Karl Marx e a Luta das Classes
1. Introdução
O conceito de ideologia desenvolvido por Max ocupa
importante lugar no campo das ciências sociais e humanas. São, no entanto, inúmeras as abordagens realizadas com base
nesse conceito, o qual tem trazido controversas para a compreensão dos
fenómenos sociais.
Ao se falar da ideologia em Marx fala-se também das
características marcantes da ideologia, a luta de classes, criticas feitas ao
Marx.
Mas, neste trabalho, o objectivo é tratar do conceito de lutas
de classe na à luz dos pressupostos teórico-metodológicos de Karl Marx, e não
pretendemos esgotar o conteúdo do livro, mas apenas refinar-nos-emos nalgumas
explicações, num momento que a nível mundial se nota a crise das políticas e
luta das classes. Para atingirmos tal objectivo, pautar-nos-emos em uma obra
marxista “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”. E, como toda luta de
classes é uma luta política, daremos tratamento especial ao tema. De referir
que “As lutas de classes na França” é um livro exemplar de Marx, no qual se
evidencia o rigor da análise dialéctica da história; é, assim, uma cabal
negação do chamado reducionismo e esquematismo atribuídos à obra de Marx por
críticos equivocados de todos os tempos.
No decurso da obra, quatro momentos
são abordados, nomeadamente: 1. A derrota de Junho de 1848; 2. O dia 13 de
Junho de 1849; 3. Decorrências do 13 de Junho de 1849 e 4. A revogação do
sufrágio universal em 1850. E por forma a compreendermos o seu conteúdo vamos
desenrolar através de algumas contribuições de outros autores e seguidamente
teceremos algumas considerações minuciosas dos 4 momentos.
Deste modo, está dividido em quatro momentos, sendo que o
primeiro momento é este que é constituído pela parte introdutória; a segunda
parte é o desenvolvimento onde descrevemos as diversas contribuições sobre as
litas de classes, a terceira parte é constituída pelas ilações finais e por
último temos as referências usadas na realização do trabalho.
2. Marx – As Lutas de Classes na
França
Vamos começar o nosso debate mostrando a definição de Marx
sobre classes. Sendo assim, olhando os antecedentes do seu livro “A luta de
classe na França de 1848 a 1850” compreendemos que a definição marxista começa
com o factor material da existência de determinado sistema de produção –
formação social – e usa como critérios objectivos de diferença entre as classes
a sua posição neste sistema, a relação com os meios de produção, o papel na
organização do trabalho e a posse ou não de parcela da riqueza produzida pela
sociedade.
Marx ao falar da luta de classe guia-se pelos eventos que
aconteceram na França entre 1848 a 1850. Karl Marx desenvolve essa ideia
tomando por base as dificuldades do campesinato francês em se constituir
enquanto tal, esta é ao nosso ver a origem da ideia sobre a luta das classes.
A partir das referências propostas por Marx, MACHADO (2011),
no seu artigo sobre o “Proletariado e Luta de Classes em Marx e Engels”, deduz
6 elementos que na óptica do autor ultrapassam as suas especificidades
históricas e servem para reflexões em relação ao proletariado, nomeadamente: 1.
Condições económicas semelhantes que se opõem a outras classes sociais; 2.
Modos de vida diferentes e interesses diferentes; 3. Cultura diferente de
outras classes sociais; 4. Constituir-se como uma comunidade; 5. Ligação
nacional e não local; 6. Organização política.
Na ideia de MACHADO (2011), Marx, não restringiu a
constituição em classe às relações de propriedade, mas é o primeiro elemento
fundamental. Nesse sentido, entendemos que seja necessário levar-se em conta
outros factores para que as classes sejam capazes de representar seus
interesses de classe usando seu próprio nome, seja através do parlamento seja
através de uma convenção.
Nas discussões de Marx sobre a luta de classe na França, ele
afirma que os camponeses não podem representar a si mesmo, eles devem ser representados
por alguém. MACHADO (2011) descrevendo as ideias de Marx, diz que o autor
afirma que os camponeses franceses não podiam representar a si mesmos, seu
representante apareceu como seu senhor, como autoridade sobre eles, como um
poder governamental ilimitado que os protege das demais classes. Ainda que
longa, esta passagem é bastante ilustrativa.
O principal problema que se nota no Marx ao tratar sobre a
luta de classe na França é o que é apontado por MILIBAND (1979), ao referir que
Marx e Engels “reconheciam outras formas
de conflito de classes [e] reconheciam a existência de outros conflitos, além
dos conflitos de classes”. Por outro lado, “a questão realmente importante é a
insistência [deles] em que o conflito primordial na sociedade capitalista é
entre capitalistas e operários”.
Nas ideias de Marx e Engels a sociedade capitalista
divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em
confronto directo: a burguesia e o proletariado (MARX & ENGELS, 1998). Para
eles, esta relação directa entre proprietários não produtores e não
proprietários produtores é fundamental para a constituição do proletariado em
classe.
Portanto, na luta de classes na França em Karl Marx são
descritos quatro (4) momentos que descreveremos a seguir:
a. A derrota de Junho
de 1848
Na vertente da derrota de Junho de 1848, aponta-se segundo MARX
(2012) que a pequena burguesia em todos os seus matizes, assim como a classe
camponesa, havia sido totalmente excluída do poder político. Por fim, na
oposição oficial ou inteiramente fora do círculo das pessoas com direito a voto,
estavam os representantes ideológicos e porta-vozes das classes mencionadas,
seus literatos, advogados, médicos etc., em suma, suas assim chamadas
capacidades.
Devido ao aperto financeiro em que se encontrava, a
monarquia de Julho de antemão era dependente da alta burguesia, e sua
dependência da alta burguesia tornou-se fonte inesgotável de um aperto
financeiro crescente.
A classe dominante explorava a construção das ferrovias da
mesma forma que fazia com os gastos públicos em geral e com os empréstimos
estatais.
Os representantes da classe operária foram banidos da sede
do governo provisório, a sua porção burguesa manteve o poder real do Estado e
as rédeas da administração exclusivamente nas suas mãos e, ao lado dos
ministérios das finanças, do comércio, dos serviços públicos, ao lado do banco
e da bolsa, levantou-se uma sinagoga socialista, cujos sumos sacerdotes, Louis
Blanc e Albert, estavam incumbidos de descobrir a terra prometida, anunciar o
novo evangelho e dar trabalho ao proletariado parisiense.
Os trabalhadores
haviam feito a Revolução de Fevereiro junto com a burguesia, mas procuraram
impor seus interesses ao lado da burguesia, assim como haviam instalado, no
próprio governo provisório, um trabalhador ao lado da maioria burguesa.
b. O dia 13 de Junho
de 1849
Neste momento o nome em destaque é do programa Napoleão.
Napoleão significou o domínio do devedor sobre o credor. Nesta etapa da luta de
classe, para a maioria da grande burguesia, a eleição de Napoleão foi uma
ruptura franca com a facção da qual ela teve de valer-se por um momento contra
a revolução, mas que se tornara insuportável para ela assim que procurou
consolidar uma postura momentânea como postura constitucional.
Napoleão no
lugar de Cavaignac representou, para
eles, a monarquia no lugar da república, o início da restauração monarquista, o
Orléans timidamente sugerido, o lírio escondido entre violetas (MARX, 2012).
A grande retirada de 13 de Junho só foi posta na sombra pelo
relato ainda mais bombástico da batalha por Changarnier, o grande homem que o
Partido da Ordem conseguiu improvisar.
Em Junho de 1849, não foram derrotados os trabalhadores, mas
abatidos os pequeno-burgueses, que estavam entre eles e a revolução. O mês de
Junho de 1849 não foi a tragédia sangrenta entre o trabalho assalariado e o
capital, mas o espectáculo lamentável e rico em prisões promovido por devedores
e credores. O Partido da Ordem vencera; ele era omnipotente e tinha de mostrar
a sua verdadeira cara.
c. Decorrências do 13
de Junho de 1849
A Rússia invadiu a Hungria, a Prússia marchou contra o
exército que lutava pela Constituição do Reich e Oudinot bombardeou Roma. A
crise europeia, pelo visto, encaminhava-se para um ponto de inflexão decisivo,
os olhos de toda a Europa estavam voltados para Paris, e os olhos de toda
Paris, para a Assembleia Legislativa.
No dia 12 de Junho, o próprio ministro Lacrosse apresentou a
moção na Assembleia Legislativa de passar imediatamente à discussão do pedido
de impeachment. Durante a noite, o governo havia tomado todas as providências
para a defesa e o ataque; a maioria da Assembleia Nacional estava decidida a
levar a minoria rebelde para as ruas; a própria minoria não podia mais recuar;
os dados haviam sido lançados; 377 votos contra 8 rejeitaram o pedido de
impedimento; a Montanha, que se abstivera da votação, desmoronou
estrepitosamente nos salões de propaganda da “democracia pacífica”, ou seja,
nas salas de redacção da Démocratie Pacifique.
d. A revogação do
sufrágio universal em 1850
Segundo Marx, nesta fase, as indústrias parisienses estavam
com capacidade plena e também as fábricas de algodão de Rouen e Mulhausen
funcionavam bastante bem, embora nessas últimas os preços elevados da
matéria-prima tivessem, como na Inglaterra, um efeito inibidor.
O sufrágio universal havia cumprido a sua missão. A maioria
do povo havia passado pela escola do desenvolvimento, que tinha utilidade para
o sufrágio universal somente em uma época revolucionária. Ele tinha de ser
eliminado por uma revolução ou pela reacção e Bonaparte já vinha se vingando de
Changarnier há algum tempo, ao induzir o ministro da guerra a provocar
controvérsias em torno de questões disciplinares com o seu incómodo protector.
Na crítica sobre a religião, Marx afirma que “A miséria religiosa é, de um lado, a
expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o
soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de
uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.”
4. Conclusões
Chegado a esse ponto, podemos tecer algumas ilações daquilo
que foi a nossa compreensão sobre a luta de classe em Karl Marx.
Às análises
apresentadas até o momento fazem-nos acreditar que as classes são grandes
grupos de pessoas que se distinguem umas das outras principalmente pelo facto
de possuírem ou não meios de produção. Neste sentido, os possuidores dos meios
de produção exploram aqueles que não possuem quaisquer meios de produção.
Em
Marx a luta de classes é, portanto, um fenómeno regido por leis sociais
historicamente determinadas e as classes assim como a luta de classes é apenas
um resultado que tem a ver com as questões económicas, sociais e históricas. Enfim,
enquanto a posição económica dos homens for de forma a permitir que uma minoria
se aproprie gratuitamente de grande parte do que é produzido pela maioria
trabalhadora, é inevitável a divisão da sociedade em classes, e os homens
pertencerão às classes de exploradores ou de explorados, quer queiram quer não,
é o mundo que se vive agora.
5. Referências
MACHADO, E. Proletariado
e Luta de Classes em Marx e Engels. Anais do XXVI Simpósio Nacional de
História – ANPUH. São Paulo, Julho 2011.
MARX, K. As lutas de
classes na França de 1848 a 1850. Tradução: Nélio Schneider. 1.ed. - São
Paulo: Boitempo, 2012. il. (Colecção Marx-Engels). 157p.
MARX, K. & ENGELS, F. O manifesto do partido comunista. In: COGGIOLA, O. (org.). Manifesto do partido comunista – Karl
Marx e Friedrich Engels. São Paulo: Boitempo, 1998.
MILIBAND, R. Marxismo
e política. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
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