Geografia do Turismo
Introdução
Neste pequeno artigo, começo por dizer que a Geografia desde a sua sistematização como ciência procedia
na análise dos fenómenos e como estes estavam dispersos pelo espaço, lido
então, como “geográfico”. Assim, a geografia do turismo é uma área independente dentro
da propria Geografia, mas ela faz parte dela. Especificamente neste artigo, corremos em
volta do turismo que, consderado uma actividade muito importante para as pessoas quando se fala a nivel nacacional e internaciona.
Definição
CAZES (1992) cit in ALBACH e GÂNDARA (2011) define a
Geografia do turismo como aquela que estuda a distribuição da actividade turística no espaço, a
produção espacial turística e a articulação espacial do sistema turístico com o
sistema local.
Sem mais nos alongarmos, podemos dizer que a Geografia do turismo é aquela em que os visitantes fazem ou consideram como uma actividade cultural e social.
Tipos de turismo
Segundo a nossa literatura consultada, vamos descrever e
caracterizar cerca de 10 tipos de turismos, nomeadamente: turismo social,
ecoturismo, turismo cultural, turismo de estudos de intercâmbio, turismo de
exportes, turismo de pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de
sol e praia, turismo de negócios e eventos, turismo rural e turismo de saúde
(BRIZOLLA, s/d).
Turismo social
O Turismo Social não é visto apenas como um segmento da
actividade turística, mas como uma forma de praticá-la com o objectivo de obter
benefícios sociais. Assim, define-se que Turismo Social é a forma de conduzir e
praticar a actividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a
equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão
(BRIZOLLA, s/d).
O sentido humanístico, a razão de ser do Turismo Social e
sua função estão focados na efectivação de condições que favoreçam o exercício
da cidadania - igualdade de direitos e deveres-, entendendo e trabalhando o
turismo com uma perspectiva de complementaridade à vida, além da questão
económica e da carência material.
Ecoturismo
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1995) o
Ecoturismo é um segmento da actividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o património natural e cultural, incentiva sua conservação e busca
a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações. A prática do Ecoturismo
pressupõe o uso sustentável dos atractivos turísticos.
Turismo cultural
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1995) Turismo
Cultural compreende as actividades turísticas relacionadas à vivência do
conjunto de elementos significativos do património histórico e cultural e dos
eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da
cultura.
A definição de turismo cultural está relacionada à motivação
do turista, especificamente de vivenciar o património histórico e cultural e
determinados eventos culturais, de modo a preservar a integridade desses
bens.
Vivenciar implica, essencialmente, em duas formas de relação
do turista com a cultura ou algum aspecto cultural: a primeira refere-se ao
conhecimento, aqui entendido como a busca em aprender e entender o objecto da
visitação; a segunda corresponde a experiências participativas, contemplativas
e de entretenimento, que ocorrem em função do objecto de visitação.
Turismo cívico
O Turismo Cívico ocorre em função de deslocamentos motivados
pelo conhecimento de monumentos, factos, observação ou participação em eventos
cívicos, que representem a situação presente ou a memória política e histórica
de determinados locais (BRIZOLLA, s/d). Este tipo de turismo abrange elementos
do passado e do presente, relacionados à pátria: factos, acontecimentos,
situações, monumentos referentes a feitos políticos e históricos.
Turismo Religioso
O Turismo Religioso configura-se pelas actividades turísticas
decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos
relacionados às religiões institucionalizadas (BRIZOLLA, s/d).
A busca espiritual e a prática religiosa, nesse caso,
caracterizam-se pelo deslocamento a espaços e eventos para fins de:
- Realização de
peregrinações e romarias;
- Participação em
retiros espirituais;
- Participação em
festas e comemorações religiosas;
- Contemplação de
apresentações artísticas de carácter religioso;
- Participação em
eventos e celebrações relacionados à evangelização de fiéis;
- Visitação a espaços
e edificações religiosas (igrejas, templos, santuários, terreiros);
- Realização de
itinerários e percursos de cunho religioso, entre outros.
Turismo Místico e Esotérico
O Turismo Místico e o Turismo Esotérico caracterizam-se
pelas actividades turísticas decorrentes da busca da espiritualidade e do
autoconhecimento em práticas, crenças e rituais considerados alternativos
(BRIZOLLA, s/d). Dentre as actividades típicas desse tipo de turismo, pode-se
citar as caminhadas de cunho espiritual e místico, as práticas de meditação e
de energização, entre outras.
Turismo Étnico
O Turismo Étnico constitui-se das actividades turísticas
decorrentes da vivência de experiências autênticas em contactos directos com os
modos de vida e a identidade de grupos étnicos. Busca-se estabelecer um
contacto próximo com a comunidade anfitriã, participar de suas actividades
tradicionais, observar e aprender sobre suas expressões culturais, estilos de
vida e costumes singulares (BRIZOLLA, s/d).
Turismo de estudos de intercâmbio
O Turismo de Estudos e Intercâmbio constitui-se da
movimentação turística gerada por actividades e programas de aprendizagem e
vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de
desenvolvimento pessoal e profissional (BRIZOLLA, s/d).
Podem-se constituir actividades desse tipo de turismo: o
intercâmbio estudantil, esportivo e universitário; a operacionalização de
acordos de cooperação entre países, estados e municípios na área educacional e
entre instituições pedagógicas; os cursos de idiomas, cursos técnicos,
profissionalizantes e cursos de artes; e as visitas técnicas, pesquisas
científicas e os estágios profissionalizantes, além dos trabalhos voluntários
com carácter pedagógico.
Turismo de exportes
Sendo assim, considerando o movimento turístico motivado
pelo exporte, estabelece-se que Turismo de Exportes compreende as actividades
turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades
esportivas (BRIZOLLA, s/d).
Turismo de pesca
Assim, o Turismo de Pesca compreende as actividades
turísticas decorrentes da prática da pesca amadora (BRIZOLLA, s/d).
As actividades turísticas que se efectivam em função da
prática da pesca amadora:
- Operação e
agenciamento
- Transporte
- Hospedagem
- Alimentação
- Recepção
- Recreação e
entretenimento
- Eventos
- Actividades
complementares
Turismo náutico
Turismo Náutico caracteriza-se pela utilização
de embarcações náuticas com finalidade da movimentação turística (BRIZOLLA,
s/d).
O Turismo Náutico requer políticas e acções
integradas que possam incentivar a elaboração de produtos e roteiros turísticos
e a estruturação de destinos tais como a construção de marinas públicas, a
adequação dos portos, a implantação e a qualificação de serviços de receptivo e
equipamentos turísticos nas regiões portuárias e outros locais onde ocorram
actividades pertinentes ao segmento.
Turismo de aventura
Define-se o Turismo de Aventura como os
movimentos turísticos decorrentes da prática de actividades de aventura de
carácter recreativo e não competitivo.
As actividades de aventura pressupõem
determinado esforço e riscos controláveis, e que podem variar de intensidade
conforme a exigência de cada actividade e a capacidade física e psicológica do
turista. Isso requer que o Turismo de Aventura seja tratado de modo particular,
especialmente quanto aos aspectos relacionados à segurança (BRIZOLLA, s/d).
Turismo de sol e praia
Turismo de Sol e Praia constitui-se das
actividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em
praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor (BRIZOLLA, s/d).
Turismo de negócios e eventos
Os deslocamentos realizados para trocas
comerciais e para participação em eventos ocorrem desde as antigas civilizações
e tornaram-se comuns a partir da Revolução Industrial, quando as viagens
tomaram grande impulso, facilitadas principalmente pelo aprimoramento dos meios
de transporte e de comunicação (BRIZOLLA, s/d).
Desta forma o Turismo de Negócios e Eventos
compreende o conjunto de actividades turísticas decorrentes dos encontros de
interesse profissional, associativo, institucional, de carácter comercial,
promocional, técnico, científico e social.
Turismo rural
A conceituação de Turismo Rural segundo
(BRIZOLLA, s/d) fundamenta-se em aspectos que se referem ao turismo, ao
território, à base económica, aos recursos naturais e culturais, à sociedade, e
ao campo afectivo. Com base nesses aspectos, define-se que Turismo Rural é o
conjunto de actividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido
com a produção agro-pecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando
e promovendo o património cultural e natural da comunidade.
Turismo de saúde
Os primeiros deslocamentos em busca de soluções
para os males físicos remontam às civilizações grega, romana e árabe, e ao uso
de águas medicinais principalmente sob a forma de banhos. Na Grécia, os templos
chamados “athleticus” eram construídos para banhos aos quais se atribuía
a capacidade de curar doenças. Os gregos também iniciaram a utilização de
práticas hidroterápicas, acompanhadas de massagens e dietas especiais
(BRIZOLLA, s/d).
Seguindo este sentido, o Turismo de Saúde
constitui-se das actividades turísticas decorrentes da utilização de meios e
serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos.
Principais
áreas turísticas do mundo
A seguir são apresentadas as principais áreas
turísticas do mundo.
Tabela 1: Os 10 maiores
destinos do turismo internacional em 2008
Posição |
País |
Continente |
1 |
França |
Europa |
2 |
Estados unidos |
América do norte |
3 |
Espanha |
Europa |
4 |
China |
Ásia |
5 |
Itália |
Europa |
6 |
Reino unido |
Europa |
7 |
Ucrânia |
Europa |
8 |
Turquia |
Europa |
9 |
Alemanha |
Europa |
10 |
México |
América do norte |
As principais
áreas turísticas de Moçambique
Moçambique possui um potencial turístico baseado
nos ricos e ainda por explorar recursos naturais, uma cultura diversificada com
um povo hospitaleiro. A combinação do turismo de praia tropical ao longo da
imensa costa, com a vida cosmopolita das nossas cidades, a incomparável e rica
diversidade de flora e fauna assim como o magnífico mosaico cultural, oferecem
uma plataforma sustentável para um destino turístico incontestável (MINISTÉRIO
DO TURISMO, 2006).
Historicamente, Moçambique conquistou a posição
de destino turístico de primeira classe em África e este sector jogava um papel
importante na economia do País. O turismo desenvolveu-se em torno de 3 temas:
as praias, a fauna e o ambiente dinâmico oferecido pelos centros urbanos e
concentrava-se principalmente nas zonas Sul e Centro do País.
O produto faunístico encontrava-se muito
desenvolvido e o Parque Nacional de Gorongoza era considerado uma das melhores
reservas de animais de África Austral e a caça nas coutadas, na zona Centro,
possuía padrão internacional (Ministério do Turismo, 2006).
Desta maneira, as principais regiões geográficas
do turismo em Moçambique são: Norte (Nampula, Cabo Delgado e Niassa), Centro
(Sofala, Manica, Tete e Zambézia) e Sul (Província e cidade de Maputo,
Inhambane e Gaza).
Importância
do turismo para a economia dos países
O Turismo é um sector económico em constante
crescimento em todo o Mundo. É uma actividade económica internacional que, em
2001, contribuiu com 4.2 % para o Produto Interno Bruto (PIB) da economia
Global e empregou 8.2% da população economicamente activa do mundo. É um
negócio internacional com crescimento altamente competitivo (PEDTM 2003-2014).
Segundo os indicadores de referência na área do
turismo (2010), as chegadas internacionais totalizaram 2.030.000 turistas e
visitantes a Moçambique em 2008 (MITUR, 2010 citado por MAIELA, 2013).
Segundo SILVA (2005) citado por NODARI
(2007), “o turismo se preocupa com a produção e distribuição de bens e
serviços que tornam possíveis os benefícios esperados pelos turistas em
viagens”, embora tais bens e serviços possam ser produzidos em
diversos sectores da economia.
A expansão turística representa aumento na
demanda por produtos agrícolas, mobiliários, transportes, construção civil e
outros. A aquisição de produtos na localidade contribui para a elevação do
número de empregos, gera mais receita para empresários, aumenta a receita
tributária e fixa a população. Os impactos económicos gerados pela actividade turística
são: Redução dos desequilíbrios regionais – nas regiões com nível baixo de
renda média, o aumento da demanda turística provoca uma série de efeitos
multiplicadores sobre diferentes sectores produtivos que lá funcionam (NODARI,
2007).
Esta demanda adicional enseja uma ampla gama de
aquisições de bens e serviços que, por sua vez, faz com que outros bens e
serviços sejam adquiridos, e assim sucessivamente. Contribuição na Arrecadação
de Impostos – A actividade turística tem uma importante contribuição para a
arrecadação de tributos.
Impacto
ambiental do turismo
O exercício da actividade turística provoca
impactos ambientais positivos e negativos, envolvendo o ambiente natural, o
ambiente transformado e o ambiente sociocultural. No entanto, o ambiente
natural é mais vulnerável aos impactos ambientais negativos do turismo.
Os impactos positivos do turismo decorrem do
facto de esta actividade poder subsidiar os custos de conservação do ambiente
(BELTRÃO, 2001 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).
Outros impactos positivos do turismo são a
conservação da herança cultural, o fortalecimento da identidade cultural e o
intercâmbio intercultural (DIAS, 2005 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).
Os principais impactos ambientais negativos do
turismo são: poluição e contaminação de cursos de água e de praias; poluição
atmosférica, visual e sonora; desmatamento, distúrbios à vida selvagem e perda
de biodiversidade; congestionamento; compactação, erosão e perda de fertilidade
do solo; danos a monumentos, sítios arqueológicos, lugares e construções
históricas; choques culturais; transformação dos valores e condutas morais;
difusão de epidemias; sexo, crime e mercantilização da cultura (FERRETTI, 2002;
DIAS, 2005 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).
De acordo com DIAS (2005) citado por FANDÉ e
PEREIRA (2014): “[...] uma lista dos impactos ambientais provocados
pelo turismo será sempre incompleta pela diversidade de efeitos que a
actividade provoca no meio ambiente, daí a necessidade de monitoramento
permanente”.
Contudo, diz-se que os efeitos negativos do
turismo podem ser evitados ou atenuados através de planeamento turístico
integrado, que considera aspectos tradicionais do planeamento (mercado,
económicos, financeiros, técnicos e coordenação do território) e planeamento
ecológico, que inclui aspectos ambientais (CASASOLA, 2003 citado por FANDÉ
& PEREIRA, 2014). O planeamento sustentável do turismo pode gerar conflitos
durante seu desenvolvimento, mas a compensação virá no futuro, com
rentabilidade a longo prazo (VALLS, 2006 citado por FANDÉ & PEREIRA, 2014).
Conclusões
O presente trabalho discorreu em volta do
turismo. Assim, quanto ao turismo este aparece como temática em evolução. E
encontra na Geografia oportunidade para aprimorar sua compreensão. Dentre
diversas rotulagens, a Geografia do Turismo surge para ser pensada dentro de
uma ciência que historicamente liga-se a estudos do meio físico, e quando há um
olhar para a sociedade, evidenciam-se os movimentos sociais e as minorias. O
turismo exige da economia um conjunto de actividades produtivas, no qual os
serviços têm um carácter prevalente que interessam a todos os sectores
económicos de um país ou uma região. O turismo se caracteriza por possuir, uma
interdependência estrutural com as demais actividades, em maior grau e
intensidade que qualquer outra actividade produtiva.
Referências
ALBACH, V. M. & GÂNDARA, J. M. G. Existe
uma Geografia do Turismo? Revista Geográfica de América Central,
Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica, II Semestre 2011, pp. 1-16.
BRIZOLLA, T. (coord.). (s/d). Programa
de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil.
FANDÉ, M. B. & PEREIRA, V. F. G. C. Impactos
ambientais do turismo: um estudo sobre a percepção de moradores e turistas no
Município de Paraty-RJ. Revista do Centro do Ciências Naturais e
Exactas - UFSM, Santa Maria Revista Electrónica em Gestão, Educação e
Tecnologia Ambiental – REGET e-ISSN2236 1170 - V. 18 n 3 Set-Dez 2014,
p.1170-1178.
MAIELA, A. A. Turismo: Factores de
Desenvolvimento Social: estudo multicasco. Pemba. Moçambique.
Dissertação (Mestrado). Pemba, 26 de Setembro de 2013.
NODARI, M. Z. R. As contribuições do turismo para a economia de foz do Iguaçu. Dissertação (Mestrado). Curitiba, Agosto de 2007.
OMT. Introdução à metodologia da
pesquisa em turismo. São Paulo: Roca, 2005.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Ministério do
Turismo. Estratégia De Marketing Turístico 2006-2013. Maputo,
Novembro de 2006.
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