O Filho Único
Um estereótipo bem
conhecido dos filhos únicos é que eles são mimados, egoístas, solitários ou
desajustados. Entretanto, uma análise de 115 estudos desmente esse estereótipo.
Em realizações ocupacionais e educacionais e na inteligência verbal, os filhos únicos
têm desempenho ligeiramente melhor do que crianças com irmãos.
Filhos únicos
tendem a ser mais motivados para realizações e a ter uma auto-estima
ligeiramente mais alta; e não diferem, em ajustamento emocional, sociabilidade
ou popularidade. Talvez essas crianças se saiam melhor porque, de acordo com a
teoria evolucionista, os pais que têm tempo e recursos limitados ao seu dispor
focalizam mais atenção nos filhos únicos, falam mais com eles, fazem mais
coisas com eles, e esperam mais deles do que pais com mais de um filho (Falbo,
2006; Falbo e Polit, 1986; Polit e Falbo, 1987). E, visto que a maioria das
crianças hoje passa um tempo considerável em grupos de brincadeira, creches e
pré-escolas, não falta aos filhos únicos oportunidades para interaCção social
com iguais (Falbo, 2006).
A pesquisa na China também
produziu achados encorajadores sobre filhos únicos. Em 1979, para controlar uma
explosão populacional, a República Popular da China estabeleceu uma política
oficial de limitar as famílias a um filho cada. Embora a política tenha desde
então sido um pouco relaxada, a maioria das famílias urbanas agora têm apenas
um filho, e a maioria das famílias rurais não mais de dois (Hesketh, Lu e Xing,
2005). Portanto, em muitas cidades chinesas, as salas de aula são quase completamente
preenchidas com crianças que não têm irmãos ou irmãs. Esta situação ofereceu
aos pesquisadores um experimento natural: uma oportunidade de estudar o
ajustamento de grandes números de filhos únicos.
Uma
revisão da literatura não encontrou diferenças significativas nos problemas
comportamentais (Tao, 1998). Na verdade, os filhos únicos pareciam ter uma vantagem
psicológica clara em uma sociedade que favorece e recompensa tal criança. Entre
731 crianças e adolescentes urbanos, aqueles com irmãos relataram níveis mais
altos de medo, ansiedade e depressão do que os filhos únicos, independente de
sexo ou idade (Yang et al., 1995). Entre 4 mil crianças de 3ª e 6ª classes, as
diferenças de personalidade entre filhos únicos e crianças com irmãos –
avaliadas por pais, professores, colegas e pelas próprias crianças – foram
poucas.
O desempenho escolar e o desenvolvimento físico dos filhos únicos era aproximadamente
o mesmo, ou melhor, do que o de crianças com irmãos (Falbo e Poston, 1993). Em um
estudo randomizado em salas de aula de 1ª série em Beijing (Jiao, Ji e Jing,
1993), os filhos únicos superaram seus colegas com irmãos em habilidades de
memória, linguagem e matemática. Este achado pode reflectir a maior atenção, estimulação,
esperanças e expectativas que os pais dão a um bebé que eles sabem que será seu
primeiro e único filho.
Nota:
Retirado no livro de PAPALIA, Diane E. &
FELDMAN, Ruth Duskin. (2013). Desenvolvimento Humano. 12.ed. Artmed Editora.
Tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi et al., Porto Alegre: AMGH, p.309-310.
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