Prolongamento da vida por meio de analgésicos
Considerações iniciais
Hoje trago um tema que pode ser do interesse de muitas pessoas o “Prolongamento da vida por meio de analgésicos”.
Este é um tema da área da bioética, que actualmente está ter muito destaque nos pesquisadores. A literatura indica que prolongar a vida por meio do uso de analgésicos é um processo que na sua
essência aumenta o tempo de vida das pessoas que pelo menos já estejam numa
idade avançada, evitando assim a sua morte.
Entretanto, uma coisa dessa não pode ser novidade, uma vez que o mundo todo está cada vez mais a apresentar um vasto desenvolvimento, desde a medicina, tecnologias de informação, entre outras áreas.
Estando cientes de que estamos numa era em que
as novidades biotecnológicas prometem aumentar significativamente a longevidade
humana, entretanto, embora o processo traga vantagens para a vida humana, há quem diga esse processo vai também modificar as questões ético políticos. Por isso que nesta pequena publicação, trago algumas considerações em relação a este tema, e tenho como referências, as contribuições de Francis Fukuyama, visto ser um dos autores que mais a mim interessou as suas ideias em relação a presente temática. Não pretendo trazer tudo o que ele diz em relação ao assunto, mas algumas ideias básicas. Importa referir que no quadro teórico deste documento, quando necessário, faço um cruzamento entre o tema em epígrafe com alguns princípios da igreja, ou princípios de Deus.
Prolongamento da vida por meio de analgésicos
Com o desenvolvimento da
medicina, principalmente na sua busca de cura e de tratamentos cada vez mais
sofisticados, do ponto de vista médico, a morte passou a ser vista como
fracasso profissional. Sendo criada a chamada “distanásia”, um processo muito
sério de medicalização para prolongar o processo de morte, que pode vir
acompanhado de muito sofrimento.
Segundo a Encíclica
Evangelium vitae Ioannes Paulus PP. II, o homem encontra-se diante do mistério
da morte. (…) Com efeito, quando prevalece a tendência para apreciar a vida só
na medida em que proporciona prazer e bem-estar, o sofrimento aparece como um
contratempo insuportável, de que é preciso libertar-se a todo o custo.
No entanto, devido aos
analgésicos consumidos para prolongar a vida, nota-se que algumas pessoas não
estão a conseguir morrer naturalmente, e estudos recentes segundo SOL (s/d)
apontam que os maiores prejudicados nesse ponto são os idosos, com doenças
crónicas e degenerativas. Talvez o conjunto mais preocupante de consequências
derive do acesso desigual aos produtos biotecnológicos destinados a aumentar a longevidade
humana, por meio da gestão liberal deste sector de mercado onde, num futuro
próximo, poderão ser os indivíduos a fazer as suas próprias opções nos “supermercados
genéticos”, equipando os seus corpos na corrida contra o tempo, e exercendo um
poder de escolha para o qual as nossas sociedades poderão não estar
verdadeiramente preparadas.
Segundo estatísticas da
Organização Mundial de Saúde, daqui por apenas um ano, em 2020, e pela primeira
vez na História, o número de pessoas com mais de 60 anos será maior do que o
número de crianças com idade igual ou inferior a 5 anos. Os mesmos dados estatísticos,
divulgados na revista The Lancet, prevêem
que em 2050 o mundo terá cerca de 2 biliões de idosos (CHATTERJI, 2015 cit. por
SOL, s/d).
Esta realidade do prolongamento do tempo de vida
torna-se ainda mais flagrante se atendermos aos dados disponíveis sobre a
evolução da esperança média de vida em países como os Estados Unidos onde, no
ano de 1900, era de 48,3 anos para os homens e de 46,3 para as mulheres, tendo
passado, no ano 2000, ou seja, cem anos depois, para 74,2 anos nos homens e
79,9 nas mulheres, o que significa que no espaço de um século quase duplicou a
longevidade de ambos os sexos, e isto sem a intervenção da biomedicina ou o
recurso a dispositivos biotecnológicos para o prolongamento da vida (FUKUYAMA,
2002).
Entretanto, imagine-se o
que será da longevidade humana daqui a outros cem anos quando, muito
provavelmente, as práticas de prolongamento da vida com recurso às
biotecnologias tornarem-se recorrentes, que problemas éticos se colocarão? Como
se poderão reorganizar politicamente sociedades compostas maioritariamente por
idosos, ou seja, num cenário onde as biotecnologias terão como um dos sectores
preferenciais de intervenção a área do prolongamento da vida, que tipo de
sociedades teremos?
Numa era em que as
novidades biotecnológicas prometem aumentar significativamente a longevidade humana,
torna-se fundamental pensar grande nesta questão, muito mais, pensar as
consequências ético-políticas que poderão resultar de sociedades crescentemente
envelhecidas. Assim, colocam-se não só questões relacionadas com a definição de
padrões de qualidade da vida prolongada até ao extremo, como também
dificuldades de ordem prática, no âmbito da governação, sustentabilidade e
proporcionalidade económica e populacional deste tipo de sociedades.
FUKUYAMA (2002) refere que
aquilo que se apresenta no horizonte como sendo uma autêntica revolução
biotecnológica terá um impacto significativo em quatro áreas fundamentais: as
ciências do cérebro, o controlo farmacológico do comportamento, a engenharia
genética e o prolongamento da vida. E neste último âmbito, o autor
apresenta-nos um contributo particularmente interessante para a discussão
acerca das implicações ético-políticas do prolongamento da vida com recurso aos
dispositivos biotecnológicos. Não só isso, como também não devemos esquecer que
prolongar a vida é um acto contra os princípios de Deus, pois «…(…) e quer
vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor» (Rm 14, 7-8).
Por essa razão que
vale a pena morrer pelo Senhor, pois, …quem vive o seu sofrimento no Senhor
fica mais plenamente configurado com Ele (cf. Fil 3, 10; 1 Ped 2, 21) e
intimamente associado à sua obra redentora a favor da Igreja e da humanidade. É
esta experiência do Apóstolo Paulo, que toda a pessoa que sofre é chamada a
viver: «Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa e completo na
minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a
Igreja» (Col 1, 24).
SOL (s/d) cita Francis
Fukuyama que na sua obra O Nosso Futuro Pós-Humano:
Consequências da Revolução Biotecnológica. Nesta obra, Fukuyama (2002)
refere que aquilo que se apresenta no horizonte como sendo uma autêntica
revolução biotecnológica terá um impacto significativo em quatro áreas
fundamentais: as ciências do cérebro, o controlo farmacológico do
comportamento, a engenharia genética e o prolongamento da vida. Segundo SOL
(s/d) neste último âmbito, o autor apresenta-nos um contributo particularmente interessante
para a discussão acerca das implicações ético político do prolongamento da vida
com recurso aos dispositivos biotecnológicos.
Nas palavras do próprio
autor (idem, FUKUYAMA, 2002), por mais que muitos especialistas em gerontologia
digam que “parar o processo de
envelhecimento é altamente improvável”, porque este resulta da junção de
toda uma complexidade de outros processos ao nível celular, orgânico e outros e
que, por isso, será difícil encontrar um mecanismo singular e simples que o
possa travar, a verdade é que também ninguém previa há cerca de um século atrás
que a esperança média de vida quase duplicaria, o que deve levar a nós pessoas a
acreditar que, efectivamente, “Se existe
um atalho genético para a imortalidade, a indústria biotecnológica já deu
início à corrida para o encontrar (…).”
(FUKUYAMA, op. cit., p. 103.).
Segundo o mesmo autor, “No actual ponto da
situação, não é possível prever se a biotecnologia conseguirá um remédio tão
simples para o prolongamento da vida como uma pílula que permita viver mais uma
ou duas décadas. Contudo, mesmo que tal nunca aconteça, parece seguro afirmar
que os efeitos cumulativos de todas as investigações biomédicas presentemente
em curso levarão, ao longo do tempo, a um aumento das expectativas de vida, acentuando
assim a tendência que se verificou durante o século passado.”[1].
No entanto, no nosso
entender é que fala-se de uma proposta de prolongamento de vida com recursos a
meios biotecnológicos, estamos a dizer que estamos no topo do desenvolvimento da
bioética e tecnologias, mas não se deve esquecer que o homem é chamado a uma
plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua
existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus.
A
sublimidade desta vocação sobrenatural revela a grandeza e o valor precioso da
vida humana, inclusive já na sua fase temporal. Com efeito, a vida temporal é
condição basilar, momento inicial e parte integrante do processo global e
unitário da existência humana: um processo que, para além de toda a expectativa
e merecimento, fica iluminado pela promessa e renovado pelo dom da vida divina,
que alcançará a sua plena realização na eternidade (cf. 1 Jo 3, 1-2).
Considerações finais
Estamos frente a um tema
muito interessante do século XXI – o prolongamento da vida por meio de
analgésicos, que é um processo que será efectuado por meio de biotecnologias.
No entanto, a literatura consultada permitiu compreender que o envelhecimento
poderá ser perspectivado, ou talvez até já o esteja a ser, o que nos colocará
inevitavelmente perante dilemas éticos e implicará, obviamente, toda uma
reconfiguração das nossas sociedades aos mais diversos níveis. E ao que vimos
durante o desenvolvimento do trabalho, o autor Francis Fukuyama parece estar
muito preocupado com essas questões.
E ao que foi possível perceber por meio
das contribuições deste grande autor, uma das primeiras consequências éticas
expectáveis a partir de toda esta obsessão pelo prolongamento da vida talvez se
prenda com a possibilidade, já amplamente explorada e debatida, de algumas investigações,
principalmente quando realizadas por empresas não estatais, poderem incorrer em
práticas eticamente questionáveis, como o próprio uso de embriões humanos com finalidades
de investigação na área do prolongamento da vida.
Na verdade, num cenário
onde hipoteticamente todos poderão prolongar quase infinitamente a vida dos
seus corpos graças às biotecnologias, uma das questões éticas de maior
relevância talvez se prenda com a própria definição de padrões de qualidade da
vida quando prolongada até ao extremo, tendo em conta que aumentar a duração do
corpo sem uma correlativa preocupação pela qualidade de vida poderá trazer
questões particularmente inquietantes. Enfim, uma vez que não pretendemos com
este trabalho finalizar o tema, vamos parar por aqui com essas considerações
finais, entretanto, que seja óbvio que é uma prática contra os princípios de
Deus e trata-se apenas de uma obsessão humana em querer-se viver mais do que o
normal.
Referências bibliográficas
Encíclica Evangelium vitae Ioannes Paulus PP. II. «Só Eu é que dou a vida e dou a morte» (Dt 32, 39): o drama da eutanásia.
FUKUYAMA, Francis.
O Nosso Futuro Pós-Humano, Quetzal Editores, Lisboa, 2002, p. 99.
SOL, Ana Isabel Figueiredo. Biotecnologias e prolongamento da vida: Notas para uma reflexão
ético-política sobre o envelhecimento, (s/d). [Disponível em: <https://eg.uc.pt/bitstream/10316/44524/1/>]
Comentários