domingo, 10 de novembro de 2019

O Filho Único

Um estereótipo bem conhecido dos filhos únicos é que eles são mimados, egoístas, solitários ou desajustados. Entretanto, uma análise de 115 estudos desmente esse estereótipo. Em realizações ocupacionais e educacionais e na inteligência verbal, os filhos únicos têm desempenho ligeiramente melhor do que crianças com irmãos. 

Filhos únicos tendem a ser mais motivados para realizações e a ter uma auto-estima ligeiramente mais alta; e não diferem, em ajustamento emocional, sociabilidade ou popularidade. Talvez essas crianças se saiam melhor porque, de acordo com a teoria evolucionista, os pais que têm tempo e recursos limitados ao seu dispor focalizam mais atenção nos filhos únicos, falam mais com eles, fazem mais coisas com eles, e esperam mais deles do que pais com mais de um filho (Falbo, 2006; Falbo e Polit, 1986; Polit e Falbo, 1987). E, visto que a maioria das crianças hoje passa um tempo considerável em grupos de brincadeira, creches e pré-escolas, não falta aos filhos únicos oportunidades para interaCção social com iguais (Falbo, 2006).

A pesquisa na China também produziu achados encorajadores sobre filhos únicos. Em 1979, para controlar uma explosão populacional, a República Popular da China estabeleceu uma política oficial de limitar as famílias a um filho cada. Embora a política tenha desde então sido um pouco relaxada, a maioria das famílias urbanas agora têm apenas um filho, e a maioria das famílias rurais não mais de dois (Hesketh, Lu e Xing, 2005). Portanto, em muitas cidades chinesas, as salas de aula são quase completamente preenchidas com crianças que não têm irmãos ou irmãs. Esta situação ofereceu aos pesquisadores um experimento natural: uma oportunidade de estudar o ajustamento de grandes números de filhos únicos.

Uma revisão da literatura não encontrou diferenças significativas nos problemas comportamentais (Tao, 1998). Na verdade, os filhos únicos pareciam ter uma vantagem psicológica clara em uma sociedade que favorece e recompensa tal criança. Entre 731 crianças e adolescentes urbanos, aqueles com irmãos relataram níveis mais altos de medo, ansiedade e depressão do que os filhos únicos, independente de sexo ou idade (Yang et al., 1995). Entre 4 mil crianças de 3ª e 6ª classes, as diferenças de personalidade entre filhos únicos e crianças com irmãos – avaliadas por pais, professores, colegas e pelas próprias crianças – foram poucas. 

O desempenho escolar e o desenvolvimento físico dos filhos únicos era aproximadamente o mesmo, ou melhor, do que o de crianças com irmãos (Falbo e Poston, 1993). Em um estudo randomizado em salas de aula de 1ª série em Beijing (Jiao, Ji e Jing, 1993), os filhos únicos superaram seus colegas com irmãos em habilidades de memória, linguagem e matemática. Este achado pode reflectir a maior atenção, estimulação, esperanças e expectativas que os pais dão a um bebé que eles sabem que será seu primeiro e único filho.

Nota:
Retirado no livro de PAPALIA, Diane E. & FELDMAN, Ruth Duskin. (2013). Desenvolvimento Humano. 12.ed. Artmed Editora. Tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi et al., Porto Alegre: AMGH, p.309-310.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial