quinta-feira, 28 de julho de 2016

Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia – Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal

Índice



1. Introdução

No humanismo psicológico, o efeito máximo atingido parece limitar-se a uma proposição para o futuro, isto é, ao planeamento para geração posterior. O humanismo é um desenvolvimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa, com ênfase na inovação, no enriquecimento experiencial e no crescimento, o que não significa constante oposição social mas a capacidade e a habilidade de extrair do meio o que é útil à pessoa e, em contrapartida, oferecer ao meio o que pode ser a ele necessário para o equilíbrio geral. Os métodos e técnicas dirigidas pelo enfoque humanístico partem do princípio de que a pessoa, como organismo total, é um ser com características próprias, que age e interage de acordo com as coordenadas básicas, bio psíquicas e sociais da sua personalidade, em uma equação pessoal de que falam tantos autores. A pessoa é o centro e não o sistema de valores e de hábitos sociais. Francamente opostos ao domínio sociocultural, da primeira categoria de métodos, coloca como objectivo básico a satisfação e o bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou subversão mas, ao contrário, em busca de valores e de opções que conciliem o EU pessoal com o EU social. Os métodos e os procedimentos práticos actuam tanto no plano consciente como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos.
A pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura e tranquila à medida que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redução de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como factos naturais próprios do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida. No enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profiláctico é intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos psíquicos ocorrem em uma dada pessoa.
Assim, sendo, o presente trabalho vai abordar alguns procedimentos centrados no contexto pessoal onde são apresentadas algumas técnicas de intervenção com os clientes visando provocar alterações no comportamento.


1.1. Objectivos

Geral
ü  Conhecer os procedimentos centrados no contexto pessoal bem como os devidos procedimentos usados.
Específicos
ü  Descrever as respectivas técnicas de actuação no processo de aconselhamento e psicoterapia para esta categoria centrada no contexto pessoal;
ü  Identificar a importância das técnicas usadas nessa categoria de procedimentos centrados no contexto pessoal.

1.2. Metodologia

Para a realização do trabalho, optou-se por fazer uma pesquisa bibliográfica a partir do levantamento de referência teórica do livro de Santos.


2. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal

2.1. Procedimentos comuns

A abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia da primeira categoria, ou seja, há uma fase de relacionamento na qual o cliente expõe seus problemas, fórmula sua “queixa” e o psicólogo o assiste, reflectindo seus sentimentos e demonstrando aceitação e empatia (o que não significa aprovação ou reprovação). A partir dessa fase e de acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efectua sobre o cliente e as possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos, individuais ou em grupo.
Pode ou não haver diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional. Geralmente essa providência é dispensável em certas modalidades de actuação; noutras, faz parte do processo e noutras é contra-indicado, como na metodologia rogeriana.
As técnicas de actuação são bastante variadas, subordinadas a uma nomenclatura clássica e bem definida, como a Psicanálise, o Psicodrama, a Gestalt e outras mais. Todas lidam com a dinâmica do comportamento e procuram levar o cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que, conscientemente ou não, actuam sobre ele. À medida que o cliente consegue recompor as situações traumatizantes, em termos que suavizem suas frustrações e conflitos, pela redução da sensibilidade (nível de tolerância), pela melhor compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre maior enriquecimento e fortalecimento do EU e consequentemente maiores e melhores recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais. A seguir vamos, apresentar alguns exemplos de técnicas desta categoria.

2.1.1. Psicanálise e Técnicas Analiticamente Orientadas

A Psicanálise parece constituir o mais significativo movimento no campo da Psicologia, em todos os tempos. Embora os efeitos de seus métodos terapêuticos sejam questionados por muitos, os referenciais teóricos por ela estabelecidos vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse muito do que se passa em seu comportamento. De tal forma suas proposições corresponderam à necessidade de explanação da conduta humana, que seus conceitos e sua terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem científica ou profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos actuais sobre as reacções humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente.
Devido a Sigmund Freud, seu genial criador, as teorias e técnicas passaram, posteriormente, por grandes e minuciosas elaborações e que se classificam, hoje, em métodos freudianos ou ortodoxos, e muitos outros, classificados de analiticamente orientados; envolvem associação livre, catarse, interpretação de ideias, de actos, de atitudes, de sonhos, de resistências e a manipulação do fenómeno de transferência (FREUD, 1949, 1958).
Os conceitos básicos, derivados da Psicanálise, não se limitam actualmente à tradicional relação terapeuta-cliente, mas estendem suas aplicações a quase todos os campos do comportamento humano, seja na educação, na política, na religião, como, mais recentemente, dento das organizações de trabalho, a serviço do bem-estar e da produtividade. Assim, conflitos existentes nas relações profissionais, enriquecimento do trabalho e o desempenho de chefes e subordinados têm sido analisados e interpretados em termos freudianos.
Como processo terapêutico, a Psicanálise e seus derivados constituem tratamentos demorados e dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões e conflitos profundos, servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela qual o cliente revive suas experiências passadas e o “aqui e agora” e reorganiza seus sentimentos em relação a essas experiências e ao quadro geral da personalidade.
A topografia da vida mental é entendida em termos de Id, Ego e Superego, quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenclatura diversa, mas de conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes psicológicas. Na sua mais ampla acepção, o método empregado tem em vista o estudo e a manipulação das forças psicológicas inconscientes que motivam o comportamento humano. Este é analisado e interpretado, seja na actividade manifesta no dia-a-dia, seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte e noutros aspectos do pensamento e da acção.
O alvo terapêutico básico e original é dotar a pessoa de consciência de suas características e dos dinamismos que emprega para lidar com suas experiências traumáticas anteriores, com seus instintos e suas energias.
Como técnica, o terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambíguo. A essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da transferência, isto é, o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto aceitável que simboliza seus problemas. Qualquer modificação profunda na personalidade implica em compreender e explorar activamente essa transferência, de forma que o cliente perceba como seu passado interfere no presente. À medida que o processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependência do analista e reformula suas atitudes básicas, o que geralmente exige longo tempo e considerável habilidade do terapeuta.        .
Muitas e profundas alterações ocorreram no campo aberto por Freud, de tal forma que algumas delas passaram a constituir “escolas” ou movimentos com concepções e métodos dificilmente ligados às raízes originais.

2.1.2. Técnicas de Reorganização Cognitiva

A ênfase terapêutica, nesta linha de acção, é dirigida para os conceitos e valores que o cliente desenvolveu e em função dos quais as dificuldades vivenciais emergiram. O psicólogo procura descobrir as concepções “erróneas” ou “inadequadas” do cliente e trazê-las a sua compreensão, modificando, assim, o que Adler (1917) denominou de “estilo de vida”.
O processo varia muito entre seus aplicadores consistindo, genericamente, em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da sua constelação de vida, a fim de se ter ideias precisas das desordens comportamentais. O mapa cognitivo é explorado; as dificuldades são francamente discutidas, apontando-se as incoerências, ilogicidades e erros interpretativos, actuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom senso. Adler dá grande atenção ao clima e às relações familiares (1917); Ellis procura detectar as principais falsas concepções e tenta modificá-las (1958, 1971); Phillips (1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955) têm ideias básicas correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas. Este último salienta-se pelo foco dirigido ao encontro de um sentido de vida e à responsabilidade que a pessoa assume no contribuir para a vida mais do que no usá-la.
O cliente é instruído a lutar contra as falsas concepções, a ignorar as depressões ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto inevitável, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como indicadores de algo errado no seu estilo de vida.
A terapia cognitiva envolve técnicas especiais (BECK, 1976) que abrangem, também, a análise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu monólogo interior. A teoria da dissonância cognitiva (FESTINGER, 1957) pode oferecer pistas para estratégias de tratamento na linha comportamentalista (JENSEN, 1979). As técnicas de persuasão são também incluídas e analisadas por diversos autores (HARRELL, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na medida em que se cuida de um processo de aprendizagem. Neste enfoque, os procedimentos têm em vista manipular os sintomas e os problemas de ajustamento sem atentar para eventuais causas. As sessões terapêuticas assumem, muitas vezes, as características de instruções e de aulas. O uso de reforços, comportamento imitativo e observação de modelos são largamente usados.

2.1.3. Técnicas de Crescimento Pessoal e Autodeterminação

Técnicas Diversas
Há grupos, movimentos e serviços públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da vida, centros de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e grupos de encontro em geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de proposições). Alguns se utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum; outros utilizam o exporte e os exercícios físicos; alguns empregam o esforço, outros o repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontracção, outros, ao contrário, a assunção da responsabilidade e da preocupação; alguns promovem estados solitários e de meditação, outros o companheirismo e a convivência grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a obediência e o conformismo. Todos eles têm em comum a busca de soluções para problemas emocionais ou circunstanciais, no plano existencial.
As proposições terapêuticas parecem estar ao sabor da actividade de muitos, bem como do charlatanismo de alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos clientes.
Dentre as técnicas que têm merecido considerável estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como:
As técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou depressão. Usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse, actividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose, relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos iniciais seguidos, depois, por actividades programadas no sentido lúdico, artístico, filantrópico, profissional, etc.
Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância às frustrações e conflitos, principalmente quando estes são irremovíveis (redução do autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade física, convivência forçada com fontes de atrito, etc.). Não se cogita de reorganizar a personalidade, mas de reduzir ou eliminar os sintomas agudos, propiciando condições para uma programação terapêutica posterior.
A terapia gestáltica que parte da experiência organísmica, colocando o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da mente. A ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), considerado o principal fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da percepção, isto é, o processo activo que leva à construção de um todo perceptivo organizado e significativo entre o organismo e seu meio. Os desajustes e neuroses são consequências de separações e espaços não naturais na formação das “gestalten” (configurações) e a ansiedade seria a sensação de ameaça a essa unificação criativa.
O tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de “workshops”, nos quais são usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se “minimizar o espaço vazio entre os processos subjectivos e objectivos e restaurar na pessoa a totalidade da experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital” (KOVEL, 1976). Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa, como forma de conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista.
A terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de Maureen Miller, uma terapia de movimento; movimento através do espaço, do tempo e dos níveis de consciência. O objectivo é a libertação do movimento natural de energia de vida, através de acção espontânea e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação das suas necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde provém energia para a vida.
Os seguintes conceitos são básicos:
1. O universo é um todo; é racional; comporta-se de acordo com suas próprias leis e está em evolução;
2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em direcção à complexidade. Essa tendência formativa é um movimento no sentido da realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não podem ser destruídas sem se destruir todo o organismo;
3. É da natureza da consciência humana procurar sempre contacto cada vez mais profundo com uma realidade absoluta;
4. A consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto com a realidade absoluta.
A postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é uma postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como co explorador dos mistérios internos e externos que constituem a existência do cliente e que o ajuda a descobrir os limites da sua energia do seu movimento e da sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (MILLER, 1981).
A terapia biofuncional e bioenergética, resultante das contribuições de Reich (1945), tem como núcleo a ideia de que o estado emocional depende da função do organismo; vivemos e actuamos fundamentalmente através do corpo e das suas energias, expressas ou reprimidas. Neste sentido, a função vital e saturar do orgasmo é um exemplo frisante. É necessário penetrar na “couraça muscular” que o cliente desenvolve a fim de libertar o material inconsciente. Essa liberação de emoções reprimidas, através da manipulação dos estados e tensões corporais, permite a mobilização da energia orgânica. Daí o nome de organoterapia a essa posição. Posteriormente, Lowen desenvolveu o pensamento reichiano, com algumas contribuições, sob o nome de terapia bioenergética.
O Psicodrama criado por Moreno (1959) visa à expressão de sentimentos gerados por situações propostas pelo terapeuta ou pelos clientes e pela audiência, através de determinados papéis desempenhados pelos participantes. O psicodrama pode actuar sob diferentes orientações doutrinárias e tem evoluído muito como técnica terapêutica, preventiva ou educativa. Dentre suas alternativas há situações que enfocam o “aqui e agora” no relacionamento pessoal e social, bem como situações que antecipam dificuldades futuras e outras que focalizam problemas já vividos e que possam ser revistos. Há, também, dramatizações de situações hipotéticas que possam trazer à tona repressões e comportamentos não suficientemente explorados.
O psicodrama, além de sua função terapêutica, é usado, também, como procedimento didáctico.
A análise transaccional, criada por Berne (1976), enfatiza as respostas e os papéis que as pessoas adoptaram nas relações ambientais e interpessoais, as situações de segurança, auto-estima e de inferioridade comumente assumida por clássicas figuras de Pai, Adulto e Criança e seus simbolismos. A terapia focaliza o Ego adulto e os estados de OK, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e pelos outros, ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu significado.
A terapia primal ou do grito primal, originária de Janov (1970), baseia-se na liberação de sentimentos profundamente reprimidos e que pode ocorrer sob forma dramática. O cliente é instruído para seguir uma programação terapêutica, tal como permanecer em um hotel durante três semanas e abster-se de drogas ou distracções redutoras, de tensão e dedicar-se intensa e unicamente ao tratamento, nesse período. Nessa fase, o cliente tem sessões de duas ou três horas diárias com o terapeuta, como único diante a ser atendido. Em cada sessão lida-se com um objectivo específico para levar o cliente a expressar seus mais profundos sentimentos relacionados com seus pais e isto ocorre através de palavras, gestos e vigorosas expressões físicas e verbais. Seu tratamento pode continuar, depois, em grupo no qual o cliente continua centrado no seu problema (KOVEL, 1976).
A psicobiologia, de A. Meyer (1958), que enfatiza as vantagens de um amplo diagnóstico e, a seguir, a integração de todas as formas de psicoterapia, bem como as actuações biológicas e médicas. O posicionamento é global ou holístico com base no senso comum e na vivência do cliente em seu meio.
Já parcialmente mencionada no item relativo aos métodos de contexto sociocultural, a logoterapia é aqui citada por constituir um conjunto de princípios e de técnicas de certa forma deles independentes. Criada por Victor Frankl (1955), sucessor de Freud em sua cátedra em Viena, opõe-se ao princípio do prazer e ao pansexualismo freudiano. Sua técnica consiste em facilitar ao cliente o encontro de um sentido em sua vida o que, paralelamente, implica em aceitação do Dever e da Responsabilidade.
A saúde psíquica decorre do preenchimento do vazio existencial; de um espiritualismo que conduza à descoberta, em si mesmo, do significado da vida. A logoterapia esforça-se, especialmente, pela consciencialização do espiritual. Como análise da angústia existencial, procura levar o homem a se perceber como ser responsável e, nesse parâmetro, achar o sentido da sua existência.
A intenção paradoxal é um dos procedimentos usados. Incentiva o cliente a enfrentar e a praticar aquilo que teme. Esse processo, já estudado por outros métodos, equivale a desenvolver uma resistência mental (ou espiritual) a certos factos perturbadores ou ameaçadores. Além da heróica resistência, acompanha-se de ironia para com o facto ameaçador, destruindo-lhe a força.

2.1.4. A Posição Existencialista e o Retorno à Filosofia

Partindo da Fenomenologia, o Existencialismo, além de seu conteúdo filosófico, assumiu uma série de posições orientadoras ou terapêuticas condizentes com seu entendimento do Eu e do Mundo. Esse posicionamento não se erige, porém, como um novo sistema de terapia, mas uma nova atitude para com a terapia, como afirma May (1976).
Há um dimensionamento humanístico com retorno às questões fundamentais do ser, da vida e dos valores humanos, em franca oposição à avaliação e à medida psicológica instaladas a partir da Psicofísica de Fechner e da Psicologia Científica ou Experimental de Wundt e que teve seu apogeu nos trabalhos de Binet e no surgimento dos testes psicológicos e da psicotécnica na primeira metade do século XX.
Passa-se, assim, do furor de exames e verificações de quocientes de inteligência ou de outros atributos a uns posicionamentos globais, dinâmicos, em que esses dados continuam significativos, mas sua importância na vida e nas reacções humanas é sentida e entendida em outras perspectivas. O comportamento da pessoa não se define mais em termos de perfis ou de traços independentes, mas em termos da sua experiência vital, nem sempre acessível aos instrumentos actuais de medida.
Na perspectivas holísticas, compreensivas, incluem-se valores sociais e humanos, externos, oriundos de um contexto de necessidades e pressões grupais e, de outro, de auto-expressão, de ser o que é. Embora inconcebível o Eu sem o outro, existe no campo do pensamento e da acção um território marcadamente pessoal, parcialmente autónomo, que responde à solicitação e exigências internas, geradas na relação Eu-Outro e que passa a pertencer à pessoa como património pessoal que vive e vivencia.
Segundo (SANTOS, 1982) diz que pode-se admitir que não existe um conjunto de processos formais, metodológicos, de estilo terapêutico, na Fenomenologia ou no Existencialismo, pois isso iria de encontro a seus princípios básicos. Existem, porém, atitudes terapêuticas.
A empatia abre as portas ao mundo do cliente para que ele se veja a si mesmo, se encontre e se aceite; tolere suas limitações e perceba o valor e a peculiaridade de ser ele mesmo. Importa descobrir-se e descobrir os outros, como o Eu emerge e evolui através do contacto com o mundo e com pessoas. Entender e sentir a totalidade da existência é o alvo. Alguns existencialistas, dentre os quais Boss (1979), traçam uma certa imagem de uma terapia existencialista (“daseinanalytic therapy”), opondo-se frontalmente aos conceitos freudianos, particularmente no que se refere aos fenómenos da transferência e do inconsciente (embora os relatem sob outros títulos).
May admite que a terapia existencialista não é uma cura, mas busca do autoconhecimento. A chave para o processo de aconselhamento, como textualmente declara May, está na empatia. É através desse sentimento que todos os conselheiros atingem as pessoas. Na medida em que essa comunhão de sentimentos ocorre na sessão de aconselhamento, o problema do cliente “é transferido para essa nova pessoa e o aconselhador arca com sua metade do problema. E a estabilidade psicológica do conselheiro, seu esclarecimento, coragem e força de vontade transferir-se-ão para o aconselhando, prestando-lhe grande assistência na luta que se desenvolve no interior da sua personalidade” (MAY, 1977).
A volta aos problemas filosóficos não se faz, porém, à moda antiga. Vem impregnada de conceitos operacionais e não se restringe à filosofia pura, Busca nesta uma praxis, algo que ajude o homem a extrair da vida o que ela tem de melhor para si e para os outros e não se identifica com a pura especulação. Nesse sentido, o retorno à filosofia pode vir, com o tempo, a explicar muitos dos fracassos dos diagnósticos e prognósticos psicológicos. Santos (1982) diz que se conseguirmos enquadrar e entender o comportamento humano dentro de um quadro de valores sociais e pessoais, provavelmente a acção orientadora e psicoterápica ultrapassará os modestos resultados até hoje obtidos.

3. Conclusão

Neste trabalho foram apresentadas diferentes técnicas de actuação no processo de aconselhamento psicológico e terapêutico. Portanto, percebeu-se que todas essas técnicas abordadas lidam com a dinâmica do comportamento e procuram na verdade levar a pessoa a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que de forma conscientemente ou não causam problemas para a pessoa. Assim, se durante o processo de aconselhamento e terapia a pessoa consegue dominar seus problemas através das técnicas que com ele são usadas, por conseguinte, ela conseguirá enriquecer o seu Ego. Assim sendo, podemos afirmar que nesses processos de aconselhamento e psicoterapia ao nosso entender sempre espera-se que o indivíduo mude de comportamento por isso que é importante que o cliente seja uma pessoa participante no processo para que possa ser ajudada a ultrapassar seus problemas e consiga levar uma vida da qual deseja.








4. Referência Bibliográfica

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