sexta-feira, 26 de abril de 2019

Resumo do Capítulo 6 do livro de Michel Foucault "Trocar"

O sexto capítulo do livro de Foucault (p.227) fala da troca, e ele aborda neste capítulo, 8 aspectos muito importantes sobre a troca, nomeadamente “A análise das riquezas”; “Moeda e preço”; “O mercantilismo”; “O penhor e o preço”; “A formação do valor”; “A utilidade”; “Quadro geral” e o “O desejo e a representação”. 

Assim, o autor analisa a riqueza referindo que na idade clássica a economia era um domínio geral que pertencia a camadas bem estratificadas (p.228). Focault (p.228), analisando a economia, cita alguns expoentes que na sua visão trouxeram à tona o processo de economia e das riquezas como Adam Smith, que trouxe o processo da divisão crescente do trabalho, Ricardo que descreve o papel desempenhado pelo capital, Say, que descreve algumas das leis fundamentais da economia de mercado. De acordo com esses autores, Focault acha que então, a partir desses autores a economia política teria começado a existir com seu objecto próprio e sua coerência interior. Para expandir suas ideias, Focault (p.238) fala do mercantilismo, e neste ponto o autor faz as análises do século XVII que nesse século a actividade principal era a troca. Nessa época do mercantilismo, o que predominava era o interesse mercantil que enfatizava-se a importância do comércio exterior para a economia de um país, e que defendia a acção do Estado em favor da expansão das exportações e do seu monopólio por companhias de comércio, e da restrição às importações, enfim, Focault refere que no século XVII o que era necessário e interessava é o lucro e o ganho. Ele refere ainda que a moeda é a fonte da troca. Segundo Focault (p.262) a troca é um fenómeno simples apenas na aparência. 

A formação do valor significa que isso só é possível quando num processo de troca cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui, isto é, existe valor se aquilo que estiver sendo trocado tiver algum valor para ambas partes, já que ninguém faz trocas sem que haja valor ou vantagem alguma. 

Mais adiante (p.262), Focault cita os fisiocratas, estes que têm a opinião de que para existir valores e riquezas, é necessário que uma troca seja possível, isto é, que se disponha de um supérfluo de que o outro tenha precisão. 

Focault (p.265) cita também Mercier de La Rivière, este que refere que “A finalidade da troca” é o desfrute, o consumo, de sorte que o comércio pode ser definido sumariamente: troca das coisas usuais para chegar à sua distribuição entre as mãos de seus consumidores”, por essa razão que o autor relata que o comércio, por sua natureza, não faz mais que trocar conjuntamente coisas de valor igual. 

De uma forma geral, percebeu-se neste capítulo que para Focault no acto da troca o valor só aparece onde os bens desaparecem (p.268); e o trabalho funciona como uma despesa, ele constitui um preço da subsistência que ele próprio consumiu. Para Focault, a troca é o que aumenta os valores.

Referências

Foucault, M. (2000). Trocar. In: Foucault, M. As Palavras e as Coisas: Uma arqueologia das ciências humanas. 8ª ed. Tradução: Salma Tannus Muchail. Martins Fontes. São Paulo, 2000.

A História na Perspectiva de Friedrich Nietzsche

1. Introdução

Nietzsche numa das suas obras fala da Genealogia da moral: uma polémica, onde aborda a questão do carácter da genealogia moral, aborda também a questão do bem e do mal onde para o autor essas duas questões travam uma luta na terra, sendo entretanto, dois valores contrapostos; mais adiante relata sobre niilismo e tipos de niilismo e por fim, fala da vontade de poder.

Sendo assim, neste trabalho, pretende-se tratar das suas perspectivas no âmbito da questão da história onde o autor demostra a importância da história na vida das pessoas e para as pessoas. Contudo, Friedrich Nietzsche é um filósofo que referia em 1874 que as pessoas precisavam da história e alguns anos mais tarde afirmou que a falta de um sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos. Deste modo, o trabalho pretende investigar o conceito de história no interior do pensamento do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Faz-se uma análise completa das suas ideias e neste trabalho também são apresentadas três acepções do autor sobre a história que serão desenvolvidos no decurso do trabalho, nomeadamente: O nascimento da tragédia; a utilidade e desvantagem da história para a vida e Schopenhauer Educador.

2. A História na Perspectiva de Friedrich Nietzsche

A origem da ideia da História em Nietzsche surgiu quando em Novembro de 1861, ainda como aluno da renomada escola de Pforta, escreve Nietzsche à sua irmã Elisabeth em agradecimento pelos livros de história que ela o enviara: “[...] estas obras históricas são-me extraordinariamente desejáveis, você precisa saber que agora eu muito me interesso pela história”.

Segundo Santos (2014), em 1874 escreve Nietzsche na sua segunda Consideração Extemporânea: “Certamente, nós precisamos da história...” Alguns anos mais tarde afirmaria o filósofo em Humano, demasiado humano: “Falta de sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos”. (MA I/HH I § 2). E, por fim, em sua ultima fase, escreve a respeito de Wagner: “Eu tenho claro que Wagner não pertence à história da musica” (1999:10).

De acordo com Santos (2014), estas são algumas das muitas passagens que mostram a importância da história na filosofia de Nietzsche.

O autor supracitado conta que desde os tempos que Nietzsche era jovem, teve aulas com Jacob Burckhardt, até os últimos dias da sua actividade intelectual, o filósofo nunca deixou de assumir o ponto de vista histórico como um dos escopos da sua filosofia. 

No entanto, todos os elementos que fazem parte do seu pensamento passam por pelo centro da história e ele tem como temas principais o homem, a religião, a arte, a ciência, entre outros.

A partir das contribuições de Santos (2014), compreendemos que o problema que trouxe a ideia da história na perspectiva de Nietzsche é que ele escreve essa obra sobre tamanha influência das suas experiências pessoais como estudante de filologia clássica, tempos em que ele se dedicara a reorganizar sob um novo modelo metodológico que a história trazia em si o status quo de tradicional, embora Alves (2011), no seu artigo refira que, não haja, por parte do autor, uma conceitualização  clara  do  que  é  história,  o  que  suscita  variadas  interpretações  neste sentido; afinal, assim como tantos outros tais como filosofia, arte, ciência – a história é um termo polissémico no pensamento de Nietzsche.

Nietzsche, afirma na sua obra intitulada “O Nascimento da tragédia” que “todo nosso mundo moderno está preso na rede da cultura alexandrina e reconhece como ideal o homem teórico, equipado com as mais altas forças cognitivas, que trabalha a serviço da ciência...” (2007:106).

Relativamente a essa obra intitulada “O Nascimento da tragédia” há uma crítica da história enquanto disciplina académica pelo facto de ser um dos elementos que obstrui a saúde de uma cultura, no caso, a moderna.

Alves (2011) citando Nietzsche (1992, §23, p.135), diz que na secção §23, a história é considerada um conhecimento científico que traz desvantagens para a cultura, eliminando a força vital do mito. Assim, é presumível que “em uma prova severa, quase todo mundo sinta-se tão decomposto pelo espírito histórico-crítico da cultura, que a existência do mito outrora se nos torne crível somente por via douta”; ele continua “Sem o mito, porém, toda cultura perde sua força vital sadia e criadora:  só um horizonte cercado de mitos encerra em unidade todo movimento cultural.”

Deste modo, a partir dos extractos acima, compreendemos que, a história impede o surgimento dos mitos e danifica a cultura, sendo, portanto, prejudicial para à vida.

Nietzsche na segunda perspectiva sobre a história questiona-se sobre a utilidade e desvantagem da história para a vida. Temos que retornar na sua primeira perspectiva quando ele fala sobre o “Nascimento da tragédia” onde ele aponta que a história é prejudicial. Já nesta segunda acepção, resta perguntar pela sua utilidade, especialmente no que tange ao modo que ela pode ser útil (grifos nossos), pois “Somente na medida em que a história serve à vida queremos servi-la” (Nietzsche, 2003:5).

Para Nietzsche (idem), a história jamais “poderá e deverá se tornar ciência pura, mais ou menos como o é a matemática.” (2003:17). Vê-se, no entanto, que o autor não diz que a história jamais poderá se tornar, ou se já é, uma ciência legítima. A história é “a ciência do vir-a-ser universal” (idem, p.32) e sua intenção é apresentar seu proveito para a vida.

No nosso entender, Nietzsche valoriza mais a matemática do que a história, embora entendemos que a sua preocupação não fora discutir a legitimidade da história como ciência, mas precisamente o uso que os historiadores faziam deste estatuto, de modo que ele não desenvolve maiores esclarecimentos a esse respeito. Nietzsche critica mais a objectividade existente na história, pois ele identifica como uma utopia no qual os historiadores tentam garantir que a história é uma ciência.

Já na sua terceira ideia sobre a história é: Schopenhauer educado. Esta é a defesa de um projecto de educação que toma por modelo a filosofia de Arthur Schopenhauer, para a edificação de uma cultura superior. Aqui segundo Alves (2011), a história é utilizada como fornecedora de elementos profilácticos que inoculam saúde numa cultura, nas próprias palavras do autor: “Aquele, então, que reconheceu o que há de desrazão na natureza desta época deve reflectir nos meios de fornecer para ela alguns remédios; e sua tarefa será a de apresentar Schopenhauer aos espíritos livres e àqueles que sofrem profundamente com nossa época” (2004:203).

Na nossa intuição, para Nietzsche, a história não é somente um objecto específico de reflexão, abordado de maneira contingente e de forma totalmente pontual nessa famosa Consideração extemporânea.

Alves (2011), concebe que a preocupação de Nietzsche é com sua época, a cultura moderna.  Portanto, o filósofo se pronuncia: “... não saberia [eu] que sentido teria a filologia clássica na nossa época senão o de actuar nela de maneira imprevista, ou seja, contra o tempo, e com isso, no tempo e, esperemos, em favor de um tempo vindouro.” (2003:7).

A partir das três ideias aqui supracitadas de Nietzsche, é possível compreender que o autor pretende pensar o valor desses usos e significados no âmago do seu projecto filosófico, concebido não apenas de um ponto de vista teórico, mas visando à transformação do homem e da cultura. Para Nietzsche, impõe-se reconsiderar a história, seu valor e seus usos possíveis para fazer a história nas melhores condições e gerar o futuro.

Da nossa análise, a partir dos extractos aqui supracitados, nenhuma das três formas de história é, portanto, recusada radicalmente por Nietzsche, do mesmo modo que nenhuma é absolutamente preferida. Percebemos pelo contrario, que ele apenas denuncia os inconvenientes e traz ao mesmo tempo a utilidade da história na vida das pessoas a partir das suas diversas formas para vida.

3. Conclusões

Como sinais de conclusão após a nossa revisão bibliográfica e nossa própria análise, é possível referir que Nietzsche reconsidera a noção de história, não mais como uma disciplina teórica específica, mas como um modo de pensamento singular, indissociável de determinada maneira de viver, que ele designa como “sentido”, “espírito” ou, ainda, “método” históricos. Com a condição de ser convenientemente repensado e dominado, o “sentido histórico” pode ser visto, então, como uma característica necessária a qualquer filosofia autêntica. Para Friedrich Nietzsche, o filósofo tem o dever de reflectir sobre a história porque, por sua vez, ele deve fazer-se historiador, num novo sentido, mais amplo e radical, a fim de conseguir a superação de qualquer filosofia “metafísica”. Conseguimos perceber porque ele falou que o homem é um ser em constante transformação, pois, isso significa dizer que o homem não pode ser tido como matéria pronta, razão pela qual o homem deve ter também uma visão holística sobre o mundo a sua volta.

4. Referências bibliográficas

Alves, F. G. O conceito de história em Nietzsche: da metafísica de artistas à Gaia ciência (1869-1882). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, Julho de 2011.

Nietzsche, F. W. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras. 1992.

___________. Segunda Consideração Intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Trad. Artur Mourão. São Paulo: Editora Relume Dumara, 2003.

___________. Reconstrução do passado:  teoria da história II:  os princípios da pesquisa histórica. Brasília: UnB, 2007.


Santos, F. T.  O veneno da história ou a história de um veneno: Nietzsche e a construção da filosofia histórica. Kínesis, Vol. VI, n° 12, Dezembro 2014, p.58-73.

Karl Marx e a Luta das Classes

1. Introdução

O conceito de ideologia desenvolvido por Max ocupa importante lugar no campo das ciências sociais e humanas. São, no entanto,  inúmeras as abordagens realizadas com base nesse conceito, o qual tem trazido controversas para a compreensão dos fenómenos sociais. 
Ao se falar da ideologia em Marx fala-se também das características marcantes da ideologia, a luta de classes, criticas feitas ao Marx.

Mas, neste trabalho, o objectivo é tratar do conceito de lutas de classe na à luz dos pressupostos teórico-metodológicos de Karl Marx, e não pretendemos esgotar o conteúdo do livro, mas apenas refinar-nos-emos nalgumas explicações, num momento que a nível mundial se nota a crise das políticas e luta das classes. Para atingirmos tal objectivo, pautar-nos-emos em uma obra marxista “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”. E, como toda luta de classes é uma luta política, daremos tratamento especial ao tema. De referir que “As lutas de classes na França” é um livro exemplar de Marx, no qual se evidencia o rigor da análise dialéctica da história; é, assim, uma cabal negação do chamado reducionismo e esquematismo atribuídos à obra de Marx por críticos equivocados de todos os tempos. 
No decurso da obra, quatro momentos são abordados, nomeadamente: 1. A derrota de Junho de 1848; 2. O dia 13 de Junho de 1849; 3. Decorrências do 13 de Junho de 1849 e 4. A revogação do sufrágio universal em 1850. E por forma a compreendermos o seu conteúdo vamos desenrolar através de algumas contribuições de outros autores e seguidamente teceremos algumas considerações minuciosas dos 4 momentos.

Deste modo, está dividido em quatro momentos, sendo que o primeiro momento é este que é constituído pela parte introdutória; a segunda parte é o desenvolvimento onde descrevemos as diversas contribuições sobre as litas de classes, a terceira parte é constituída pelas ilações finais e por último temos as referências usadas na realização do trabalho.


2. Marx – As Lutas de Classes na França

Vamos começar o nosso debate mostrando a definição de Marx sobre classes. Sendo assim, olhando os antecedentes do seu livro “A luta de classe na França de 1848 a 1850” compreendemos que a definição marxista começa com o factor material da existência de determinado sistema de produção – formação social – e usa como critérios objectivos de diferença entre as classes a sua posição neste sistema, a relação com os meios de produção, o papel na organização do trabalho e a posse ou não de parcela da riqueza produzida pela sociedade.

Marx ao falar da luta de classe guia-se pelos eventos que aconteceram na França entre 1848 a 1850. Karl Marx desenvolve essa ideia tomando por base as dificuldades do campesinato francês em se constituir enquanto tal, esta é ao nosso ver a origem da ideia sobre a luta das classes.

A partir das referências propostas por Marx, MACHADO (2011), no seu artigo sobre o “Proletariado e Luta de Classes em Marx e Engels”, deduz 6 elementos que na óptica do autor ultrapassam as suas especificidades históricas e servem para reflexões em relação ao proletariado, nomeadamente: 1. Condições económicas semelhantes que se opõem a outras classes sociais; 2. Modos de vida diferentes e interesses diferentes; 3. Cultura diferente de outras classes sociais; 4. Constituir-se como uma comunidade; 5. Ligação nacional e não local; 6. Organização política.

Na ideia de MACHADO (2011), Marx, não restringiu a constituição em classe às relações de propriedade, mas é o primeiro elemento fundamental. Nesse sentido, entendemos que seja necessário levar-se em conta outros factores para que as classes sejam capazes de representar seus interesses de classe usando seu próprio nome, seja através do parlamento seja através de uma convenção.

Nas discussões de Marx sobre a luta de classe na França, ele afirma que os camponeses não podem representar a si mesmo, eles devem ser representados por alguém. MACHADO (2011) descrevendo as ideias de Marx, diz que o autor afirma que os camponeses franceses não podiam representar a si mesmos, seu representante apareceu como seu senhor, como autoridade sobre eles, como um poder governamental ilimitado que os protege das demais classes. Ainda que longa, esta passagem é bastante ilustrativa.

O principal problema que se nota no Marx ao tratar sobre a luta de classe na França é o que é apontado por MILIBAND (1979), ao referir que Marx e Engels “reconheciam outras formas de conflito de classes [e] reconheciam a existência de outros conflitos, além dos conflitos de classes”. Por outro lado, “a questão realmente importante é a insistência [deles] em que o conflito primordial na sociedade capitalista é entre capitalistas e operários”.

Nas ideias de Marx e Engels a sociedade capitalista divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto directo: a burguesia e o proletariado (MARX & ENGELS, 1998). Para eles, esta relação directa entre proprietários não produtores e não proprietários produtores é fundamental para a constituição do proletariado em classe.

Portanto, na luta de classes na França em Karl Marx são descritos quatro (4) momentos que descreveremos a seguir:

a. A derrota de Junho de 1848

Na vertente da derrota de Junho de 1848, aponta-se segundo MARX (2012) que a pequena burguesia em todos os seus matizes, assim como a classe camponesa, havia sido totalmente excluída do poder político. Por fim, na oposição oficial ou inteiramente fora do círculo das pessoas com direito a voto, estavam os representantes ideológicos e porta-vozes das classes mencionadas, seus literatos, advogados, médicos etc., em suma, suas assim chamadas capacidades.

Devido ao aperto financeiro em que se encontrava, a monarquia de Julho de antemão era dependente da alta burguesia, e sua dependência da alta burguesia tornou-se fonte inesgotável de um aperto financeiro crescente.
A classe dominante explorava a construção das ferrovias da mesma forma que fazia com os gastos públicos em geral e com os empréstimos estatais.

Os representantes da classe operária foram banidos da sede do governo provisório, a sua porção burguesa manteve o poder real do Estado e as rédeas da administração exclusivamente nas suas mãos e, ao lado dos ministérios das finanças, do comércio, dos serviços públicos, ao lado do banco e da bolsa, levantou-se uma sinagoga socialista, cujos sumos sacerdotes, Louis Blanc e Albert, estavam incumbidos de descobrir a terra prometida, anunciar o novo evangelho e dar trabalho ao proletariado parisiense. 
Os trabalhadores haviam feito a Revolução de Fevereiro junto com a burguesia, mas procuraram impor seus interesses ao lado da burguesia, assim como haviam instalado, no próprio governo provisório, um trabalhador ao lado da maioria burguesa.

b. O dia 13 de Junho de 1849

Neste momento o nome em destaque é do programa Napoleão. Napoleão significou o domínio do devedor sobre o credor. Nesta etapa da luta de classe, para a maioria da grande burguesia, a eleição de Napoleão foi uma ruptura franca com a facção da qual ela teve de valer-se por um momento contra a revolução, mas que se tornara insuportável para ela assim que procurou consolidar uma postura momentânea como postura constitucional. 

Napoleão no lugar de Cavaignac representou, para eles, a monarquia no lugar da república, o início da restauração monarquista, o Orléans timidamente sugerido, o lírio escondido entre violetas (MARX, 2012).

A grande retirada de 13 de Junho só foi posta na sombra pelo relato ainda mais bombástico da batalha por Changarnier, o grande homem que o Partido da Ordem conseguiu improvisar.

Em Junho de 1849, não foram derrotados os trabalhadores, mas abatidos os pequeno-burgueses, que estavam entre eles e a revolução. O mês de Junho de 1849 não foi a tragédia sangrenta entre o trabalho assalariado e o capital, mas o espectáculo lamentável e rico em prisões promovido por devedores e credores. O Partido da Ordem vencera; ele era omnipotente e tinha de mostrar a sua verdadeira cara.

c. Decorrências do 13 de Junho de 1849

A Rússia invadiu a Hungria, a Prússia marchou contra o exército que lutava pela Constituição do Reich e Oudinot bombardeou Roma. A crise europeia, pelo visto, encaminhava-se para um ponto de inflexão decisivo, os olhos de toda a Europa estavam voltados para Paris, e os olhos de toda Paris, para a Assembleia Legislativa.

No dia 12 de Junho, o próprio ministro Lacrosse apresentou a moção na Assembleia Legislativa de passar imediatamente à discussão do pedido de impeachment. Durante a noite, o governo havia tomado todas as providências para a defesa e o ataque; a maioria da Assembleia Nacional estava decidida a levar a minoria rebelde para as ruas; a própria minoria não podia mais recuar; os dados haviam sido lançados; 377 votos contra 8 rejeitaram o pedido de impedimento; a Montanha, que se abstivera da votação, desmoronou estrepitosamente nos salões de propaganda da “democracia pacífica”, ou seja, nas salas de redacção da Démocratie Pacifique.

d. A revogação do sufrágio universal em 1850

Segundo Marx, nesta fase, as indústrias parisienses estavam com capacidade plena e também as fábricas de algodão de Rouen e Mulhausen funcionavam bastante bem, embora nessas últimas os preços elevados da matéria-prima tivessem, como na Inglaterra, um efeito inibidor.

O sufrágio universal havia cumprido a sua missão. A maioria do povo havia passado pela escola do desenvolvimento, que tinha utilidade para o sufrágio universal somente em uma época revolucionária. Ele tinha de ser eliminado por uma revolução ou pela reacção e Bonaparte já vinha se vingando de Changarnier há algum tempo, ao induzir o ministro da guerra a provocar controvérsias em torno de questões disciplinares com o seu incómodo protector.
Na crítica sobre a religião, Marx afirma que “A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.”

4. Conclusões

Chegado a esse ponto, podemos tecer algumas ilações daquilo que foi a nossa compreensão sobre a luta de classe em Karl Marx. 

Às análises apresentadas até o momento fazem-nos acreditar que as classes são grandes grupos de pessoas que se distinguem umas das outras principalmente pelo facto de possuírem ou não meios de produção. Neste sentido, os possuidores dos meios de produção exploram aqueles que não possuem quaisquer meios de produção. 

Em Marx a luta de classes é, portanto, um fenómeno regido por leis sociais historicamente determinadas e as classes assim como a luta de classes é apenas um resultado que tem a ver com as questões económicas, sociais e históricas. Enfim, enquanto a posição económica dos homens for de forma a permitir que uma minoria se aproprie gratuitamente de grande parte do que é produzido pela maioria trabalhadora, é inevitável a divisão da sociedade em classes, e os homens pertencerão às classes de exploradores ou de explorados, quer queiram quer não, é o mundo que se vive agora.


5. Referências

MACHADO, E. Proletariado e Luta de Classes em Marx e Engels. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, Julho 2011.

MARX, K. As lutas de classes na França de 1848 a 1850. Tradução: Nélio Schneider. 1.ed. - São Paulo: Boitempo, 2012. il. (Colecção Marx-Engels). 157p.

MARX, K. & ENGELS, F. O manifesto do partido comunista. In: COGGIOLA, O. (org.). Manifesto do partido comunista – Karl Marx e Friedrich Engels. São Paulo: Boitempo, 1998.


MILIBAND, R. Marxismo e política. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Passos para a elaboração da monografia cientifica


1. Introdução

Tomando-se por base a elaboração de uma monografia, é necessário antes de mais perceber o que é realmente uma monografia. Para tal, vou aqui buscar algumas definições sobre o assunto, a saber:

De acordo com a Universidade Pedagógica de Moçambique (2009, p.5-6) monografia científica é um documento que representa o resultado de um trabalho científico que aborda um problema de pesquisa, devidamente delimitado e desenvolvido com uma atitude científica. Entretanto, esta mesma monografia deve ser feita sob a orientação de um supervisor, pois visa a obtenção do grau de Licenciatura.

Já a Universidade Federal do Paraná (2002, p.2) entende o termo Monografia como a exposição exaustiva de um problema ou assunto específico, investigado cientificamente. Para esta entidade, o trabalho de pesquisa pode ser denominado monografia quando é apresentado como requisito parcial para a conclusão de curso.
Por meio dessas duas definições, é possível notar uma convergência: “problema específico” que deve ser focalizado na monografia, ou seja, uma monografia requer um estudo teórico sobre um tema específico (ou único), que deve permear todo o trabalho.

Em suma, caro leitor, a monografia é apenas o resultado de um estudo profundo sobre um assunto visto pelo estudante como sendo de interesse pessoal, até social, sendo o seu meio (ou forma) de registo dos resultados obtidos.

2. Fundamentos da monografia

Companheiro, você ao elaborar a sua monografia, terás como ponto de partida seleccionar o fenómeno (assunto) a ser investigado. Assunto a ser investigado é nada mais nada menos que uma situação particular que ainda não está amplamente resolvida, ou sistematizada pelo conhecimento científico. Ou seja, o seu tema deve constituir-se uma novidade a nível académico e social, pois quando o tema não constitui uma novidade, não terá muita relevância e não vai conquistar o público leitor.

O autor, no processo da elaboração da sua monografia não se deve esquecer que o assunto a ser pesquisado, traduz-se, em questionamentos ou, como referem Adami e Serralvo (2013) que se denomina em “problema da pesquisa”. Assim, o problema da pesquisa é expresso por uma pergunta, em geral chamada de “pergunta de partida”. É a partir da delimitação do assunto a ser estudado que se elabora a pergunta de partida e, sobre a qual, o trabalho será desenvolvido, mas essa questão vamos explicar melhor a seguir.

3. Estrutura da monografia científica


Antes de apresentarmos a estrutura completa de uma monografia cientifica, vemos que é importante ter-se uma visão geral do que realmente se trata quando falamos de um trabalho de monografia. Apresento a seguir a tabela 1 que apresenta de forma sumária os pontos centrais de uma monografia.

Problema
Objectivos da pesquisa
Revisão teórica
Trabalho empírico/trabalho de campo
resultados
Objecto de estudo
Procedimentos metodológicos



3.1. Problema

O problema de pesquisa é aquilo que incomoda o autor da monografia. Neste ponto, deve-se situar o problema de forma a ser mais claro e perceptível. Caro estudante, descrever um problema de pesquisa tem dois (2) momentos:

O primeiro momento é onde você descreve o problema no seu todo, você deve descrever o que está a acontecer ou o que acontece e o que deveria ser. Neste ponto, temos apenas estas duas situações e que as mesmas devem estar bem claras.

O segundo momento é onde você formula a sua indagação de pesquisa, isto é, a pergunta de partida, que deve estar espelhada com o tema e o problema que você descreve, sem, no entanto, haver discrepâncias. Portanto, no problema de pesquisa você descreve o “O quê?”.

Conforme referimos antes, o problema da pesquisa é expresso por uma pergunta, em geral chamada de “pergunta de partida”. É a partir da delimitação do assunto a ser estudado que se elabora a pergunta de partida e, sobre a qual, o trabalho será desenvolvido.

Exemplo de um tema e sua pergunta de partida:

Imaginemos que você como estudante, pretende falar da “Importância da propaganda nas vias públicas para a expansão dos negócios”.
A sua pergunta de partida, pelo menos poderia ser: Qual é a importância da propaganda nas vias públicas para a expansão dos negócios?
Neste sentido, o a ser investigado é o “papel da propaganda nas vias públicas”.

3.2. Justificativa

Na justificativa você apresenta os motivos da escolha do tema, você explica as razoes que te levaram a escolher o tema. Portanto, neste ponto, diz-se a relevância da pesquisa para si e para a sociedade. Por exemplo, no casamento nós podemos dizer os motivos do porquê nos casamos com uma certa pessoa, alguns podem dizer que me casei com ele/ela porque é uma pessoa amorosa/o, amistosa/o, sensível, sensata/o. Outros casam-se pela atracção de beleza da pessoa. 
Então, a justificativa vai por esse caminho, você descreve o “Porquê?”.
Portanto, “procura-se aqui demonstrar a legitimidade, a pertinência, o interesse e a capacidade do aluno em lidar com o referido tema” (Cervo & Bervian, 2002, p. 127).

Para Lakatos e Marconi (1992), é a parte do trabalho que apresenta respostas à questão do porquê da realização da pesquisa.  É de suma importância para conseguir financiamento para a pesquisa e para demonstrar a relevância da mesma.

3.3. Objectivos do trabalho

Apresentado a justificativa do tema, devem-se estabelecer os objectivos do trabalho (geral e específicos).

Neste campo, você define os seus objectivos da pesquisa. Lembrar que os objectivos obedecem dois (2) momentos.

O primeiro momento é onde você define o objectivo geral, que sempre é apenas um. Nesta parte, deves prestar atenção em relação aos verbos usados para elaborar o objectivo geral. Abaixo colocamos alguns verbos usados para elaboração de objectivos gerais:

Analisar; compreender; conhecer; aprender; distinguir; avaliar, etc.

O segundo momento você define os objectivos específicos, que geralmente devem ser três (3) no máximo, e em alguns casos, podem ser quatro (4) sem, no entanto, exceder esse limite. É importante lembrar que objectivos de uma monografia são diferentes de objectivos de uma unidade temática, pois nestes casos, os objectivos são muitos, enquanto na monografia há limites. Abaixo colocamos alguns verbos usados para elaboração de objectivos específicos:
Identificar, descrever, indicar, propor, discriminar, demonstrar, inferir, explicar, estabelecer, etc.

Portanto, nos objectivos da monografia, responde-se à pergunta do tipo “Para quê?”.

É preciso prestar atenção ao definir os objectivos, pois estes devem estar espelhados com o tema e a pergunta de partida. E referir ainda que os objectivos específicos são muitas vezes usados na revisão de literatura, ou seja, os objectivos específicos são transformados em títulos que farão parte da revisão de literatura.

É importante lembrar que os objectivos são a projecção dos resultados esperados. Após a determinação dos objectivos, deve-se verificar a teoria de base que melhor se adeqúe à investigação proposta.

3.4. Questões de pesquisa e Hipóteses

Dependendo da abordagem da pesquisa, o autor da monografia pode escolher entre questões de pesquisa e hipóteses. Tem se dito que para trabalhos de natureza qualitativa, é mais aconselhável o uso de perguntas de pesquisa, e para trabalhos cujo o cunho é quantitativo ou misto, recomenda-se o uso das hipóteses, mas a escolha depende de cada autor e tipo de fenómeno a ser investigado.

3.4.1. Questões de pesquisa

Relativamente as questões de pesquisa são aquelas elaboradas a partir dos objectivos específicos. Estas deverão nortear o trabalho empírico (trabalho de campo). Aqui, responde-se à pergunta relacionada ao “O quê?”

3.4.2. Hipóteses

Quanto as hipóteses, conforme referimos antes que dependendo do tipo de abordagem que a pessoa vai escolher, pode ser necessário o uso das “hipóteses”. Outros casos, as pessoas substituem questões de pesquisa por hipóteses. Contudo, hipótese é uma proposição que pode ser colocada à prova para determinar sua validade.

Para Rudio (1980), hipótese é uma suposição que se faz na tentativa de explicar o que se desconhece. Esta suposição tem por característica o facto de ser provisória, devendo, portanto, ser testada para a verificação de sua validade. Trata-se de antecipar um conhecimento na expectativa de que possa ser comprovado.

Neste sentido, hipótese é uma suposta resposta ao problema a ser investigado. A origem das hipóteses poderia estar na observação assistemática dos factos, nos resultados de outras pesquisas, nas teorias existentes, ou na simples intuição (Gil, 1999).

3.5. Revisão de teórica

A revisão teórica que também é denominada de teoria de base deve centrar-se em autores aceitos pelo meio académico. Neste ponto, caro estudante, você traz à tona os vários autores que abordam o fenómeno que trazes, devem ser autores que abordam detalhadamente o assunto que norteia a sua pesquisa.

Segundo Oliveira (2011) esta seção deve conter o levantamento bibliográfico preliminar que dará suporte e fundamentação teórica ao estudo. Mas, atenção, não se trata de uma relação de referências bibliográficas (nomes de livros, artigos e autores), nem de um “glossário” com vários conceitos. Por isto, é fundamental que o (a) autor (a) cite os principais conceitos relacionados ao trabalho, de modo dissertativo, mostrando as relações entre os mesmos.

Você como autor da pesquisa, tem de procurar dar início à construção da moldura conceptual sobre o tema que será pesquisado, mostrando ligações entre a bibliografia a ser pesquisada e a situação problema que se pretende solucionar. Mencione, com citações directas ou indirectas, e discuta pelo menos um estudo que tenha relação com o tema que você pretende desenvolver.

Em princípio, eu penso que a revisão de literatura é baseada nos objectivos específicos, isto é, o autor deve transformar os objectivos específicos em subtítulos.

3.6. Metodologia

Como se tem definido muitas vezes, a metodologia é o caminho usado para atingir um determinado objectivo. Ela deve apresentar como se pretende realizar a investigação.
Entretanto, nesta seção, o (a) autor (a) deverá descrever a classificação quanto aos objectivos da pesquisa, a natureza da pesquisa, a escolha do objecto de estudo, técnica de colecta e a técnica de análise de dados.

Segundo Oliveira (2011) a descrição deverá ser feita em forma dissertativa, onde caro autor (a) poderá usar principalmente livros e artigos de metodologia científica para explicar o que significa uma pesquisa descritiva, por exemplo. Todavia, em seguida deverá explicar com suas palavras porque a pesquisa pode ser classificada como descritiva. Da mesma forma deve ser feito com as outras escolhas metodológicas.

Como se pode ver, a metodologia é, portanto, o conjunto de meios (procedimentos) possíveis à disposição de um campo de conhecimentos. Isto quer dizer que esses procedimentos são pré-determinados pelo campo científico para a realização dos trabalhos de investigação académica.

Vamos agora explicar detalhadamente porque é que tens que fazer a classificação quanto aos objectivos da pesquisa, a natureza da pesquisa, a escolha do objecto de estudo, técnica de colecta e a técnica de análise de dados.

3.6.1. Classificação quanto aos objectivos da pesquisa

Quanto aos objectivos da pesquisa, segundo Oliveira (2011) a pesquisa pode ser, Descritiva, Exploratória, Explicativa e Exploratório-descritiva.

Então, caro autor (a), a pesquisa exploratória é destinada a buscar maiores informações sobre assuntos ainda incipientes ou pouco estudados. Dos tipos de pesquisa exploratória a mais usual é o estudo de caso (verificação da aplicação em determinada situação das teorias investigadas).

A pesquisa explicativa segundo Gil (1999), tem como objectivo básico a identificação dos factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenómeno. Esta é tida como o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois tenta explicar a razão e as relações de causa e efeito dos fenómenos a serem investigados.

A pesquisa descritiva segundo Gil (1999), tem como finalidade principal a descrição das características de determinada população ou fenómeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma das suas características mais significativas aparece na utilização de técnicas padronizadas de colecta de dados.

3.6.2. Classificação quanto a natureza da pesquisa

Quanto a natureza as pesquisas científicas podem ser classificadas em dois tipos básicos: qualitativa e quantitativa e um misto dos dois tipos, isto é, quando engloba a pesquisa qualitativa-quantitativa.

A pesquisa qualitativa é mais adequada para se levantar informações do tipo comportamentais. Nas pesquisas qualitativas, as formas mais usuais são as entrevistas em profundidade e os grupos de foco. De referir ainda mais que esse tipo de pesquisa procura captar não só a aparência do fenómeno como também suas essências, procurando explicar sua origem, relações e mudanças, e tentando intuir as consequências.

A pesquisa quantitativa segundo Mattar (2001), busca fazer a validação das hipóteses mediante a utilização de dados estruturados, estatísticos, com análise de um grande número de casos representativos, recomendando um curso final da acção. Na pesquisa quantitativa, a determinação da composição e do tamanho da amostra é um processo no qual a estatística tornou-se o meio principal. As respostas de alguns problemas podem ser inferidas para o todo, então, aconselha-se que a amostra seja muito bem definida; caso contrário, podem surgir problemas ao se utilizar a solução para o todo (Malhotra, 2001).

Já para a pesquisa qualitativa-quantitativa (ou mista) é aquela que engloba as duas abordagens, isto é, a qualitativa e quantitativa.

3.6.3. Classificação quanto a escolha do objecto de estudo

Segundo Oliveira (2011) quanto à escolha do objecto de estudo, as pesquisas podem ser classificadas em: estudo de caso único, estudo de casos múltiplos, estudos censitários ou estudos por amostragem. As amostragens se dividem em dois tipos: probabilística e não probabilística.

“Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p. 33).

O estudo de casos múltiplos, segundo Yin (2001), tem provas mais convincentes, sendo visto como mais robusto. No entanto, o autor alerta para as maiores exigências de tempo e de recursos.

Os estudos censitários são feitos por meio da realização de um censo ou extraindo uma amostra. O censo envolve a enumeração completa dos elementos de uma população. É uma técnica indicada para populações pequenas, quando há poucos recursos (humanos ou financeiros) disponíveis ou é impraticável a sua realização.

Estudos por amostragem é segundo Malhotra (2001) usado para populações infinitas. Neste tipo de estudo, “amostra” é um subgrupo de uma população, constituído de n unidades de observação e que deve ter as mesmas características da população, seleccionadas para participação no estudo. Assim, o tamanho da amostra a ser retirada da população é aquele que minimiza os custos de amostragem e pode ser com ou sem reposição.

3.6.4. Classificação quanto à técnica de colecta de dados

O autor de uma monografia cientifica, ao fazer o seu trabalho de campo, dito ainda de estudo empírico utiliza as técnicas de colecta de dados que são um conjunto de regras, ou seja, corresponde à parte prática da colecta de dados (Lakatos & Marconi, 2001).

Entretanto, durante a colecta de dados, o autor da pesquisa poderá empregar diferentes técnicas, nomeadamente: Entrevista, Questionário, Observação, Pesquisa documental, Pesquisa bibliográfica, Pesquisa, Triangulação, Pesquisa-acção e Experimento.

Mas as técnicas mais utilizadas são: a entrevista, o questionário, a observação e a pesquisa documental.

A entrevista é segundo Cervo e Bervian (2002), uma das principais técnicas de colectas de dados e pode ser definida como conversa realizada face-a-face pelo pesquisador junto ao entrevistado, seguindo um método para se obter informações sobre determinado assunto.

As entrevistas podem ser classificadas em três tipos principais: entrevistas estruturadas ou padronizadas, não estruturadas ou despadronizadas, semiestruturadas ou semi-padronizadas. O tipo mais usual de entrevista é a semiestruturada, feita por meio de um roteiro de entrevista (Laville & Dionne, 1999).

Quanto ao questionário segundo Cervo e Bervian (2002, p.48), “[...] refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche”. Ele pode conter perguntas abertas e/ou fechadas. As abertas possibilitam respostas mais ricas e variadas e as fechadas maior facilidade na tabulação e análise dos dados.

3.6.5. Classificação quanto a técnica de análise de dados

Quanto a análise de dados, a pesquisa pode ter as seguintes técnicas de análise de dados: Análise de conteúdo; Estatística descritiva; Estatística multivariada; Triangulação na análise apresentação e análise dos resultados.

3.7. Apresentação e análise dos resultados

Caro autor (a), este tópico é um dos mais importantes do seu trabalho, pois, aqui serão descritos todos os resultados encontrados na pesquisa empírica, isto é, neste tópico você descreve aqueles dados recolhidos no campo de pesquisa por meio das técnicas anteriormente citadas: a entrevista, questionário, observação, pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, pesquisa, triangulação, pesquisa-acção e experimento.

Normalmente esta sessão pode ser divida didacticamente em duas partes, em que na primeira parte faz-se a apresentação dos resultados e na segunda parte faz-se a discussão dos resultados. Mas na prática elas se misturam, pois é melhor assim e fica mais perceptível apresentar o resultado recolhido e depois fazer a sua análise.

De referir que a descrição dos dados pode ter apoio de recursos estatísticos, tabelas e gráficos, elaborados no decorrer da tabulação dos dados, assim como quadros que apresentem a síntese da descrição dos resultados. Ou ainda, pode-se fazer a descrição das respostas, se no caso, o autor tiver usado a entrevista.

Mas segundo Oliveira (2011) aponta que no caso de se utilizar questionário, pode-se descrever a frequência, as percentagens, as médias e os desvios padrão das respostas ou valer-se de gráficos para descrever as respostas.  No caso de entrevistas, descrever as categorias de respostas que apareceram, conforme referimos antes.

É também importante que os resultados sejam descritos por meio de texto também, não apenas a partir de gráficos e tabelas. Esses recursos facilitam a compreensão dos dados obtidos, mas não substituem a redacção escrita dos resultados. Sendo assim, o autor do trabalho deve redigir um texto de apresentação dos resultados, podendo fazer uso de recursos para facilitar e ilustrar este processo.

Ao fazer análise dos resultados apresentados, o (a) pesquisador (a) deve elaborar a sua análise a partir dos resultados alcançados e com base na revisão bibliográfica. Deve-se chamar a atenção para aspectos novos e interessantes que apareceram. Discutir resultados significa analisá-los, confrontando-os com pesquisas anteriores, significa também dar significado as respostas fornecidas pelos pesquisados. Muitas a literatura usada na revisão literária deve ser a mesma a ser usada na análise dos resultados para não enviesar os dados, isto é, não seria bom na análise dos dados referenciar autores que não foram referenciados na revisão literária.

Portanto, todos os resultados descritos devem ser analisados, discutidos à luz da literatura revisada.

3.8. Conclusão

Por fim, os resultados deverão representar a parte final do trabalho, a conclusão, onde se retomam os objectivos e procede-se à discussão final dos pontos alcançados pelo trabalho. O número total da monografia varia de instituição para instituição, mas existem bons trabalhos desde sessenta páginas até trabalhos com mais de cento e vinte páginas, pois tudo depende do tema escolhido, da problematização realizada e dos objectivos formulados, e olhe que quanto mais complexo for o trabalho, maior será a sua extensão.

3.9. Referências

Caro leitor, referências bibliográficas é o conjunto de elementos que identificam as obras consultadas e/ou citadas no texto. Elas devem ser apresentadas numa única ordem alfabética, independentemente do suporte físico (livros, periódicos, publicações electrónicas ou materiais audiovisuais) alinhadas somente à esquerda, em espaço simples, e espaço duplo entre elas.

3.10. Apêndices
Segundo Adami e Serralvo (2013) apêndices refere-se a todo material complementar, produzido pelo autor do trabalho. São exemplos de material a ser incluído no Apêndice: transcrição completa de entrevistas, gráficos, quadros e tabelas (não inseridos no corpo do trabalho), entre outros.

3.11. Anexos

É a parte do trabalho destinada a inclusão de todo material adicional ao texto principal, que possa auxiliar o leitor na compreensão do trabalho e que não foram produzidos pelo autor. habitualmente anexam-se ao trabalho exemplares de catálogos de imagens, folhetos de especificações técnicas, entre outros.

3.12. Referências bibliográficas

Cervo, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

Lakatos, E. M. & Marconi, M. A. Metodologia do trabalho científico. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1992.

___________________________. Fundamentos metodologia científica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Laville, C. & Dionne, J.  A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

Malhotra, N. Pesquisa de marketing. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Mattar, F. N. Pesquisa de marketing. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Oliveira, M. F. de. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em administração. Catalão: UFG, 2011. 72 p.

Rudio, F. V. Introdução ao projecto de pesquisa cientifica. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1980.

Serralvo, F. & Adami, B. Orientações gerais para elaboração do trabalho de monografia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013.

Universidade Pedagógica de Moçambique. Normas para Produção e Publicação de Trabalhos Científicos na Universidade Pedagógica. Comissão de Revisão Curricular Central. Maputo, Janeiro de 2009.

Yin, R. K.  Estudo de caso: planeamento e métodos. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.