sexta-feira, 26 de abril de 2019

A História na Perspectiva de Friedrich Nietzsche

1. Introdução

Nietzsche numa das suas obras fala da Genealogia da moral: uma polémica, onde aborda a questão do carácter da genealogia moral, aborda também a questão do bem e do mal onde para o autor essas duas questões travam uma luta na terra, sendo entretanto, dois valores contrapostos; mais adiante relata sobre niilismo e tipos de niilismo e por fim, fala da vontade de poder.

Sendo assim, neste trabalho, pretende-se tratar das suas perspectivas no âmbito da questão da história onde o autor demostra a importância da história na vida das pessoas e para as pessoas. Contudo, Friedrich Nietzsche é um filósofo que referia em 1874 que as pessoas precisavam da história e alguns anos mais tarde afirmou que a falta de um sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos. Deste modo, o trabalho pretende investigar o conceito de história no interior do pensamento do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Faz-se uma análise completa das suas ideias e neste trabalho também são apresentadas três acepções do autor sobre a história que serão desenvolvidos no decurso do trabalho, nomeadamente: O nascimento da tragédia; a utilidade e desvantagem da história para a vida e Schopenhauer Educador.

2. A História na Perspectiva de Friedrich Nietzsche

A origem da ideia da História em Nietzsche surgiu quando em Novembro de 1861, ainda como aluno da renomada escola de Pforta, escreve Nietzsche à sua irmã Elisabeth em agradecimento pelos livros de história que ela o enviara: “[...] estas obras históricas são-me extraordinariamente desejáveis, você precisa saber que agora eu muito me interesso pela história”.

Segundo Santos (2014), em 1874 escreve Nietzsche na sua segunda Consideração Extemporânea: “Certamente, nós precisamos da história...” Alguns anos mais tarde afirmaria o filósofo em Humano, demasiado humano: “Falta de sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos”. (MA I/HH I § 2). E, por fim, em sua ultima fase, escreve a respeito de Wagner: “Eu tenho claro que Wagner não pertence à história da musica” (1999:10).

De acordo com Santos (2014), estas são algumas das muitas passagens que mostram a importância da história na filosofia de Nietzsche.

O autor supracitado conta que desde os tempos que Nietzsche era jovem, teve aulas com Jacob Burckhardt, até os últimos dias da sua actividade intelectual, o filósofo nunca deixou de assumir o ponto de vista histórico como um dos escopos da sua filosofia. 

No entanto, todos os elementos que fazem parte do seu pensamento passam por pelo centro da história e ele tem como temas principais o homem, a religião, a arte, a ciência, entre outros.

A partir das contribuições de Santos (2014), compreendemos que o problema que trouxe a ideia da história na perspectiva de Nietzsche é que ele escreve essa obra sobre tamanha influência das suas experiências pessoais como estudante de filologia clássica, tempos em que ele se dedicara a reorganizar sob um novo modelo metodológico que a história trazia em si o status quo de tradicional, embora Alves (2011), no seu artigo refira que, não haja, por parte do autor, uma conceitualização  clara  do  que  é  história,  o  que  suscita  variadas  interpretações  neste sentido; afinal, assim como tantos outros tais como filosofia, arte, ciência – a história é um termo polissémico no pensamento de Nietzsche.

Nietzsche, afirma na sua obra intitulada “O Nascimento da tragédia” que “todo nosso mundo moderno está preso na rede da cultura alexandrina e reconhece como ideal o homem teórico, equipado com as mais altas forças cognitivas, que trabalha a serviço da ciência...” (2007:106).

Relativamente a essa obra intitulada “O Nascimento da tragédia” há uma crítica da história enquanto disciplina académica pelo facto de ser um dos elementos que obstrui a saúde de uma cultura, no caso, a moderna.

Alves (2011) citando Nietzsche (1992, §23, p.135), diz que na secção §23, a história é considerada um conhecimento científico que traz desvantagens para a cultura, eliminando a força vital do mito. Assim, é presumível que “em uma prova severa, quase todo mundo sinta-se tão decomposto pelo espírito histórico-crítico da cultura, que a existência do mito outrora se nos torne crível somente por via douta”; ele continua “Sem o mito, porém, toda cultura perde sua força vital sadia e criadora:  só um horizonte cercado de mitos encerra em unidade todo movimento cultural.”

Deste modo, a partir dos extractos acima, compreendemos que, a história impede o surgimento dos mitos e danifica a cultura, sendo, portanto, prejudicial para à vida.

Nietzsche na segunda perspectiva sobre a história questiona-se sobre a utilidade e desvantagem da história para a vida. Temos que retornar na sua primeira perspectiva quando ele fala sobre o “Nascimento da tragédia” onde ele aponta que a história é prejudicial. Já nesta segunda acepção, resta perguntar pela sua utilidade, especialmente no que tange ao modo que ela pode ser útil (grifos nossos), pois “Somente na medida em que a história serve à vida queremos servi-la” (Nietzsche, 2003:5).

Para Nietzsche (idem), a história jamais “poderá e deverá se tornar ciência pura, mais ou menos como o é a matemática.” (2003:17). Vê-se, no entanto, que o autor não diz que a história jamais poderá se tornar, ou se já é, uma ciência legítima. A história é “a ciência do vir-a-ser universal” (idem, p.32) e sua intenção é apresentar seu proveito para a vida.

No nosso entender, Nietzsche valoriza mais a matemática do que a história, embora entendemos que a sua preocupação não fora discutir a legitimidade da história como ciência, mas precisamente o uso que os historiadores faziam deste estatuto, de modo que ele não desenvolve maiores esclarecimentos a esse respeito. Nietzsche critica mais a objectividade existente na história, pois ele identifica como uma utopia no qual os historiadores tentam garantir que a história é uma ciência.

Já na sua terceira ideia sobre a história é: Schopenhauer educado. Esta é a defesa de um projecto de educação que toma por modelo a filosofia de Arthur Schopenhauer, para a edificação de uma cultura superior. Aqui segundo Alves (2011), a história é utilizada como fornecedora de elementos profilácticos que inoculam saúde numa cultura, nas próprias palavras do autor: “Aquele, então, que reconheceu o que há de desrazão na natureza desta época deve reflectir nos meios de fornecer para ela alguns remédios; e sua tarefa será a de apresentar Schopenhauer aos espíritos livres e àqueles que sofrem profundamente com nossa época” (2004:203).

Na nossa intuição, para Nietzsche, a história não é somente um objecto específico de reflexão, abordado de maneira contingente e de forma totalmente pontual nessa famosa Consideração extemporânea.

Alves (2011), concebe que a preocupação de Nietzsche é com sua época, a cultura moderna.  Portanto, o filósofo se pronuncia: “... não saberia [eu] que sentido teria a filologia clássica na nossa época senão o de actuar nela de maneira imprevista, ou seja, contra o tempo, e com isso, no tempo e, esperemos, em favor de um tempo vindouro.” (2003:7).

A partir das três ideias aqui supracitadas de Nietzsche, é possível compreender que o autor pretende pensar o valor desses usos e significados no âmago do seu projecto filosófico, concebido não apenas de um ponto de vista teórico, mas visando à transformação do homem e da cultura. Para Nietzsche, impõe-se reconsiderar a história, seu valor e seus usos possíveis para fazer a história nas melhores condições e gerar o futuro.

Da nossa análise, a partir dos extractos aqui supracitados, nenhuma das três formas de história é, portanto, recusada radicalmente por Nietzsche, do mesmo modo que nenhuma é absolutamente preferida. Percebemos pelo contrario, que ele apenas denuncia os inconvenientes e traz ao mesmo tempo a utilidade da história na vida das pessoas a partir das suas diversas formas para vida.

3. Conclusões

Como sinais de conclusão após a nossa revisão bibliográfica e nossa própria análise, é possível referir que Nietzsche reconsidera a noção de história, não mais como uma disciplina teórica específica, mas como um modo de pensamento singular, indissociável de determinada maneira de viver, que ele designa como “sentido”, “espírito” ou, ainda, “método” históricos. Com a condição de ser convenientemente repensado e dominado, o “sentido histórico” pode ser visto, então, como uma característica necessária a qualquer filosofia autêntica. Para Friedrich Nietzsche, o filósofo tem o dever de reflectir sobre a história porque, por sua vez, ele deve fazer-se historiador, num novo sentido, mais amplo e radical, a fim de conseguir a superação de qualquer filosofia “metafísica”. Conseguimos perceber porque ele falou que o homem é um ser em constante transformação, pois, isso significa dizer que o homem não pode ser tido como matéria pronta, razão pela qual o homem deve ter também uma visão holística sobre o mundo a sua volta.

4. Referências bibliográficas

Alves, F. G. O conceito de história em Nietzsche: da metafísica de artistas à Gaia ciência (1869-1882). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, Julho de 2011.

Nietzsche, F. W. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras. 1992.

___________. Segunda Consideração Intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Trad. Artur Mourão. São Paulo: Editora Relume Dumara, 2003.

___________. Reconstrução do passado:  teoria da história II:  os princípios da pesquisa histórica. Brasília: UnB, 2007.


Santos, F. T.  O veneno da história ou a história de um veneno: Nietzsche e a construção da filosofia histórica. Kínesis, Vol. VI, n° 12, Dezembro 2014, p.58-73.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial