terça-feira, 24 de outubro de 2017

Função do Psicológo em instituições de Acolhimento 


Função do Psicológo em instituições de Acolhimento 


Introdução

O presente trabalho é parte integrante de uma visita feita ao Centro de Apoio a Velhice de Lhanguene tem por objectivo descrever de forma sucinta o trabalho realizado neste centro. A visita ao centro de apoio teve como linhas orientadoras a observação, reflexão, avaliação dos idosos institucionalizados. Ademais, o trabalho teórico reforçou-se com uma revisão de literatura relacionada com o aconselhamento psicológico, dito por outras palavras, estamos dizendo que o trabalho fala do aconselhamento psicológico em situações de gerontologia.

Numa primeira fase é feita a caracterização da instituição e da população alvo que a mesma serve.  Após a contextualização do local, entramos na segunda parte onde é feito um enquadramento teórico sobre o envelhecimento e a terceira idade. Segue-se mais adiante uma reflexão sobre a importância do papel desempenhado pelo psicólogo em contexto geriátrico. Na terceira parte do trabalho temos as nossas conclusões.

Objectivos do trabalho

Geral

 Compreender o aconselhamento psicológico em Idosos Institucionalizados

Objectivos específicos


   Descrever o trabalho realizado no centro de Apoio a Velhice de Lhanguene, cidade de Maputo;

  Identificar as características do centro e do público-alvo atendido no centro;

 Identificar diferenças existentes entre idosos institucionalizados e não institucionalizados;

    Descrever o papel do psicólogo no aconselhamento aos Idosos institucionalizados.

Metodologia de trabalho

Para a realização do presente trabalho fez-se uma observação ao Centro de Apoio a Velhice de Lhanguene, na cidade de Maputo. Fez-se também uma pesquisa bibliográfica com base na leitura de livros e artigos com vista a concretizar os objectivos pretendidos com o tema.

PARTE I: TRABALHO DE CAMPO – Centro de Apoio a Velhice de Lhanguene

1.1 Caracterização do Centro

O Centro de apoio a Velhice Lhanguene está localizado na Avenida da OUA na cidade de Maputo, ao lado do Hospital Geral José Macamo. O Centro alberga no total 50 idosos, dos quais 23 mulheres e 27 homens e está sob a gestão do Instituto Nacional de Assistência Social.

O Centro de Apoio a Velhice de Lhanguene é assim por denominação um Lar de Idosos, mas todos os seus promotores, colaboradores, residentes a consideram uma residência familiar.

O centro foi projectado para proporcionar o máximo de conforto e comodidade aos seus residentes, pelo que funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano, com a responsabilidade permanente do INAS. Não acolhe apenas idosos abandonados ou carentes; acolhe também crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade.

Os residentes do centro podem, ainda, usufruir de certas actividades de comunicação oral e de expressão corporal; podem actualizar-se, já que o centro possui uma sala televisa na qual eles podem certas programações televisivas desde jornal, telenovelas, programas de música etc.

Caracterização da população alvo

As principais características observadas no centro, cinge-se no facto de os idosos ali acolhidos serem não na sua maioria de rostos tristes, com o pensamento longe e coração apertado. Vivem no centro de apoio a velhice de Lhanguene por diversas razões. Alguns perderam-se da sua família. Tudo o que eles mais querem é voltar a viver perto de quem mais amam. Os idosos enfrentam muitas dificuldades no meio social, onde muitos têm sido abandonados pelos seus familiares, e outros rejeitados. Certos idosos foram abandonados nos hospitais enquanto da sua hospitalização aquando estavam doentes. Outros são aqueles que são acusados de fazerem actos de feitiçaria.

Assim, certas famílias envolvem-se emocionalmente evitando as pessoas idosas.  Deste modo, o idoso residente no centro, consegue centrar-se em si mesmo, vivenciando e sentindo cada momento, o que lhe possibilita enfrentar a sua realidade e estimular o processo de construção e assimilação de aprendizagens e percepções.

Segundo SOUSA, GALANTE e FIGUEIREDO (2003) o levantamento das características da população a quem se destinam os serviços de uma instituição é o primeiro passo para torná-los mais eficientes.  É a partir do conhecimento destas características e das suas necessidades que se pode determinar como intervir junto de quem procura ajuda. De acordo com os autores, perante estes factos importa desenvolver meios que melhorem a qualidade de vida e bem-estar dos pacientes pelo que é fundamental dinamizar medidas adequadas que permitam alcançar um envelhecimento bem-sucedido.

Enfatizamos que os actuais residentes do Centro de Apoio a Velhice de Lhanguene não ingressaram na instituição por vontade própria ou dos seus cuidadores, foram abandonados e outros são aqueles maltratados pelas suas famílias bem como os acusados de feiticeiros.

Na conversa com um dos responsáveis do centro, no que respeita ao estado físico e mental, os utentes apresentam, de forma geral, problemas cujo grau de gravidade abrange os domínios cognitivo, físico-motor, social e afectivo. Existem alguns idosos que requerem cuidados permanentes e ajuda em todas as suas actividades quotidianas, os restantes necessitam de assistência em pelo menos uma actividade básica de vida diária.

PARTE II: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Envelhecimento e Terceira Idade

O envelhecimento apresenta-se como um fenómeno culturalmente construído, que varia de sujeito para sujeito e de época para época, pelo que definir este processo se torna uma tarefa complexa, uma vez que cientificamente é encarado de formas distintas. Contudo, há uma ideia comum e transversal a todos os autores:  é um processo irreversível, que se inscreve no tempo (PAPALÉO-NETTO, 2007).
O envelhecimento da população constitui um dos maiores desafios que, actualmente, se coloca a nível mundial e Moçambique não é excepção, o que pode ser comprovado pelos estudos feitos em relação a essa camada populacional[1].

As estatísticas apontam que se as projecções das Nações Unidas a longo prazo forem rigorosas, a proporção de idosos em Moçambique em 2080 será de cerca de 14,5 por cento da população total de 70 milhões de pessoas. Isto significa que, apesar de um processo de envelhecimento da população relativamente lento, a população de idosos aumentará em termos absolutos dos actuais 1,2 milhões para cerca de 10 milhões em sete décadas. Ou seja, mesmo que a proporção de pessoas mais velhas não aumente, a população idosa de Moçambique está a crescer em termos absolutos (FRANCISCO, SUGAHARA & FISKER, 2013).

Por exemplo, num estudo recente, SUGAHARA e FRANCISCO (2012c citado por FRANCISCO et al., 2013) chamaram a atenção para o facto de, nos próximos 50 anos, a população idosa em Moçambique vir a crescer de apenas um pouco acima de um milhão de pessoas para cerca de nove milhões em 2070s enquanto se espera que a taxa de dependência dos idosos aumente dos pouco mais de 5%.

Aspectos a ter em conta em relação aos Idosos Institucionalizados: uma comparação com Idosos não-institucionalizados

Normalmente os idosos institucionalizados apresentam comportamentos diferentes com os não institucionalizados. Os centros de acolhimento não cuidam muitas vezes os idosos por esses serem muito dependentes.

Face a isto, VAZ (2009) menciona que a maioria dos investigadores apresenta essencialmente críticas negativas aos cuidados institucionalizados prestados a idosos, focando a deterioração física, psicológica e social que deles resulta, descrevendo a vida em comunidade com preferível à vida institucional.

Segundo CALENTI (2002) as instituições dificilmente podem criar ambientes tão ricos e estimulantes como os da comunidade, privando as pessoas de experiências comuns à maioria dos idosos. O autor afirma ainda que a vida numa instituição não é propícia para o desenvolvimento de capacidades sociais necessárias para interagir com o resto da sociedade, pois é desprovida de relações pessoais produtivas.

VIEIRA (1996); CARVALHO e FERNANDES (1999) sustentam ainda que a institucionalização é uma situação stressante e potenciadora de depressão. LENZE (2003) refere que a depressão é mais comum em idosos institucionalizados do que nos idosos que vivem nas suas próprias casas.

Olhando os idosos acolhidos ou institucionalizados com os que vivem nas suas casas ou famílias, pode-se notar algumas diferenciações.

Neste sentido, podemos aferir que os cuidados feitos pelos centros de acolhimento não dão a devida atenção as pessoas idosas. Mas, para concretizar a nossa ideia, segundo BARROSO e TAPADINHAS (2006) realizaram um estudo com 40 idosos institucionalizados e 40 idosos não institucionalizados com o objectivo de os comparar em termos de depressão e solidão.  As autoras concluíram que os idosos institucionalizados apresentavam mais sentimentos de solidão e maiores níveis de depressividade. Ainda neste estudo, os resultados mostram que, ao nível do estado civil, os idosos casados são os que apresentam menor solidão e os que relativamente à percepção pessoal de preocupação familiar e dos amigos e à recepção de visitas dos amigos, foram os que tinham menos contacto e percepção de preocupação dos amigos e familiares quem apresentou mais sentimentos de solidão.  Os idosos que apresentavam menor percepção da preocupação dos amigos e menor ocupação dos tempos livres com leitura foram os que apresentaram maior depressão.

RUCAN et al., (2010), por sua vez, também compararam idosos não institucionalizados e institucionalizados em lares e concluíram que os institucionalizados têm um risco mais elevado para a existência de depressão moderada a grave do que os idosos não institucionalizados, tendo os dois grupos distribuições similares por faixa etária e estado civil. Os idosos institucionalizados declararam com mais frequência a presença de pensamentos suicidas do que os não-institucionalizados.

Psicoterapia na Terceira Idade

Existem teorias que referem a resistência do idoso à psicoterapia devido ao estereótipo de que o idoso é um ser inflexível, antiquado e dependente, com traços de personalidade suficientemente fundados resultando numa difícil aquisição de resultados positivos (COOK et al., 2005).

Lilien Martin (citado por Cook et al., 2005) foi vanguardista no campo da psicoterapia com idosos ao pretender vencer o pessimismo implícito ao envelhecimento. Mais tarde, surgiu Rechtchaffen (citado por Cook et. al, 2005) que veio invalidar a ideia de homogeneidade de ser e pensar na terceira idade, afirmando que os idosos diferem entre si em termos de capacidades e recursos internos e externos, logo são capazes de usufruir da psicoterapia (Cook et. al, 2005).

Cook e colaboradores (2005) dizem ser importante adaptar as técnicas desenvolvidas para jovens adultos, de forma a serem mais adequadas para pessoas idosas, indo de encontro às necessidades destes.

O atendimento psicoterápico deve ser direccionado para o alívio sintomático, para ajudar a lidar com alterações na situação de vida e aceitação de uma situação de maior dependência, auxiliar no desenvolvimento da capacidade de falar sobre si mesmo e sobre seus problemas, ajudar a lidar com a ansiedade face ao envelhecimento e à morte/luto, aliviar sentimentos de insegurança, melhorar auto-estima e aumentar a capacidade para utilizar os recursos da comunidade (COOK et  al., 2005; TERI & LOGSDON,1992 citado por REBELO, 2007).  Trata-se, portanto, de uma psicoterapia de apoio (REBELO, 2007).

O objectivo da psicoterapia varia de acordo com o quadro clínico do paciente. Os idosos mais debilitados, com problemas cerebrais orgânicos severos ou doenças graves, necessitarão de uma abordagem voltada para auxiliá-los a enfrentar os problemas físicos e, eventualmente, a depressão decorrente.  Nessas situações, o envolvimento da família na abordagem terapêutica não só é fundamental, como muitas vezes passa a ser o foco principal do atendimento. Já os idosos que não apresentam deterioração no seu funcionamento procuram na terapia a prevenção de problemas futuros (COOK et al., 2005).

Avaliação psicológica

A avaliação psicológica refere-se à aplicação de múltiplos testes psicológicos e observação comportamental.  Pretende-se avaliar as capacidades do utente a vários níveis, ou obter um diagnóstico diferencial que ajude a entender as características psíquicas e, por sua vez, a sua patologia mental (CATES, 1999).

Na avaliação psicológica em contexto gerontológico é necessário ter em conta alguns pontos, tais como perda de capacidades físicas e psíquicas, e o surgir de patologias degenerativas.  Como tal, as escalas de avaliação devem ser breves para evitar cansaço, e escolhidas de acordo com o que realmente interessa no caso em questão, é importante atender à singularidade de cada caso. É, igualmente, importante que possam ser avaliadas as pequenas alterações, sejam estas melhorias ou declínios, que possam ocorrer na pessoa ao longo do tempo (ANASTASI & URBINA, 2000).

Os objectivos da avaliação em contexto gerontológico são: monitorizar o processo de envelhecimento,  caracterizar  o  funcionamento  psicológico  identificando  recursos  e vulnerabilidades,  identificar  áreas  que  necessitam  de  intervenção  e  orientar  a  tomada  de decisão, avaliar as capacidades cognitivas dos indivíduos e as suas capacidades para realizar determinadas tarefas, avaliar o impacto que, nos casos em que o idoso sofre de uma patologia, essa  patologia  tem  no  indivíduo  (quer  do  ponto  de  vista  psicológico,  quer  ao  nível  da  sua adaptação e qualidade de vida) (ANASTASI & URBINA, 2000).
No final é elaborado um plano terapêutico que seja mais adequado à problemática da pessoa.  Este pode passar pelo seu seguimento em reabilitação cognitiva e/ou acompanhamento psicológico.

Aconselhamento Psicológico em gerontologia

O acompanhamento psicológico e a psicoterapia são métodos de tratamento para alívio dos problemas de natureza psicológica.

Tentando seguir os princípios de Carl Roger no processo de aconselhamento psicológico, o foco deve centrar-se no idoso, a autoridade da pessoa reside mais nela própria do que no especialista exterior, dando assim ênfase à visão do cliente do que à do terapeuta (BOZARTH, 2001). Desta forma, é considerada uma terapia não-directiva, que confia no cliente e na sua capacidade para auto-organizar e autodireccional, promovendo assim a sua autonomia (FREIRE & TAMBARA, 2001; HIPÓLITO, 2011).

Acredita-se que os clientes avançam pelos seus caminhos, ao seu próprio ritmo e crescem com os seus próprios meios. O ponto de vista do terapeuta é irrelevante, uma vez que apenas funciona como facilitador do processo actualizante do cliente. Dessa forma, o processo encontra-se todo direccionado para o desenvolvimento (BOZARTH, 2001; FREIRE & TAMBARA, 2001; HIPÓLITO & NUNES, 2000).

O psicólogo clínico debruça-se sobre o estudo, pesquisa e avaliação do desenvolvimento emocional e dos processos mentais e sociais do indivíduo, grupos e instituições.  Neste particular, tem como objectivo diagnosticar e avaliar distúrbios emocionais e mentais e de adaptação social, bem como acompanhar o paciente durante o processo de tratamento, no sentido de contribuir para a promoção de comportamentos e modos de vida mais saudáveis (RODRIGUES, 2004).

Contudo, a actuação do psicólogo clínico vai além das competências técnicas e da intervenção psicológica, pois engloba um conjunto de relações sociais, valores e papéis, que se traduzem em questões éticas e deontológicas (REIMÃO, 2008).
As concepções do psicólogo e as suas actividades variam consoante o setting terapêutico, mas existem três dimensões comuns a todos eles: (1) a avaliação e o diagnóstico; (2) a prática de terapias ou reeducação; (3) o aconselhamento e a intervenção institucional (PEDINIELLI, 1999).

A intervenção do psicólogo em contexto geriátrico recai, sobretudo, na melhoria e reabilitação das problemáticas psicológicas, no sentido de compreender como pode contribuir para melhorar o bem-estar dos indivíduos e a sua qualidade de vida através da intervenção psicológica (GATCHEL & OORDT, 2003; TEIXEIRA, 2004).

Uma das principais funções do psicólogo, neste contexto, é estimular os idosos institucionalizados a encontrarem um sentido para as suas experiências de vida, bem como uma forma salutar para enfrentar as implicações psicológicas que advêm do facto de viverem numa instituição (BATEMAN, BROWN, & PEDDER, 2003).

O esforço e trabalho diário do psicólogo orienta-se no sentido da concretização dos seguintes objectivos:

(1)  proporcionar serviços permanentes e adequados à satisfação das necessidades dos residentes;

(2)  contribuir para o normal desenvolvimento do processo de envelhecimento e evitar a sua degradação, prestando serviços de qualidade;

(3) prestar o apoio necessário às famílias dos idosos no sentido de fortalecer a relação inter-familiar e preservar os laços afectivos;

(4) prestar um acompanhamento psicossocial de qualidade que contribua para o aumento do bem-estar e do equilíbrio psicoafectivo do idoso;

(5) intervir em situações de crise derivadas das patologias;

(6) instruir os auxiliares de acção directa no que respeita aos procedimentos a ter com os residentes (exemplo:  cuidar, conversar); 

(7)  aumentar a autonomia dos utentes ao nível das actividades de vida diárias;
(8) promover o convívio social e o bom relacionamento entre residentes, profissionais e familiares (BARROS, LEAL, & SILVA, 2013).

O papel do psicólogo é, ainda, importante para reforçar os recursos do próprio indivíduo para a preservação da saúde mental, estimular a sua participação em actividades educacionais e sociais, incentivar a criação de novos interesses e apoiar a participação em actividades que estimulem a criatividade, a sociabilidade e a participação comunitária.  Estas actividades contribuem, em larga escala, para a realização de metas pessoais e a atribuição de um sentido pessoal a esta nova fase das suas vidas (CORREA, FERREIRA, FERREIRA & BANHATO, 2012).

Em contexto geriátrico, uma das preocupações do psicólogo deve ser encontrar as soluções que melhor respondam às necessidades dos idosos, tendo sempre em conta os aspectos diferenciados das suas personalidades.  Neste particular, é importante, criar um clima de confiança e segurança emocional com o idoso, apoiando-o e encorajando-o a conservar uma imagem positiva de si próprio.

Falar sobre o passado é muito mais do que recordar, é vivenciar as experiências duas vezes, pelo que a utilização de técnicas de reminiscência, poderá permitir ao idoso experimentar emoções positivas que lhe podem ser muito úteis no futuro. Este processo tem uma função importante na adaptação à nova realidade e na anuência de ter que conviver com a sua doença.  Destaca-se, ainda, a necessidade de encorajar e estimular os residentes a manter as relações sociais, em particular com a família mais próxima, pois o suporte social tem um papel extremamente importante para o idoso, ainda para mais quando se encontra institucionalizado (AMATUZZI, 2001).

Embora, esta população apresente características comuns e universais, cada caso é singular e único, pelo que deve ser cuidadosamente compreendido e avaliado.
Deste modo é essencial existir uma relação de ajuda, autenticidade, empatia e comunicação e acima de tudo, respeito e consideração pela pessoa (BELÉM, 2004).

O psicólogo deverá ser capaz de minimizar o sofrimento do paciente e dos seus familiares, sendo por isso, primordial acompanhar a evolução do paciente no que diz respeito aos aspectos emocionais que advêm da sua patologia (CORREA et al., 2012).

Reabilitação Cognitiva 

Com o passar dos anos e o avançar da idade, algumas funções cognitivas, como a memória e o raciocínio, começam a deteriorar-se.

As pessoas idosas que se encontram mais preservadas são aquelas que são mais estimuladas a nível cognitivo.  As áreas que devem ser exercitadas, de modo a ter um bom envelhecimento, são aquelas que envolvem funções executivas e funcionais, tais como: planificação, atenção, selecção e coordenação (SKA & JOANETTE, 2006 citado por CABRAL, 2014).

Dessa forma é essencial fazer exercícios que explorem estas capacidades cognitivas, aumentando assim o nível de eficácia na realização das tarefas do dia-a-dia e promovendo a autonomia. Para além das funções cognitivas também é importante ter em consideração outros aspectos como o exercício físico, a qualidade do sono, a existência de patologias e a actividade social da pessoa (SKA & JOANETTE, 2006 citado por CABRAL, 2014).

O conceito de psicoestimulação deriva da noção que é crucial estimular as funções cognitivas de modo individual ou em grupo, tendo como objectivo a recuperação ou tentativa de preservação de capacidades da pessoa (FRANCO-MARTÍN & ORIHUELA-VILLAMERIL, 2006; MORGANTI, 2004).

A unidade de memória desenvolvida no Centro tem como objectivo a intervenção ao nível da reabilitação neuropsicológica, promovendo a recuperação ou preservação das capacidades cognitivas.  Esta intervenção tem com base exercícios que desenvolvem as diversas funções cognitivas acima mencionadas (FRANCO-MARTÍN & ORIHUELA-VILLAMERIL, 2006).

A reabilitação deve ser praticada em contexto multidisciplinar, combinando outras intervenções como psicoterapia e grupos psicopedagógicos para familiares. Deve ser encarado como um trabalho em equipa, envolvendo os familiares dos utentes e outros profissionais de saúde, procurando assim melhorar o funcionamento do paciente no seu dia-a-dia (ANDERSON, WINOCUR & PALMER, 2010).

A reabilitação cognitiva passa pela realização de exercícios de forma manual e com recurso a objectos e materiais físicos.  Exercitando, de modo versátil, as diversas funções cognitivas através de exercícios lúdicos ou jogos, leitura, recordação de eventos ou o contar de histórias (GARCÍA, 2009).


PARTE III: CONCLUSÃO

Nesta parte do presente trabalho pretendemos tecer algumas considerações finais. Contudo, fica evidente que o envelhecimento da população representa um dos fenómenos demográficos mais preocupantes das sociedades modernas do século XXI. O propósito deste trabalho inseriu-se nesta problemática, e fez-se uma visita ao Centro de Acolhimento a Velhice de Lhanguene com vista a analisar a situação vivida pelos pacientes albergados no local. No decurso da realização do trabalho, enfatizou-se o papel do psicólogo frente as pessoas idosas, especialmente aquelas que se encontram institucionalizadas. Deste modo, quando se trata desses assuntos, o psicólogo deve ter em conta que cada pessoa é única e a intervenção tem que ser feita a partir da sua história de vida, de modo a promover a sua dignidade, respeitar a sua individualidade e acima de tudo a validar as suas emoções e sentimentos.


Referências bibliográficas

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BARROSO, V. L., & TAPADINHAS, A. R. (2006). Órfãos de solidão e depressividade face ao envelhecimento – estudo comparative entre idosos institucionalizados e não institucionalizados. 2006. Disponível em: <www.psicologia.com.pt>; consultado em: 18/09/17 às 12h31.
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[1] Cf. António Francisco, Gustavo Sugahara, & Peter Fisker. Envelhecer em Moçambique: Dinâmicas do Bem-Estar e da Pobreza. IESE, Maputo, 2013.