Educação em África: Entre a Universalização e a Africanização – Julius K. Nyerere
Índice
1. Introdução
O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Filosofia
da educação e pretende desenvolver o tema sobre Educação em África: Entre a Universalização
e a Africanização, concretamente vamos abordar as ideias de Julius Nyerere que
na sua abordagem apresenta-nos pensamentos contextualizados e particulares
sobre a educação. Este autor vê o papel da educação no contexto mais amplo da
sua filosofia político-social baseado no socialismo africano que ele denominou
por ujamaa. Desta forma, ele
representa um modelo de resistência ao projecto educativo colonial e uma
alternativa paradigmática àquele modelo.
Objectivos
Geral:
ü
Compreender as contribuições de Julius Nyerere
sobre a educação.
Específicos:
ü
Explicar os pontos principais da educação para
Julius Nyerere;
ü
Discutir a importância da educação vista em
Julius Nyerere para o contexto educacional Moçambicano.
1.1. Metodologia
Este trabalho foi realizado com base numa leitura
bibliográfica do livro A longa Marcha duma “Educação para todos” em Moçambique
de Castiano e Ngoenha.
2. Julius Kamabarage Nyerere
Julius Nyerere nasceu a 13 de Abril de 1922 em Butiana,
próximo do lado Victória. O seu pai foi chefe da tribu Zanaki. Começou a
frequentar a escola aos 12 anos, mesmo assim abaixo de muitas dificuldades
porque teve que caminhar diariamente cerca de 12 milhas para Musoma onde se
situava a sua escola. Os seus estudos secundários foram feitos em Tabora, numa
Escola Secundária do Governo. A sua extrema inteligência foi imediatamente
reconhecida pelos padres católicos que o ensinavam, tendo-o ajudado a
matricular-se na Universidade de Makerere em Campala (Uganda). Depois de três
anos a trabalhar como professor, ele ingressa na Universidade de Edimburgo na
Inglaterra onde termina o seu mestrado em História e Economia Política. Nyerere
foi o primeiro tanzaniano a estudar numa universidade britânica. Foi na
Inglaterra, durante os seus estudos, que ele começa a desenvolver a sua visão
sobre o socialismo contextualizado na vida comunitária africana.
Ele sempre defendeu que era professor por escolha e político
por acidente. Foi presidente da TANU até 1977. Em 1961 a Tanzânia tornou-se
independente em Dezembro de 1961, Nyerere foi eleito o seu primeiro presidente.
O termo Mwalimu significa
professor, um título dado inicialmente pelo facto de ter sido professor
secundário, mas também no sentido de ele era «guia» do seu povo.
Nyerere comunga com algumas ideias com Blyden vendo a
educação como um instrumento de reabilitação social e de crítica ao sistema de
valores coloniais. Ele percebia a educação como um instrumento de
reestruturação e reorganização social a partir da comunidade. A educação para
Nyerere deveria ser organizada de acordo com os valores culturais e de acordo
com os objectivos políticos.
Segundo os autores Castiano e Ngoenha, dizem que as ideias
de Nyerere são interessantes neste âmbito porque a luta de libertação de
Moçambique iniciou na Tanzânia e uma das primeiras decisões políticas feitas
foi sobre o papel da educação no contexto dessa luta. Por outro lado, os
ideólogos da Frelimo tiveram certamente que «integrar» os pontos de vistas
influentes de Mwalimu, embora não os
adoptassem totalmente. E a questão é até que ponto estas ideias influenciaram o
debate por uma educação alternativa ao sistema colonial e ainda servem de
referência hoje no debate da educação para o desenvolvimento.
Para Nyerere, o sistema de educação colonial baseava-se na
filosofia de liberdades individuais. Dai que a missão do Estado e do Governo é
fundamentalmente a de proteger os interesses individuais, o que quer dizer que
sob ponto de vista económico, o Estado deveria estimular e proteger a
propriedade privada de meios de produção e favorecer o crescimento desta mesma
propriedade.
Nyerere propôs alguns princípios básicos, onde o primeiro
dizia que não haveria exploração do homem pelo homem; segundo, os recursos seriam
produzidos colectivamente e, por isso, distribuídos na base da justiça social;
em terceiro lugar, a sociedade seria baseada em valores de igualdade e de
respeito pela dignidade humana. Cada membro da sociedade contribuiria para o
bem-estar da sua comunidade através do seu trabalho.
Nyerere dizia que para o desenvolvimento precisamos de duas
coisas, o dinheiro e as pessoas (recursos materiais e humanos).
Naturalmente que a educação era considerada crucial para a
filosofia da Self-Reliance. Para pôr
a educação ao serviço desta filosofia, havia que reformular não só o sistema de
educação formal. Este teria efeitos a longo prazo. Paralelamente, tornava-se
também necessário estender as actividades de educação para os adultos. Assim,
para Nyerere isto haveria de permitir ter retornos económicos mais imediatos.
As crianças não teriam um impacto imediato (cinco ou seis anos) na produção.
Primeiro deveriam educar-se os adultos porque a sua atitude tem impacto
imediato não só na produção como na educação das próprias crianças.
O currículo da escola colonial baseava-se na aprendizagem
por meio de livros o que faz pensar que o verdadeiro conhecimento é aquele
adquirido dos livros ou de pessoas com uma formação académica superior e os
conhecimentos das pessoas comuns e velhas nas aldeias eram considerados de
segunda classe.
Para os autores, esse sistema de educação colonial proposto
por Nyerere seria o ponto de partida para repensar o novo sistema tanzaniano
baseado na ideia do Self-Reliance.
Assim, a educação teria a função de desenvolver um espírito
de solidariedade colectiva em todas as pessoas e um senso de cometimento à
comunidade inteira. Os alunos deveriam aprender na escola a ligar o trabalho
prático ao trabalho intelectual. Deviam sobretudo, aprender a respeitar o
trabalho manual e prático. Os alunos deviam estar em condições de ir trabalhar
num meio rural, e não estudarem para olharem para o emprego bem remunerado nas
cidades.
Para que se alcance tais objectivos, Nyerere dizia que era
preciso fazer uma reforma profunda no sistema de educação vigente nos termos da
idade de entrada, dos conteúdos programáticos, da organização escolar e do
sistema de exames.
Em relação à idade de escolarização no nível primário
devia-se passar na altura dos cinco a seis anos para os sete ou oito anos e
assim para Nyerere as crianças entrariam para a escola mais maduros e
terminariam a sétima classe com idades entre os 14 e 15 anos e isso lhes
permitiria entrar imediatamente para o mercado de trabalho.
No ensino primário, o conteúdo deveria ser o mais prático
possível de modo a que, depois de terminada a sétima classe, fosse possível o
emprego ou auto-emprego dos graduados.
No geral, Nyerere insistia na ideia de que os estudantes que
conseguissem seguir para o ensino secundário e universitário, deveriam ver isto
como um privilégio para servir as suas comunidades e não como um mérito
pessoal.
Quanto a organização escolar, Nyerere dizia que a escola
deveria ser organizada como uma comunidade institucional que visasse o
autodesenvolvimento e onde os membros da comunidade seriam os professores e
alunos. O que Nyerere queria propor é que a escola combinasse as funções de
aprendizagem com as de produção para contrapor o ensino colonial que, na sua
óptica tendia separar os alunos das suas comunidades. Assim, devia fazer-se de
cada escola uma oficina de trabalhos manuais, cujos resultados de produção
haveriam de ser vendidos e os lucros reverteriam para a escola. O próprio
horário escolar deveria submeter-se às necessidades do ciclo agrícola.
Esta ideia de juntar a teoria a prática foi muito advogada
pela FRELIMO. De facto tanto Nyerere como a FRELIMO nas escolas, tentavam
responder ao problema da baixa produção e não se poderiam dar ao luxo de, em
nome da modernidade, dispensar a forca de trabalho proveniente dos alunos.
Nyerere defende ainda que qualquer decisão que diz respeito
aos assuntos escolares deveria ser tomada pela «comunidade» escolar por meio de
mecanismos democráticos. A ajuda do governo seria mínima e só em caso de ter
sido comprovada a sua extrema necessidade.
Quanto ao sistema de exames, Nyerere propunha que o teste
escrito fosse combinado com provas práticas de agricultura ou outros trabalhos.
Ambos teriam o mesmo peso para seleccionar as pessoas que seguiriam para o
ensino primário e secundário.
3. Conclusões
Fica claro para o grupo que o propósito primordial da educação
é a libertação do homem pois através disso ele poderá de forma consciente
conhecer o seu potencial como ser humano. Notamos que para uma educação
apresentar melhorias é preciso que esta esteja traçada de acordo com as
condições socioeconómicas do próprio país olhando sobretudo as condições de
aprendizagem dos alunos. Para libertar o homem da educação colonial é preciso começar
com a libertação mental, que seria libertar o africano da mentalidade da
escravidão e do colonialismo, tornando-o consciente de si mesmo como um membro
igual da raça humana. Portanto e sob ponto vista grupal, as ideias de Nyerere
estão viradas para libertação através do desenvolvimento do homem como membro
da sociedade.
4. Referência bibliográfica
CASTIANO, José P. & NGOENHA, Severino, E. (2013). A
longa marcha duma “Educação para todos” em Moçambique. 3ª ed., Maputo,
PubliFix., pp. 225-236.
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