quinta-feira, 28 de julho de 2016

Educação em África: Entre a Universalização e a Africanização – Julius K. Nyerere

Índice



1. Introdução

O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Filosofia da educação e pretende desenvolver o tema sobre Educação em África: Entre a Universalização e a Africanização, concretamente vamos abordar as ideias de Julius Nyerere que na sua abordagem apresenta-nos pensamentos contextualizados e particulares sobre a educação. Este autor vê o papel da educação no contexto mais amplo da sua filosofia político-social baseado no socialismo africano que ele denominou por ujamaa. Desta forma, ele representa um modelo de resistência ao projecto educativo colonial e uma alternativa paradigmática àquele modelo.
Objectivos
Geral:
ü  Compreender as contribuições de Julius Nyerere sobre a educação.
Específicos:
ü  Explicar os pontos principais da educação para Julius Nyerere;
ü  Discutir a importância da educação vista em Julius Nyerere para o contexto educacional Moçambicano.

1.1. Metodologia

Este trabalho foi realizado com base numa leitura bibliográfica do livro A longa Marcha duma “Educação para todos” em Moçambique de Castiano e Ngoenha.


2. Julius Kamabarage Nyerere

Julius Nyerere nasceu a 13 de Abril de 1922 em Butiana, próximo do lado Victória. O seu pai foi chefe da tribu Zanaki. Começou a frequentar a escola aos 12 anos, mesmo assim abaixo de muitas dificuldades porque teve que caminhar diariamente cerca de 12 milhas para Musoma onde se situava a sua escola. Os seus estudos secundários foram feitos em Tabora, numa Escola Secundária do Governo. A sua extrema inteligência foi imediatamente reconhecida pelos padres católicos que o ensinavam, tendo-o ajudado a matricular-se na Universidade de Makerere em Campala (Uganda). Depois de três anos a trabalhar como professor, ele ingressa na Universidade de Edimburgo na Inglaterra onde termina o seu mestrado em História e Economia Política. Nyerere foi o primeiro tanzaniano a estudar numa universidade britânica. Foi na Inglaterra, durante os seus estudos, que ele começa a desenvolver a sua visão sobre o socialismo contextualizado na vida comunitária africana.
Ele sempre defendeu que era professor por escolha e político por acidente. Foi presidente da TANU até 1977. Em 1961 a Tanzânia tornou-se independente em Dezembro de 1961, Nyerere foi eleito o seu primeiro presidente.
O termo Mwalimu significa professor, um título dado inicialmente pelo facto de ter sido professor secundário, mas também no sentido de ele era «guia» do seu povo.
Nyerere comunga com algumas ideias com Blyden vendo a educação como um instrumento de reabilitação social e de crítica ao sistema de valores coloniais. Ele percebia a educação como um instrumento de reestruturação e reorganização social a partir da comunidade. A educação para Nyerere deveria ser organizada de acordo com os valores culturais e de acordo com os objectivos políticos.
Segundo os autores Castiano e Ngoenha, dizem que as ideias de Nyerere são interessantes neste âmbito porque a luta de libertação de Moçambique iniciou na Tanzânia e uma das primeiras decisões políticas feitas foi sobre o papel da educação no contexto dessa luta. Por outro lado, os ideólogos da Frelimo tiveram certamente que «integrar» os pontos de vistas influentes de Mwalimu, embora não os adoptassem totalmente. E a questão é até que ponto estas ideias influenciaram o debate por uma educação alternativa ao sistema colonial e ainda servem de referência hoje no debate da educação para o desenvolvimento.
Para Nyerere, o sistema de educação colonial baseava-se na filosofia de liberdades individuais. Dai que a missão do Estado e do Governo é fundamentalmente a de proteger os interesses individuais, o que quer dizer que sob ponto de vista económico, o Estado deveria estimular e proteger a propriedade privada de meios de produção e favorecer o crescimento desta mesma propriedade.
Nyerere propôs alguns princípios básicos, onde o primeiro dizia que não haveria exploração do homem pelo homem; segundo, os recursos seriam produzidos colectivamente e, por isso, distribuídos na base da justiça social; em terceiro lugar, a sociedade seria baseada em valores de igualdade e de respeito pela dignidade humana. Cada membro da sociedade contribuiria para o bem-estar da sua comunidade através do seu trabalho.
Nyerere dizia que para o desenvolvimento precisamos de duas coisas, o dinheiro e as pessoas (recursos materiais e humanos).
Naturalmente que a educação era considerada crucial para a filosofia da Self-Reliance. Para pôr a educação ao serviço desta filosofia, havia que reformular não só o sistema de educação formal. Este teria efeitos a longo prazo. Paralelamente, tornava-se também necessário estender as actividades de educação para os adultos. Assim, para Nyerere isto haveria de permitir ter retornos económicos mais imediatos. As crianças não teriam um impacto imediato (cinco ou seis anos) na produção. Primeiro deveriam educar-se os adultos porque a sua atitude tem impacto imediato não só na produção como na educação das próprias crianças.
O currículo da escola colonial baseava-se na aprendizagem por meio de livros o que faz pensar que o verdadeiro conhecimento é aquele adquirido dos livros ou de pessoas com uma formação académica superior e os conhecimentos das pessoas comuns e velhas nas aldeias eram considerados de segunda classe.
Para os autores, esse sistema de educação colonial proposto por Nyerere seria o ponto de partida para repensar o novo sistema tanzaniano baseado na ideia do Self-Reliance.
Assim, a educação teria a função de desenvolver um espírito de solidariedade colectiva em todas as pessoas e um senso de cometimento à comunidade inteira. Os alunos deveriam aprender na escola a ligar o trabalho prático ao trabalho intelectual. Deviam sobretudo, aprender a respeitar o trabalho manual e prático. Os alunos deviam estar em condições de ir trabalhar num meio rural, e não estudarem para olharem para o emprego bem remunerado nas cidades.
Para que se alcance tais objectivos, Nyerere dizia que era preciso fazer uma reforma profunda no sistema de educação vigente nos termos da idade de entrada, dos conteúdos programáticos, da organização escolar e do sistema de exames.
Em relação à idade de escolarização no nível primário devia-se passar na altura dos cinco a seis anos para os sete ou oito anos e assim para Nyerere as crianças entrariam para a escola mais maduros e terminariam a sétima classe com idades entre os 14 e 15 anos e isso lhes permitiria entrar imediatamente para o mercado de trabalho.
No ensino primário, o conteúdo deveria ser o mais prático possível de modo a que, depois de terminada a sétima classe, fosse possível o emprego ou auto-emprego dos graduados.
No geral, Nyerere insistia na ideia de que os estudantes que conseguissem seguir para o ensino secundário e universitário, deveriam ver isto como um privilégio para servir as suas comunidades e não como um mérito pessoal.
Quanto a organização escolar, Nyerere dizia que a escola deveria ser organizada como uma comunidade institucional que visasse o autodesenvolvimento e onde os membros da comunidade seriam os professores e alunos. O que Nyerere queria propor é que a escola combinasse as funções de aprendizagem com as de produção para contrapor o ensino colonial que, na sua óptica tendia separar os alunos das suas comunidades. Assim, devia fazer-se de cada escola uma oficina de trabalhos manuais, cujos resultados de produção haveriam de ser vendidos e os lucros reverteriam para a escola. O próprio horário escolar deveria submeter-se às necessidades do ciclo agrícola.
Esta ideia de juntar a teoria a prática foi muito advogada pela FRELIMO. De facto tanto Nyerere como a FRELIMO nas escolas, tentavam responder ao problema da baixa produção e não se poderiam dar ao luxo de, em nome da modernidade, dispensar a forca de trabalho proveniente dos alunos.
Nyerere defende ainda que qualquer decisão que diz respeito aos assuntos escolares deveria ser tomada pela «comunidade» escolar por meio de mecanismos democráticos. A ajuda do governo seria mínima e só em caso de ter sido comprovada a sua extrema necessidade.
Quanto ao sistema de exames, Nyerere propunha que o teste escrito fosse combinado com provas práticas de agricultura ou outros trabalhos. Ambos teriam o mesmo peso para seleccionar as pessoas que seguiriam para o ensino primário e secundário.

3. Conclusões

Fica claro para o grupo que o propósito primordial da educação é a libertação do homem pois através disso ele poderá de forma consciente conhecer o seu potencial como ser humano. Notamos que para uma educação apresentar melhorias é preciso que esta esteja traçada de acordo com as condições socioeconómicas do próprio país olhando sobretudo as condições de aprendizagem dos alunos. Para libertar o homem da educação colonial é preciso começar com a libertação mental, que seria libertar o africano da mentalidade da escravidão e do colonialismo, tornando-o consciente de si mesmo como um membro igual da raça humana. Portanto e sob ponto vista grupal, as ideias de Nyerere estão viradas para libertação através do desenvolvimento do homem como membro da sociedade.

4. Referência bibliográfica

CASTIANO, José P. & NGOENHA, Severino, E. (2013). A longa marcha duma “Educação para todos” em Moçambique. 3ª ed., Maputo, PubliFix., pp. 225-236.



1 Comentários:

Às segunda-feira, 30 março, 2020 , Blogger Boy Fura disse...

GOSTEI MUITO

 

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