Educação em África: Entre a Autonomia e a Dependência
Índice
1. Introdução
O sistema de educação, como por várias vias se referiu,
sempre teve uma falta de liquidez crónica em todos os períodos identificados.
Efectivamente, os meios financeiros que o Estado tinha e tem à disposição para
sustentar os próprios planos de educação estão muito aquém do necessário. Mais da
metade da despesa da educação moçambicana é financiada com fundos externos onde
a proporção do financiamento que é mais expressiva nas despesas de capital,
variou entre 63% em 1994 e 66% em 2002. Quer dizer que há uma
institucionalização do hábito de elaborar planos irrealistas que estão além das
capacidades nacionais e que levam à dependência eterna das relações externas. Não
havendo capacidade financeira interna, nem para formular políticas nem para
administrar abre-se espaço para a ajuda externa. Deste modo, o presente
trabalho visa debruçar-se sobre o tema entre a autonomia e a dependência onde
vamos descrever a realidade do contexto educacional moçambicano falando
sobretudo das implicações que a ajuda externa pode trazer a educação.
1.1. Objectivos
Geral
§
Analisar a realidade da educação moçambicana.
Específicos
§
Explicar as implicações da ajuda externa sobre a
educação;
§
Identificar mecanismos com vista a melhoria da
educação em Moçambique;
§
Discutir a importância de definição de políticas
nacionais educacionais.
1.2. Metodologia
Para a realização do trabalho, cingimo-nos em fazer uma
pesquisa bibliográfica com vista a retirar do livro informações que sustentem o
tema.
2. Quadro conceptual
2.1. Entre a Autonomia e a
Dependência
Por muito tempo as organizações doadoras decidiam
praticamente se queriam ou não agir numa determinada área. E essa forma de
gerir os projectos foi alvo de muitas críticas:
A primeira é que a comunidade de doadores preocupa-se mais
em definir as suas prioridades e de implementá-las e prestava pouca atenção ao
que os moçambicanos definiam como sendo as suas prioridades dentro da política
de desenvolvimento da educação.
Uma segunda critica levantada foi a da duplicação em termos
de gestão dos projectos. Há projectos que são geridos por autoridades
internacionais mas ao mesmo tempo são apontadas pessoas dentro do MINED para
«acompanharem» o projecto.
Uma terceira crítica é que ao fim do projecto as agências
internacionais tinham conhecimentos mais detalhados do que as autoridades
moçambicanas.
A quarta é que havia fragmentação de facto no sistema de
educação por falta de actualização de dados sobre quais são as actividades em
curso. Na realidade, o sistema de gestão da parceria por projectos enfraqueceu
a capacidade administrativa e de gestão do MINED, das repartições provinciais e
distritais de educação.
O quinto elemento é as autoridades moçambicanas levaram
tempo a acumular experiência para compreender as formas diferentes de gestão,
de requisição de meios, de justificação da utilização de fundos, de
recrutamento e de emprego da força de trabalho, de prestação de contas e de
modelos de relatórios, de monitorização, de avaliação, enfim, de toda uma
maquina burocrática que estava por trás de cada parceiro.
Na sexta crítica é que as autoridades educacionais locais
tomam conhecimento de existência escolas construídas pelas ONGs, quando estas
já vêm pedir isenção para importação do material escolar ou, simplesmente,
algumas facilidades fiscais. Em muitos casos quando já precisam da colaboração
das autoridades locais para a identificação e o recrutamento dos professores.
O sétimo elemento crítico para os autores diz respeito às
desigualdades que naturalmente começaram a surgir entre os projectos: alguns
têm um «bom» financiador, que cumpre com os prazos e suas obrigações, enquanto
outros projectos tiveram pior sorte.
Segundo os autores (CASTIANO & NGOENHA, 2013:191) dizem
que torna-se claro que o exercício da parceria, ou melhor, a coordenação das
actividades que tem uma base na ajuda externa é complexa e interesses e não é
um exercício isento de complicações para funcionários que devem representar a
política nacional sectorial.
Sobre a dependência, os autores colocam algumas questões no
sentido de encontrar a origem dos problemas ligados à parceria: esta na própria
concepção, isto é, no substrato e forma da parceria como estratégia sectorial
(mas trata-se de uma problema a estrutural)? Ou são simplesmente problemas
isolados do ponto de vista processual e de atitudes, mas que não devem pôr em
causa a parceria como pedra angular? É a parceria a melhor opção para uma
«Educação pata Todos»? (CASTIANO & NGOENHA, idem, p. 192).
Na posição dos autores, eles pensam que é um problema
estrutural. E com isto, eles dizem que a parceria gerida por via de projectos
perpetua a dependência estrutural, pessoal e financeira de Moçambique para com
os seus parceiros estrangeiros. Afasta mais o caminho para a autonomia. No
entanto, os autores dizem que é possível reduzir esta dependência. O que não é
possível e nem desejável é eliminar a interdependência. O que fica evidente é
que os órgãos governamentais que negoceiam com parceiros (aqui ao autores
referem-se concretamente aos ministérios) precisam de se capacitar não só na
planificação e na supervisão, mas cada vez mais em diferentes ramos de
políticas e relações internacionais, de se capacitar para compreender a
dinâmica destas relações e consequentemente medir os campos de manobras que
lhes são oferecidos.
O que é mais importante no ponto de vista dos autores é que
o debate sobre os problemas relacionados com a ajuda no sector traria consigo a
necessidade natural de o MINED desenhar uma política nacional mais coerente para
o campo da educação e não só. Também havia que harmonizar os planos de educação
para todos com os outros planos de desenvolvimento nos sectores da agricultura,
desenvolvimento rural, saúde, etc. em outras palavras, a mudança nas formas de
gestão da ajuda resulta do reconhecimento de actores internos em
contextualizarem socialmente a educação, enquadrando-a e definindo o seu papel
numa perspectiva desenvolvimentista. Em termos práticos, significa o desenho de
uma visão a longo prazo para a educação que serviria de luz para os planos mais
reduzidos.
Assim, nesta perspectiva, a motivação para a mudança de
gestão da ajuda parte principalmente de actores internos. E isso implicava
criar condições para uma melhor gestão de ambos: do sistema e da ajuda. É nesta
perspectiva que são enviados para Paris quadros seniores do MINED, incluindo
ministros e vice-ministros. Aqui eles recebem treinamento em gestão no International Institute for Education (IIEP),
uma instituição criada pela UNESCO em 1963 em Paris. A missão do IIEP é ajudar
os estados membros a melhorarem a qualidade dos sistemas de educação. E uma vez
regressados, são esses profissionais que desenham as primeiras políticas
educacionais a longo prazo, que serviriam de base para a cooperação e
actividades de parceria. Mas ao mesmo tempo, abre-se uma série de cursos
virados para a gestão educacional, principalmente na Universidade Pedagógica em
Maputo, ou ainda são enviados quadros a nível provincial e distrital para
Portugal a fim de cursarem gestão educacional ao nível de bacharelato (CASTIANO
& NGOENHA, idem, p. 194).
No entanto, há vários caminhos através dos quais as agências
internacionais, e ainda particularmente o Banco Mundial, apresentam os seus
pontos de vista sobre as políticas de desenvolvimento educacional. Uma das formas
mais clássicas e usadas é através de comissionamento directo de estudos pelas
agências. Para efeito, são contratados consultores, na sua maioria externos,
mas também cada vez mais internos nas universidades, para realizarem certos estudos
que, porventura, o Banco mostra interesse em apoiar. Mas também há estudos
requeridos pelo próprio MINED com fundos do Banco Mundial. Nestes casos, as
autoridades nacionais da educação têm uma maior autonomia em escolher os
elegíveis consultores nacionais ou estrangeiros.
As recomendações produzidas por esses estudos são então
apresentadas em fora, onde participam quadros centrais do MINED, e constituem
base para o delineamento de políticas.
Uma outra forma que parece natural é a presença regular de
«comissões do Banco» - tal é a expressão usada pelos gestores dos projectos
financiados pelo Banco Mundial – para indicar um grupo daquele organismo que
vem supervisionar o modo os seus projectos estão sendo administrados. As
missões do Banco que chegam a escalar as províncias são geralmente acompanhadas
por funcionários locais do MINED e ao Ministério do Ensino Superior, Ciência e
Tecnologia – MESCT (CASTIANO & NGOENHA, 2013:197).
3. Considerações finais
Com os últimos pontos descritos neste trabalho, podemos
dizer que de certa forma, que há uma retirada aparente de uma intervenção
directa na formulação de políticas nacionais educacionais por parte de
organismos internacionais e sua consequente e aparente concentração, no banco
Mundial, do papel de gestor e harmonizador dos procedimentos burocráticos dos
projectos. No entanto, sempre temos que ter em conta que se dependemos de ajuda
externa para o nosso sistema educativo, podemos aqui dizer (em parte) que não seremos
independentes pois com a ajuda externa não estaremos em condições de formular
as nossas próprias políticas sobre a educação do nosso país e consequentemente
não seremos autónomos porque aquele que dá a sua ajuda quer colocar as suas
regras e de implementar as mesmas de acordo com seus desejos. Com as parcerias
há limitações na aplicação prática do campo educativo.
4. Referência bibliográfica
CASTIANO, J. P. & NGOENHA, S. E. (2013). A Longa Marcha
duma “Educação para Todos” em Moçambique, 3.ed. Maputo, PubliFix.
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