sexta-feira, 29 de julho de 2016

Antropologia Aplicada

Evolução dos interesses dominantes da Antropologia Aplicada

O que é antropologia Aplicada

Antropologia aplicada designa um estilo de fazer Antropologia, que aplica o património de conhecimentos, técnicas e atitudes desta Ciência Social e projectos de mudança planeada.
As linhas de interesse dominante da Antropologia Aplicada variam substancialmente, de acordo com a conjuntura sociopolítica, podendo-se tipifica-las em três períodos distintos:
ž   Até à primeira guerra mundial, em que a Antropologia foi chamada a apoiar a administração colonial e a acção missionaria;
ž   Entre as duas guerras, em que se debruçou predominantemente sobre os processos de aculturação, decorrentes, em grande medida da rápida concentração de populações em cidades africanas fruto de atracção desses centros populacionais em fase de industrialização.
ž   Após a segunda guerra mundial, em que se especializou ao serviço de diversos programas públicos e privados; inicialmente foram as agências especializadas das Nações Unidas, então criadas, que contribuíram para essa tendência; mais recentemente com a criação de diversas organizações não-governamentais (ONGs) e de empresas transnacionais registou-se um acrescido interesse pela contribuição da ordem pratica ocorridos em vários domínios.

A Antropologia Aplicada no Reino Unido
Já durante a segunda metade do sec. XIX a contribuição dos antropólogos havia sido solicitada no âmbito da luta contra a escravatura. Foi no entanto, com a necessidade de operacionalizar a doutrina definida na Conferência de Berlim que obrigava as potências coloniais à ocupação efectiva dos territórios, que este ramo da Antropologia se evidenciou.

Antes e durante a primeira guerra mundial
Enquanto decorria a primeira guerra mundial (1915), foram feitos no território na Nova Guiné estudos sobre os Papuas. Quatro anos mais tarde (1919) foi criada na Cidade do Cabo a primeira Cátedra de Antropologia Banto enquanto no Departamento de Estudos Indígenas era criada uma secção antropológica. É também dessa época (1920) que data o primeiro estudo sobre Ashanti na Costa do Ouro (Ghana).

O período entre guerras
A aplicação da antropologia fez-se sentir com maior evidência em contextos de aculturação, tanto no que respeitava ao estudo sobre o impacto da mudança nas culturas tradicionais, como em investigações sobre o então chamado fenómeno da destribalização dos contingentes populacionais que se começaram a concentrar nas cidades após fugirem das condições adversas (fome, guerra…) dos locais que viviam.

Antes da segunda guerra mundial
No período entre as duas grandes guerras se dedicaram ao estudo de pequenas comunidades culturalmente homogéneas tanto em território americano como noutras paragens numa perspectiva monográfica.

Durante a 2ª guerra mundial
De acordo com a nova conjuntura, os serviços dos antropólogos foram procurados por muitos departamentos das Forças Armadas, nomeadamente nos seguintes domínios:

ž   Apoio na elaboração de manuais de sobrevivência, para a elaboração desses manuais, os antropólogos revelaram-se preciosos, pelos conhecimentos que dispunham acerca das estratégias de sobrevivência dos povos desses territórios.

ž   Estudos para compreender o comportamento do inimigo: neste âmbito ficou célebre o estudo de Ruth Benedict sobre a cultura japonesa, elaborado em condições particularmente adversas.

ž   Treino de quadros para administrar zonas ocupadas: à medida que o avanço aliado se ia definindo, o que permitiu um controle inteligente das referidas zonas sem o recurso à humilhação das populações dos países vencidos, nomeadamente do Japão e a Alemanha.

Depois da 2ª guerra mundial
ž   Colaboração em programas de agências especializadas das NNUU e em programas de agências governamentais no âmbito da cooperação com países da América Latina, nomeadamente no campo da Saúde e do desenvolvimento rural;
ž   Consultoria aos serviços da marinha e, mais tarde à administração civil, em matéria de administração dos territórios da Micronésia, ocupados durante a guerra;
ž   Apoio a programas de Desenvolvimento Comunitário promovidos por organizações não-governamentais (ONGs) de vocação transnacional;
ž   Mais recentemente apoio à gestão de empresas.

2. Valor da contribuição da antropologia para o trabalho comunitário
O valor acrescentado que este ramo de conhecimento trouxe para a qualidade do trabalho comunitário podemos organizar a discussão de acordo com três dimensões: politicas, cognitiva e prática.

2.1 Valor político
ž   Permite demonstrar que não há culturas superiores nem inferiores, mas apenas diferentes estádios de desenvolvimento tecnológico a que não correspondem situações análogas de desenvolvimento social;
ž   A de que a mudança é sempre um instrumento, nunca um fim em si mesmo, podendo uma dada realidade social mudar para melhor ou para pior.

2.2 Valor cognitivo
Afirmou-se que a intervenção social é uma situação em que um dado sistema-interventor interage com um dado sistema-cliente, emoldurado por condicionalismos ambientais, com vista ajudá-lo a responder a necessidades sociais.
É aqui onde reside a principal contribuição da natureza cognitiva de AA; com efeito, este ramo das Ciências Sociais dota o interventor de conhecimentos indispensáveis ao entendimento das comunidades onde trabalha e previne-o contra eventuais preconceitos que possa ter na sua prática profissional, decorrentes de elementos culturais que tenha interiorizado no seu processo de socialização.

Um dos maiores valores que a AA tem para o trabalho comunitário reside justamente no capital de conhecimentos sobre a cultura o que permite uma evidente empatia na interacção. Tal capital traduz-se em quatro tipos de saberes:
ž   Sobre a cultura do sistema-cliente (A, B, ….);
ž   Sobre a cultura do sistema interventor (1, 2, …);
ž   Sobre eventuais pontos críticos resultantes do contacto das duas culturas que podem constituir obstáculos à mudança pretendida;
ž   Sobre os eventuais pontos a explorar resultantes de convergências de elementos culturais das duas culturas, que podem assumir-se como estímulos à mudança.

2.3 Valor prático
Fase de pré-estudo
Reside a recolha de dados disponíveis sobre o sistema-ciente, numa perspectiva monográfica a fim de poder formar um quadro de referência.
Definidas as características globais do sistema-cliente, cabe ao antropólogo proceder ao estudo mais detalhado dos elementos da cultura do sistema-cliente que possam ter relação com o projecto de intervenção.

Fase de planeamento
Nesta fase o antropólogo pode colaborar em três tipos de tarefa:
ž          Operacionalização do problema e discussão do programa de intervenção da decorrente;
ž          Analise dos obstáculos que provavelmente se irão encontrar, de acordo com o conhecimento global do sistema-cliente;
ž            Recomendação de medidas para ultrapassar de tais obstáculos.

Fase de análise continuada
A intervenção o antropólogo deve funcionar com olhos e ouvidos do sistema interventor a fim de proceder à detecção precoce de incidentes críticos e propor as devidas correcções de intervenção.

Avaliação final
O papel do antropólogo consiste em ajudar a equipa a localizar os valores e contravalores do projecto, discutir como os obstáculos identificados forma removidos e capitalizar conhecimento através do registo da experiência.


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Currículo, Género e Sexualidade: Promoção da educação para igualdade de género, Saúde sexual e Reprodutiva nas escolas; Género e sexualidade na educação escolar…

Índice






1 Considerações Iniciais
O estabelecimento de igualdade de direitos entre homens e mulheres está directamente relacionado com o desenvolvimento das sociedades. Ao longo dos tempos, muitas mulheres e homens lutaram para que o seu papel no mundo fosse valorizado, de uma forma justa e em igualdade. Deste modo, o presente trabalho tem como tema Currículo, Género e Sexualidade e dentro deste tema vamos abordar aspectos como: promoção da educação para igualdade de género, Saúde sexual e reprodutiva nas escolas; Género e sexualidade na educação escolar; Discursos político-educativos sobre o género em Moçambique; a mulher e o acesso a educação; género e sexualidade no espaço escolar.

1.1 Objectivos do trabalho

Geral
-        Compreender todos os aspectos que giram em volta da Igualdade de Género.
Específicos
-        Avaliar os princípios gerais da política de género quanto a sua aplicação no nosso País;
-        Explicar a importância de abordar a questão de Igualdade de Género.

1.2 Metodologia

Para a realização deste trabalho, optou-se por fazer uma pesquisa qualitativa, com vista a fazer uma recolha de dados qualitativos que justifiquem os assuntos relacionados com o tema. Sendo assim, esta pesquisa permitiu-nos ter um conhecimento aprofundado e detalhado sobre os dados obtidos através dos documentos pesquisados.

2 Promoção da educação para igualdade de género

Como meio privilegiado de socialização, a escola tem como missão promover a igualdade de oportunidades e educar para os valores do pluralismo e da igualdade entre homens e mulheres. Urge, desenvolver um esforço para a eliminação da discriminação em função do género e, consequentemente, de relações de intimidade marcadas pela desigualdade e pela violência, constituindo-se parte essencial da educação para os direitos humanos, para o respeito pelos direitos e pelas liberdades individuais na perspectiva da construção de uma cidadania para todos. (fonte: <http://www.dge.mec.pt/educacao-para-igualdade-de-genero>).

2.1 Promover a Igualdade de Género

O sucesso das políticas e das medidas destinadas a apoiar ou a reforçar a promoção da igualdade entre os sexos e a melhoria do estatuto das mulheres, deve basear-se na integração de uma perspectiva de género nas políticas gerais relacionadas com todas as esferas da sociedade, assim como na implementação, a todos os níveis, de acções com suporte institucional e financiamento adequado.
A IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, realizada em 1995, marcou sem dúvida a agenda política internacional sobre a questão da igualdade de género. Dela saiu um documento exaustivo onde constam os grandes objectivos estratégicos e respectivas medidas que têm orientado os governos na implementação de políticas de promoção da igualdade de género. (fonte: <http://www.dge.mec.pt/educacao-para-igualdade-de-genero>).
Os objectivos encontram-se divididos em sete grandes áreas:
Mulheres e pobreza
-        Rever, adoptar e manter políticas macroeconómicas e estratégias de desenvolvimento que tenham em conta as necessidades das mulheres e apoiem os seus esforços para superar a pobreza;
-        Proporcionar às mulheres o acesso aos mecanismos e instituições de poupança e crédito;
-        Desenvolver metodologias com base no género e realizar investigação sobre feminização da pobreza.

Educação e formação das mulheres
-        Assegurar a igualdade de acesso à educação;
-        Eliminar o analfabetismo entre as mulheres;
-        Aumentar o acesso das mulheres à formação profissional, à ciência e tecnologia e à educação permanente;
-        Desenvolver uma educação e uma formação não discriminatórias;
-        Atribuir recursos suficientes para a execução e acompanhamento das reformas educativas;
-        Promover a educação e a formação ao longo da vida.
Mulheres e saúde
-        Aumentar o acesso das mulheres, ao longo do seu ciclo de vida, a informação, cuidados e serviços de saúde adequados, acessíveis e de boa qualidade;
-        Reforçar os programas de prevenção que promovam a saúde das mulheres;
-        Desenvolver iniciativas que tenham em conta o género para fazer face às doenças sexualmente transmissíveis, ao VIH/SIDA, e às questões de saúde sexual e reprodutiva;
-        Promover a investigação e difundir informação sobre a saúde das mulheres;
-        Aumentar os recursos e acompanhar a evolução da saúde das mulheres;
Violência contra as mulheres
-        Adoptar medidas integradas para prevenir e eliminar a violência contra a s mulheres;
-        Estudar as causas e as consequências da violência contra as mulheres e a eficácia das medidas preventivas;
-        Eliminar o tráfico de mulheres e prestar assistência a mulheres vítimas de violência devido a prostituição e tráfico;
Mulheres e conflitos armados
-        Aumentar a participação das mulheres na resolução de conflitos aos níveis da tomada de decisão e proteger as mulheres que vivem em situações de conflito, armado ou de outro tipo, ou sob ocupação estrangeira;
-        Reduzir as despesas militares excessivas e limitar a disponibilidade de armamento;
-        Promover formas não violentas de resolução dos conflitos e reduzir a incidência de violações de direitos humanos em situações de conflito;
-        Promover a contribuição das mulheres para a criação de uma cultura de paz;
-        Proporcionar protecção, assistência e formação às mulheres refugiadas e a outras deslocadas que precisem de protecção internacional dentro do próprio país;
-        Proporcionar assistência às mulheres das colónias e dos territórios sem autonomia;
Mulheres e economia
-        Promover a independência e os direitos económicos das mulheres, incluindo o acesso ao emprego, a condições de trabalho adequadas e ao controle dos recursos económicos;
-        Facilitar o acesso das mulheres, em condições de igualdade, aos recursos, ao emprego, aos mercados e ao comércio;
-        Proporcionar serviços comerciais, formação e acesso aos mercados, informação e tecnologia, particularmente às mulheres com baixos rendimentos;
-        Reforçar a capacidade económica e as redes comerciais das mulheres;
-        Eliminar a segregação profissional e todas as formas de discriminação no emprego;
-        Fomentar a harmonização das responsabilidades das mulheres e dos homens no que respeita ao trabalho e à família;
Mulheres no poder e tomada de decisão
-        Adoptar medidas que garantam às mulheres a igualdade de acesso e a plena participação nas estruturas de poder e de tomada de decisão;
-        Aumentar a capacidade de participação das mulheres na tomada de decisão e na liderança;
-        Criar ou reforçar os mecanismos nacionais e outros organismos governamentais;
-        Aumentar a participação das mulheres na resolução de conflitos aos níveis da tomada de decisão e proteger as mulheres que vivem em situações de conflito, armado ou de outro tipo, ou sob ocupação estrangeira;
-        Promover a contribuição das mulheres para a criação de uma cultura de paz;
Proporcionar protecção, assistência e formação às mulheres refugiadas e a outras deslocadas que precisem de protecção internacional dentro do próprio país. (fonte: <http://www.dge.mec.pt/educacao-para-igualdade-de-genero>).

3 Saúde Sexual e Reprodutiva nas Escolas

A educação em saúde nas escolas apresenta-se como facilitadora, uma vez que a promoção da saúde se dará de forma tanto individual como colectiva (CAMPOS; ZUANON, 2010; SECRETARIA..., 2002) citado por (CASTRO, et al., s/d).
É necessário conhecer, portanto, como a realidade e subjectividade de cada sujeito interferem na forma que ele vê sua própria saúde, e em como essa visão influencia a adesão ou não a programas e acções voltadas para a prevenção de danos. A promoção de saúde nas escolas, com atendimento primordial aos adolescentes, possibilita que se exercite uma relação horizontal entre o profissional educador e os sujeitos, representando uma facilitação da comunicação e exposição de dificuldades, identificação dos pontos de maior necessidade de atenção e construção colectiva das expectativas (SOUZA et al., 2005) citado por (CASTRO, et al. s/d).
Sabendo-se que a escola é o local onde os adolescentes passam grande parte de sua vida, actuando de maneira significativa na formação de opiniões e na construção de carácter, passa a ser um local de referência para a implementação de programa que vise informatização, orientações, acompanhamento, ofertas de oficinas, quem venham desencadear pensamentos críticos, reflexivos para adesão das praticas de prevenção, reconhecimentos de risco que interfiram na qualidade de vida. (CASTRO, et al., s/d).
Visando a educação em saúde, torna-se imprescindível a preparação de profissionais desde a graduação para melhor assistir a clientela, sobre tudo aos adolescentes, porque a efectiva capacidade reprodutiva e o início da vida sexual inserem o adolescente, de forma intensa, em situações de vulnerabilidade às doenças sexuais transmissíveis (DST) e AIDS, à gestação não planeada e ao abordo (BORGES, 2004; BORGES; LATORRE; SCHOR, 2007) citado por (CASTRO, et al., s/d). Torna-se, portanto, necessário a habilitação do alunado e professores da rede Publica de Ensino para aprendizado em Saúde Sexual e Reprodutiva.
Na Escola o adolescente escolhe suas próprias amizades e desenvolve seus interesses. Há uma identificação com seu grupo e pode formular seus primeiros projectos para o futuro. Portanto, quando o espaço escolar incorpora as actividades de educação em saúde, o trabalho ganha nova dimensão e se torna mais eficaz. Então a articulação saúde e escola é um espaço privilegiado para a promoção de saúde. Este processo pressupõe a valorização da cidadania e exige o envolvimento dos diversos actores que formam este universo. CASTRO, et al., (s/d).

4 Políticas para igualdade de género em Moçambique

A perspectiva de género permite abordar correctamente as relações socialmente construídas num ambiente em que, homens e mulheres jogam diferentes papéis, integrando as diferenças que uns e outros têm em termos de necessidade, interesses e oportunidades para juntos progredirem.
A Política de Género e Estratégia de Implementação abrange homens e mulheres de todos os grupos etários. O facto de fazer mais alusão à mulher constitui uma forma de garantir que a politica atenda às especificidades da mulher contribuindo para a elevação do seu estatuto na sociedade, visto que, por circunstancias históricas, socialmente elas desempenharam papeis diferentes dos homens e, por isso, ficaram mais discriminadas e marginalizadas da participação na vida politica, económica, social e cultural do país.
A presente política define a Visão, Missão, Princípios orientadores e Objectivos a serem alcançados com base no reconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, na participação equitativa no processo de desenvolvimento, no aumento dos níveis educacionais e de formação, na promoção do direito à saúde, assegurando serviços de qualidade, aproveitando as sinergias das acções e da necessidade de obter resultados justos para ambos os sexos.
A política de Género visa contribuir para a redução das desigualdades de género e, promover a mudança gradual de mentalidade tanto do homem como da mulher, despertando e criando sensibilidade necessárias em ambos, relativamente à situação de discriminação existente no tratamento de questões sociais, económicas, políticas e culturais.
O Governo promove a igualdade das relações de género incluindo a remoção das dificuldades que afectam os cidadãos, em particular as mulheres, como condição essencial para um desenvolvimento sustentável centrado na pessoa humana.

4.1 Visão

Garantir a participação e o acesso a direitos e oportunidades iguais entre homens e mulheres, assegurando que, todos os cidadãos contribuam para o desenvolvimento sustentável de Moçambique e para a redução da pobreza absoluta.

4.2 Missão

Promover e melhorar a efectiva participação de mulheres e homens no processo de desenvolvimento do País, garantindo o empoderamento e a elevação do estatuto da mulher.

4.3 Princípios Gerais da Política de Género

4.3.1 Princípio da Unidade

A política assenta na convicção de que o espírito de unidade deve reinar dentro da diversidade de opinião, expressão, direitos, liberdades e garantias emanadas da Constituição da República de Moçambique e das demais convenções internacionais, encorajando e dando valor a uma cultura de paz, baseada na justiça dentro das nossas comunidades, por forma a promover a tolerância e permitir o progresso.

4.3.2 Princípio da Justiça Social

A política assenta na aplicação da justiça social como garante do gozo das liberdades fundamentais do homem e da mulher sem discriminação, focalizando o equilíbrio do Género em todos os extractos da sociedade moçambicana.

4.3.3 Princípio da Equidade

A política assenta no reconhecimento e respeito dos direitos humanos e no facto de que a equidade entre o homem e a mulher deve conduzir a acções específicas de melhoramento do estatuto de género a todos os níveis, com observância da diversidade cultural que caracteriza a sociedade moçambicana.

4.3.4 Princípio da Igualdade

A política assenta na igualdade de direitos, oportunidades e benefícios entre o homem e a mulher em todos os domínios da vida política, social, económica e cultural, independentemente da cor, raça, origem étnica ou geográfica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição socioeconómica, profissão, filiação partidária e crença política.

4.3.5 Princípio da não Discriminação

A política assenta na luta pela eliminação de preconceitos e práticas que estejam baseadas na ideia de inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos, ou em funções estereotipadas de homens e mulheres impedindo o desenvolvimento e a adopção de uma abordagem integral do género, como categoria de análise, planificação e avaliação das questões de desenvolvimento.

4.3.6 Princípio da Integração de Género

A política assenta na necessidade de incorporar a abordagem de Género na legislação, políticas, programas, estratégias, planos de acção, orçamento e em todos os aspectos e processos de desenvolvimento do País.

4.3.7 Princípio da não-violência

A política assenta no reconhecimento de que a inversão do quadro actual de violência passa pela promoção da elevação da consciência da mulher e do homem na comunidade, sobre o direito a não-violência.

4.4 Objectivos

4.4.1 Objectivo Geral

Desenvolver de forma integrada as principais linhas de actuação, visando a promoção da igualdade de género, o respeito pelos direitos humanos e o fortalecimento da participação da mulher no desenvolvimento do País.

4.4.2 Objectivos específicos

Contribuir para a eliminação de todas as formas de discriminação com base no sexo, promovendo a igualdade e equidade de género;
Fortalecer os mecanismos de coordenação e articulação entre o Governo, sociedade civil e sector privado na observância e respeito das questões de género;
Contribuir para a melhoria de mecanismos nacionais de implementação e monitoria das acções consideradas prioritárias na Plataforma de Acção de Beijing;
Contribuir na melhoria do serviço de atendimento prestado às vítimas de violência baseada no género, em todas as suas vertentes, adoptando acções que permitam o combate à violência domestica.

5 Discursos Político-Educativos sobre o Género em Moçambique

Actualmente, definindo-se como um partido orientado pelo socialismo democrático, a Frelimo assume como compromisso, no seu programa, a “igualdade entre a mulher e o homem perante a Lei. O homem e a mulher devem beneficiar dos mesmos direitos e deveres” (p. 4) e “igualdade de género nos órgãos de decisão” (p. 4). Defendendo a unidade nacional como fundamento da sua acção e tomando o cidadão como sujeito, o partido estimula o associativismo e apoia o trabalho das organizações da sociedade civil. (OSÓRIO, 2010:149)
Este documento programático mostra, com clareza, o cometimento da Frelimo com o sistema democrático, destacando-se como aspectos importantes, a igualdade de direitos, a independência, o debate de ideias e a auscultação pública como método de governação (Programa: pps. 22, 24 e 29). (OSÓRIO, idem, p. 149).
No Programa da Frelimo, a questão da igualdade entre mulheres e homens é transversal a cada uma das suas componentes, assente numa perspectiva de desenvolvimento de políticas, estratégias e acções que visem promover o acesso das mulheres a recursos, com particular atenção para o acesso à educação, à redução da taxa de analfabetismo e à participação política e económica, com a reserva de quotas de participação de que as tabelas 14 e 15 são exemplos. (OSÓRIO, ibidem, p. 150).
A igualdade de género é tomada como um dos objectivos do partido para esta legislatura, destacando-se o “acesso da rapariga à educação e formação técnico-profissional” (Ponto 164), promover “a participação da mulher nos domínios político, económico e social deve ser cada vez mais efectiva e determinante, para que haja uma igualdade efectiva entre o homem e a mulher na sociedade e perante a lei” (Ponto 18) e “empreender acções de combate à violência doméstica para a protecção da mulher, da criança e da família” (Ponto 212). (OSÓRIO, ibidem, p. 154).

6 A Mulher e o Acesso a Educação

Um dos principais problemas que caracterizam a desigualdade entre homens e mulheres prende-se com o acesso à educação. (SILVA, 2007:60).
Não apenas o acesso à escola, mas o acesso efectivo à escolarização completa. Nos meios rurais, a educação formal é muitas vezes alheia ao processo de construção da identidade dos indivíduos e considerada desnecessária para o desempenho do seu papel social, sobretudo no caso dos indivíduos do sexo feminino. (SILVA, 2007:60).
Objectivos estratégicos da Declaração e Plataforma de Acção de Beijing
-        Assegurar a igualdade do acesso à educação;
-        Erradicar o analfabetismo entre Mulheres;
-        Melhorar o acesso da Mulheres a formação vocacional, ciência e tecnologia e a formação continua;
-        Desenvolver a educação e formação não-discriminatória;
-        Alocar recursos suficientes para a implementação de reformas educacionais e monitorar a sua implementação;
-        Promover a educação e capacitação das meninas e Mulheres para toda a vida

6.1 Progressos

Os fundamentos para a educação e formação não discriminatória em Moçambique estão estabelecidos na Política Nacional de Educação aprovada pelo Governo em 1995 (Resolução 8/95 de 22 de Outubro). A mesma também define as medidas estratégicas destinadas a assegurar a formação de mulheres assim em todos os subsistemas de educação a saber:
i) Criação de um ambiente escolar sensível ao género através da identificação e definição de modalidades de organização do processo educativo e de mudanças nos programas de formação de professores;
ii) desenvolvimento da carta escolar distrital para determinação das necessidades e localização óptima das escolas;
iii) estabelecimento de acordos com ONGs, confissões religiosas e outras para a implementação de programas de educação da rapariga;
iv) sensibilização da sociedade para a redução da sobrecarga de trabalho das raparigas,
v) Promoção de sistemas alternativos de educação não formal com enfoque sobre habilidades para a vida e,
vi) introdução de incentivos como a concessão de apoio financeiro para a aquisição de material escolar, bolsas de estudos e outras. (MMAS, 2014:15).
O País tem registado um progresso contínuo no acesso das raparigas à todos os níveis de ensino. De acordo com as estatísticas do Ministério de Educação a percentagem de raparigas que acedeu ao ensino primário do primeiro grau que vai da 1ª a 4ª classe evoluiu de 45.9 para 47% entre 2007 e 2011 estabelecendo-se em 47.7% em 2011. Este desempenho foi resultado da introdução de uma série de medidas de índole organizacional, pedagógica, infra-estrutural e socioeconómica, articuladas na Política e materializadas através dos sucessivos Planos Estratégicos de Educação (PEE I 1999/2003, PEE II – 2005/2009; PEEC – 2006/2010-11 e PEE - 2012-2016).
Ao nível pedagógico, tem havido esforços com vista a incorporação de assuntos de género no currículo de formação de professores e da dimensão de género nos materiais para os estudantes.
Em 2013, o Ministério da Educação lançou a campanha sobre tolerância zero ao assédio e abuso sexual das raparigas nas escolas como parte do pacote de medidas para estimular o acesso, e aumentar a retenção e a progressão das raparigas na educação.
Dados do MINED indicam que ao nível do ensino secundário do primeiro grau a participação de raparigas evoluiu em cerca de 4% de 43.2% em 2007 para 47.3% em 2011 enquanto ao nível do ensino secundário do segundo grau registou-se um crescimento de 5% estabelecendo-se em 45.7% em 2011.
A participação das raparigas também é afectada pelas altas taxas de gravidez precoce, uniões prematuras e sobrecarga de trabalho doméstico que originam desistências e fraco desempenho escolar. (MMAS, ibidem, p. 15).
Para contrapor a esta situação, o Governo tem apostado na introdução do 2° ciclo nas escolas especialmente nas zonas rurais para que fiquem mais próximas, e de medidas financeiras como a isenção de propinas, gratuidade de material escolar e bolsas de estudos para raparigas provenientes de famílias de baixa renda que revelem bom aproveitamento pedagógico. Paralelamente, introduziu a educação sexual no currículo e promove o desenvolvimento de actividades extracurriculares atinentes à saúde sexual e reprodutiva com vista a propiciar a redução das gravidezes precoces e a propagação de infecções de transmissão sexual e do HIV. (MMAS, 2014:16).

7 Género e Sexualidade no espaço Escolar

A escola, enquanto espaço de práticas sociais e pedagógicas constituidoras de mecanismos que criam e recriam formas diversas de relações de poder, precisa debater sobre as implicações das relações de género e sexualidade nas práticas de inclusão/exclusão de seus/suas aluno (a)s, tanto nos processos de ensino-aprendizagem, como nos de acesso às condições de possibilidade a todas outras formas de promoção social. Acreditamos que é urgente a necessidade de estudos e reflexões sobre esses temas, sobretudo calcados no princípio de que os corpos são continuamente produzidos, significados e ressignificados na e pela cultura, e que a escola se constitui como uma dimensão importante dessas produções. (SILVA & RIBEIRO, 2010).
As instituições escolares, também participam da fabricação das identidades de género, sexuais, de raça, de etnia, de cultura etc., ensinando modos de ser, estar, de se comportar na sociedade.
Assim no espaço da escola, o silenciamento de algumas questões, alguns gestos que fazemos, as piadas que contamos, os brinquedos e os materiais didácticos que usamos, vêm contribuindo na construção das feminilidades e masculinidades, ou seja, vem fabricando alguns modos de ser menino e menina. (BARROS & RIBEIRO, 2010).
Nesse sentido, a escola actua de forma significativa na produção de género e para isso ela busca disciplinar os corpos desses/as alunos/as, a fim de torná-los/as cada vez mais dóceis e úteis, determinando maneiras de definir e viver as masculinidades e feminilidades. Para alcançar este objectivo instituições como esta vigiam os mínimos movimentos, controlam e regulam os comportamentos de meninos e meninas, corrigindo e aplicando micropenalidades a fim de atingir um padrão óptimo. (BARROS & RIBEIRO, 2010).
Segundo (NOGUEIRA, 2010:14) diz que sendo a sexualidade, entendida como uma construção social, histórica e cultural, sente-se a necessidade de ser discutida na escola - espaço privilegiado para o tratamento pedagógico desse desafio educacional contemporâneo.
Sabat (2007, p. 149) citado por (NOGUEIRA, 2010:16) argumenta que a educação, compreendida de maneira ampla, é um dos processos mais eficientes na constituição das identidades de género e sexual. Em qualquer sociedade, os inúmeros artefactos educativos existentes têm como principal função com/formar os sujeitos, moldando-os de acordo com as normas sociais. (SABAT, 2007:149) citado por (NOGUEIRA, 2010:16).
Justifica-se assim a importância do tratamento de questões relacionadas as relações de género e diversidade sexual durante o processo de ensino aprendizagem, pois a escola não pode mais simplesmente encaminhar ou marcar horário para tratar destas questões, cabe a ela se aprofundar em conhecimentos científicos historicamente construídos e através de discussões e reflexões oportunizar a mudança de atitudes a todos/as os/as sujeitos envolvidos na educação. No entanto, percebe-se que o/a educador/a tem uma posição de fuga de sua responsabilidade, de aprofundamento de estudos acerca de temas que não condizem especificamente com seus conteúdos disciplinares, como se a educação só se restringisse ao conteúdo específico de cada área do conhecimento. (NOGUEIRA, 2010:16).


8 Considerações Finais

Percebeu-se nesse trabalho que quando se fala de Igualdade entre Mulheres e Homens, ou Igualdade de Género, significa igualdade de direitos e liberdades para a igualdade de oportunidades de participação, reconhecimento e valorização de mulheres e de homens, em todos os domínios da sociedade, político, económico, laboral, pessoal e familiar.
Assim, cada vez mais se observam transformações profundas no “modelo familiar”, tradicionalmente assente numa construção social de papéis de género em função do sexo, conduzindo a uma concepção do masculino e do feminino diferenciada e hierarquizada em termos de importância, segundo a qual se atribuíam ao homem papéis e responsabilidades no domínio público, de sustento, e de orientação para resultados, de competitividade e força, e à mulher papéis no domínio privado, de cuidado da casa e da família, com base em características mais emocionais e relacionais.
Falar em igualdade de género é importante porque continuam a verificar-se diferentes participações e usos do tempo entre homens e mulheres no que diz respeito à vida familiar, sendo que as mulheres são ainda as principais responsáveis pela execução das tarefas domésticas e pela prestação de cuidados à família; a crescente participação feminina no mundo laboral é importante não só para o sustento das famílias, mas também para a própria valorização pessoal das mulheres e sobretudo para a economia global; e outros aspectos; No entanto quando se fala de Igualdade de géneros significa que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e deveres.

9 Bibliografia

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