteves (2009). Estes
autores abordam um pouco sobre a profissão docente na actualidade, e afirmam
que ser professor é em essência ser especialista de uma dada matéria
curricular, ser especialista do ensino/aprendizagem de um dado conteúdo.
No entanto, podemos fazer uma ligação entre ser especialista
e ser competente, pois para ser especialista na nossa visão, precisa ser
competente. Esse nosso argumento justifica-se nas palavras de Nunes (2011) ao
referir que o profissional docente que é reconhecido como competente é aquele
que sabe agir com competência, que utiliza os seus conhecimentos, capacidades,
qualidades, experiências, recursos emocionais para resolver as mais diversas
questões para as quais é solicitado.
Entretanto, por vezes o ser docente é pelo gosto da
profissão. Por exemplo, há quem escolhe ser professor pelo amor que tem ao
ensino e aos alunos, noutra vertente, há quem escolhe ser professor por se
achar competente. Como analisa Alves (1997, p. 89), geralmente as pessoas que
escolhem a profissão docente por gostar da profissão e considerarem que têm
vocação para esta são as que possuem uma performance académico-secundária mais
forte do que as que se enveredam por outras carreiras, por isso é preciso
analisar “a razão das aspirações pessoais de ingressar na profissão docente,
ligadas tradicionalmente pelas teorias inatistas ou do dom, ao problema da
motivação interior – vocação para a docência”.
Segundo Boterf (2003) ser um professor competente é
saber-fazer, ter aptidões ou qualidades, experiências acumuladas, saber
instrumentalizar os recursos do meio (instalações materiais, informações e
redes relacionais). Portanto, a competência baseia-se na utilização desta
instrumentalização de modo pertinente.
O conceito de competência, na perspectiva de Perrenoud
(2000) significa a capacidade de mobilização de diversos recursos cognitivos
para enfrentar um determinado tipo de situações. O profissional deve conseguir
gerir a situação globalmente, mobilizando algumas competências específicas,
independentes umas das outras, consoante a questão a resolver.
Perrenoud (2000) propõe um referencial para o
desenvolvimento de competências nos professores, constituído por dez grandes
famílias de competências:
- Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
- Administrar a progressão das aprendizagens.
- Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
- Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
- Trabalhar em equipa.
- Participar da administração da escola.
- Informar e envolver os pais.
- Utilizar novas tecnologias.
- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
- Administrar sua própria formação contínua.
No entanto, agora podemos referir que ensinar, trata-se do
amor às crianças e não apenas a competência profissional, pese embora, o ser
competente está ligado ao amor à profissão e ao compromisso com as crianças. Em
primeiro lugar, Bruschini e Amado (1988) destacam que alguns estudos consideram
que o envolvimento afectivo tem sido um dos principais factores para resultados
positivos do ensino. Em segundo lugar, as mesmas autoras acima citadas,
concluem que para ser professor exige sólida formação pedagógica, esforço,
dedicação, competência e espírito de classe, e então, só assim, é possível
enfrentar a relação com os alunos com afecto, mas sem o disfarce do amor e
pleiteando salários mais justos, através de sua participação em seu órgão de
classe.
Um estudo feito por Rabelo (2010), na qual inquiriu
professores do nível primário, concluiu que o gosto por crianças é a razão de
escolha profissional pela docência que apareceu em segundo lugar nos
inquéritos. Este dado nos permite verificar que esta não é uma das últimas
motivações das pessoas para escolher a docência, ao contrário, diferentemente
do que divulgam algumas representações que circulam na sociedade. No estudo do
autor supracitado, revela-se que, geralmente associada com o gosto pela
profissão ou com a possibilidade de transformação, as respostas dos inquiridos
mostram que muitos deles consideram o “gostar de criança” como estritamente
necessário para o exercício da docência. Isso nos lembra alguns escritos de
Paulo Freire (1997, p. 18) a qual dizia “não é possível ser professor/a sem
amar os alunos, mesmo que amar, só, não baste, e sem gostar do que se faz”.
Entretanto, nós entendemos que comunicar com as crianças
seja uma forma de fazer a transformação social pela actuação com crianças, pois
elas são o futuro da sociedade, e o saudoso Presidente da República de
Moçambique, Samora Moisés Machel uma vez referira que “as crianças são as
flores que nunca murcham, por isso há algumas características das crianças que
são veneradas, como sinceridade, espontaneidade, energia, alegria,
enriquecedoras. Com elas aprende-se, todos os dias.
No entanto, destaca-se que não basta gostar de criança para
estar apto a leccionar, pois o gostar de criança e da profissão é um aspecto
importante da profissão docente, embora conclua-se que é necessário muito mais
do que isso para um profissional ser “bom” ou competente no que faz (Rabelo,
2010). Enfim, há que se pensar se ao valorizar o afecto, o gosto por crianças,
a vontade de ensinar, a solidariedade como atributos essenciais para o
exercício docente “há que se pensar que o discurso é real e não fictício, que
este vem do seu intimismo como ser humano e ser feminino, e até da própria
projecção do amor”.
Conclusão
Acreditamos que ensinar seja amor às crianças, é também amar
a profissão, ser competente. E em nossa opinião pessoal, acreditamos que é
preciso ter amor e aptidão pela docência, mas é indispensável que os
professores sejam conscientes das construções sociais sobre as representações de
vocação e amor pela docência. Da revisão bibliográfica feita neste trabalho,
foi possível compreender que as pessoas engrenam na área de docência por
factores intrínsecos à actividade docente, nomeadamente: o gostar de ensinar e
de contribuir para o desenvolvimento dos alunos. Vários autores referem que a
maioria dos professores escolhe esta profissão porque esperam obter satisfação
a partir dos factores intrínsecos do trabalho; assim, a maior parte das medidas
que são identificadas como podendo contribuir para a motivação dos professores
são intrínsecas à actividade docente. Mas a ênfase nos incentivos intrínsecos
não significa que os extrínsecos não contribuam para o empenhamento dos
professores, não se pode analisar estes incentivos de forma descontextualizada
ou despersonalizada.
Referências
Alves, F. C. (1997). O encontro com a realidade docente:
estudo exploratório (Auto)biográfico. Tese de Doutoramento em Ciências da
Educação (não publicada), Universidade de Lisboa, Lisboa.
Boterf, G. L. (2003). Desenvolvendo a Competência dos
Profissionais. Porto Alegre: Artmed.
Bruschini, C. & Amado, T. (1988). Estudos sobre mulher e
educação. Cadernos de Pesquisa, 64, 4-13.
Esteves, M. M. (2009). Construção e Desenvolvimento das
Competências Profissionais dos Professores. Sísifo – Revista de Ciências da
Educação, n.º 8, pp. 37-48.
Freire, P. (1997). Professora sim, tia não: cartas a quem
ousa ensinar. São Paulo: Olho d’água.
Nunes, M. S. M. (2011). Competências Profissionais dos
Professores para a Construção da Relação Escola-Família: Um Estudo.
(Dissertação). Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Ciências da
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consultado em: 15/08/2019 às 11h45min].
Perrenoud, P. (2000). Novas Competências Profissionais para
Ensinar. Porto Alegre: Artmed.
Rabelo, A. O. (2010). “Eu gosto de ser professor e gosto de
crianças” - A escolha profissional dos homens pela docência na escola primária.
Revista Lusófona de Educação, 2010,15, 163-173. [acedido em:
<http://www.scielo.mec.pt/pdf/rle/n15/n15a12.pdf>; consultado em:
15/08/2019 às 13h13min].
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