Gestão e Resolução de Conflitos nas empresas
1. Introdução
2. Referencial teórico
2.1 Definição de conceitos-chave
2.2-
Gestão e Resolução de conflitos
2.2.1. Estratégias de Gestão e Resolução de Conflitos
3. Considerações finais
4. Referências bibliográficas
Os conflitos fazem parte da história da humanidade, e nem
todos eles trazem ou levam a guerras. No entanto, falar em conflitos tanto na
igreja ou não, é na verdade falar de vida, é falar do nosso dia-a-dia, pois eles
fazem parte da evolução dos seres humanos e são necessários para o crescimento
de qualquer família, grupo político, social ou profissional, entre outros. Um
ambiente conflituoso pode ser seriamente desmotivador para a maioria das
pessoas nelas envolvidas e para as que se encontram ao seu redor.
Neste sentido, sem mais nos alongarmos, o desenvolvimento
deste tema situa-se essencialmente no âmbito da gestão e resolução de conflitos,
tendo como caso de estudo, a igreja. E, ambiciona-se com este trabalho,
contribuir para um melhor esclarecimento sobre quais são os benefícios de uma
prática de gestão de conflitos e consequente satisfação pessoal.
2. Referencial teórico
2.1 Definição de conceitos-chave
Gestão
De acordo com a ISCAP (s/d), gestão é o processo de se
conseguir obter resultados (bens ou serviços) com o esforço de outros.
Pressupõem a existência de uma organização, isto é, varias pessoas que
desenvolvem uma actividade em conjunto para melhor atingirem objectivos comuns.
Segundo o dicionário Porto[1]
(2003), gestão é um acto de gerir; gerência; administração; tempo que dura a
acção de gerir.
Gestão significa gerenciamento, administração, onde existe
uma instituição, uma empresa, uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou
administrada. O objectivo é de crescimento, estabelecido pela empresa através
do esforço humano organizado, pelo grupo, com um objectivo específico [Fonte:
<https://www.significados.com.br/gestao/>].
Nesse sentido, entendemos a gestão como uma actividade feita
por pessoas que pertencem a mesma organização que visa conseguir resultados
positivos, através de mesmos objectivos.
Conflito
Segundo o Novo Dicionário Aurélio, a definição de conflito é
a seguinte:
[Do lat. conflictu,
‘choque’, ‘embate’, ‘peleja’,<lat.confligere,‘lutar’].
1. Embate dos que lutam. 2. Discussão acompanhada de
injúrias e ameaças; desavença. 3. Guerra (1). 4. Luta, combate. 5. Colisão,
choque.
O conceito de Conflito é definido no Dicionário de política
de Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004) como:
“Uma forma de interacção entre indivíduos, grupos, organizações e
colectividades que implica choques para o acesso à distribuição de bens
escassos”.
Portanto, nosso posicionamento em relação ao termo é que
conflito existe quando duas ou mais pessoas entram em desacordo porque as suas
opiniões, desejos, valores e/ou necessidades são incompatíveis. Ele faz parte
da condição humana. Na vida de todos existem situações que concordamos e várias
outras que discordamos.
2.2-
Gestão e Resolução de conflitos
Antes do desenvolvimento do tema central, torna-se
fundamental referir que o conflito faz parte da nossa vivência enquanto seres
humanos, ao mesmo tempo que seres sociais em constante interacção com os
outros, ele é parte integrante da vida dos seres humanos. A sua existência não
é prejudicial, antes pelo contrário, promove o crescimento e desenvolvimento. A
sua anulação ou inexistência não seriam de modo algum benéficas quer para os
indivíduos quer para as organizações. Isso é mesmo se fosse anulado.
2.2.1. Estratégias de Gestão e Resolução de Conflitos
Segundo Fraga (1993:69) “Ser
capaz de constatar a existência do conflito é apenas parte do problema. Tem de
saber também a que ponto o conflito é grave e ser capaz de o gerir
devidamente”.
A resolução de conflitos apresenta-se como uma parte
bastante importante nesta matéria da gestão de conflitos e consiste na cessação
do conflito através do acordo entre as partes envolvidas, satisfazendo os
objectivos ou eliminando as causas que levaram ao conflito.
Relativamente às estratégias de gestão de conflitos, a
literatura consultada nos permite demarcar duas fases, uma até aos anos 60 em
que estas estratégias eram percepcionadas numa lógica unidimensional e outra
fase mais recente em que a lógica é bidimensional (Dimas et al., 2005).
Para McIntyre (2007:299) existem vários estilos de comportamentos
com que uma pessoa ou grupo pode lidar com o conflito. Estes estilos
denominam-se “estratégias básicas para gerir uma situação em que as partes
consideram os seus interesses como incompatíveis”.
Para Dimas e colaboradores (2005) as estratégias de gestão
de conflitos podem ser definidas aos níveis interpessoal (reacções individuais
a factos divergentes) e intragrupal (reacções de membros de um grupo).
Thomas (1976) citado por Dimas et al., (2005) defende a assertividade e a cooperação como as estratégias
básicas, as quais dão origem a cinco estilos de gestão de conflitos,
nomeadamente:
1. Competitividade (assertividade e não
cooperação);
2. Colaboração (assertividade e cooperação);
3. Evitamento (não assertividade e não cooperação);
4. Acomodação (não assertividade e cooperação);
5. Compromisso (misto de assertividade e de
cooperação).
Nesta linha de pensamento, surge também Rahim e Bonoma
(1979, citados por Dimas et al.,
2005). Estes autores distinguem as dimensões “preocupação consigo”, na qual o
indivíduo procura satisfazer os seus objectivos e “preocupação com os outros”,
na qual o indivíduo procura satisfazer os objectivos dos outros. Estas duas
dimensões originam os cinco estilos definidos anteriormente por Thomas (1976,
citado por Dimas et al., 2005).
De seguida caracterizam-se os cinco estilos:
1. Estilo “Integração”
Esse tipo de estilo tem como finalidade encontrar uma
solução benéfica para ambas as partes, através da partilha de informação. Para
isso é fundamental que se sigam duas fases (Prein, 1976, citado por Figueiredo,
2012): a fase da confrontação onde as partes exploram as diferentes formas de
perceber o problema, falam abertamente sobre as divergências e procuram as
causas dos conflitos; e a fase da resolução do problema onde as partes procuram
soluções adequadas aos interesses envolvidos;
2. Estilo “Acomodação”
No que tange ao estilo de acomodação, tem como finalidade a
satisfação dos objectivos de uma parte. Consiste na tentativa de satisfazer os
interesses do outro, negligenciando os próprios, a parte que adopta este estilo
sai sacrificada e prejudicada. No nosso entender, é como se uma parte aceitasse
perder razão em detrimento do outro.
3. Estilo “Dominar”
Relativamente ao estilo dominar, tem como finalidade a
estratégia de ganhar-perder, em que os objectivos de uma parte são considerados
prioritários perante os da outra parte, sendo extremamente difícil chegar-se a
uma solução mútua;
4. Estilo “Evitamento”
Em relação ao estilo de evitamento, tem como finalidade a
fuga ou negação do conflito, um meio de adiamento da resolução do conflito ou
até um meio de fuga perante uma situação ameaçadora;
5. Estilo “Compromisso”
Por fim, o estilo compromisso que tem como finalidade
procurar uma solução aceitável para ambas as partes, sendo que cada uma das
partes abdica de algo. Representa a tentativa de satisfazer, moderada, mas
incompletamente, os interesses de ambas as partes. Daí pode resultar uma busca
parcial de um objectivo.
No entanto, segundo Figueiredo (2012) afirma que
evidencia-se, através de vários estudos, que o estilo mais utilizado é a “Integração” e o menos utilizado é o Evitamento. Para a autora (idem), o estilo
integração é visto como a melhor forma de gerir o conflito construtivamente,
estimula a criatividade e beneficia as partes envolvidas.
No entanto, deve-se levar a possibilidade no facto de um
determinado estilo não resolver um certo conflito, o mesmo é apontado por
diversos autores acreditados por Figueiredo (2012), desta forma deve-se analisar
as condições para as quais cada estilo é apropriado.
Só para ilustrar um caso prático, Farmer e Roth (1998)
citados por Figueiredo (2012), fizeram um estudo exploratório com grupos de
trabalho. Os resultados encontrados por de acordo com um estudo, concluíram que
os comportamentos que reflectem uma elevada preocupação com os outros
(compromisso e acomodação) são utilizados com mais frequência do que os que
traduzem uma baixa preocupação (evitamento e competição) com a outra parte.
Alguns teóricos comportamentais referem o estilo colaboração
(cooperação ou resolução de problemas) como o mais adequado na gestão de
conflitos, outros contestam esta ideia e sugerem que, para os conflitos
interpessoais serem geridos funcionalmente, um estilo apropriado depende da
situação.
De um modo geral, o estilo de gestão de conflitos
colaboração é o modo mais construtivo de gerir o conflito, uma vez que facilita
a exposição das expectativas individuais, estimula a criatividade e beneficia
os intervenientes na interacção, em oposição ao uso de um estilo de competição
ou dominação que acaba por resultar em níveis de eficácia reduzidos (Fischer,
1981 citado por Figueiredo, 2012).
Assim, de acordo com o resultado obtido no final do
conflito, as estratégias que permitem enfrentar um desafio podem ser
classificadas em “Ganhar-Perder”, “Perder-Perder” e “Ganhar-Ganhar”. Ou seja,
segundo Almeida (1995), existem estes três tipos de resoluções ou soluções
possíveis para o conflito.
Na estratégia “Ganhar-Perder”, uma das partes alcança o
objectivo pretendido e a outra não, uma das partes é mais poderosa que a outra
e através do seu poder impõe-se à outra, ou seja, uma ganha a outra perde
(Figueiredo, 2012).
Na estratégia “Perder-Perder”, os indivíduos em conflito
estão mais empenhados em impedir que o outro ganhe do que em encontrar uma
solução eficaz para o problema. Pode haver cedência entre as partes e a
resolução final não está de acordo com nenhuma das posições (Figueiredo, 2012).
Por último, a estratégia “Ganhar-Ganhar” implica que as
partes envolvidas confrontem os seus pontos de vista e estejam dispostas a
resolver as suas diferenças (idem). No entanto, deve permanecer uma comunicação
aberta, tal como a sensibilidade quer em relação às diferenças como às
semelhanças, uma atitude de confiança, tal como uma complementaridade de esforços
nas resoluções das questões.
No entanto, Chiavenato (2002) citado por Beck (2009, pp.
23-24) afirma que nas duas primeiras formas (“Ganhar-Perder”, “Perder-Perder”)
de solucionar o conflito geralmente este terá uma continuidade, pois quando as
partes percebem que não atingiram os seus objectivos, retomam ao conflito de
forma a tentarem ganhar. Já no caso da última (“Ganhar-Ganhar”), o ciclo de
continuidade é interrompido e a ocorrência de novos conflitos tem uma fraca
probabilidade de voltar ocorrer.
Segundo outro autor consultado neste trabalho chamado Estanqueiro
(1992) diz que existirem três estratégias na resolução de conflitos,
nomeadamente a fuga, o ataque e o diálogo. Para ele, a fuga e o ataque
acontecem num clima de competição (ganhar-perder), no qual uma das partes ganha
e a outra perde. Estas duas estratégias são enganadoras, pois não resolvem o
conflito. Enquanto a fuga cria o sentimento de ansiedade, o ataque provoca o
ressentimento, a vingança. No caso do diálogo, cria-se um clima de cooperação
(ganhar-ganhar) no qual ambas as partes ganham, logo garante o sucesso na
resolução dos conflitos.
Mas, também podemos olhar agora outras contribuições de
Chiavenato (1999), Caetano e Vala (2002), todos eles citados por McIntyre
(2007:303). Esses autores mostram que a resolução de conflitos poderá deixar
uma herança permanente. Por exemplo, se as duas partes utilizarem os estilos de
concessão mútua e de negociação, as duas partes poderão pensar que perderam e
não ficarão satisfeitas. Pode acontecer que uma, ou ambas as partes, diga que
venceu à custa da outra, o que pode transportar dificuldades acrescidas para a
próxima ronda de negociação.
Assim, numa situação de conflito, do tipo
ganhar-perder, aquele que perdeu poderá ficar com ressentimentos relativamente
ao resultado alcançado, e esse resultado poderá de alguma forma influenciar ou
dificultar futuras negociações. Se as duas partes utilizam o estilo de
integrar, ou de resolução de problemas, tal poderá resultar num encurtamento
das distâncias psicológicas e melhorar a comunicação. Assim, o clima de
confiança poderá criar condições para que o conflito seja resolvido de forma
mais criativa e duradoura.
2.3. Gestão e Resolução de conflitos: caso de uma igreja[2]
Conflitos acontecem em todos os tipos de relacionamentos
humanos. Marido e mulher entram em conflito (e como), pais e filhos também,
amigos(as) idem. Portanto, não é de se estranhar que os conflitos existam
também dentro das igrejas. Eles certamente vão acontecer mais cedo ou mais
tarde. O que deve diferenciar as igrejas dos demais grupos sociais não é a
inexistência dos conflitos, porque isso seria impossível de pedir, mas sim a
forma como lidam com esse tipo de problema – aí sim deve haver uma diferença. As
igrejas devem resolver conflitos não com base na lei do mais forte, ou de quem
grita mais, mas a partir daquilo que o cristianismo ensina.
Jesus ensinou a lidar com esse tipo de questão (Mateus
cap.18, vers. 15-17). E o resumo dos seus ensinamentos é o seguinte:
Quando há um conflito, as partes devem manter contacto, de
boa-fé, visando resolver a questão (versículo 15). Isso pode ser feito por
iniciativa delas ou por proposta de algum líder da igreja, como o pastor.
As conversas devem ser em particular, nunca na frente de
toda a comunidade (versículo 15). Há pastores que cometem o erro sério de logo
envolver a comunidade como um todo, talvez até para aumentar seu poder de
pressão na busca da solução e isso deve ser evitado.
Se o entendimento não avançar, pelo menos duas outras
pessoas devem ser chamadas para ajudar, servindo como mediadores e/ou
testemunhas. E os contactos devem continuar privados (versículo 16).
3. Considerações finais
O presente estudo foi desenvolvido com o objectivo de compreender
a gestão e resolução de conflitos, e por meio da literatura consultada,
compreendeu-se que seja na igreja assim como na comunidade, é muito comum as
pessoas acharem que os conflitos são sempre ruins, sempre negativos, mas esse é
um pensamento tão negativo. Os conflitos, porém, são normais e não são em si
positivos ou negativos, maus ou bons. É a forma como enfrentamos ou encaramos
os conflitos que os torna negativos ou positivos, construtivos ou destrutivos.
A questão central é como se resolvem os conflitos, seja na igreja ou não, se
por meios violentos ou através do diálogo. Os conflitos devem ser entendidos
como parte da vida, ou seja, o problema em geral reside na forma como os
conflitos são enfrentados e resolvidos. Neste processo de conflito, se forem
duas pessoas que estão em conflito, há sempre necessidade de envolver uma
terceira pessoa, essa terceira pessoa será a mediadora do conflito, será ela
que vai dar espaço a cada pessoa apresentar seus sentimentos em relação ao caso
e assim chegar-se há uma solução final na qual haja entendimento mútuo.
Enfim, é fundamental gerir o conflito quando o mesmo surge,
pois o acto de reconhecer e enfrentar o conflito de maneira adequada pode fazer
a diferença entre o sucesso e desenvolvimento e o fracasso e retrocesso do
mesmo. Os gestores precisam de resolver os seus próprios conflitos. Se os
gestores estão constantemente em stresse e distraídos, não podem esperar ajudar
a resolver conflitos com os seus subordinados.
4. Referências bibliográficas
ALMEIDA, F. (1995). Psicologia
para gestores. Comportamentos de sucesso nas organizações. Lisboa: Editora
McGraw-Hill.
BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola. & PASQUINO,
Gianfranco. Dicionário de política. 12.ed. Brasília: UnB, 2004.
DIMAS, I., LOURENÇO, P. & MIGUEZ, J. (2005). Conflitos e Desenvolvimento nos Grupos e
Equipas de Trabalho – uma abordagem integrada. Revista Científica Nacional,
Psychologica, 103-119.
FRAGA, L. A. (1993). Liderar
e Negociar Conflitos – Transforme os conflitos numa cooperação através das
negociações e de uma boa liderança. Guias
Interactivos de Gestão. Mem Martins: Edições Cetop.
ISCAP. (s/d). Introdução
à gestão Contabilidade e administração.
MCINTYRE, S. (2007). Como
as pessoas gerem o conflito nas organizações: Estratégias individuais
negociais. Análise Psicológica,
2 (25), 295-305.
[1] In Dicionário infopédia da
Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003. [consult. 2019-09-11
10:35:22]. Disponível na Internet:
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/funcionamento.
[2] Retirado em: <https://www.sercristao.org/como-resolver-conflitos-na-igreja/>,
consultado em: 11/09/2019.
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