Educação em África: Entre «Educação Para Todos» e «Qualidade para Poucos»

Índice



1. Introdução

O termo usado no debate para estender a escolarização para todos os moçambicanos foi «massificação» da educação. Este termo inclui mais do que proporcionar o acesso às crianças em idade escolar. A educação é declarada um direito e um dever de todo o cidadão, que se traduz na igualdade de oportunidades de acesso a todos os níveis de ensino e na educação permanente e sistemática de todos. No entanto, a efectivação desta massificação exige a criação de um sistema de educação único e centralizado em que o Estado detém o monopólio da educação. A consolidação deste princípio viria a ser possível com a criação de um Sistema Nacional de Educação (Lei 4/83, de 23 de Março) através do qual, o Estado pretendia garantir uma educação uniforme não só a todas as crianças, mas também aos jovens, mulheres, adultos, idosos, camponeses, operários, antigos combatentes da luta armada, etc. Entretanto, para atingir toda esta gente de várias camadas etárias e sociais, o novo Estado deveria criar condições infra-estruturais, sem contar com as escassas infra-estruturas deixadas pelo governo colonial. Assim, o presente trabalho pretende abordar a educação em moçambique que ao que se vê é carente de qualidade por vários factores.

1.1. Objectivos

Geral
-        Conhecer a realidade da educação em Moçambique
Específicos
-        Descrever a realidade da educação Moçambicana;
-        Identificar aspectos que contribuem na fraca qualidade da educação em Moçambique;
-        Indicar algumas formas que poderia aumentar a qualidade

1.2. Metodologia de trabalho

Para a realização do trabalho, fizemos uma leitura bibliográfica onde recolhemos informações referentes ao tema.



2. Entre «Educação Para Todos» e «Qualidade para Poucos»

Segundo (CASTIANO & NGOENHA, 2013:170) o termo usado no debate para estender a escolarização para todos os moçambicanos foi «massificação» da educação. Este termo inclui mais do que proporcionar o acesso às crianças em idade escolar.
Hoje o objectivo da massificação da educação foi substituídos pelo objectivo de «Educação para Todos» e este objectivo levanta algumas questões básicas: há recursos humanos, materiais e financeiros para implementá-lo? O que é diferente da massificação? Que tipo de educação será possível trazer para todos? Quais são então os critérios de diferenciação?
Um dado adiantado referente a 2000 indica que em cada 100 crianças que ingressam na primeira classe, apenas 37, em média, concluem a quinta classe no período regular de cinco anos. Mas muitas dessas crianças terminam a segunda classe sem saber ler, escrever e nem calcular correctamente simples somas e subtracções.
Segundo Castiano e Ngoenha (2013) referem que um inquérito realizado pelo Instituto de Nacional de Estatística em 2001 revelou que as causas principais apontadas para as desistências nas escolas são a onerosidade dos estudos, a pouca ou quase nula importância que a escola tem para a vida das pessoas e a distância longa que as pessoas tinham que percorrer diariamente de casa para a escola. Nesse estudo, o motivo mais frequentemente indicado nas faixas etárias de seis a doze anos foi a distância, enquanto dos treze aos dezassete é o casamento (CASTIANO & NGOENHA, 2013:174).
O HIV/SIDA é apontado como um factor que constitui uma séria ameaça ao projecto de expansão e melhoria da qualidade.
Por sua vez, o debate sobre a educação em Moçambique pode ser caracterizado por uma hesitação/oscilação entre o valor extrínseco (luta pelo acesso, pela matricula, contra exclusão) e o valor intrínseco da educação (luta por se matricular em «boas» escolas, onde se ensina bem).
Ainda os autores referem que novos indicadores como as taxas de retenção, taxas de promoção, rendimentos escolares, etc., começam a ganhar terreno na mediação da qualidade. A pressão do político sobre o educador para a uma boa qualidade, também na escola pública, é tanta que este acaba por encontrar formas de justificar as passagens automáticas.
A pressão para a democratização da administração da coisa pública nos países africanos, a introdução de novas tecnologias, principalmente ao nível da informática, as transformações de uma economia centralizada para uma economia liberal de mercado, a globalização (não só sob ponto de vista económico, mas político e dos sistemas de educação) etc., são factores que conjugados concorreram para o encarecimento ou aumento do valor da educação (CASTIANO & NGOENHA, ibidem, p. 181).
De acordo com (CASTIANO & NGOENHA, ibidem, p. 182) dizem que nos debates em Moçambique tem se ressaltado que uma boa qualidade de educação infere-se pelo grau de satisfação das pessoas individuais, famílias e instituições em relação ao desempenho da escola no seu meio. Neste contexto, no seio dos alunos e da sociedade civil parece existir alguma insatisfação em relação ao desempenho da escola. No inquérito de realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (2001, 52) pode notar-se que, em média, 55.4% dos alunos «não estão satisfeitos com a escola», verificando-se o maior nível de insatisfação entre os alunos das escolas primárias (56.8%) e, entre esses, nas escolas sob o controlo do governo (57%).
Comparadas as zonas urbanas e as rurais, verificou-se que os alunos nas zonas rurais (66.6%) mostram mais insatisfação. As principais causas da insatisfação apontadas são, por ordem de peso, a situação das instalações escolares inadequadas, a falta de materiais de ensino e livros, a falta de professores e a qualidade de ensino.
Para o caso da educação, a qualidade é o produto de esforços conjugados de diversos factores, sendo os professores, os alunos, a escola e a comunidade os mais importantes. Estes são intervenientes directos do processo de ensino e aprendizagem.

O primeiro factor de qualidade que se adianta nos debates é o desempenho e a qualificação do professor. Olhando para a realidade, nota-se que em muitas escolas, sobretudo do campo, há uma grande percentagem de professores sem formação ou qualificação pedagógica mínima. Estes professores são colocados face aos alunos sem o apoio necessário, oferecendo uma qualidade de preparação de aulas muito fraca.
Em 2001 existiam um total de 7.175 professores (dos quais 1.253 são mulheres) que, tendo concluído somente a sétima classe, foram contratados para leccionarem no ensino básico, sem terem passado por uma formação. Outros cerca de 10.620 professores sem formação, mas que concluíram a décima classe, encontram-se a leccionar. A adicionar, devido ao crescimento da rede escolar, o MINED contrata anualmente mais pessoas sem formação para darem aulas nas escolas primárias.
Segundo informações do XXVII Conselho Coordenador da Educação, o sistema de educação, num ritmo normal, deveria graduar anualmente 4.000 professores, mas presentemente só gradua 1.600 professores para o nível primário. Ou seja, há um deficit anual de cerca de 2.400 professores contratados sem formação para as diversas escolas primárias existentes no país. Esses professores com baixa formação profissional ou sem ela mostram deficiente competência para a implementação do novo currículo. Também o seu currículo de capacitação e de formação deixa muito a desejar, daí que assistamos a fenómenos de professores que vêem a sua missão como sendo a de ditar e expor os apontamentos.

Desta forma, as condições de trabalho são difíceis, particularmente no que toca a baixos salários e estarem também sujeitos à fome e doenças como a malária e SIDA.
O segundo factor chamado ao debate de qualidade são os alunos, particularmente no que diz respeito às condições em que vivem. Efectivamente, a maior parte dos alunos frequenta as aulas sem tomar o pequeno-almoço, expostos às mais variadas doenças, os pais detêm muito pouco poder de compra dos materiais adequados ao ensino. Nestas condições de ensino e aprendizagem os alunos são os que saem mais desfavorecidos, porque lhes faltam as energias físicas e mentais mínimas para a aprendizagem.
Em terceiro lugar, os autores dizem que encontram a escola como o principal factor de qualidade. Em muitas situações, o ambiente institucional que reina na escola não é favorável à aprendizagem, por um lado devido às condições precárias do edifício e à falta de investimentos, e, por outro, devido à predominância de um clima tenso entre os professores e a direcção e a administração. A falta de um ambiente democrático e uma gestão aberta dos recursos e dos assuntos escolares criam constrangimentos sérios, concorrendo parra um clima nefasto de organização do ensino e da aprendizagem.
Dizem os autores que, o que, porém, parece ser o maior nó de estrangulamento é a barreira que parece ter-se erguido entre a escola e a comunidade circundante. Muitas vezes, os valores culturais dominantes nas comunidades rurais (lugar da mulher, atitude perante o saber e as competências, etc.) não facilitam o diálogo entre a escola e a própria comunidade.


3. Conclusão

Conclui-se que a forma como o sistema está estruturado e é gerido não é permeável e nem flexível de modo a acolher as aspirações de diversos sectores socioeconómicos e nem a associar os diferentes actores na educação para um projecto nacional, embora com o processo da autorização se tenha aberto uma oportunidade histórica que pode ser ainda mais explorada. O acesso às tecnologias de informação é de grande importância para a melhoria de qualidade de vida em geral, e do ensino em particular. Moçambique é um país com um grande atraso em Ciência e Tecnologia. Não obstante as campanhas de alfabetização e ao aumento gradual do número de crianças que tem acesso à escola, Moçambique ainda não deu passos significados na popularização da ciência e tecnologia e ainda não conseguiu pôr os resultados da pequena pesquisa que realiza para resolver os problemas na área de segurança alimentar, saúde preventiva e pública assim como para o desenvolvimento dos vários sectores da economia, em particular a agricultura, as pescas, a produção de energia e regadios. Por isso, enquanto não se puser a tecnologia ao serviço da aprendizagem, não se conseguirá alcançar nenhuma qualidade considerável. Algumas formas que poderia aumentar a qualidade pensamos poderiam ser a redução do número de alunos por professor, que os professores primários tivessem um bom salário, haver oferta de bolsas de estudos para os professores estudarem mais, nos centros de formação de professores prolongar-se o tempo de formação por exemplo sendo de 2 anos e não 1 ano, etc. Se a educação é para todos, então que se procurem meios adequados para que a mesma seja qualitativa para todos.


4. Referência bibliográfica

CASTIANO, J. P. & NGOENHA, S. E. (2013). A Longa Marcha duma “Educação para Todos” em Moçambique, 3.ed. Maputo, PubliFix.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Currículo: Tipos de Currículo, modelos curriculares e Funções Curriculares

A Acta - Técnicas de expressão em língua portuguesa

Teoria de SKINNER sobre a personalidade