Antropologia Aplicada
Evolução dos
interesses dominantes da Antropologia Aplicada
O que é antropologia
Aplicada
Antropologia aplicada designa um estilo de fazer
Antropologia, que aplica o património de conhecimentos, técnicas e atitudes
desta Ciência Social e projectos de mudança planeada.
As linhas de interesse dominante da Antropologia Aplicada
variam substancialmente, de acordo com a conjuntura sociopolítica, podendo-se
tipifica-las em três períodos distintos:
Até à primeira guerra mundial, em que a
Antropologia foi chamada a apoiar a administração colonial e a acção
missionaria;
Entre as duas guerras, em que se debruçou
predominantemente sobre os processos de aculturação, decorrentes, em grande
medida da rápida concentração de populações em cidades africanas fruto de atracção
desses centros populacionais em fase de industrialização.
Após a segunda guerra mundial, em que se
especializou ao serviço de diversos programas públicos e privados; inicialmente
foram as agências especializadas das Nações Unidas, então criadas, que contribuíram
para essa tendência; mais recentemente com a criação de diversas organizações
não-governamentais (ONGs) e de empresas transnacionais registou-se um acrescido
interesse pela contribuição da ordem pratica ocorridos em vários domínios.
A Antropologia
Aplicada no Reino Unido
Já durante a segunda metade do sec. XIX a contribuição dos
antropólogos havia sido solicitada no âmbito da luta contra a escravatura. Foi
no entanto, com a necessidade de operacionalizar a doutrina definida na
Conferência de Berlim que obrigava as potências coloniais à ocupação efectiva
dos territórios, que este ramo da Antropologia se evidenciou.
Antes e durante a
primeira guerra mundial
Enquanto decorria a primeira guerra mundial (1915), foram
feitos no território na Nova Guiné estudos sobre os Papuas. Quatro anos mais tarde (1919) foi criada na Cidade do Cabo
a primeira Cátedra de Antropologia Banto enquanto no Departamento de Estudos Indígenas
era criada uma secção antropológica. É também dessa época (1920) que data o
primeiro estudo sobre Ashanti na Costa do Ouro (Ghana).
O período entre
guerras
A aplicação da antropologia fez-se sentir com maior
evidência em contextos de aculturação, tanto no que respeitava ao estudo sobre
o impacto da mudança nas culturas tradicionais, como em investigações sobre o
então chamado fenómeno da destribalização dos contingentes populacionais que se
começaram a concentrar nas cidades após fugirem das condições adversas (fome,
guerra…) dos locais que viviam.
Antes da segunda
guerra mundial
No período entre as duas grandes guerras se dedicaram ao
estudo de pequenas comunidades culturalmente homogéneas tanto em território
americano como noutras paragens numa perspectiva monográfica.
Durante a 2ª guerra
mundial
De acordo com a nova conjuntura, os serviços dos
antropólogos foram procurados por muitos departamentos das Forças Armadas,
nomeadamente nos seguintes domínios:
Apoio na
elaboração de manuais de sobrevivência, para a elaboração desses manuais,
os antropólogos revelaram-se preciosos, pelos conhecimentos que dispunham
acerca das estratégias de sobrevivência dos povos desses territórios.
Estudos
para compreender o comportamento do inimigo: neste âmbito ficou célebre o
estudo de Ruth Benedict sobre a cultura japonesa, elaborado em condições
particularmente adversas.
Treino de
quadros para administrar zonas ocupadas, à medida que o avanço aliado se ia
definindo, o que permitiu um controle inteligente das referidas zonas sem o
recurso à humilhação das populações dos países vencidos, nomeadamente do Japão
e a Alemanha.
Depois da 2ª guerra
mundial
Colaboração em programas de agências
especializadas das NNUU e em programas de agências governamentais no âmbito da
cooperação com países da América Latina, nomeadamente no campo da Saúde e do
desenvolvimento rural;
Consultoria aos serviços da marinha e, mais
tarde à administração civil, em matéria de administração dos territórios da
Micronésia, ocupados durante a guerra;
Apoio a programas de Desenvolvimento Comunitário
promovidos por organizações não-governamentais (ONGs) de vocação transnacional;
Mais recentemente apoio à gestão de empresas.
2. Valor da
contribuição da antropologia para o trabalho comunitário
O valor acrescentado que este ramo de conhecimento trouxe
para a qualidade do trabalho comunitário podemos organizar a discussão de
acordo com três dimensões: politicas, cognitiva e prática.
2.1 Valor político
Permite demonstrar que não há culturas
superiores nem inferiores, mas apenas diferentes estádios de desenvolvimento
tecnológico a que não correspondem situações análogas de desenvolvimento
social;
A de que a mudança é sempre um instrumento,
nunca um fim em si mesmo, podendo uma dada realidade social mudar para melhor
ou para pior
2.2 Valor cognitivo
Afirmou-se que a intervenção social é uma situação em que um
dado sistema-interventor interage com um dado sistema-cliente, emoldurado por
condicionalismos ambientais, com vista ajudá-lo a responder a necessidades
sociais.
É aqui onde reside a principal contribuição da natureza
cognitiva de AA; com efeito, este ramo das Ciências Sociais dota o interventor
de conhecimentos indispensáveis ao entendimento das comunidades onde trabalha e
previne-o contra eventuais preconceitos que possa ter na sua prática
profissional, decorrentes de elementos culturais que tenha interiorizado no seu
processo de socialização.
Um dos maiores valores que a AA tem para o trabalho
comunitário reside justamente no capital de conhecimentos sobre a cultura o que
permite uma evidente empatia na interacção. Tal capital traduz-se em quatro
tipos de saberes:
Sobre a cultura do sistema-cliente (A, B, ….);
Sobre a cultura do sistema interventor (1, 2,
…);
Sobre eventuais pontos críticos resultantes do
contacto das duas culturas que podem constituir obstáculos à mudança
pretendida;
Sobre os eventuais pontos a explorar resultantes
de convergências de elementos culturais das duas culturas, que podem assumir-se
como estímulos à mudança.
2.3 Valor prático
Fase de pré-estudo
Reside a recolha de dados disponíveis sobre o
sistema-ciente, numa perspectiva monográfica a fim de poder formar um quadro de
referência.
Definidas as características globais do sistema-cliente,
cabe ao antropólogo proceder ao estudo mais detalhado dos elementos da cultura
do sistema-cliente que possam ter relação com o projecto de intervenção.
Fase de planeamento
Nesta fase o antropólogo pode colaborar em três tipos de
tarefa:
Operacionalização do problema e discussão do
programa de intervenção da decorrente;
Analise dos obstáculos que provavelmente se irão
encontrar, de acordo com o conhecimento global do sistema-cliente;
Recomendação de medidas para ultrapassar de tais
obstáculos.
Fase de análise continuada
A intervenção o antropólogo deve funcionar com olhos e
ouvidos do sistema interventor a fim de proceder à detecção precoce de
incidentes críticos e propor as devidas correcções de intervenção.
Avaliação final
O papel do antropólogo consiste em ajudar a equipa a
localizar os valores e contravalores do projecto, discutir como os obstáculos
identificados forma removidos e capitalizar conhecimento através do registo da
experiência.
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