sexta-feira, 29 de julho de 2016

Antropologia Aplicada

Evolução dos interesses dominantes da Antropologia Aplicada

O que é antropologia Aplicada

Antropologia aplicada designa um estilo de fazer Antropologia, que aplica o património de conhecimentos, técnicas e atitudes desta Ciência Social e projectos de mudança planeada.
As linhas de interesse dominante da Antropologia Aplicada variam substancialmente, de acordo com a conjuntura sociopolítica, podendo-se tipifica-las em três períodos distintos:
ž   Até à primeira guerra mundial, em que a Antropologia foi chamada a apoiar a administração colonial e a acção missionaria;
ž   Entre as duas guerras, em que se debruçou predominantemente sobre os processos de aculturação, decorrentes, em grande medida da rápida concentração de populações em cidades africanas fruto de atracção desses centros populacionais em fase de industrialização.
ž   Após a segunda guerra mundial, em que se especializou ao serviço de diversos programas públicos e privados; inicialmente foram as agências especializadas das Nações Unidas, então criadas, que contribuíram para essa tendência; mais recentemente com a criação de diversas organizações não-governamentais (ONGs) e de empresas transnacionais registou-se um acrescido interesse pela contribuição da ordem pratica ocorridos em vários domínios.

A Antropologia Aplicada no Reino Unido
Já durante a segunda metade do sec. XIX a contribuição dos antropólogos havia sido solicitada no âmbito da luta contra a escravatura. Foi no entanto, com a necessidade de operacionalizar a doutrina definida na Conferência de Berlim que obrigava as potências coloniais à ocupação efectiva dos territórios, que este ramo da Antropologia se evidenciou.

Antes e durante a primeira guerra mundial
Enquanto decorria a primeira guerra mundial (1915), foram feitos no território na Nova Guiné estudos sobre os Papuas. Quatro anos mais tarde (1919) foi criada na Cidade do Cabo a primeira Cátedra de Antropologia Banto enquanto no Departamento de Estudos Indígenas era criada uma secção antropológica. É também dessa época (1920) que data o primeiro estudo sobre Ashanti na Costa do Ouro (Ghana).

O período entre guerras
A aplicação da antropologia fez-se sentir com maior evidência em contextos de aculturação, tanto no que respeitava ao estudo sobre o impacto da mudança nas culturas tradicionais, como em investigações sobre o então chamado fenómeno da destribalização dos contingentes populacionais que se começaram a concentrar nas cidades após fugirem das condições adversas (fome, guerra…) dos locais que viviam.

Antes da segunda guerra mundial
No período entre as duas grandes guerras se dedicaram ao estudo de pequenas comunidades culturalmente homogéneas tanto em território americano como noutras paragens numa perspectiva monográfica.

Durante a 2ª guerra mundial
De acordo com a nova conjuntura, os serviços dos antropólogos foram procurados por muitos departamentos das Forças Armadas, nomeadamente nos seguintes domínios:

ž   Apoio na elaboração de manuais de sobrevivência, para a elaboração desses manuais, os antropólogos revelaram-se preciosos, pelos conhecimentos que dispunham acerca das estratégias de sobrevivência dos povos desses territórios.

ž   Estudos para compreender o comportamento do inimigo: neste âmbito ficou célebre o estudo de Ruth Benedict sobre a cultura japonesa, elaborado em condições particularmente adversas.

ž   Treino de quadros para administrar zonas ocupadas: à medida que o avanço aliado se ia definindo, o que permitiu um controle inteligente das referidas zonas sem o recurso à humilhação das populações dos países vencidos, nomeadamente do Japão e a Alemanha.

Depois da 2ª guerra mundial
ž   Colaboração em programas de agências especializadas das NNUU e em programas de agências governamentais no âmbito da cooperação com países da América Latina, nomeadamente no campo da Saúde e do desenvolvimento rural;
ž   Consultoria aos serviços da marinha e, mais tarde à administração civil, em matéria de administração dos territórios da Micronésia, ocupados durante a guerra;
ž   Apoio a programas de Desenvolvimento Comunitário promovidos por organizações não-governamentais (ONGs) de vocação transnacional;
ž   Mais recentemente apoio à gestão de empresas.

2. Valor da contribuição da antropologia para o trabalho comunitário
O valor acrescentado que este ramo de conhecimento trouxe para a qualidade do trabalho comunitário podemos organizar a discussão de acordo com três dimensões: politicas, cognitiva e prática.

2.1 Valor político
ž   Permite demonstrar que não há culturas superiores nem inferiores, mas apenas diferentes estádios de desenvolvimento tecnológico a que não correspondem situações análogas de desenvolvimento social;
ž   A de que a mudança é sempre um instrumento, nunca um fim em si mesmo, podendo uma dada realidade social mudar para melhor ou para pior.

2.2 Valor cognitivo
Afirmou-se que a intervenção social é uma situação em que um dado sistema-interventor interage com um dado sistema-cliente, emoldurado por condicionalismos ambientais, com vista ajudá-lo a responder a necessidades sociais.
É aqui onde reside a principal contribuição da natureza cognitiva de AA; com efeito, este ramo das Ciências Sociais dota o interventor de conhecimentos indispensáveis ao entendimento das comunidades onde trabalha e previne-o contra eventuais preconceitos que possa ter na sua prática profissional, decorrentes de elementos culturais que tenha interiorizado no seu processo de socialização.

Um dos maiores valores que a AA tem para o trabalho comunitário reside justamente no capital de conhecimentos sobre a cultura o que permite uma evidente empatia na interacção. Tal capital traduz-se em quatro tipos de saberes:
ž   Sobre a cultura do sistema-cliente (A, B, ….);
ž   Sobre a cultura do sistema interventor (1, 2, …);
ž   Sobre eventuais pontos críticos resultantes do contacto das duas culturas que podem constituir obstáculos à mudança pretendida;
ž   Sobre os eventuais pontos a explorar resultantes de convergências de elementos culturais das duas culturas, que podem assumir-se como estímulos à mudança.

2.3 Valor prático
Fase de pré-estudo
Reside a recolha de dados disponíveis sobre o sistema-ciente, numa perspectiva monográfica a fim de poder formar um quadro de referência.
Definidas as características globais do sistema-cliente, cabe ao antropólogo proceder ao estudo mais detalhado dos elementos da cultura do sistema-cliente que possam ter relação com o projecto de intervenção.

Fase de planeamento
Nesta fase o antropólogo pode colaborar em três tipos de tarefa:
ž          Operacionalização do problema e discussão do programa de intervenção da decorrente;
ž          Analise dos obstáculos que provavelmente se irão encontrar, de acordo com o conhecimento global do sistema-cliente;
ž            Recomendação de medidas para ultrapassar de tais obstáculos.

Fase de análise continuada
A intervenção o antropólogo deve funcionar com olhos e ouvidos do sistema interventor a fim de proceder à detecção precoce de incidentes críticos e propor as devidas correcções de intervenção.

Avaliação final
O papel do antropólogo consiste em ajudar a equipa a localizar os valores e contravalores do projecto, discutir como os obstáculos identificados forma removidos e capitalizar conhecimento através do registo da experiência.


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