domingo, 2 de junho de 2019

Funções Didácticas

Em termos conceptuais, as funções didácticas são etapas que se traduzem nas regularidades do processo de ensino-aprendizagem. A condução do processo de ensino-aprendizagem deve representar um instrumento certo para o alcance dos objectivos educacionais estabelecidos. Por essa razão, é de suma importância que o docente seja um indivíduo que tenha domínios em várias vertentes. Não deve apenas dominar o conhecimento da sua área ou seu campo específico, mas deve ainda ter domínio da metodologia e a didáctica para permitir que os alunos aprendam plenamente.

Uma coisa importante é que o professor não deve pensar que dar uma aula é apenas entrar na sala de aula e começar a explicar os conteúdos da aula, há que respeitar os momentos de uma aula, são as chamadas “Funções didácticas” o que vamos abordar neste artigo. 

Outros autores preferem chamar de “fases”, enquanto outros denominam por “etapas”. Por essa razão, todos os intervenientes no processo de ensino-aprendizagem precisam realmente ter essas bases, pois são necessárias para garantir uma aula excelente e efectiva. Imaginemos se o mundo não tivesse regras, não tivesse leis, se a vida social não tivesse regras de convivência…, certamente tudo estaria desorganizado. Por isso, assim como muita coisa no mundo é feita seguindo determinadas regras, o processo de ensino-aprendizagem também é regido de regras.

Neste sentido, existem 4 funções didácticas:

Introdução e Motivação;

Mediação e Assimilação;

Domínio e Consolidação; e

Controlo e Avaliação.

1. Introdução e Motivação

A função didáctica “Introdução e Motivação” é a primeira, e portanto, corresponde ao momento inicial da aula. É um momento crucial de preparação psicológica dos alunos para o processo de mediação do conhecimento na sala de aula.

Assim, numa determinada aula, seja ela aula teórica ou prática, este momento não deve faltar, pois trata-se dos minutos iniciais e, são destinados a uma breve introdução e motivação dos alunos. Por outras palavras, o professor deve propiciar aos seus alunos boas e suficientes razões para que estes realmente se interessem pelo tema a ser abordado neste dia e assim, continuem a participar no desenvolvimento da aula. 

Uma introdução e motivação, é simplesmente contar uma história de última hora, o professor pode pedir a um aluno para contar uma história ou uma experiência vivida por ele, o professor pode ainda contar uma história engraçada que faça rir e sorrir e deixar uma alegria nos seus alunos, fazer piadas… isto cria energias positivas, atenção e interesse pelo conteúdo da aula a ser leccionada. 

Uma nota importante é o facto de que o professor ao seleccionar o elemento de introdução e motivação, deverá sempre prestar atenção aos interesses dos seus alunos. Por outras palavras, é preciso saber o interessa aos alunos, o que eles realmente gostam.

Não deve ser introdução de um tema que esteja fora do que vai ser tratado na aula, deve-se olhar sobre o conteúdo a ser leccionado no presente dia, pois o objectivo da introdução e motivação é criar um desafio, uma provocação de forma a despertar curiosidades e assim, motivar os alunos.

Por exemplo, o professor pode introduzir um tema da seguinte maneira:

“Vocês sabiam que…, …; Quem de vocês já ouviu falar de …, …”.

Para casos de se tratar de uma continuação da aula anterior, a motivação pode incluir algumas perguntas para averiguar se o conteúdo anterior foi assimilado. O exemplo disso é perguntar “Quem se lembra do que se falou na aula passada? quem ficou com dúvidas sobre a aula passada?”.

O professor deverá estimular o raciocínio dos alunos, incentivando-os para que estes emitam opiniões próprias sobre o que aprenderam, fazer com que estes expliquem o conteúdo nos seus próprios termos. Eles devem ter a capacidade de relacionar o que aprenderam na sala de aula com a realidade ou eventos do dia-a-dia.

Quanto ao tempo em que a introdução e motivação deve perdurar, dependerá do professor, mas não deve perder muito tempo nesta etapa. Alguns autores explicam que deve ser no máximo de 5 minutos. E dependendo das circunstâncias e necessidades, este momento de introdução e motivação pode ser excluído na fase inicial da aula, mas durante a aula deverá existir a motivação. Ou seja, a introdução e motivação não se aplica apenas nos primeiros minutos da aula, mas em quase toda aula, contando piadas, relacionando o conteúdo da aula com a realidade do dia-a-dia, fazendo coisas engraçadas em todo o processo para manter a motivação dos alunos.

2. Mediação e Assimilação

A Mediação e Assimilação é o segundo momento da aula. É uma função didáctica muito visível dentro do processo de ensino-aprendizagem. A função do professor é de mediar a construção do conhecimento por parte dos alunos. O professor é considerado como o facilitador, organizador e orientador do processo de ensino-aprendizagem (PEA). O cria condições psicológicas, pedagógicas e didácticas para que ocorra a aprendizagem.

Assim, uma vez apresentado no quadro os conteúdos em forma de problema a ser resolvido e mediante questões, trocas de experiências, colocação de possíveis soluções, o professor poderá fazer uma colocação didáctica dos objectivos, tendo em conta que estes vão orientar a condução da aula.

Na verdade, nesta função didáctica, após o professor ter introduzido ou apresentado o tema a ser leccionado, segue-se o momento em que deve explicar os contornos envolventes do tema, deve explicar tudo sobre o conteúdo para que os alunos percebam. Para tal, o professor deverá apoiar-se em várias técnicas e estratégias, conversar com os alunos em volta do assunto, analisar exercícios já resolvidos seja de forma individual ou em grupo, fazer ilustrações e atribuir breves exercícios.

Enfim, nesta função didáctica, o professor deve fazer a exposição do conteúdo. Por essa razão, um dos métodos a usar pode ser o método expositivo, na qual o professor apresenta o tema e começa a explicar.

3. Domínio e Consolidação

Na função anterior, explicamos que o trabalho do professor consiste em prover as condições e os modos de mediação e assimilação do conteúdo programático aos alunos, incluindo actividade prática para solidificar essa compreensão. Portanto, o professor explica o conteúdo da aula.

Para tal a função didáctica “Domínio e Consolidação”, muitas vezes é representada pelos exercícios de consolidação que podem seguir diferentes formas ou podem apresentar várias modalidades. Nesta fase é de suma importância que os conhecimentos sejam organizados, aprimorados e fixados pelos alunos, a fim de que estejam disponíveis para orientá-los nas situações concretas do estudo e da vida. Deve-se ter em conta que em paralelo com os conhecimentos e através deles, é preciso aprimorar a formação de habilidades, hábitos e costumes para a utilização independente e criadora desses conhecimentos. Para a consolidação e a formação de habilidades é fundamental que se incluam exercícios práticos de fixação, que podem ir desde simples perguntas até a recapitulação dos tópicos principais da aula.

As actividades de recordação, sistematização e os exercícios devem criar oportunidades ao aluno para estabelecer relações entre o conteúdo estudado e as situações novas, comparar conhecimentos obtidos com os factos da vida real, apresentar problemas ou questões de forma diferente de como foram tratados, pôr em prática as habilidades desenvolvidas durante o estudo.

Importa referir que a consolidação pode ser de natureza reprodutiva, de natureza generalizadora ou ainda de natureza criativa.

Consolidação reprodutiva – apresenta um carácter de exercitação, significa que após a compreensão presumida do conteúdo exposto pelo docente, os alunos reproduzem conhecimentos, aplicando a uma determinada nova;

Consolidação generalizadora – esta inclui a aplicação de conhecimentos para situações novas, após a sistematização implica em todo caso a integração de conhecimentos de forma que os alunos estabeleçam relações entre conceitos, analisem factos e fenómenos sobre vários pontos de vista, façam ligação dos conhecimentos com novas situações e factos da vida real/prática;

Consolidação criativa – refere-se neste sentido, as tarefas que levam ai aprimoramento do pensamento independente e criativo, na forma de trabalho independente dos alunos sobre a base das consolidações anteriores.

Enfim, os exercícios levam ao aluno a fixar e a formar habilidades e hábitos, auxiliando a sistematização. Lembrando que sempre deve existir a motivação.

4. Controlo e Avaliação

No processo de ensino-aprendizagem recomenda-se que a avaliação seja contínua e permanente, pois permite identificar avanços e recuos e tomada de decisões sobre as referidas actividades implementadas e a implementar. A avaliação permite saber os efeitos da metodologia adoptada, revela os níveis de assimilação de cada aluno em particular no processo e da turma em geral.

A função didáctica “Controlo e Avaliação” visa informar como está a decorrer a aprendizagem dos alunos, visa informar se os alunos estão a ser conduzidos em direcção aos objectivos traçados e é aplicada continuamente no decorrer da aula, de modo a acompanhar na íntegra o processo. Por outras palavras, esta função didáctica é marcada por exercícios constantes e apresentação de dúvidas e respostas.

Para o efeito, o aluno serve-se de vários procedimentos e instrumentos de mensuração tais como: observação, testes, exercícios teóricos e práticos, trabalhos de casa entre outras formas, que de certa forma proporcionam dados quantitativos e qualitativos.


Referências bibliográficas

BALMAS, Juan Carlos. Programa de formação de docentes. Modulo FDEP-NIII-I. DINET. Maputo, 2005.

BORDENAVE, J. D. & PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis, 1989.

BRANDÃO, Carlos. Evolução do papel do professor: consequências para a educação. 1993.

FERRÃO, Luís & RODRIGUES, Manuela. Formação pedagógica de formadores. Manual prático, 5.ed. Lisboa, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança, 23.ed. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra, 1979.

Gil, António Carlos. Metodologia do ensino superior. Editora Atlas, São Paulo, 2005.

HAIDT, Regina. Curso de Didáctica geral. São Paulo, editora Ática, s/d.

LIBANEO, José Carlos et al., Pedagogia da Educação? Editora Cortez, São Paulo, 1996.

LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. Petrópolis, 1994.

NERICI, Imídio Giuseppe. Didáctica geral. Editora Ática, São Paulo, 1970.

NERICI, Imídio Giuseppe. Metodologia do ensino: uma introdução. São Paulo. Atlas, 1981.

PERRENOUD, P. H. construir as competências desde a escola. Porto Alegre. Artmed, 1999.

PILETTI, Claudino. Didáctica geral. São Paulo, Ática, 8.ed., 1987.

RIBEIRO, A. C. & RIBEIRO, L. C. Planificação e avaliação do ensino-aprendizagem. Lisboa, U. A., 1989.

RODRIGUES et al., Psicopedagogia: a estruturação do ensino-aprendizagem e o papel do educador no século XXI. Modulo III. Instituto Superior Dom Bosco, 2007.






4 Comentários:

Às sábado, 09 maio, 2020 , Blogger Unknown disse...

Muito obrigado pelo esclarecimento da minha dúvida.

E foi mui bom.

 
Às sábado, 15 agosto, 2020 , Blogger Unknown disse...

Está bem claro.
Obrigado

 
Às quinta-feira, 21 setembro, 2023 , Anonymous Anónimo disse...

Artigo muito interessante.
Amei
Obrigada

 
Às quinta-feira, 04 abril, 2024 , Blogger PATY disse...

MUITO BOM! GOSTEI DO TEXTO. IREI RECOMENDAR.

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial