Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia – Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal
Índice
1. Introdução
No humanismo
psicológico, o efeito máximo atingido parece limitar-se a uma proposição para o
futuro, isto é, ao planeamento para geração posterior. O humanismo é um
desenvolvimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa, com ênfase na
inovação, no enriquecimento experiencial e no crescimento, o que não significa
constante oposição social mas a capacidade e a habilidade de extrair do meio o
que é útil à pessoa e, em contrapartida, oferecer ao meio o que pode ser a ele
necessário para o equilíbrio geral. Os métodos e técnicas dirigidas pelo
enfoque humanístico partem do princípio de que a pessoa, como organismo total,
é um ser com características próprias, que age e interage de acordo com as
coordenadas básicas, bio psíquicas e sociais da sua personalidade, em uma
equação pessoal de que falam tantos autores. A pessoa é o centro e não o
sistema de valores e de hábitos sociais. Francamente opostos ao domínio sociocultural,
da primeira categoria de métodos, coloca como objectivo básico a satisfação e o
bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou subversão mas, ao
contrário, em busca de valores e de opções que conciliem o EU pessoal com o EU
social. Os métodos e os procedimentos práticos actuam tanto no plano consciente
como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos.
A pessoa atingida pela
orientação individualista passa a sentir-se segura e tranquila à medida que
entende e vivencia seus problemas pessoais e quando se torna capaz de enfrentar
a realidade em todos os seus aspectos; sente redução de tensões; o autoconceito
se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a diminuir e os sucessos e
fracassos são percebidos como factos naturais próprios do viver e do vivenciar
de cada um no seu momento de vida. No
enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profiláctico é
intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos
psíquicos ocorrem em uma dada pessoa.
Assim, sendo, o presente
trabalho vai abordar alguns procedimentos
centrados no contexto pessoal onde são apresentadas algumas técnicas de
intervenção com os clientes visando provocar alterações no comportamento.
1.1. Objectivos
Geral
ü Conhecer os procedimentos centrados no contexto
pessoal bem como os devidos procedimentos usados.
Específicos
ü Descrever as respectivas técnicas de actuação no
processo de aconselhamento e psicoterapia para esta categoria centrada no
contexto pessoal;
ü Identificar a importância das técnicas usadas
nessa categoria de procedimentos centrados no contexto pessoal.
1.2. Metodologia
Para a realização do trabalho, optou-se por fazer uma pesquisa bibliográfica
a partir do levantamento de referência teórica do livro de Santos.
2. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal
2.1. Procedimentos comuns
A abordagem inicial,
muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia da primeira categoria, ou
seja, há uma fase de relacionamento na qual o cliente expõe seus problemas, fórmula
sua “queixa” e o psicólogo o assiste, reflectindo seus sentimentos e
demonstrando aceitação e empatia (o que não significa aprovação ou reprovação).
A partir dessa fase e de acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efectua
sobre o cliente e as possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de
encontros periódicos, individuais ou em grupo.
Pode ou não haver
diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional. Geralmente essa providência
é dispensável em certas modalidades de actuação; noutras, faz parte do processo
e noutras é contra-indicado, como na metodologia rogeriana.
As técnicas de actuação
são bastante variadas, subordinadas a uma nomenclatura clássica e bem definida,
como a Psicanálise, o Psicodrama, a Gestalt e outras mais. Todas lidam com a
dinâmica do comportamento e procuram levar o cliente a descobrir e manipular
fontes profundas de ansiedade que, conscientemente ou não, actuam sobre ele. À
medida que o cliente consegue recompor as situações traumatizantes, em termos
que suavizem suas frustrações e conflitos, pela redução da sensibilidade (nível
de tolerância), pela melhor compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que o
cerca, ocorre maior enriquecimento e fortalecimento do EU e consequentemente
maiores e melhores recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais.
A seguir vamos, apresentar alguns exemplos de técnicas desta categoria.
2.1.1. Psicanálise e Técnicas Analiticamente
Orientadas
A Psicanálise parece
constituir o mais significativo movimento no campo da Psicologia, em todos os
tempos. Embora os efeitos de seus métodos terapêuticos sejam questionados por
muitos, os referenciais teóricos por ela estabelecidos vieram contribuir poderosamente
para que o homem entendesse muito do que se passa em seu comportamento. De tal
forma suas proposições corresponderam à necessidade de explanação da conduta
humana, que seus conceitos e sua terminologia tornaram-se elementos comuns,
quer na linguagem científica ou profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram
muitos dos conceitos actuais sobre as reacções humanas e tendem a
universalizar-se pelo uso corrente.
Devido a Sigmund Freud,
seu genial criador, as teorias e técnicas passaram, posteriormente, por grandes
e minuciosas elaborações e que se classificam, hoje, em métodos freudianos ou
ortodoxos, e muitos outros, classificados de analiticamente orientados; envolvem
associação livre, catarse, interpretação de ideias, de actos, de atitudes, de
sonhos, de resistências e a manipulação do fenómeno de transferência (FREUD,
1949, 1958).
Os conceitos básicos,
derivados da Psicanálise, não se limitam actualmente à tradicional relação
terapeuta-cliente, mas estendem suas aplicações a quase todos os campos do comportamento
humano, seja na educação, na política, na religião, como, mais recentemente,
dento das organizações de trabalho, a serviço do bem-estar e da produtividade.
Assim, conflitos existentes nas relações profissionais, enriquecimento do
trabalho e o desempenho de chefes e subordinados têm sido analisados e
interpretados em termos freudianos.
Como processo
terapêutico, a Psicanálise e seus derivados constituem tratamentos demorados e
dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões e conflitos profundos,
servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela qual o cliente revive suas
experiências passadas e o “aqui e agora” e reorganiza seus sentimentos em
relação a essas experiências e ao quadro geral da personalidade.
A topografia da vida
mental é entendida em termos de Id, Ego e Superego, quando se utiliza a
linguagem freudiana, ou com nomenclatura diversa, mas de conceitos
equivalentes, quando empregada por outras correntes psicológicas. Na sua mais
ampla acepção, o método empregado tem em vista o estudo e a manipulação das
forças psicológicas inconscientes que motivam o comportamento humano. Este é
analisado e interpretado, seja na actividade manifesta no dia-a-dia, seja nos
seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte e noutros
aspectos do pensamento e da acção.
O alvo terapêutico
básico e original é dotar a pessoa de consciência de suas características e dos
dinamismos que emprega para lidar com suas experiências traumáticas anteriores,
com seus instintos e suas energias.
Como técnica, o
terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambíguo. A
essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da transferência,
isto é, o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto
aceitável que simboliza seus problemas. Qualquer modificação profunda na
personalidade implica em compreender e explorar activamente essa transferência,
de forma que o cliente perceba como seu passado interfere no presente. À medida
que o processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependência do
analista e reformula suas atitudes básicas, o que geralmente exige longo tempo
e considerável habilidade do terapeuta. .
Muitas e profundas
alterações ocorreram no campo aberto por Freud, de tal forma que algumas delas
passaram a constituir “escolas” ou movimentos com concepções e métodos
dificilmente ligados às raízes originais.
2.1.2. Técnicas de Reorganização Cognitiva
A ênfase terapêutica,
nesta linha de acção, é dirigida para os conceitos e valores que o cliente
desenvolveu e em função dos quais as dificuldades vivenciais emergiram. O psicólogo
procura descobrir as concepções “erróneas” ou “inadequadas” do cliente e
trazê-las a sua compreensão, modificando, assim, o que Adler (1917) denominou
de “estilo de vida”.
O processo varia muito
entre seus aplicadores consistindo, genericamente, em entrevistas com o
cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da sua constelação de
vida, a fim de se ter ideias precisas das desordens comportamentais. O mapa
cognitivo é explorado; as dificuldades são francamente discutidas, apontando-se
as incoerências, ilogicidades e erros interpretativos, actuando-se,
principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom senso. Adler dá
grande atenção ao clima e às relações familiares (1917); Ellis procura detectar
as principais falsas concepções e tenta modificá-las (1958, 1971); Phillips
(1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955) têm ideias básicas
correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas.
Este último salienta-se pelo foco dirigido ao encontro de um sentido de vida e
à responsabilidade que a pessoa assume no contribuir para a vida mais do que no
usá-la.
O cliente é instruído a
lutar contra as falsas concepções, a ignorar as depressões ou ansiedades,
enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto inevitável, e a aceitar
seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como indicadores de algo
errado no seu estilo de vida.
A terapia cognitiva
envolve técnicas especiais (BECK, 1976) que abrangem, também, a análise do que
o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu monólogo interior. A teoria da
dissonância cognitiva (FESTINGER, 1957) pode oferecer pistas para estratégias
de tratamento na linha comportamentalista (JENSEN, 1979). As técnicas de
persuasão são também incluídas e analisadas por diversos autores (HARRELL,
1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na medida
em que se cuida de um processo de aprendizagem. Neste enfoque, os procedimentos
têm em vista manipular os sintomas e os problemas de ajustamento sem atentar
para eventuais causas. As sessões terapêuticas assumem, muitas vezes, as
características de instruções e de aulas. O uso de reforços, comportamento
imitativo e observação de modelos são largamente usados.
2.1.3. Técnicas de Crescimento Pessoal e Autodeterminação
Técnicas Diversas
Há grupos, movimentos e
serviços públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da
vida, centros de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou
marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e
grupos de encontro em geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de
proposições). Alguns se utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum;
outros utilizam o exporte e os exercícios físicos; alguns empregam o esforço,
outros o repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontracção, outros, ao
contrário, a assunção da responsabilidade e da preocupação; alguns promovem
estados solitários e de meditação, outros o companheirismo e a convivência
grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si
mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a obediência e o conformismo.
Todos eles têm em comum a busca de soluções para problemas emocionais ou
circunstanciais, no plano existencial.
As proposições
terapêuticas parecem estar ao sabor da actividade de muitos, bem como do
charlatanismo de alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente
empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos
clientes.
Dentre as técnicas que
têm merecido considerável estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como:
As técnicas suportivas
ou de tranquilização, individuais ou em grupo, geralmente destinadas a
clientes em estado de grande ansiedade ou depressão. Usam-se vários
procedimentos, dentre os quais a catarse,
actividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose,
relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos
iniciais seguidos, depois, por actividades programadas no sentido lúdico,
artístico, filantrópico, profissional, etc.
Nas técnicas suportivas
procura-se, inicialmente, baixar o nível de ansiedade, ou de depressão,
elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância às frustrações e conflitos,
principalmente quando estes são irremovíveis (redução do autoconceito, perda de
bens ou de parentes, incapacidade física, convivência forçada com fontes de
atrito, etc.). Não se cogita de reorganizar a personalidade, mas de reduzir ou
eliminar os sintomas agudos, propiciando condições para uma programação
terapêutica posterior.
A terapia gestáltica que
parte da experiência organísmica, colocando o corpo, com seus movimentos e
sensações, no mesmo plano da mente. A ênfase terapêutica consiste em colocar a
pessoa em contacto com as necessidades correntes e imediatas do organismo,
Perls (1976), considerado o principal fundador, coloca como fundamental a
estrutura e a configuração da percepção, isto é, o processo activo que leva à
construção de um todo perceptivo organizado e significativo entre o organismo e
seu meio. Os desajustes e neuroses são consequências de separações e espaços
não naturais na formação das “gestalten” (configurações) e a ansiedade seria a
sensação de ameaça a essa unificação criativa.
O tratamento é, em
geral, grupal, sob a forma de “workshops”, nos quais são usadas dramatizações,
troca de posições e papéis, visando-se “minimizar o espaço vazio entre os
processos subjectivos e objectivos e restaurar na pessoa a totalidade da
experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital” (KOVEL, 1976).
Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa, como forma de
conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista.
A terapia gestáltica
centrada na pessoa é, no dizer de Maureen Miller, uma terapia de movimento;
movimento através do espaço, do tempo e dos níveis de consciência. O objectivo
é a libertação do movimento natural de energia de vida, através de acção
espontânea e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação das suas
necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde provém
energia para a vida.
Os seguintes conceitos
são básicos:
1. O universo é um todo;
é racional; comporta-se de acordo com suas próprias leis e está em evolução;
2. A vida, inclusive a
vida humana, segue um caminho de crescimento em direcção à complexidade. Essa
tendência formativa é um movimento no sentido da realização construtiva de
possibilidades que lhe são inerentes e que não podem ser destruídas sem se
destruir todo o organismo;
3. É da natureza da
consciência humana procurar sempre contacto cada vez mais profundo com uma
realidade absoluta;
4. A consciência tem
capacidade para expandir-se aprofundando o contacto com a realidade absoluta.
A postura do terapeuta
na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de fé nesses conceitos, de
humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é conhecido como
personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É uma postura de
curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é uma postura de
incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos
contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como co
explorador dos mistérios internos e externos que constituem a existência do
cliente e que o ajuda a descobrir os limites da sua energia do seu movimento e
da sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (MILLER, 1981).
A terapia biofuncional e
bioenergética, resultante das contribuições de Reich (1945), tem como
núcleo a ideia de que o estado emocional depende da função do organismo;
vivemos e actuamos fundamentalmente através do corpo e das suas energias,
expressas ou reprimidas. Neste sentido, a função vital e saturar do orgasmo é
um exemplo frisante. É necessário penetrar na “couraça muscular” que o cliente
desenvolve a fim de libertar o material inconsciente. Essa liberação de emoções
reprimidas, através da manipulação dos estados e tensões corporais, permite a
mobilização da energia orgânica. Daí o nome de organoterapia a essa
posição. Posteriormente, Lowen desenvolveu o pensamento reichiano, com algumas
contribuições, sob o nome de terapia bioenergética.
O Psicodrama criado
por Moreno (1959) visa à expressão de sentimentos gerados por situações
propostas pelo terapeuta ou pelos clientes e pela audiência, através de
determinados papéis desempenhados pelos participantes. O psicodrama pode actuar
sob diferentes orientações doutrinárias e tem evoluído muito como técnica
terapêutica, preventiva ou educativa. Dentre suas alternativas há situações que
enfocam o “aqui e agora” no relacionamento pessoal e social, bem como situações
que antecipam dificuldades futuras e outras que focalizam problemas já vividos
e que possam ser revistos. Há, também, dramatizações de situações hipotéticas
que possam trazer à tona repressões e comportamentos não suficientemente
explorados.
O psicodrama, além de
sua função terapêutica, é usado, também, como procedimento didáctico.
A análise transaccional,
criada por Berne (1976), enfatiza as respostas e os papéis que as pessoas
adoptaram nas relações ambientais e interpessoais, as situações de segurança,
auto-estima e de inferioridade comumente assumida por clássicas figuras de Pai,
Adulto e Criança e seus simbolismos. A terapia focaliza o Ego adulto e os
estados de OK, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e pelos outros,
ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu significado.
A terapia primal ou
do grito primal, originária de Janov (1970), baseia-se na liberação de
sentimentos profundamente reprimidos e que pode ocorrer sob forma dramática. O
cliente é instruído para seguir uma programação terapêutica, tal como
permanecer em um hotel durante três semanas e abster-se de drogas ou distracções
redutoras, de tensão e dedicar-se intensa e unicamente ao tratamento, nesse
período. Nessa fase, o cliente tem sessões de duas ou três horas diárias com o
terapeuta, como único diante a ser atendido. Em cada sessão lida-se com um objectivo
específico para levar o cliente a expressar seus mais profundos sentimentos
relacionados com seus pais e isto ocorre através de palavras, gestos e
vigorosas expressões físicas e verbais. Seu tratamento pode continuar, depois,
em grupo no qual o cliente continua centrado no seu problema (KOVEL, 1976).
A psicobiologia, de
A. Meyer (1958), que enfatiza as vantagens de um amplo diagnóstico e, a seguir,
a integração de todas as formas de psicoterapia, bem como as actuações
biológicas e médicas. O posicionamento é global ou holístico com base no senso
comum e na vivência do cliente em seu meio.
Já parcialmente
mencionada no item relativo aos métodos de contexto sociocultural, a logoterapia
é aqui citada por constituir um conjunto de princípios e de técnicas de
certa forma deles independentes. Criada por Victor Frankl (1955), sucessor de
Freud em sua cátedra em Viena, opõe-se ao princípio do prazer e ao
pansexualismo freudiano. Sua técnica consiste em facilitar ao cliente o
encontro de um sentido em sua vida o que, paralelamente, implica em aceitação
do Dever e da Responsabilidade.
A saúde psíquica decorre
do preenchimento do vazio existencial; de um espiritualismo que conduza à
descoberta, em si mesmo, do significado da vida. A logoterapia esforça-se,
especialmente, pela consciencialização do espiritual. Como análise da angústia
existencial, procura levar o homem a se perceber como ser responsável e, nesse
parâmetro, achar o sentido da sua existência.
A intenção paradoxal é
um dos procedimentos usados. Incentiva o cliente a enfrentar e a praticar
aquilo que teme. Esse processo, já estudado por outros métodos, equivale a
desenvolver uma resistência mental (ou espiritual) a certos factos
perturbadores ou ameaçadores. Além da heróica resistência, acompanha-se de
ironia para com o facto ameaçador, destruindo-lhe a força.
2.1.4. A Posição Existencialista e o Retorno à Filosofia
Partindo da
Fenomenologia, o Existencialismo, além de seu conteúdo filosófico, assumiu uma
série de posições orientadoras ou terapêuticas condizentes com seu entendimento
do Eu e do Mundo. Esse posicionamento não se erige, porém, como um novo sistema
de terapia, mas uma nova atitude para com a terapia, como afirma May (1976).
Há um dimensionamento
humanístico com retorno às questões fundamentais do ser, da vida e dos valores
humanos, em franca oposição à avaliação e à medida psicológica instaladas a
partir da Psicofísica de Fechner e da Psicologia Científica ou Experimental de
Wundt e que teve seu apogeu nos trabalhos de Binet e no surgimento dos testes
psicológicos e da psicotécnica na primeira metade do século XX.
Passa-se, assim, do
furor de exames e verificações de quocientes de inteligência ou de outros
atributos a uns posicionamentos globais, dinâmicos, em que esses dados
continuam significativos, mas sua importância na vida e nas reacções humanas é
sentida e entendida em outras perspectivas. O comportamento da pessoa não se
define mais em termos de perfis ou de traços independentes, mas em termos da
sua experiência vital, nem sempre acessível aos instrumentos actuais de medida.
Na perspectivas
holísticas, compreensivas, incluem-se valores sociais e humanos, externos,
oriundos de um contexto de necessidades e pressões grupais e, de outro, de
auto-expressão, de ser o que é. Embora inconcebível o Eu sem o outro, existe no
campo do pensamento e da acção um território marcadamente pessoal, parcialmente
autónomo, que responde à solicitação e exigências internas, geradas na relação
Eu-Outro e que passa a pertencer à pessoa como património pessoal que vive e
vivencia.
Segundo (SANTOS, 1982)
diz que pode-se admitir que não existe um conjunto de processos formais,
metodológicos, de estilo terapêutico, na Fenomenologia ou no Existencialismo,
pois isso iria de encontro a seus princípios básicos. Existem, porém, atitudes
terapêuticas.
A empatia abre as portas
ao mundo do cliente para que ele se veja a si mesmo, se encontre e se aceite;
tolere suas limitações e perceba o valor e a peculiaridade de ser ele mesmo.
Importa descobrir-se e descobrir os outros, como o Eu emerge e evolui através
do contacto com o mundo e com pessoas. Entender e sentir a totalidade da
existência é o alvo. Alguns existencialistas, dentre os quais Boss (1979),
traçam uma certa imagem de uma terapia existencialista (“daseinanalytic therapy”),
opondo-se frontalmente aos conceitos freudianos, particularmente no que se
refere aos fenómenos da transferência e do inconsciente (embora os relatem sob
outros títulos).
May admite que a terapia
existencialista não é uma cura, mas busca do autoconhecimento. A chave para o
processo de aconselhamento, como textualmente declara May, está na empatia. É
através desse sentimento que todos os conselheiros atingem as pessoas. Na
medida em que essa comunhão de sentimentos ocorre na sessão de aconselhamento,
o problema do cliente “é transferido para essa nova pessoa e o aconselhador
arca com sua metade do problema. E a estabilidade psicológica do conselheiro,
seu esclarecimento, coragem e força de vontade transferir-se-ão para o
aconselhando, prestando-lhe grande assistência na luta que se desenvolve no
interior da sua personalidade” (MAY, 1977).
A volta aos problemas
filosóficos não se faz, porém, à moda antiga. Vem impregnada de conceitos
operacionais e não se restringe à filosofia pura, Busca nesta uma praxis, algo
que ajude o homem a extrair da vida o que ela tem de melhor para si e para os
outros e não se identifica com a pura especulação. Nesse sentido, o retorno à
filosofia pode vir, com o tempo, a explicar muitos dos fracassos dos
diagnósticos e prognósticos psicológicos. Santos (1982) diz que se conseguirmos
enquadrar e entender o comportamento humano dentro de um quadro de valores
sociais e pessoais, provavelmente a acção orientadora e psicoterápica
ultrapassará os modestos resultados até hoje obtidos.
3. Conclusão
Neste trabalho foram apresentadas
diferentes técnicas de actuação no processo de aconselhamento psicológico e
terapêutico. Portanto, percebeu-se que todas essas
técnicas abordadas lidam com a dinâmica do comportamento e procuram na verdade levar
a pessoa a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que de forma
conscientemente ou não causam problemas para a pessoa. Assim, se durante o
processo de aconselhamento e terapia a pessoa consegue dominar seus problemas
através das técnicas que com ele são usadas, por conseguinte, ela conseguirá
enriquecer o seu Ego. Assim sendo, podemos afirmar que nesses processos de
aconselhamento e psicoterapia ao nosso entender sempre espera-se que o
indivíduo mude de comportamento por isso que é importante que o cliente seja
uma pessoa participante no processo para que possa ser ajudada a ultrapassar
seus problemas e consiga levar uma vida da qual deseja.
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