O Papel dos mega projectos e o seu peso no emprego no crescimento económico em Moçambique
2.1. Mega Projectos – uma definição
Mega projectos são actividades de investimento e produção
com características especiais (CASTEL-BRANCO, 2008, p. 1). A sua dimensão é definida
pelos montantes de investimento (acima de US$ 500 milhões).
Por outro lado, (MUSSAGY, s/d, p. 3) diz que os Mega
projectos são actividades de investimento e produção complexas, que geram
várias incertezas e com características muito especiais. São projectos de
grande magnitude e que criam impacto nos negócios próximos, residências e
ambiente.
Olhando as duas definições dos dois autores, percebemos que
existe uma ligação entre as duas definições na qual entendemos que o mega projecto é um tipo especial de projecto. São no entanto, projectos de
grande magnitude, extremamente complexos, normalmente
definidos como empreendimentos com orçamentos altos que podem chegar até a
vários bilhões.
Vamos descrever neste ponto várias características dos mega
projectos segundo CASTEL-BRANCO, 2008, p. 1). São no entanto cerca de seis
características económicas dos mega projectos.
Uma primeira
característica – é que os mega projectos, a sua dimensão é definida
pelos montantes de investimento (acima de US$ 500 milhões) e impacto na
produção e comércio, é enorme.
Por exemplo, segundo Castel-Branco, sepegarmos em três mega
projectos apenas (a fundição de alumínio de Beluluane, Mozal; a mina de areias
pesadas de Moma; e o projecto do gás natural da Sazol, em Inhambane), podemos
verificar que: (i) o custo de investimento inicial de cada um destes projectos
é superior a US$ 1 bilião; (ii) a soma do investimento realizado por estes três
projectos é aproximadamente igual a 60% do PIB[2]
de Moçambique; (iii) o investimento nestes três projectos é superior a 55% do
investimento privado total realizado nos últimos 10 anos; (iv) a produção
conjunta destes projectos aproxima-se de 70% da produção industrial bruta de
Moçambique (CASTEL-BRANCO, 2008).
Uma segunda
característica – é que os mega projectos são geralmente intensivo sem
capital e, portanto, não geram emprego directo proporcional ao seu peso no
investimento, produção e comércio. Por exemplo, tomando os três mega projectos
atrás mencionados (cujo investimento se aproxima de 60% do PIB, cuja produção
se aproxima de 70% do produto industrial e cujas exportações andam por volta de
três quartos das exportações nacionais de bens) podemos constatar que, no seu
conjunto, empregam apenas 4% da força de trabalho assalariada formal no sector
industrial (idem, p. 2).
Uma Terceira
característica – é que os mega projectos são geralmente concentrados em
torno de actividades mineiras e energéticas – carvão e Moatize, gás de Pande e
Temane, areais minerais de Moma e Chibuto, Hidroeléctrica de Cahora Bassa
(HCB), e a Mozal (intensiva em energia), são apenas alguns exemplos (idem).
Uma quarta
característica – é que os mega projectos são estruturantes das
dinâmicas fundamentais de acumulação e reprodução económica em Moçambique por
causa do seu peso no investimento privado, na produção e no comércio. Dado que
são poucos e concentrados sobretudo na indústria extractiva e de energia, as
dinâmicas assim geradas são estruturantes de uma economia excessivamente
concentrada, produtora de produtos primários, pouco diversificada em termos de
produção, comércio, qualificações e tecnologias e ligações, e de base social e
regional estreita (concentrada em algumas regiões e com impacto social
limitado) (CASTEL-BRANCO, idem).
Uma quinta
característica, refere-se que os mega projectos são área quase
exclusiva de intervenção de grandes empresas multinacionais por causa dos
elevadíssimos custos, das qualificações e especialização requeridas, da
magnitude, das condições competitivas e especialização dos mercados
fornecedores e consumidores, geralmente dominados por oligopólios e monopólios.
Tipicamente, estas empresas constroem altos níveis de
integração vertical ao longo das cadeias produtivas, diversificam
horizontalmente para áreas de actividade relacionadas, exercem controlo sobre
os mercados em que, ou com que, operam. Em economias menos desenvolvidas, como o
caso de Moçambique, estas empresas podem exercer considerável poder. Por exemplo,
a BHP Billiton, principal accionista da Mozal e das areias minerais de Chibuto,
tem um portfolio de investimento em
Moçambique superior a 40% do PIB Moçambicano o que lhe dá enormes vantagens na
negociação política com as instituições públicas (idem).
Uma sexta
característica e última segundo
Castel-Branco, os mega projectos os seus custos de insucesso (ou sunk costs) são altíssimos por causa da
dimensão e complexidade destes investimentos. Deste modo, estes empreendimentos
são pouco sensíveis a incentivos de curto prazo ou de ocasião, e muito
sensíveis às estratégias corporativas globais, dinâmicas dos mercados,
condições logísticas e de infra-estruturas, acesso barato e seguro a recursos
produtivos e custos do capital.
Não é de admirar o facto de em Moçambique, estes projectos
estarem orientados para mercados externos maiores e com acordos futuros, e
invistam massivamente na infra-estrutura e logística que necessitam, exijam
livre repatriamento de capitais, negoceiem preços baixos para as matérias-primas
e outros principais insumos locais e isenções de direitos nas importações de
equipamentos e matérias-primas.
Na essência, as decisões de investimento e sua localização,
expansão, escolha de mercados e tecnologia são o resultado da combinação de
estratégias corporativas num ambiente oligopolista, em vez de respostas de
curto e médio prazo a incentivos não estruturais.
Assim, para CASTEL-BRANCO (idem, p. 3) as estratégias
corporativas num ambiente de competição e cooperação oligopolista definem os
mega projectos, os quais, por sua vez, estruturam a economia nacional. Logo,
estas estratégias corporativas estruturam a economia nacional. Por exemplo, a
decisão de localização da Mozal em Moçambique tem pouco a fazer com hipotéticas
vantagens comparativas nacionais (infra-estruturas tiveram que ser
reconstruídas, a energia é distribuída e controlada pela ESKOM, força de
trabalho barata e não qualificada é escassa na Mozal, e as principais
matérias-primas são importadas).
Assim sendo, para a decisão sobre a localização da Mozal os
seguintes factores foram cruciais: um subsídio da ESKOM sobre a energia
(principal custo da fundição) para incentivar a Mozal a estabelecer-se em
Moçambique de modo a justificar a intervenção da ESKOM na rede de energia
Moçambicana; e a disponibilidade do Porto da Matola para as importações e
exportações da Mozal (mais de metade da actividade deste Porto está associada
ao comércio externo da Mozal). Nos restantes casos, a existência de um recurso
natural não renovável (gás, areias minerais, carvão, etc.) é um factor
determinante nas decisões de localização do investimento que faz sentido dentro
de um quadro estratégico corporativo de controlo e exploração dos recursos.
2.3. Ligações e a Contribuição dos
Mega Projectos para a Economia Nacional
Para Castel-Branco, a contribuição dos mega projectos para
economia nacional está, obviamente, relacionada com o seu peso no investimento,
emprego, produção e comércio. No entanto, a riqueza gerada pelos mega projectos
pertence às corporações que os possuem e controlam e não à economia como um
todo. Portanto, o impacto da riqueza produzida pelos mega projectos na economia
nacional é relacionado com o grau de retenção e absorção dessa riqueza pela
economia e não apenas pela quantidade de riqueza produzida (CASTEL-BRANCO,
2008, idem).
Com isto, o autor quer dizer, o impacto da fundição de
alumínio ou da exploração do gás e das areias minerais depende de como é que a
economia retém e absorve parte do valor de produção e das vendas dessas
empresas. Deste modo, Castel-Branco diz que não basta dizer que o impacto é
grande porque os mega projectos contribuem com três quartos das exportações de
bens. Essas exportações geram riqueza para os mega projectos que, com ela,
podem pagar as suas importações (idem).
O que é que acontece na economia como um todo? Será esta
mais capaz de sustentar investimento e importações para actividades diferentes
dos mega projectos?
A resposta a estas perguntas depende da capacidade de a
economia reter parte da riqueza produzida.
Esta retenção faz-se por via das ligações estabelecidas
entre o mega projecto e a economia, pois estas ligações permitem multiplicar
investimento, redistribuir rendimento, promover consumo e melhorar as
capacidades produtivas. Se, por um lado, o mega projecto for uma ilha isolada
do resto da economia, a retenção será mínima ou nula. Se, por outro lado, o
mega projecto tiver estabelecido fortes ligações com a economia que o rodeia, a
retenção aumentará e, com essa retenção, aumentará o impacto social positivo do
mega projecto[3].
As principais ligações económicas que se desenvolvem a
partir de mega projectos minerais e energéticos são: produtivas, tecnológicas,
de emprego, investimento/poupança e fiscais.
Ligações produtivas
são difíceis de desenvolver por causa da sofisticação tecnológica dos mega
projectos, da magnitude da sua produção e da fraqueza estrutural da base
produtiva nacional. Os mega projectos não têm grande vantagem e interesse em
vender a sua produção em Moçambique para promover investimentos a jusante por
causa da pequena dimensão do mercado nacional e dos enormes custos que estariam
envolvidos na construção de projectos industriais consumidores das
matérias-primas. Os mercados externos são mais atractivos: maiores, com mais
opções, com a possibilidade de vender toda a produção sem ter que procurar e
gerir muitos compradores com diferentes especificações, e com a possibilidade
de negociar mercados futuros e contracto de médio prazo que estabilizem as
vendas e os preços.
Ligações produtivas
a montante (fornecedores nacionais dos mega projectos) também são difíceis de
estabelecer dada a fraqueza da base produtiva nacional e as exigências
relacionadas com a sofisticação dos standards
de qualidade e certificação que caracteriza a procura de bens e serviços
industriais dos mega projectos. A capacidade produtiva e logística para
fornecer bens e serviços aos mega projectos exige investimento em tecnologia,
formação e aprendizagem e em gestão e logística.
No entanto, como os mega projectos são muito poucos a soma
da sua procura resulta numa função de procura agregada descontínua. Logo, as
potenciais empresa fornecedoras não têm o incentivo e o espaço para investirem
suficientemente porque acabam por descobrir os riscos envolvidos em tentarem
focar numa procura descontínua da sua produção. Apesar destes problemas, há
algumas ligações a montante que já se desenvolveram com os mega projectos.
Além destas questões, os contractos firmados pelo Governo
Moçambicano com os mega projectos não prevêem o desenvolvimento de ligações a
montante e jusante em Moçambique.
Ligações tecnológicas
são problemáticas. Por um lado, os mega projectos em Moçambique não produzem
“produtos tecnológicos”, ou capacidade produtiva. Produzem produtos primários,
os quais, em si, não permitem transferir tecnologia e ganhos tecnológicas para
empresas consumidores a jusante. A qualidade e quantidade da procura, pelos
mega projectos, de bens e serviços industriais é uma pressão que pode
incentivar mudanças tecnológicas nas firmas que se situam na cadeia de produção
a montante dos projectos. No entanto, o carácter discreto e descontínuo da
procura, a fraqueza empresarial e as debilidades do sistema financeiro
dificultam a transformação tecnológica de empresas fornecedoras de mega
projectos. Algumas conseguiram fazer essa transformação, pelo menos parcial. Em
geral, no entanto, tal transformação acontece em ligação com empresas
estrangeiras e quando ou há outras fontes de procura além dos mega projectos em
Moçambique (o que permita eliminar as descontinuidades da procura) ou o nível
de investimento e de salto tecnológico requeridos são pequenos (p. 5).
Ligações tecnológicas também podem surgir por causa da
mobilidade de trabalhadores, gestores e técnicos dos mega projectos (onde o
nível e os standards são mais altos) para outras empresas a jusante e a
montante. No entanto, geralmente os mega projectos oferecem melhores condições
de trabalho e de carreira profissional do que as outras empresas, pelo que a
mobilidade da força de trabalho dos mega projectos na direcção de outras
empresas é muito pequena.
As condições das indústrias nacionais também não
facilitam a absorção desta força de trabalho treinada nos mega projectos. Por
exemplo, cerca de dois terços da força de trabalho formada pela Mozal para a fase
de construção da fundição nunca foi absorvida por outras obras de construção.
Em vez disso, esta força de trabalho foi integrada no comércio informal. Se a
economia não consegue absorver as qualificações na quantidade fornecida, essas
qualificações perdem valor económico.
Ligações por via de emprego podem ser directas ou
indirectas. Assim, na nossa percepção, as directas estão relacionadas com o
emprego gerado nos mega projectos. Dado que quase todos eles são intensivos em
capital, as oportunidades de emprego directo são relativamente escassas. Assim,
uma empresa pode produzir dois terços das exportações de bens e 50% da produção
industrial bruta com recurso e um terço de todo o investimento privado e só
empregar 2% da força de trabalho formal do sector industrial, como é o caso da
Mozal. Se fosse possível fazer um uso alternativo dos recursos, com os US$ 2.5
biliões investidos num único mega projecto poderiam ter sido criadas 500
empresas espalhadas pelo País, gerando 40 vezes mais postos de trabalho do que
o mega projecto e distribuindo tais empregos mais equitativamente pelo País,
diferentes camadas sociais e diferentes tipos e níveis de qualificação.
Por sua vez, o emprego indirecto não é o resultado directo e
automático do mega projecto. Para que o emprego indirecto aconteça é necessário
desenvolver ligações produtivas a montante (fornecedores) e jusante
(consumidores) do mega projecto. Ora, estas ligações requerem novo
investimento, capacidades adicionais, etc. Quanto muito, o mega projecto
proporciona uma oportunidade de ligação mas a concretização dessa ligação
depende de outras empresas, dos seus interesses e capacidades (p. 6).
Outra ligação possível é por via do contributo do mega
projecto para o aumento da poupança e do investimento disponíveis para realizar
outras actividades económicas. A concretização destas ligações pecuniárias
depende, por um lado, do estabelecimento de ligações produtivas e tecnológicas
a jusante e montante e do emprego, pois a oportunidade de investimento pode
atrair poupanças para esse investimento. No entanto, como já foi discutido, as
ligações produtivas e tecnológicas ainda não se estão a desenvolver intensivamente.
Por outro lado, as ligações pecuniárias[4]
dependem de como é que o mega projecto afecta o nível de excedente disponível
para financiamento da economia e das outras empresas. No caso de Moçambique, os
incentivos fiscais atribuídos aos mega projectos impedem que se reduza a carga
fiscal que recai sobre as outras empresas e que melhore a saúde fiscal do
Estado. Logo, o nível de excedente disponível tanto nas empresas como nos
cofres do Estado não é ajudado pelos mega projectos. Para além disto, parcelas
consideráveis do capital privado nacional preferem associar-se a mega projectos
tirando proveito das reservas de acções destinadas a Moçambicanos nas
concessões mineiras e outras. Assim, ao invés de gerar mais excedente
pecuniário disponível para financiamento de outros sectores, os mega projectos
acabam por atrair o excedente desses outros sectores para as áreas mineiras e
energéticas (p. 6).
Portanto, de um modo geral os mega projectos ainda não estão
a contribuir para ajudar a gerar mais excedente para financiamento de outras
empresas e da economia como um todo.
Os mega projectos reúnem todas as condições para serem fonte
privilegiada de receitas fiscais. Isto acontece porque, por um lado, estes
projectos são enormes e os seus custos de insucesso (sunk costs) são extremamente altos, que diminui a sua mobilidade e
os torna pouco sensíveis a incentivos ocasionais, de curto prazo e não
estruturais.
Por outro lado, são projectos com interesses estratégicos
localizados, quer por serem centrados na exploração de recursos naturais não
renováveis (energéticos e minerais) com localização bem definida, quer por
serem guiados por estratégias corporativas oligopolistas[5]
que determinam a escolha de localização. Por causa disto, estes projectos não
têm interesse em circular à procura de incentivos marginais, pois as suas
decisões locacionais são sempre estratégicas.
No caso de Moçambique, o potencial fiscal dos seis mega
projectos mais conhecidos (Mozal, areias minerais de Moma e Chibuto, gás
natural, carvão e HCB), se explorado, pode duplicar a receita fiscal do Estado.
Isto contribuiria para reduzir a dependência externa, consolidar a soberania
política e aumentar a capacidade do Estado de investir na diversificação da
base produtiva e de crescimento, no fornecimento de serviços públicos
fundamentais e no desenvolvimento de um sistema de protecção, segurança e
assistência social. Também permitiria reduzir a carga fiscal para outras
empresas o que aumentaria o excedente disponível para financiamento de actividade
económica em outras áreas de actividade e regiões (p.7).
Portanto, uma política fiscal racional e responsável perante
os mega projectos pode criar as condições para gerar várias outras ligações
potenciais: aumentar a disponibilidade de poupança e capacidade de financiar
investimento e custos correntes, diversificar a base produtiva, aumentaras
possibilidades de promover ligações produtivas e tecnológicas a montante e
jusante, gerar mais emprego indirecto em condições dignas e decentes, etc.
As ligações fiscais têm duas outras vantagens sobre as
restantes ligações. Primeira são mais fáceis de estabelecer. Segunda, os
recursos assim gerados são mais livres para usos alternativos destinados a
gerar pólos e dinâmicas de desenvolvimento alternativos aos mega projectos, o
que pode contribuir para um desenvolvimento mais sustentável, criador de novas
oportunidades e livre do perigo de criação de dinâmicas de acumulação
exclusivamente baseadas em rendas.
No entanto, o Governo Moçambicano atribui incentivos fiscais
muito generosos aos mega projectos já aprovados, apesar de recentemente ter
revisto a legislação fiscal para novos mega projectos. De tal modo são
generosos estes incentivos que enquanto os megas projectos contribuem com cerca
de 12% do PIB e três quartos das exportações de bens, o seu contributo fiscal é
inferior a 1% do PIB. Os mega projectos estão todos no grupo das 10 maiores
empresas de Moçambique, mas nenhum deles se situa entre os 10 maiores
contribuintes para o fisco.
Face às dificuldades de realizar ligações produtivas,
tecnológicas e de emprego, e dados os incentivos fiscais que impedem ligações
pecuniárias, não é de admirar que o impacto real dos mega projectos na
acumulação e reprodução económica seja reduzido.
É argumentado que o contributo que os mega projectos fazem
para dotar as comunidades com melhores condições de sobrevivência não pode ser
subestimado. No entanto, há alguns aspectos a considerar sobre estes
contributos. Primeiro, a experiência mostra que em muitos casos este esforço local
é mais de compensação (por exemplo, pela deslocação de comunidades para dar
lugar ao mega projecto) do que de desenvolvimento e é mais útil para reforçar a
imagem e a influência da empresa do que para resolver. Segundo, a maioria das
infra-estruturas criadas (escolas, centros de saúde, estradas, bairros
residenciais, meios sanitários, etc.) são entregues ao Estado para utilização
social, por serem adequadas á prestação de serviços públicos. O orçamento
corrente do Estado é posto sob pressão para financiar o professor, o médio, o
enfermeiro, os livros, os medicamentos, a manutenção da estrada. Sem esta
intervenção do Estado, essas infra-estruturas não operam.
Para CASTEL-BRANCO (idem, p. 8) diz que como os mega
projectos beneficiam de generosos incentivos fiscais, eles não contribuem como
poderiam para o Orçamento do Estado, de modo que não contribuem para o
funcionamento das infra-estruturas criadas. Assim os projectos comunitários dos
megaprojectos podem funcionar como um pau de dois bicos: aparentemente ajudam a
comunidade, mas põem pressões insustentáveis sobre as capacidades financeiras
do Estado para manter e explorar devidamente estas capacidades. Terceiro, há
casos em que as dádivas comunitárias dos megaprojectos são, de facto, se não de
jure, uma alternativa a pagar impostos e/ou a engajar a comunidade, de facto,
na gestão dos recursos e oportunidades de desenvolvimento locais.
Castel-Branco, conclui seu pensamento dizendo que a questão
do contributo comunitário dos mega projectos não deve, de modo algum, afectar a
análise sobre o seu contributo fiscal para o Estado (ibidem, p. 8).
2.4. Importância dos Mega projectos
Para (MUSSAGY, s/d) os mega projectos desempenham um papel
importante no processo de crescimento da economia Moçambicana. Diz este autor
que Moçambique tem feito um esforço de desenvolvimento muito significativo,
procurando fundar continuamente o seu processo de crescimento por via dos
vários sectores da economia e particularmente pela atracção de mega projectos.
Em consequência do regime diversificado de amplos incentivos fiscais, nos
últimos anos os mega projectos aumentaram. Eles aumentaram não só em quantidades
mas como também aumentou a sua importância no peso da economia nacional. Para
se ter uma ideia, já nos transcorridos anos de 2006, os mega projectos da
Mozal, Sasol e areais pesadas de Moma absorviam cerca de 60% da produção
nacional, medida pelo indicador macroeconómico PIB. E ainda nessa altura a
produção conjunta dos mesmos, representavam grande parte do índice de cobertura
das importações de todo país, uma vez que estes empreendimentos são
caracterizados por um volume de importações em equipamentos e tecnologias
avultados[6].
Anteriormente, nos referíamos segundo Castel-Branco que as
ligações contribuem para o crescimento da economia moçambicana bem como
contribuem para o emprego mas o mesmo CASTEL-BRANCO (ibidem, p. 8) diz que, há
vários outros factores, para além das ligações, que determinam o contributo dos
mega projectos para a economia.
Assim, segundo ele, Primeiro,
se estes projectos são poucos e concentrados em produtos primários básicos, as
dinâmicas e estruturas económicas tendem a tornar-se muito vulneráveis e, até,
voláteis. Pequenas variações nos mercados internacionais e nas condições
competitivas (nos preços, especificações e quantidades das exportações) podem ter enormes impactos macroeconómicos
desestabilizadores.
Dá um exemplo onde fala da crise económica internacional que
está a ter um fortíssimo impacto no investimento e na procura nas economias
desenvolvidas, o que na sua opinião as pode obrigar a contrair as suas
importações de produtos primários de economias como Moçambique, bem como os
fluxos de capital para estas economias. Um
outro exemplo é a crise da indústria automóvel, que pode reduzir a procura de
alumínio. Dado que as exportações de Moçambique estão concentradas no alumínio,
esta crise pode ter um impacto dramático nas receitas de exportação. Para o
autor, uma economia mais diversificada seria menos vulnerável (p. 9).
Num Segundo ponto
para Castel-Branco, os mega projectos são, obviamente, grandes consumidores de
recursos especializados afectando, deste modo, a disponibilidade e o custo de
tais recursos para os outros projectos, assim como a sustentabilidade da
reprodução económica. Por exemplo, os três projectos já mencionados consomem
mais de dois terços da energia eléctrica consumida em Moçambique e recrutam parte
significativa dos seus trabalhadores especializados e semiqualificados
nacionais de outros projectos e actividades, incluindo de outras empresas de
capital estrangeiro.
Num Terceiro
ponto, pelo seu poder económico e pela economia política dos recursos minerais,
os mega projectos minerais e energéticos habitualmente têm prioridade sobre
qualquer outra utilização da terra e dos recursos, quer por outros sectores
(como o turismo, a agricultura, reservas florestais, etc.) quer pelas
comunidades locais. E ai se pergunta: Será
que esta prioridade se justifica sempre? Até que ponto é que uma exploração
mineira gera, para a comunidade e para a economia nacional, numa perspectiva
sustentável, mais recursos, capacidades e opções do que aquelas actividades
eliminadas ou preteridos em benefício de mega projectos?
Num Quarto ponto,
uma economia dominada por mega projectos gera dinâmicas de economia política
(relações entre o Estado e o capital) desenvolvidas em torno de rendas de
recursos não renováveis. Para além do óbvio problema de sustentabilidade, dado
que os recursos são não renováveis, este tipo de economia política tende a
gerar capitalismos parasitários e de opções restritas, e a reduzir o espaço e
as oportunidades políticos por causa das habituais alianças político-económicas
para promover mega projectos mineiros como dinâmica dominante, senão mesmo
única, de acumulação de rendas (p. 10).
Num Quinto ponto,
as indústrias extractivas, energéticas e associadas, pelas suas
características, tendem a gerar impactos ambientais de grande envergadura e
muitas vezes negativos.
Para este caso, o autor considera um problema o facto de as
indústrias trazerem um impacto ambiental que acelera para a erosão, o
empobrecimento dos solos, a escassez de água potável, a contaminação
atmosférica, as mudanças climáticas e a deterioração das condições e
oportunidade de vida para todos nós. Num certo sentido, o ambiente propício à
vida é o nosso mais importante recurso dinâmico e também um dos mais difíceis
de renovar (idem, p. 10).
Enfim, dependendo de como é que estes problemas sejam
resolvidos, o contributo dos mega projectos para a economia podem ser mais ou
menos positivos.
Grandes Projectos de
Mineração e Economia Nacional
Vale
|
Rio Tinto
|
Kenmare
|
Sasol
|
Mozal
|
|
Objecto e Valor do projecto
|
Carvão mineral;
$1.535 mil milhões
|
Carvão mineral; $3.8 mil milhões
|
Areias pesadas;
$500
milhões
|
Gás natural;
$1.2 mil milhões
|
Alumínio;
$2.4 mil milhões
|
Início de operações
|
2011
|
2012
|
2007
|
2004
|
1998
|
Accionistas do projecto
|
Vale do Rio
Doce 85%;
Estado
Moçambicano
5%; e 10%
|
100% da Rio
Tinto (anteriormente
pertença da Riversadale Mining)
|
Kenmare
Resources
PLC 100%
|
Sasol Petroleum
Sofala 50%;
Petronas
Carigali
Moçambique
35%, ENH 15%
e IFC (Braço comercial do
Banco Mundial,
5%)
|
BHP-Billiton
47%;
Industrial
Development
Corporation
(IDC) 24%;
Mitsubishi 25%; Estado
moçambicano
3,9%
|
Localização e área licenciada
(em hectares)
|
Moatize, província de
Tete; 23.780
|
Benga, província de Tete; 127.000
|
Moma, província de Nampula;
34.000
|
Pande e
Temane, província de
Inhambane
|
Beluluane, província de
Maputo
|
Número de famílias reassentadas
|
1.313
|
600
|
145
|
n/d
|
444
|
Fonte: Construção dos autores com base em (CASTEL-BRANCO
& CAVADIAS, 2009) e SELEMANE (2013)
3. Conclusões
Numa visão holística do tema
sobre o papel dos mega projectos e o seu peso no emprego e no crescimento
económico em Moçambique, podemos dizer que ninguém pode certamente duvidar do impacto
dos megaprojectos, pois os megaprojectos são transformadores, isto é, alteram
as vida das comunidades locais para o bem ou para o mal; mudam a geografia
local de forma rápida e visível, entre outros, mas isso depende de como esses
mega projectos serão organizados. Um exemplo que mostra que os mega projectos
têm um impacto positivo no emprego, é o caso do projecto de prospecção de
areias pesadas em Moma, Província de Nampula, que reivindica estar a ajudar as
comunidades locais a desenvolverem-se. O desemprego leva há muitas pessoas a
estarem numa situação crítica da sua vida mas com os mega projectos, as pessoas
tem sido contratadas e pouco-a-pouco passam a melhorar a sua vida. No geral, os mega
projectos existentes em Moçambique por exemplo geram poucos rendimentos sobre o
resto da economia nacional e pouco contribuem para a criação de emprego e
receitas fiscais. Mas os mega projectos são
necessários em qualquer país ou zona, por isso, se dão emprego a poucas pessoas
isso talvez seja algo que deve ser melhorado.
4. Bibliografia
CASTEL-BRANCO, C. N. (2008). Os Mega Projectos em Moçambique: Que Contributo para a Economia
Nacional? Fórum da Sociedade Civil sobre Indústria Extractiva Museu de
História Natural (Maputo) 27 e 28 de Novembro de 2008. Disponível em: <www.iese.ac.mz/lib/noticias/Mega_Projectos_ForumITIE.pdf>; Consultado em 15/04/2017 às 10h41min.
CASTEL-BRANCO, C. & CAVADIAS, E. (2009). O papel dos mega projectos na
estabilidade da carteira fiscal em Moçambique. II Seminário Nacional sobre
Execução da Politica Fiscal e Aduaneira. IESE. Maputo.
MUSSAGY, I. H. (s/d). Os
Mega-Projectos em Moçambique: A Conclusão Precipitada que pode Condenar
Moçambique ao Fracasso? Disponível em: <http://reid.ucm.ac.mz/index.php/reid/article/view/32/31>; Consultado em 14/04/2017 às 20h31min.
SELEMANE, T. (2013). Com enormes reservas, insuficientes vias de escoamento e sem estratégia
– Moçambique tenta entrar na lista dos maiores produtores de carvão e gás.
Boletim sobre o Processo Político em Moçambique n° 53. CIP & AWEPA. Maputo.
<http://www.open.ac.uk/technology/mozambique/boletim-sobre-o-processo-pol%C3%ADtico-em-mo%C3%A7ambique>;
Consultado
em 18/04/2017 às
08h22min.
[1] CASTEL-BRANCO, 2008, p. 1
[2] Produto Interno Bruto
(PIB)
[3] Idem, CASTEL-BRANCO
(2008:5)
[4] Quando se fala de ligações
pecuniárias, está se falando de todo o investimento que sempre requere
dinheiro, ou seja, é todo investimento que é representado por dinheiro.
[5] Situação de mercado em que
a oferta é controlada por um pequeno número de vendedores, e em que a
competição tem por base, não as variações de preços, mas a propaganda e as
diferenças de qualidade. Cf. Dicionário electrónico da Língua Portuguesa de
Aurélio, 3ª edição, 2004.
[6] Idem, MUSSAGY, s/d.
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