quinta-feira, 28 de julho de 2016

Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia – Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema

Índice



1. Introdução

Embora a eficácia dos procedimentos orientadores ou terapêuticos esteja ligada à estrutura e à dinâmica da personalidade, segundo o velho aforismo “há doentes e não doenças”, não se pode ignorar a ocorrência de situações externas que constituem razão suficiente para gerar frustrações e conflitos, até certo ponto independentes do funcionamento global da personalidade. Desde que tais ocorrências podem comprometer outras áreas do comportamento, pode-se, igualmente, agir no sentido inverso, isto é, eliminar ou reduzir as desordens comportamentais actuando-se sobre agentes externos ou indirectos. Problemas sexuais, por exemplo, podem ser tratados com técnicas e informações específicas; problemas escolares ou profissionais podem ter origem na relação professor-aluno ou chefe-subordinado e como tais serem removidos quando se actua nessa relação; uma dificuldade de aceitação grupal na adolescência, ou em outras idades, pode gerar sentimentos de inadaptação e comportamentos anti-sociais, a qual, quando removida, pode reinstalar comportamentos sadios; ausência de afecto e protecção na infância podem criar comportamentos patológicos; um desequilíbrio orgânico, desde uma leve intoxicação alimentar até uma grave disfunção hormonal, pode dar origem a mudanças no comportamento; uma deficiência intelectual ou sensorial pode dar como resultado uma redução da capacidade competitiva e uma consequência emocional desastrosa; uma deficiência nutritiva pode produzir baixo nível de rendimento e ser interpretada como um falso quadro de indiferença ou desatenção; uma atmosfera educativa no lar, tipo “laissez faire”, com liberdade excessiva e pouca disciplina, pode gerar imaturidade, insegurança e comportamentos agressivos ou anti-sociais. Os exemplos são incontáveis.
Como os efeitos emocionais das frustrações ou dos conflitos estão sempre presentes, podem ser usados procedimentos mistos que actuem, concomitantemente, sobre os agentes externos (causas) e sobre a pessoa (efeito). Às vezes, os psicólogos se preocupam apenas com os estados emocionais, quando seria mais indicado actuar directamente nas raízes circunstanciais do problema. A dificuldade consiste em identificar os agentes externos, não-psicológicos ou paralelos e as estratégias e tácticas que actuem na pessoa e no meio.
Alguns dos métodos e técnicas que actuam em vários aspectos destes métodos aproximam-se mais da abordagem cultural, outros da abordagem pessoal e outros são centrados em problemas específicos. A escolha dos procedimentos depende, também, como nos demais recursos terapêuticos, da formação e preparação profissional do Orientador ou Terapeuta das possibilidades práticas de actuação.

1.1 Objectivos do trabalho

Geral
Ø  Conhecer os métodos mistos e métodos centrados no problema usados no processo de aconselhamento psicológico e psicoterapia.
Específicos
Ø  Descrever os métodos e seus procedimentos comuns;
Ø  Explicar os pressupostos principais de cada procedimento do método;
Ø  Explicar todos os princípios teóricos e práticos regidos por estes métodos.

1.2 Metodologia

Para a realização do trabalho, cingimo-nos por fazer uma pesquisa bibliográfica a partir do levantamento de referências teóricas do livro de Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia de Barros Santos sobre os procedimentos dos métodos mistos e métodos centrados no problema.


2 Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema

2.1 Procedimentos Comuns

De acordo com (SANTOS, 1982), diz que em geral, os processos de orientação, aconselhamento ou terapia, nesta categoria de métodos, incluem ampla avaliação das condições da pessoa (estudo de caso), das características do problema, da situação a manipular e das alternativas de tratamento existentes.
A maioria das actuações processa-se no plano cognitivo, com ênfase no processo do problema, o que não significa desprezar a pessoa ou o contexto sociocultural nem excluir os processos emocionais.
Os comportamentos, nas suas causas e consequências, são geralmente estudados em laboratórios, no campo da psicologia experimental e, com base nos dados obtidos, utilizados na assistência psicológica. As pessoas são estudadas face aos problemas que apresentam. O foco é interpretar os dados à luz de um processo genérico que tende a ocorrer como respostas organísmicas.

2.1.1 Características do Método

São características básicas do método a definição tão precisa quanto possível dos comportamentos a serem atingidos, quer para implantá-los, quer para removê-los ou alterá-los, e um sistema de controlo pelo qual seja averiguado o processo de mudança.
Em certos tipos de tratamento são usados medidores de estados de tensão ou de relaxamento, bem como outros indicadores - médicos ou psicológicos - de condições orgânicas ou de estados emocionais.
Tais procedimentos, como se poderá inferir, produzem efeitos satisfatórios em numerosos casos. A dificuldade consiste, como nas demais categorias de métodos, em identificar o método adequado a uma determinada desordem comportamental.

2.1.2 Terapia Médica ou Somática

Nesta modalidade profiláctica ou terapêutica há sempre necessidade de se recorrer a uma equipa multidisciplinar, em que actuem médicos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais. É possível conjecturar, embora haja poucos estudos concludentes, que muitos distúrbios do comportamento, chamados estruturais ou de temperamento e, portanto, de origem predominantemente genética, sejam beneficiados com esse tipo de assistência, bem como os que resistem aos tratamentos psicoterápicos conhecidos.
Pode ser incluído neste tópico um variado elenco de procedimentos que vão desde exercícios físicos ou relaxamento, até fisioterapia e processos bioquímicos. Muitas acções cirúrgicas, bem como as plásticas, ortopédicas ou alimentares, podem ser úteis. As revistas médicas mencionam a acção sedativa de neurolépticos sobre o sistema nervoso, reduzindo estados de excitabilidade, bem como o efeito de várias drogas sobre o comportamento em geral (COLEMAN, 1973; SPOERRI, 1974).
A quimioterapia é um tratamento que parece apresentar dados promissores, quando os processos patológicos são desencadeados por fenómenos orgânicos e é um recurso auxiliar também nos casos de desordens funcionais para remissão ou alívio de sintomas, facilitando à pessoa tornar-se acessível a actividades do dia-a-dia, a ocupações profissionais e à psicoterapia. A quimioterapia provoca redução, ainda que temporária, do medo, da angústia, da agressividade, da depressão ou de outras manifestações inadequadas à situação, consegue reambientar as pessoas, diminuir alucinações e delírios e abrir perspectivas para uma retomada das suas actividades habituais, o que as ajuda no plano emocional de auto-afirmação e de relacionamento social e, assim, indirectamente, contribui para a melhora do quadro geral.
Beitman (1981), citando inquérito entre membros da Associação Psicanalítica Americana, menciona que cerca de 60% dos analistas usa medicamentos em alguns dos pacientes. Lesse (1978) afirma ter obtido 83% de resultados satisfatórios com o uso de psicoterapia e tratamento farmacológico combinado, em um período de três semanas, em um grupo de clientes com severa depressão. O mesmo autor assinala que no caso de depressões profundas, com ideias de suicídio, o tratamento puramente psicoterápico mostrou-se inferior ao tratamento combinado com drogas.
Ao mencionarmos a relação físico-psíquica na etiologia e no tratamento de distúrbios mentais e emocionais, poder-se-ia distinguir as técnicas psicossomáticas das somatopsíquicas.
No primeiro caso, estaria o tratamento de desordens corporais por processos psicológicos; no segundo, o tratamento das perturbações da personalidade por processos físicos ou fisiológicos. Essa distinção é apenas, didáctica, pois o organismo se comporta como um conjunto interdependente. O que se comenta, no momento, é a terapia de desordens mentais ou emocionais por procedimentos somáticos, geralmente afecto à Medicina e áreas paramédicas.

2.1.3 Reflexologia

A reflexologia é baseada nas contribuições de Pavlov e Bechteéew, na Rússia, e de Watson, nos Estados Unidos. Foi à precursora da terapia comportamental. Os factos psicológicos são vistos como eventos fisiológicos, não havendo lugar para a consciência. As teorias sobre o associacionismo e os conceitos sobre Inibição e excitação são importantes na compreensão e no tratamento dos eventos comportamentais. O objectivo, segundo Salter, é “desinibir a inibição e atinge-se esse objectivo com o que podemos chamar de química verbal”. O desajustamento é um processo de aprendizagem e assim é a psicoterapia. O “equilíbrio entre a excitação e a inibição é a base da vida normal” (Wolpe, Salter e Reyna, 1966).
Os procedimentos podem incluir diálogos, manipulação ambiental, drogas e aparelhagem variada que actuem para desinibir os focos da inibição condicionada. Muitas técnicas de “controlo mental”, de “controlo emocional”, exercícios de concentração e de descontracção sensorial, estimulação ou tranquilização enquadram-se nesta categoria, inclusive sistemas de controlo electromecânicos ou electrónicos relacionados com o uso de biofeedback.

2.1.4 Fisicultura, Exportes e Manipulação Corporal

Embora não haja pesquisas suficientes sobre os efeitos psicológicos decorrentes de determinadas práticas de educação física ou de exportes, a observação vem mostrando influência favorável dessas actividades, no ajustamento pessoal e social. A redução de tensões pela activação de funções fisiológicas ou pelo relaxamento programado, assim como sentimentos de auto-afirmação, são alguns dos efeitos observáveis.
Incluem-se neste grupo de procedimentos todas as actividades relacionadas com ginástica (diferentes modalidades), exportes individuais e colectivos e actividades de lazer combinadas com exercícios físicos. Podem incluir, também, regimes dietéticos, alteração de hábitos de higiene e de saúde física, tracto da aparência, do vestuário, da postura e ele expressões corporais como, até mesmo, a redução ou eliminação de problemas ortopédicos.
Santos (1982), diz que geralmente a terapia pela cultura física é feita individualmente ou em grupos através de: 1) Programação de exercícios físicos variados e agradáveis, diariamente ou algumas vezes por semana; 2) Organização de grupos para competições adequadas ao nível de desempenho, idade e interesse dos participantes; 3) Sessões de relaxamento e recreação, inclusive dança, música, meditação e repouso, articuladas com a programação física.
Solemon e Bumps (1978) apresentam um novo método para induzir o relaxamento físico empregando corrida lenta, de longa distância, combinada com meditação. O método baseia-se nas alterações fisiológicas e consequente mudança no estado de consciência ocorrida, similarmente, na corrida e na meditação. A combinação dos dois efeitos seria vantajosa como coadjuvante terapêutico.
Os processos tradicionais de fisicultura (exercícios, condicionamento físico, exportes, competições) vêm sendo questionados e até combatidos pela antiginástica e pela kinesiterapia (Bertherat, 1979) com base na teoria de que o corpo nos seus estados de rigidez e tensão retracta, exactamente, os conflitos, repressões e angústias que permanecem insolúveis. Há toda uma linguagem corporal que precisa ser previamente interpretada e trabalhada tomando-se consciência do corpo nos seus movimentos e expressões. Assim, muitas práticas esportivas e de ginástica podem actuar no sentido inverso mantendo ou desenvolvendo desequilíbrios tensionais preexistentes.

2.1.5 Técnicas Sugestivas e Hipnóticas

A sugestão sempre exerceu papel terapêutico e suas aplicações remontam à Antiguidade, inclusive no que se refere à influência de agentes extraterrenos ou místicos.
Um dos procedimentos conhecidos, proposto por Coué (1936) e, posteriormente, desenvolvido por outros autores, consiste em levar o cliente a repetir que, dia-a-dia acha-se melhor, bem melhor, praticando pouco a pouco um processo de encorajamento pessoal e de confiança em si. O treinamento autógeno (SCHULTZ, 1959) forma mais actualizada de aplicação do método, combina a auto-sugestão com o relaxamento.
A hipnose é usada como método auxiliar (ERICKSON, 1947). É útil em várias situações, principalmente na remoção de sintomas que facilite posterior introdução de outros agentes terapêuticas. Várias considerações sobre hipnose são encontradas em Spiegel (1978), em Moraes Passos (1975), nos já mencionados trabalhos de Erickson e em Wolberg (1977).

2.1.6 Arteterapia

Inclui grande variedade de acções no campo da música, pintura, escultura, literatura, bem como na expressão corporal (dança, ginástica, artes marciais, exercícios grupais), seja como trabalho terapêutica individual ou em grupo, como redutor de tensões (música no trabalho, na escola, em hospitais, etc.).
A dança-terapia e o uso do movimento corporal sendo bastante utilizada na redução de tensões, no desenvolvimento motor e afectivo. Segundo afirma Serra (1981) coube à Laban (1950) abrir caminhos novos com base na qualidade do movimento e a Kestenberg (1967) enfatizá-los no desenvolvimento das estruturas psíquicas da criança. Há; nestes casos, íntima relação com as terapias de manipulação corporal citadas em item anterior. Vários programas de actividades artísticas vêm sendo desenvolvidos com doentes mentais que incluem, principalmente, a criatividade e a recuperação da própria identidade. Nessa área destaca-se o trabalho de J.M. Erikson (1976).

2.1.7 Ludoterapia

A Ludoterapia é aplicada principalmente em crianças, pode ocorrer sob várias orientações terapêuticas, sejam freudianas, rogerianas, comportamentais, ou outras. Utiliza-se das expressões livremente ensejadas pelos participantes ou decorrentes de jogos e situações provocadas pelo terapeuta. Baseia-se na acepção de que os sentimentos livremente expressos são importantes para a criança, independentemente do que diga ou faça, embora haja limites que lhe permitam ajustar-se à realidade e torná-la consciente de sua responsabilidade na relação estabelecida com pessoas e objectos (AXLINE, 1980; GONDOR, 1954).

2.1.8 Biblioterapia

De acordo com (SANTOS, 1982) a biblioterapia consiste em um procedimento livre ou dirigido de leituras que propiciam ao cliente informação, instruções e encorajamento como, também, meios de reflexão e de auto-análise. Um dos inconvenientes é não permitir o diálogo podendo, em certos casos, conduzir o cliente a interpretações inadequadas de sua situação. Menninger (1937) e Schneck (1945) citados pelo mesmo autor diz que estes foram alguns dos poucos especialistas que, em anos passados, tentaram sistematizar a literatura sobre esse procedimento.

2.1.9 Semântica

Consiste em rever, comentar e explorar o sentido de palavras e expressões que o cliente usa para se conceituar ou para explicar suas frustrações e conflitos. Os esclarecimentos linguísticos permitem reduzir ou eliminar as ilogicidades de pensamentos, actos e conceitos codificados pela linguagem. Os símbolos linguísticos são revistos e analisados em função das aspirações e necessidades da pessoa e da maneira como ela reage a esses conceitos. Korzybski (1941) é considerado o pioneiro do método.

2.2 Modificação do Comportamento

Aconselhando, orientando, intervindo na conduta, o psicólogo ou terapeuta visa modificar comportamentos existentes e promover a instalação ou aprendizagem de outros. A expressão “modificação do comportamento” (“behavior modification”) tem prevalecido como título da nova abordagem, ainda que pareça imprópria, eis que todo processo de aconselhamento ou de psicoterapia tem como alvo modificações comportamentais.
Os estudos e preocupações com as mudanças de comportamento, entendidas como tais as respostas a certos estímulos, podem ser, sob nomes e situações diversas, localizados nas mais longínquas épocas, desde que o homem tenha modificado sua conduta face aos resultados ou consequências que sente ou observa. Os estudos de laboratório datam, porém, do século passado dentre os quais os de Ebbinghaus e de Thotndike. Posteriormente, Pavlov, Hull e outros pesquisadores ofereceram novas contribuições até que, com Watson (1930), Skinner (1938, 1967,1968), Bandura (1961), Lazarus (1971, 1972, 1977) e outros especialistas do campo, as implicações teóricas e práticas alcançaram quase todos os domínios da psicologia, inclusive o aconselhamento e a psicoterapia, ramificando-se em teorias e acções suplementares e, por vezes, um tanto divergentes entre si.
O princípio básico da teoria comportamentalista é o de que o comportamento humano, como o dos animais, é função de fenómenos que o precederam, isto é, de antecedentes que facilitam, dificultam ou impedem o surgimento de uma dada resposta. É claro, também, que essa mesma resposta pode ser afectada por factores constitucionais, inatos, não observáveis o que, todavia, não invalida o princípio geral. As consequências de um comportamento podem, também, modificar a ocorrência de outro, do qual é um antecedente. Manipular os antecedentes, os consequentes e os mediadores (processos encobertos, não directamente observáveis) torna, pois, o comportamento passível de mudança.

2.3 Princípios Teóricos e Práticos

Estes princípios teóricos e práticos são geralmente aplicáveis às situações de aconselhamento e de psicoterapia:
a.       O comportamento é função do ambiente. Controlamos e somos controlados. Os eventos que ocorrem em torno de nós modelam o nosso comportamento. O controlo ocorre principalmente pelo reforço e pela punição.
b.      O comportamento é aprendido quando, ao ocorrer, é de alguma forma “recompensado”. A expressão “reforço” significa recompensa ou gratificação.
c.       Se a uma resposta casual ou espontânea seguir-se um estímulo reforçador, a força dessa reacção (resposta) será aumentada; se não o for, sua frequência, no futuro, será menor. As respostas, reforçadas ou não, terão, assim, maior ou menor probabilidade de ocorrer no futuro.
d.      Há reforços positivos e negativos. Os primeiros consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa à situação, tal como alimento água, contacto sexual, etc. Os outros consistem na remoção de algo perturbador, por exemplo muito barulho, luz intensa, choque eléctrico, frio ou calor intenso, etc. Além destes, há reforços secundários ou estímulos que, associados aos anteriores, actuam como eles.
e.       Enquanto o reforçamento torna as respostas mais frequentes, sua falta ou ausência extingue a resposta.
f.       A consequência da retirada do reforço positivo é uma redução na frequência das respostas, e a consequência da remoção de algo desagradável (reforço negativo) é um aumento dessa frequência.
g.      Para que sejam eficazes os estímulos reforçadores, é preciso que eles surjam logo após a resposta casual ou espontânea. Um intervalo maior do que alguns segundos pode reduzir de muito o efeito reforçador. O reforçador deve ocorrer exacta e imediatamente após a concretização do comportamento a ser aprendido. Caso isso não se verifique, um comportamento diferente pode instalar-se.
h.      O acto de aprender é uma modelagem paulatina do comportamento através de reforços. Estes podem ser usados e planeados na situação de aconselhamento e terapia de várias maneiras, usando-se intervalos e meios para discriminar e generalizar.
i.        Mudar o comportamento é mudar as consequências e rearranjar as “contingências do reforçamento”.
j.        A aprendizagem ou mudança comportamental ocorre através de quatro tipos de processos:
- Discriminação
- Generalização
- Encadeamento
- Modelação.
k.      O comportamento seguido de consequências reforçadoras (recompensa) tem maior probabilidade de ocorrer novamente.
l.        O comportamento seguido de consequências aversivas (punição) tem menor probabilidade de ocorrer novamente, mas a força relativa da punição em alterar o comportamento é pequena, comparada com a força do reforçamento positivo.
m.    O comportamento que não for reforçado tende a se extinguir.
n.      Confirmar ao cliente que ele modificou seu comportamento em direcção a um resultado desejado é reforçador para ele.
o.      A principal diferença entre os que aprendem é a rapidez com que ocorre a aprendizagem, não a maneira como ela ocorre.
p.      Uma das contingências de reforçamento mais importantes é o tempo que medeia entre o comportamento e o reforçamento. Quando as consequências positivas ocorrem imediatamente após o comportamento, as probabilidades de que este venha a ocorrer novamente são maiores do que se houver uma demora.
q.      A transferência do comportamento de uma situação para outra depende de provocá-lo na situação mais próxima possível da realidade que se quer atingir.
r.        Outra contingência importante é o esquema de reforçamento, isto é, a consequência intermitente ou contínua. O mais eficiente para instalar novos comportamentos é o esquema de reforçamento contínuo (que ocorre sempre após a emissão da resposta), e para manutenção do comportamento é o esquema intermitente (que ocorre de vez em quando sem que a pessoa saiba quando ocorrerá, mas espera que ocorra).
s.       O intervalo entre os reforços é importante. Em geral é mais eficiente iniciar reforçando o comportamento toda vez que ele ocorra e, a seguir, deixar de reforçar em algumas ocasiões. Passa-se depois a reforçar ao acaso de maneira a manter-se o comportamento desejável.
t.        Finalmente, para que o comportamento possa ser instalado, é preciso que o cliente emita esse comportamento.
As aplicações desses princípios em situação de aconselhamento ou terapia exigem muitas situações previamente programadas: nesse caso, o Terapeuta e cliente procuram:
a)      Identificar o comportamento que se quer instalar;
b)      Determinar o critério ou nível de realização adequado ou desejável;
c)      Criar condições em que apareça o comportamento desejado e os reforçadores adequados;
d)     Aplicar o esquema de reforçamento mais adequado;
e)      Escolher situações que mais se aproximem: do real;
f)       Minimizar a possibilidade de erros ou punições;
g)      Criar um procedimento para a ocorrência da resposta desejável e verificar a manutenção desse comportamento.

2.4 Fé, Misticismo, Parapsicologia e áreas Correlatas

Neste conjunto de recursos, condenado por muitos, aceito por outros, mas aberto a conjecturas, haveria que distinguir algumas posições principais, a saber:
1)      Procedimentos que, embora sob denominações diversas, incluem-se no campo da fisiologia e da psicologia convencional ou da ciência em geral;
2)      Procedimentos relacionados com doutrinas ou práticas não ortodoxas, baseados em “forças” ou agentes sobrenaturais;
3)      Procedimentos parapsicológicos que incluem parte do primeiro grupo parte do segundo e fenómenos ainda pouco esclarecidos.
A primeira posição pouco acrescenta, do ponto de vista científico actual, aos procedimentos que a ciência dispõe; apenas muda-se de nome e tenta-se criar uma doutrina própria. O ritual que os acompanha é, geralmente, parte de um revigorante influxo sugestivo ou um processo bem elaborado de condicionamento operante e, desse modo, produz resultados. Podem ser incluídos neste grupo: o Hinduísmo, para estados de tensão e que compreende, em geral, relaxamento muscular, meditação e, depois, concentração em soluções objectivas para os problemas; a Yoga, uma variante do hinduísmo que visa ao autocontrolo, em vários estágios; o Budismo, que busca o controlo de todos os desejos e o domínio de si mesmo como técnica para eliminar sofrimentos; o Zen-budismo, baseado na intuição e na iluminação, na procura de maneiras diferentes de solver problemas; muitas técnicas orientais, influências astrais e de fenómenos da natureza (Barter, 1967).
A meditação, outrora pertencente apenas ao campo do comportamento esotérico, próprio de certos rituais orientais, é hoje um procedimento aplicado como recurso terapêutico básico ou associado a outros métodos. Maupin (1965) é considerado um dos pioneiros nas investigações e aplicações experimentais do método. Deikman (1966) paralelamente, relata que a meditação pode induzir a pessoa a libertar-se de estereótipos mentais e atingir formas mais agradáveis de encarar as realidades existentes.
A meditação pode relacionar-se, no plano teórico ou operacional, a outros procedimentos, tais como o treinamento autógeno, de Schultz, à Yoga, à auto-regulação do processo cerebral e aos processos genéricos de tomada de consciência (Chang, 1978): Estudos citados por Hart e Tomlinson (1970) indicam a ocorrência de mudanças fisiológicas devidas à meditação e que a pessoa “pode aprender a controlar suas ondas mentais” (p. 588). Dizem os mesmos autores que “se o homem puder aprender a controlar sua própria consciência, através da combinação de antigas técnicas com a moderna tecnologia, estaremos entrando em uma nova idade cultural”.
A meditação lembra, ainda, a Terapia Morita (Chang, 1978) e implicações em áreas correlatas tais como a percepção do próprio Eu, um recurso para entender a consciência e o uso de processos subjectivos para controlo mental. Infelizmente,
Há poucas pesquisas significativas sobre tão fascinante campo e muitos métodos e técnicas são, apenas, comercialmente explorados.
Na segunda posição podem ser encontrados certos cultos e crendices com grande variedade de actuações físicas, materiais e espirituais; pode incluir superstições, magias e correlatos.
Embora a dimensão do transcendente em terapia não seja ignorada pela ciência psicológica, sua deturpação sob a forma de rituais exóticos é francamente questionada pelos riscos que a obsessão e a compulsão podem acarretar. Sacrifícios pessoais e actos anti-sociais podem ter origem em posições místicas inabaláveis. Muitos líderes carismáticos, actuando sobre pessoas emocionalmente imaturas ou em extremos graus de ansiedade ou sofrimento, podem converter-se em “agentes” de cura ou de solução de problemas. O culto de imagens, de pessoas vivas ou mortas, de gestos, de palavras e de hábitos, bem como as expiações deliberadamente impostas e deliberadamente aceitas, inclusive autotortura e flagelamento, em funções de certos “deuses” ou símbolos mágicos, é actuação comum notadamente em povos primitivos e nos habitantes marginalizados de grandes concentrações urbanas.
Os sistemas com base na fé podem produzir curas, seja por efeitos sugestivos, seja por modificação bio psíquica resultante de redução de tensão, seja por outros fenómenos ainda não totalmente explicados. Neste grupo encontram-se toda sorte de acções, inclusive as que ocorrem em sessões espíritas.
Em uma terceira posição encontra-se um conjunto de factos e de actuações na área da Parapsicologia e, a julgar pelos dados existentes até o momento, segundo a maioria dos autores, “os fenómenos parapsicológicos, na realidade, não passam de fenómenos psicológicos” (Ribas, in Amadou, 1969). Embora essa afirmação tenha certo conteúdo de verdade, não se pode negar a existência de outros fenómenos (as funções psi) que não se acham, ainda, suficientemente explicados pela psicologia comum ou científica.
É pensamento do autor que o aconselhamento e a terapia psicológica por procedimentos parapsicológicos enquadram-se, embora não nominalmente, na vasta gama de métodos e técnicas já conhecidos, principalmente nos procedimentos reflexológicos, comportamentais, persuasivos e sugestivos. Há que se admitir, todavia, a possível ocorrência de eventos que, embora possam se enquadrar no campo científico que conhecemos, ainda assim constituem áreas que precisam ser consideradas e investigadas.
Segundo Amadou, a utilidade da parapsicologia consiste em permitir melhor conhecimento da natureza psicológica e fisiológica do homem. “Se a psicologia profunda dá às manifestações paranormais o seu sentido pessoal e as recoloca no seu contexto individual, em compensação a parapsicologia enseja aos analistas não vaguearem acerca da interpretação de determinada manifestação paranormal e os habilita a compreender e a fazer compreender melhor ao paciente seu próprio inconsciente, permitindo-lhe que actue sobre ele” (Amadou, 1969). Em suma, não parece haver, até o momento, suficientes razões para se acreditar em métodos e técnicas exclusivamente parapsicológicas, com causas, procedimentos e resultados próprios de um novo sistema psicológico. Contudo, um estudo de procedimentos nessa área é indispensável.

2.5 Aconselhamento e Terapia em Processos de Grupo

A literatura psicológica, em geral, cita Pratt como pioneiro do trabalho em grupo com finalidades profilácticas e terapêuticas, ao reunir tuberculosos, internos de um hospital, nos Estados Unidos, em 1905, e levá-los a discutir seus problemas de vida. Moreno, em 1920, é também citado e, especialmente, Kurt Lewin, ao propor, em 1947, os famosos “T-Group” (grupos de treinamento). Posteriormente surgiram inumeráveis proposições sobre o assunto e estudos sobre os processos grupais. Há grande variedade de alvos e de técnicas para aconselhamento e terapia em grupo e de grupo. Algumas formas de actuação têm objectivos claros e exclusivos; outros são semiconcentrados em determinadas áreas ou assuntos; outros, enfim, deixam a direcção e o conteúdo dos assuntos a cargo do próprio grupo. Do ponto de vista da estrutura e da dinâmica grupal podem ser geralmente encontrados os seguintes estilos operacionais:
1. Grupos orientados ou dirigidos, nos quais a discussão e as contribuições dos participantes são concentrados pelo líder (monitor ou facilitador) em alguma tarefa, sentimento ou atitude que constitua um alvo específico de interesse comum do grupo ou de uma organização. Tais grupos geralmente se associam ao contexto sociocultural ou ambiental e têm, na maioria das vezes, uma finalidade psicopedagógica, isto é, visam desenvolver comportamentos considerados úteis ou necessários;
2. Grupos de apoio ou de estímulo, destinados a encorajar e manter certas atitudes e hábitos, bem como desestimular outros tais como o uso de drogas, delinquência, etc. São exemplos o A.A.A., para alcoólatras, o “synamon”, para toxicómanos, os centros de valorização da vida e outros. Geralmente concentram-se na solução de problemas específicos.
3. Grupos de livre iniciativa, dos quais os Grupos de Encontro são um exemplo, bem como certos tipos de comunidade terapêutica. Enfatizam a liberdade de expressão e de experienciação, a melhora das relações interpessoais e a redução de tensões.

2.5.1 Tipos de Grupos

Os grupos variam quanto a sua composição, duração e instrumentação utilizada. Podem ser abertos (para qualquer pessoa, em qualquer momento) ou fechados (destinados a certas pessoas); podem ter duração ilimitada e não programada ou, ao contrário, obedecer a rígidos limites de datas, horários e locais; podem ser conduzidos em ambientes especiais ou não e podem utilizar apenas a verbalização, ou as posturas e a abordagem corporal, bem como leituras, actividades lúdicas, profissionais e de lazer ou entretenimento.
Todos esses estilos, sua fundamentação teórica e sua técnica são aplicados em diferentes situações tais como na terapia familiar, na terapia conjugal, na terapia profissional, na terapia infantil (combinada com a ludoterapia), na terapia de idosos, na terapia de doentes ou de pessoas segregadas nas prisões ou instituições sociais e assim por diante. Muitos dos processos grupais já adquiriram nomes próprios, tais como Psicodrama, A.A.A., Grupo de Encontro, etc.
Sabem todos quantos operam em grupos que os comportamentos em situação grupal podem ser muito distintos dos que ocorrem na relação diádica, entre terapeuta ou conselheiro e cliente. Embora possa parecer simples, mesmo em grupos não dirigidos, o trabalho do terapeuta, ou de dois ou mais terapeutas operando em conjunto, é um processo complexo. Em geral, os grupos são organizados e conduzidos (ou facilitados) de acordo com a fundamentação doutrinária a que se filiam seus condutores ou facilitadores. Há grande diferença de procedimentos, por exemplo, entre as acções manifestas ou conduzidas em um grupo liderado por um psicólogo comportamentalista e as decorrentes de um psicólogo de formação freudiana, adleriana ou rogeriana.
Além da diferenciação doutrinária que se caracteriza pelo tipo de verbalização, interpretação ou intervenção do terapeuta, há, ainda, que considerar dois alvos bem distintos: a) o grupo como alvo terapêutico e o grupo como agente terapêutico na pessoa. O grupo sempre representa uma dimensão social que envolve a maneira como as pessoas se comunicam, como efectuam transacções e interagem em geral. Pode haver, pois, uma concentração no plano colectivo, no grupo como um organismo ou, por outro lado, com a pessoa e com a forma pela qual responde ela à situação grupal. No primeiro caso temos a terapia de grupo; no segundo a terapia em grupo.
Os efeitos das terapias em situação de grupo são difíceis de avaliar, dada a extrema variedade de casos e situações. Faltam dados concludentes sobre composição de grupos, sobre sua duração e características metodológicas. A maioria dos autores concorda em que o grupo oferece apoio, estímulo e contacto com a realidade e, nesses aspectos, sobrepõe-se à terapia individual.


3 Considerações Finais

No presente trabalho percebeu-se que nos métodos mistos e métodos centrados no problema antes do processo de aconselhamento e psicoterapêutico faz-se a avaliação das condições da pessoa, isto é, faz-se um estudo total na pessoa, as suas características do problema, da situação a manipular e das alternativas de tratamento existentes. Olha-se mais o plano cognitivo, com ênfase no processo do problema. E durante o processo de aconselhamento e psicoterapia são usadas diversas maneiras ou procedimentos visando resolver o problema da pessoa e a cada momento nota-se que esses procedimentos produzem efeitos satisfatórios em numerosos casos. Para tal faz-se a definição dos comportamentos a serem atingidos, quer para implantá-los, quer para removê-los ou alterá-los, e um sistema de controlo pelo qual seja averiguado o processo de mudança. Notamos assim que sendo feito todo o estudo do paciente em relação as suas condições do problema e bem definido os objectivos a serem alcançados no tratamento é possível mudar os comportamentos perturbadores no paciente pois com todas as técnicas aqui abordadas bem aplicadas seria possível mesmo colmatar o problema. Assim, o psicólogo seria um facilitador desse processo, justamente por possuir conhecimentos necessários à condução do processo juntamente com o cliente. O foco é sempre o indivíduo e sua experiência de crescimento pessoal. Cabe a esse profissional ter clareza acerca das técnicas empregadas e reflectir constantemente sobre a evolução do cliente, seus desafios, suas transferências, suas contratransferências.

4 Referência bibliográfica

AMADOU, A. Para psicologia. Tradução. São Paulo: Mestre Jou, 1969.
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