A História na Perspectiva de Friedrich Nietzsche
1. Introdução
Nietzsche numa das suas obras fala da Genealogia da moral:
uma polémica, onde aborda a questão do carácter da genealogia moral, aborda
também a questão do bem e do mal onde para o autor essas duas questões travam
uma luta na terra, sendo entretanto, dois valores contrapostos; mais adiante
relata sobre niilismo e tipos de niilismo e por fim, fala da vontade de poder.
Sendo assim, neste trabalho, pretende-se tratar das suas
perspectivas no âmbito da questão da história onde o autor demostra a
importância da história na vida das pessoas e para as pessoas. Contudo, Friedrich
Nietzsche é um filósofo que referia em 1874 que as pessoas precisavam da
história e alguns anos mais tarde afirmou que a falta de um sentido histórico é
o defeito hereditário de todos os filósofos. Deste modo, o trabalho pretende
investigar o conceito de história no interior do pensamento do filósofo alemão
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Faz-se uma análise completa das suas
ideias e neste trabalho também são apresentadas três acepções do autor sobre a
história que serão desenvolvidos no decurso do trabalho, nomeadamente: O
nascimento da tragédia; a utilidade e desvantagem da história para a vida e Schopenhauer
Educador.
2. A História na Perspectiva de
Friedrich Nietzsche
A origem da ideia da História em Nietzsche surgiu quando em Novembro
de 1861, ainda como aluno da renomada escola de Pforta, escreve Nietzsche à sua
irmã Elisabeth em agradecimento pelos livros de história que ela o enviara: “[...] estas obras históricas são-me
extraordinariamente desejáveis, você precisa saber que agora eu muito me
interesso pela história”.
Segundo Santos (2014), em 1874 escreve Nietzsche na sua
segunda Consideração Extemporânea: “Certamente,
nós precisamos da história...” Alguns anos mais tarde afirmaria o filósofo
em Humano, demasiado humano: “Falta de sentido histórico é o defeito
hereditário de todos os filósofos”. (MA I/HH I § 2). E, por fim, em sua ultima
fase, escreve a respeito de Wagner: “Eu tenho claro que Wagner não pertence à
história da musica” (1999:10).
De acordo com Santos (2014), estas são algumas das muitas
passagens que mostram a importância da história na filosofia de Nietzsche.
O autor supracitado conta que desde os tempos que Nietzsche
era jovem, teve aulas com Jacob Burckhardt, até os últimos dias da sua
actividade intelectual, o filósofo nunca deixou de assumir o ponto de vista
histórico como um dos escopos da sua filosofia.
No entanto, todos os elementos que fazem parte do seu
pensamento passam por pelo centro da história e ele tem como temas principais o
homem, a religião, a arte, a ciência, entre outros.
A partir das contribuições de Santos (2014), compreendemos
que o problema que trouxe a ideia da história na perspectiva de Nietzsche é que
ele escreve essa obra sobre tamanha influência das suas experiências pessoais
como estudante de filologia clássica, tempos em que ele se dedicara a
reorganizar sob um novo modelo metodológico que a história trazia em si o status
quo de tradicional, embora Alves (2011), no seu artigo refira que, não haja,
por parte do autor, uma conceitualização
clara do que
é história, o
que suscita variadas
interpretações neste sentido;
afinal, assim como tantos outros tais como filosofia, arte, ciência – a
história é um termo polissémico no pensamento de Nietzsche.
Nietzsche, afirma na sua obra intitulada “O Nascimento da
tragédia” que “todo nosso mundo moderno
está preso na rede da cultura alexandrina e reconhece como ideal o homem
teórico, equipado com as mais altas forças cognitivas, que trabalha a serviço
da ciência...” (2007:106).
Relativamente a essa obra intitulada “O Nascimento da tragédia” há uma crítica da história enquanto
disciplina académica pelo facto de ser um dos elementos que obstrui a saúde de
uma cultura, no caso, a moderna.
Alves (2011) citando Nietzsche (1992, §23, p.135), diz que
na secção §23, a história é considerada um conhecimento científico que traz
desvantagens para a cultura, eliminando a força vital do mito. Assim, é
presumível que “em uma prova severa, quase todo mundo sinta-se tão decomposto
pelo espírito histórico-crítico da cultura, que a existência do mito outrora se
nos torne crível somente por via douta”; ele continua “Sem o mito, porém, toda
cultura perde sua força vital sadia e criadora:
só um horizonte cercado de mitos encerra em unidade todo movimento
cultural.”
Deste modo, a partir dos extractos acima, compreendemos que,
a história impede o surgimento dos mitos e danifica a cultura, sendo, portanto,
prejudicial para à vida.
Nietzsche na segunda
perspectiva sobre a história questiona-se sobre a utilidade e desvantagem
da história para a vida. Temos que retornar na sua primeira perspectiva quando
ele fala sobre o “Nascimento da tragédia”
onde ele aponta que a história é prejudicial. Já nesta segunda acepção,
resta perguntar pela sua utilidade, especialmente no que tange ao modo que ela
pode ser útil (grifos nossos), pois “Somente na medida em que a história serve
à vida queremos servi-la” (Nietzsche, 2003:5).
Para Nietzsche (idem),
a história jamais “poderá e deverá se
tornar ciência pura, mais ou menos como o é a matemática.” (2003:17).
Vê-se, no entanto, que o autor não diz que a história jamais poderá se tornar,
ou se já é, uma ciência legítima. A história é “a ciência do vir-a-ser
universal” (idem, p.32) e sua
intenção é apresentar seu proveito para a vida.
No nosso entender, Nietzsche valoriza mais a matemática do
que a história, embora entendemos que a sua preocupação não fora discutir a
legitimidade da história como ciência, mas precisamente o uso que os
historiadores faziam deste estatuto, de modo que ele não desenvolve maiores
esclarecimentos a esse respeito. Nietzsche critica mais a objectividade
existente na história, pois ele identifica como uma utopia no qual os
historiadores tentam garantir que a história é uma ciência.
Já na sua terceira ideia sobre a história é: Schopenhauer educado. Esta é a defesa de
um projecto de educação que toma por modelo a filosofia de Arthur Schopenhauer,
para a edificação de uma cultura superior. Aqui segundo Alves (2011), a
história é utilizada como fornecedora de elementos profilácticos que inoculam
saúde numa cultura, nas próprias palavras do autor: “Aquele, então, que reconheceu o que há de desrazão na natureza desta
época deve reflectir nos meios de fornecer para ela alguns remédios; e sua
tarefa será a de apresentar Schopenhauer aos espíritos livres e àqueles que
sofrem profundamente com nossa época” (2004:203).
Na nossa intuição, para Nietzsche, a história não é somente
um objecto específico de reflexão, abordado de maneira contingente e de forma
totalmente pontual nessa famosa Consideração extemporânea.
Alves (2011), concebe que a preocupação de Nietzsche é com
sua época, a cultura moderna. Portanto,
o filósofo se pronuncia: “... não saberia
[eu] que sentido teria a filologia clássica na nossa época senão o de actuar
nela de maneira imprevista, ou seja, contra o tempo, e com isso, no tempo e,
esperemos, em favor de um tempo vindouro.” (2003:7).
A partir das três ideias aqui supracitadas de Nietzsche, é
possível compreender que o autor pretende pensar o valor desses usos e
significados no âmago do seu projecto filosófico, concebido não apenas de um
ponto de vista teórico, mas visando à transformação do homem e da cultura. Para
Nietzsche, impõe-se reconsiderar a história, seu valor e seus usos possíveis
para fazer a história nas melhores condições e gerar o futuro.
Da nossa análise, a partir dos extractos aqui supracitados,
nenhuma das três formas de história é, portanto, recusada radicalmente por
Nietzsche, do mesmo modo que nenhuma é absolutamente preferida. Percebemos pelo
contrario, que ele apenas denuncia os inconvenientes e traz ao mesmo tempo a
utilidade da história na vida das pessoas a partir das suas diversas formas
para vida.
3. Conclusões
Como sinais de conclusão após a nossa revisão bibliográfica
e nossa própria análise, é possível referir que Nietzsche reconsidera a noção
de história, não mais como uma disciplina teórica específica, mas como um modo
de pensamento singular, indissociável de determinada maneira de viver, que ele
designa como “sentido”, “espírito” ou, ainda, “método” históricos. Com a
condição de ser convenientemente repensado e dominado, o “sentido histórico”
pode ser visto, então, como uma característica necessária a qualquer filosofia
autêntica. Para Friedrich Nietzsche, o filósofo tem o dever de reflectir sobre
a história porque, por sua vez, ele deve fazer-se historiador, num novo
sentido, mais amplo e radical, a fim de conseguir a superação de qualquer
filosofia “metafísica”. Conseguimos perceber porque ele falou que o homem é um
ser em constante transformação, pois, isso significa dizer que o homem não pode
ser tido como matéria pronta, razão pela qual o homem deve ter também uma visão
holística sobre o mundo a sua volta.
4. Referências bibliográficas
Alves, F. G. O
conceito de história em Nietzsche: da metafísica de artistas à Gaia ciência
(1869-1882). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São
Paulo, Julho de 2011.
Nietzsche, F. W. O nascimento da tragédia ou helenismo e
pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras. 1992.
___________. Segunda
Consideração Intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida.
Trad. Artur Mourão. São Paulo: Editora Relume Dumara, 2003.
___________. Reconstrução
do passado: teoria da história II: os princípios da pesquisa histórica.
Brasília: UnB, 2007.
Santos, F. T. O veneno da história ou a história de um
veneno: Nietzsche e a construção da filosofia histórica. Kínesis, Vol. VI,
n° 12, Dezembro 2014, p.58-73.
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