quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Educação de Adultos e Projectos Comunitários


1. Introdução

Pensamento e linguagem comum são dois processos interligados. E embora explicitem significativas divergências entre si, um factor comum pode ser identificado em suas concepções relativas ao desenvolvimento cognitivo (pensamento e linguagem), que é a importância das acções exercidas e/ou “sofridas” por um indivíduo em relação a si mesmo e ao contexto em que vive, e o impacto de tais acções no curso do desenvolvimento de processos psicológicos básicos (atenção, memória, pensamento, linguagem), e em todo o processo do desenvolvimento humano.
Tendo em vista esse panorama geral concernente aos processos de linguagem e pensamento, importa ressaltar que este trabalho tem como objectivo abordar a questão da linguagem e pensamento comum a partir de uma breve revisão de literatura sobre os referidos processos em alguns textos originais e/ou traduzidos de cada um dos autores citados, a fim de explicitar aspectos essencialmente humanos como o uso e o domínio de um sistema linguístico em actos de pensamento e fala ou em actos de significação.

1.1. Objectivos do Trabalho

Geral
Ø  Conhecer as manifestações da linguagem e do pensamento comum.
Específicos
Ø  Explicar a forma do funcionamento da linguagem;
Ø  Identificar a importância da linguagem para as pessoas;
Ø  Indicar os tipos de pensamento.

1.2. Metodologia

Para a realização do trabalho, o grupo optou por fazer uma pesquisa bibliográfica com objectivo de fazer uma revisão da literatura sobre o tema em questão através da leitura de alguns livros e artigos.

2. Linguagem

De acordo com Atkinson, Atkinson, Smith, Bem e Nolen-Hoeksema (2002) a linguagem é o uso organizado e combinado de palavras para fins de comunicação, principalmente, do pensamento. Para o autor, a linguagem tem carácter universal, pertence à espécie humana, o que possibilita que as pessoas sejam capazes de dominar e usar um sistema linguístico bastante complexo.
A utilização da linguagem possui dois aspectos: um de produção e um de compreensão. Produzir linguagem significa partir de um pensamento que de alguma maneira é traduzido numa oração e expressado através de sons. Compreender parte da audição de sons, atrelar significado a estes sons na forma de palavras que consistem na criação de uma oração para posteriormente extrairmos significados dela. Ambos aspectos compõem o processo de aquisição da linguagem e apresentam os níveis da sintaxe, da semântica e da fonologia, que envolvem, respectivamente, as unidades de oração, a transmissão de significados e os sons da fala (ATKINSON et al, 2002).
Contudo, é importante salientar que a linguagem não consiste apenas na comunicação e transmissão de ideias pelas palavras, que são cruciais no desenvolvimento cognitivo, mas também na comunicação não-verbal, isto é, em gestos e as acções, movimentos que expressam emoções sociais (PAPALIA & OLDS, 2000).
Para Piaget (1967), a linguagem não é suficiente para explicar o pensamento, uma vez que o mesmo tem raízes na acção e nos mecanismos sensório-motor, os quais, para o autor, são mais significativos que o factor linguístico.
Porém, [...] não é menos evidente que quanto mais refinadas as estruturas do pensamento, mais a linguagem será necessária para complementar a elaboração delas. A linguagem, portanto, é condição necessária, mas não suficiente para a construção de operações lógicas. Ela é necessária, pois sem o sistema de expressão simbólica que constitui a linguagem, as operações permaneceriam no estado de acções sucessivas, sem jamais se integrar em sistemas simultâneos ou que contivessem, ao mesmo tempo, um conjunto de transformações solidárias. Por outro lado, sem a linguagem as operações permaneceriam individuais e ignorariam, em consequência, esta regularização que resulta da troca individual e da cooperação (PIAGET, 1967:92).
[...] a linguagem humana, sistema simbólico fundamental na medição entre sujeito e objecto de conhecimento, tem, para Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem. Ao utilizar a linguagem para nomear determinado objecto estamos, na verdade, classificando esse objecto numa categoria, numa classe de objectos que têm em comum certos atributos. A utilização da linguagem favorece, assim, processos de abstracção e generalização (OLIVEIRA, 1992:27).
Ao considerar que a linguagem consiste num sistema simbólico que estabelece mediação entre o sujeito e seu objecto de conhecimento, Oliveira (1992), ao citar Vygotsky, afirma que as palavras, enquanto signos mediadores das relações do indivíduo com o mundo, são generalizações. Cada palavra refere-se a uma classe de objectos, constitui-se num signo e numa forma de representação da categoria de objectos e de conceitos.
A linguagem é um produto social e o pensamento comum modela-se sob a sua influência constante; fornece-lhe uma grande quantidade de matrizes gerais inteiramente prontas; são as palavras que permitem classificar rapidamente as sensações novas e, com a ajuda da sintaxe, pô-las em relação com as antigas.
A linguagem permite generalizar facilmente observações particulares, porque as palavras são veículos de ideias gerais, conceitos universais. Pode dizer-se que ela transmite os resultados das observações e do enorme trabalho mental das gerações que presidiram à sua formação.
Assim, a linguagem tende a diminuir o carácter subjectivo do conhecimento comum, ao fazer participar o indivíduo nos modos de pensar de um meio social extenso, no seio do qual os indivíduos controlam reciprocamente os seus conhecimentos, ao comunicá-los (retirado em: <https://uminstante.wordpress.com/2010/10/26/o-pensamento-comum/> no dia 17/08/2016 às 09h e 22 minutos).

3. Pensamento

Em sentido lato o pensamento corresponde a toda sucessão de ideias ou actividade ideativa, iniciada por um problema e destinada à resolução do mesmo. Através dele orientamos e integramos todos os conteúdos imaginativos e outros dados do nosso conhecimento em juízos e conceitos significativos, concretos ou abstractos (CARDOSO, 2007).
Pensar significa: manter-se aberto às questões e às informações. Tentar compreender, tornar presente, entender significados, ligá-los entre si e dotá-los de sentido, adoptar decisões e formular juízos (CARDOSO, 2007).
Em resumo, pensar, significa ordenar factos relativos a nós próprios e ao nosso mundo.
Com a linguagem veiculamos e exprimimos o pensamento. Através do diálogo exploramo-lo em termos de forma e de conteúdo.

3.1. Tipos de Pensamento

Pensamento artístico (devaneio, sonho acordado) é a forma menos controlada do pensamento. É fantasista, não dirigido. Pertence à vida psicológica normal se não for excessivo.
Pensamento concreto
Nesta forma há manipulação de operações lógicas, embora sempre dependentes de operações concretas.
Pensamento abstracto (conceptual ou formal)
Baseia-se na abstracção. Desenvolve-se através da generalização a partir do particular.
Pensamento mágico
É normal nas crianças que acreditam que os objectos se poderão conformar aos seus desejos. Esta forma de pensar é mais tarde “cortada” pela realidade. Porém, em certas circunstâncias, normais ou anormais, o pensamento mágico pode regressar na vida adulta (CARDOSO, 2007).

3.2. Pensamento Comum (Espontâneo)

Segundo Olivier (2006) diz que o pensamento comum é o conhecimento que recebemos de uma geração para outra, e que nasce do esforço que os seres humanos fazem normalmente para resolver os problemas práticos e imediatos que surgem no dia-a-dia. Por exemplo, formas de organizar a vida comunitária, formas de sobreviver frente ao clima e frente à natureza, como fazer habitação, vestuário, plantio, colheita, conservação de produtos, alimentação, cuidado com saúde, e, mais recentemente, uso da técnica etc.
No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e actuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “embetuma” (RODRIGUES, s/d).
Como aprenderam estas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade.
Assim, se o conhecimento é produto de uma prática que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenómenos da natureza, etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experienciamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos; tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”. São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática (RODRIGUES, s/d).
Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida quotidiana. Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência quotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência científica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo quotidiano. Portanto, é também um saber ingénuo uma vez que não possui uma postura crítica (RODRIGUES, s/d).
Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com crítica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando-se um método, uma crítica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos (LARA,1983:56 citado por RODRIGUES, s/d).
Porém, é importante destacar que o pensamento comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são melhor educados (RODRIGUES, s/d).
O senso comum é ainda subjectivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo: a) se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade (RODRIGUES, s/d).
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como as ciências sociais.
Podemos assim caracterizar o pensamento comum como o conhecimento que:
Ø  Parte de analogias que muitas vezes nada têm de lógico;
Ø  Generaliza sem que as suas conclusões ou deduções possam ser consideradas correctas;
Ø  Apesar de ter um objectivo concreto, traduz um conjunto incompleto de actos de conhecimento;
Ø  Não aspira ao conhecimento universalmente válido nem atinge a realidade profunda das coisas.

3.3. Vantagens e Desvantagens do Pensamento Comum

Segundo Olivier (2006), como vantagens do senso comum, é que já se sabe que ele funciona, que dá certo. A desvantagem, que é algo “gritante” nos dias de hoje, é uma sociedade que não cria nada, que simplesmente aceita as coisas como são. Falta criatividade, falta questionamento ao povo.
Apesar das vantagens do senso comum, nomeadamente porque permite ao homem orientar-se no mundo, manejar as coisas e resolver os problemas mais prementes e imediatos do quotidiano, um conhecimento deste tipo apenas permite captar o “mundo da aparência” e não o “mundo real”. De facto, as ideias elementares e os juízos superficiais apenas permitem chegar à aparência das coisas; apenas as ideias abstractas e os juízos mais profundos permitem chegar à sua realidade. Avançar da aparência das coisas para a sua realidade constitui assim o grande objectivo do acto de conhecer. Se nós ficarmos pelo conhecimento das aparências (o nível do senso comum), o conhecimento será sempre imperfeito e incompleto.



4. Conclusões

Este trabalho debruçou-se sobre a linguagem e pensamento comum e do que foi descrito sobre a linguagem, o grupo percebeu e concluiu que a linguagem serve de veículo para a comunicação, isto na verdade dito por outras palavras quer dizer que a linguagem constitui um instrumento social usado em interacções visando à comunicação. Desta forma, deve ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um produto. Pode ser definida como um sistema convencional de símbolos arbitrários que são combinados de modo sistemático e orientado para armazenar e trocar informações. Ela ainda tem a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de facto ocupa na sociedade em que vive. Dessa forma, o processo linguístico tem o poder de revelar a origem social de um indivíduo, visto que um falante, ao se pronunciar, “denuncia” para o seu ouvinte sua escolaridade, origem ou, até mesmo, a que grupo social pertence.
Quanto ao pensamento comum, o grupo compreendeu que a expressão pensamento comum (também designado por senso comum ou por conhecimento vulgar) corresponde a um dos níveis de conhecimento e designa o conhecimento espontâneo que temos das coisas que nos rodeiam e das quais estamos próximos no nosso dia-a-dia. Este tipo de conhecimento é precisamente o resultado da familiaridade do indivíduo com uma realidade que enfrenta directamente e que permite pensamento comum. É geralmente muito superficial e com um forte cariz prático, sendo partilhado por todos numa determinada cultura e transmitido de forma acrítica de geração em geração.




5. Referência Bibliográfica

ATKINSON, R. L., ATKINSON, R. C., SMITH, E. E., BEM, D. J. & NOLEN-HOEKSEMA, S. (2002). Introdução à psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artmed.
CARDOSO, C. M. (2007). Psicopatologia Geral e Especial.
OLIVIER, A. C. (2006). Pensamento Filosófico: Uma maneira de Pensar o mundo. Disponível em: <http://bsideias.wordpress.com/2007/07/31/o-que-e-filosofia-e-pensamento-filosofico>
OLIVEIRA, M. K. (1992). Vygotsky e o processo de formação de conceitos. La Taille, Yves de.; Oliveira, Marta Khol de.; Dantas, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, p. 23-34.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. (2000). Desenvolvimento humano. 7. ed. Porto Alegre: Artmed.
PIAGET, J. (1967). Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.
RODRIGUES, R. (s/d). Senso comum e conhecimento científico.  
VYGOTSKY, L. S. (1998). Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes.

VYGOTSKY, L. S. (2007). A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.

Linguagem e Pensamento Comum (Senso Comum)


1. Introdução

Pensamento e linguagem comum são dois processos interligados. E embora explicitem significativas divergências entre si, um factor comum pode ser identificado em suas concepções relativas ao desenvolvimento cognitivo (pensamento e linguagem), que é a importância das acções exercidas e/ou “sofridas” por um indivíduo em relação a si mesmo e ao contexto em que vive, e o impacto de tais acções no curso do desenvolvimento de processos psicológicos básicos (atenção, memória, pensamento, linguagem), e em todo o processo do desenvolvimento humano.
Tendo em vista esse panorama geral concernente aos processos de linguagem e pensamento, importa ressaltar que este trabalho tem como objectivo abordar a questão da linguagem e pensamento comum a partir de uma breve revisão de literatura sobre os referidos processos em alguns textos originais e/ou traduzidos de cada um dos autores citados, a fim de explicitar aspectos essencialmente humanos como o uso e o domínio de um sistema linguístico em actos de pensamento e fala ou em actos de significação.

1.1. Objectivos do Trabalho

Geral
Ø  Conhecer as manifestações da linguagem e do pensamento comum.
Específicos
Ø  Explicar a forma do funcionamento da linguagem;
Ø  Identificar a importância da linguagem para as pessoas;
Ø  Indicar os tipos de pensamento.

1.2. Metodologia

Para a realização do trabalho, o grupo optou por fazer uma pesquisa bibliográfica com objectivo de fazer uma revisão da literatura sobre o tema em questão através da leitura de alguns livros e artigos.

2. Linguagem

De acordo com Atkinson, Atkinson, Smith, Bem e Nolen-Hoeksema (2002) a linguagem é o uso organizado e combinado de palavras para fins de comunicação, principalmente, do pensamento. Para o autor, a linguagem tem carácter universal, pertence à espécie humana, o que possibilita que as pessoas sejam capazes de dominar e usar um sistema linguístico bastante complexo.
A utilização da linguagem possui dois aspectos: um de produção e um de compreensão. Produzir linguagem significa partir de um pensamento que de alguma maneira é traduzido numa oração e expressado através de sons. Compreender parte da audição de sons, atrelar significado a estes sons na forma de palavras que consistem na criação de uma oração para posteriormente extrairmos significados dela. Ambos aspectos compõem o processo de aquisição da linguagem e apresentam os níveis da sintaxe, da semântica e da fonologia, que envolvem, respectivamente, as unidades de oração, a transmissão de significados e os sons da fala (ATKINSON et al, 2002).
Contudo, é importante salientar que a linguagem não consiste apenas na comunicação e transmissão de ideias pelas palavras, que são cruciais no desenvolvimento cognitivo, mas também na comunicação não-verbal, isto é, em gestos e as acções, movimentos que expressam emoções sociais (PAPALIA & OLDS, 2000).
Para Piaget (1967), a linguagem não é suficiente para explicar o pensamento, uma vez que o mesmo tem raízes na acção e nos mecanismos sensório-motor, os quais, para o autor, são mais significativos que o factor linguístico.
Porém, [...] não é menos evidente que quanto mais refinadas as estruturas do pensamento, mais a linguagem será necessária para complementar a elaboração delas. A linguagem, portanto, é condição necessária, mas não suficiente para a construção de operações lógicas. Ela é necessária, pois sem o sistema de expressão simbólica que constitui a linguagem, as operações permaneceriam no estado de acções sucessivas, sem jamais se integrar em sistemas simultâneos ou que contivessem, ao mesmo tempo, um conjunto de transformações solidárias. Por outro lado, sem a linguagem as operações permaneceriam individuais e ignorariam, em consequência, esta regularização que resulta da troca individual e da cooperação (PIAGET, 1967:92).
[...] a linguagem humana, sistema simbólico fundamental na medição entre sujeito e objecto de conhecimento, tem, para Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem. Ao utilizar a linguagem para nomear determinado objecto estamos, na verdade, classificando esse objecto numa categoria, numa classe de objectos que têm em comum certos atributos. A utilização da linguagem favorece, assim, processos de abstracção e generalização (OLIVEIRA, 1992:27).
Ao considerar que a linguagem consiste num sistema simbólico que estabelece mediação entre o sujeito e seu objecto de conhecimento, Oliveira (1992), ao citar Vygotsky, afirma que as palavras, enquanto signos mediadores das relações do indivíduo com o mundo, são generalizações. Cada palavra refere-se a uma classe de objectos, constitui-se num signo e numa forma de representação da categoria de objectos e de conceitos.
A linguagem é um produto social e o pensamento comum modela-se sob a sua influência constante; fornece-lhe uma grande quantidade de matrizes gerais inteiramente prontas; são as palavras que permitem classificar rapidamente as sensações novas e, com a ajuda da sintaxe, pô-las em relação com as antigas.
A linguagem permite generalizar facilmente observações particulares, porque as palavras são veículos de ideias gerais, conceitos universais. Pode dizer-se que ela transmite os resultados das observações e do enorme trabalho mental das gerações que presidiram à sua formação.
Assim, a linguagem tende a diminuir o carácter subjectivo do conhecimento comum, ao fazer participar o indivíduo nos modos de pensar de um meio social extenso, no seio do qual os indivíduos controlam reciprocamente os seus conhecimentos, ao comunicá-los (retirado em: <https://uminstante.wordpress.com/2010/10/26/o-pensamento-comum/> no dia 17/08/2016 às 09h e 22 minutos).

3. Pensamento

Em sentido lato o pensamento corresponde a toda sucessão de ideias ou actividade ideativa, iniciada por um problema e destinada à resolução do mesmo. Através dele orientamos e integramos todos os conteúdos imaginativos e outros dados do nosso conhecimento em juízos e conceitos significativos, concretos ou abstractos (CARDOSO, 2007).
Pensar significa: manter-se aberto às questões e às informações. Tentar compreender, tornar presente, entender significados, ligá-los entre si e dotá-los de sentido, adoptar decisões e formular juízos (CARDOSO, 2007).
Em resumo, pensar, significa ordenar factos relativos a nós próprios e ao nosso mundo.
Com a linguagem veiculamos e exprimimos o pensamento. Através do diálogo exploramo-lo em termos de forma e de conteúdo.

3.1. Tipos de Pensamento

Pensamento artístico (devaneio, sonho acordado) é a forma menos controlada do pensamento. É fantasista, não dirigido. Pertence à vida psicológica normal se não for excessivo.
Pensamento concreto
Nesta forma há manipulação de operações lógicas, embora sempre dependentes de operações concretas.
Pensamento abstracto (conceptual ou formal)
Baseia-se na abstracção. Desenvolve-se através da generalização a partir do particular.
Pensamento mágico
É normal nas crianças que acreditam que os objectos se poderão conformar aos seus desejos. Esta forma de pensar é mais tarde “cortada” pela realidade. Porém, em certas circunstâncias, normais ou anormais, o pensamento mágico pode regressar na vida adulta (CARDOSO, 2007).

3.2. Pensamento Comum (Espontâneo)

Segundo Olivier (2006) diz que o pensamento comum é o conhecimento que recebemos de uma geração para outra, e que nasce do esforço que os seres humanos fazem normalmente para resolver os problemas práticos e imediatos que surgem no dia-a-dia. Por exemplo, formas de organizar a vida comunitária, formas de sobreviver frente ao clima e frente à natureza, como fazer habitação, vestuário, plantio, colheita, conservação de produtos, alimentação, cuidado com saúde, e, mais recentemente, uso da técnica etc.
No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e actuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “embetuma” (RODRIGUES, s/d).
Como aprenderam estas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade.
Assim, se o conhecimento é produto de uma prática que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenómenos da natureza, etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experienciamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos; tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”. São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática (RODRIGUES, s/d).
Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida quotidiana. Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência quotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência científica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo quotidiano. Portanto, é também um saber ingénuo uma vez que não possui uma postura crítica (RODRIGUES, s/d).
Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com crítica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando-se um método, uma crítica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos (LARA,1983:56 citado por RODRIGUES, s/d).
Porém, é importante destacar que o pensamento comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são melhor educados (RODRIGUES, s/d).
O senso comum é ainda subjectivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo: a) se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade (RODRIGUES, s/d).
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como as ciências sociais.
Podemos assim caracterizar o pensamento comum como o conhecimento que:
Ø  Parte de analogias que muitas vezes nada têm de lógico;
Ø  Generaliza sem que as suas conclusões ou deduções possam ser consideradas correctas;
Ø  Apesar de ter um objectivo concreto, traduz um conjunto incompleto de actos de conhecimento;
Ø  Não aspira ao conhecimento universalmente válido nem atinge a realidade profunda das coisas.

3.3. Vantagens e Desvantagens do Pensamento Comum

Segundo Olivier (2006), como vantagens do senso comum, é que já se sabe que ele funciona, que dá certo. A desvantagem, que é algo “gritante” nos dias de hoje, é uma sociedade que não cria nada, que simplesmente aceita as coisas como são. Falta criatividade, falta questionamento ao povo.
Apesar das vantagens do senso comum, nomeadamente porque permite ao homem orientar-se no mundo, manejar as coisas e resolver os problemas mais prementes e imediatos do quotidiano, um conhecimento deste tipo apenas permite captar o “mundo da aparência” e não o “mundo real”. De facto, as ideias elementares e os juízos superficiais apenas permitem chegar à aparência das coisas; apenas as ideias abstractas e os juízos mais profundos permitem chegar à sua realidade. Avançar da aparência das coisas para a sua realidade constitui assim o grande objectivo do acto de conhecer. Se nós ficarmos pelo conhecimento das aparências (o nível do senso comum), o conhecimento será sempre imperfeito e incompleto.


4. Conclusões

Este trabalho debruçou-se sobre a linguagem e pensamento comum e do que foi descrito sobre a linguagem, o grupo percebeu e concluiu que a linguagem serve de veículo para a comunicação, isto na verdade dito por outras palavras quer dizer que a linguagem constitui um instrumento social usado em interacções visando à comunicação. Desta forma, deve ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um produto. Pode ser definida como um sistema convencional de símbolos arbitrários que são combinados de modo sistemático e orientado para armazenar e trocar informações. Ela ainda tem a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de facto ocupa na sociedade em que vive. Dessa forma, o processo linguístico tem o poder de revelar a origem social de um indivíduo, visto que um falante, ao se pronunciar, “denuncia” para o seu ouvinte sua escolaridade, origem ou, até mesmo, a que grupo social pertence.
Quanto ao pensamento comum, o grupo compreendeu que a expressão pensamento comum (também designado por senso comum ou por conhecimento vulgar) corresponde a um dos níveis de conhecimento e designa o conhecimento espontâneo que temos das coisas que nos rodeiam e das quais estamos próximos no nosso dia-a-dia. Este tipo de conhecimento é precisamente o resultado da familiaridade do indivíduo com uma realidade que enfrenta directamente e que permite pensamento comum. É geralmente muito superficial e com um forte cariz prático, sendo partilhado por todos numa determinada cultura e transmitido de forma acrítica de geração em geração.



5. Referência Bibliográfica

ATKINSON, R. L., ATKINSON, R. C., SMITH, E. E., BEM, D. J. & NOLEN-HOEKSEMA, S. (2002). Introdução à psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artmed.
CARDOSO, C. M. (2007). Psicopatologia Geral e Especial.
OLIVIER, A. C. (2006). Pensamento Filosófico: Uma maneira de Pensar o mundo. Disponível em: <http://bsideias.wordpress.com/2007/07/31/o-que-e-filosofia-e-pensamento-filosofico>
OLIVEIRA, M. K. (1992). Vygotsky e o processo de formação de conceitos. La Taille, Yves de.; Oliveira, Marta Khol de.; Dantas, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, p. 23-34.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. (2000). Desenvolvimento humano. 7. ed. Porto Alegre: Artmed.
PIAGET, J. (1967). Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária.
RODRIGUES, R. (s/d). Senso comum e conhecimento científico.  
VYGOTSKY, L. S. (1998). Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes.

VYGOTSKY, L. S. (2007). A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.

Perturbação do Espectro de Autismo



1. Introdução

Informações relativas a síndrome do autismo revelam que as primeiras referências científicas relativas a este problema devem-se ao pedopsiquiatra americano Leo Kanner (nascido na Áustria) e ao pediatra austríaco Hans Asperger, que, respectivamente em 1943 e 1944, descreveram uma doença infantil caracterizada, essencialmente, por uma perturbação na interacção social. Kanner, que trabalhava e publicava as suas investigações nos Estados Unidos, viu o seu trabalho ser reconhecido nas décadas de 50 e de 60. A Hans Asperger, que trabalhava em Viena e publicava em língua alemã, só lhe foi reconhecido o devido mérito no final da década de 80.
Após os trabalhos destes dois pediatras, foi possível identificar, retrospectivamente, em muitas obras literárias, descrições de pessoas que viveram há centenas de anos atrás e que, de acordo com as novas terminologias, preenchem os critérios de inclusão para o diagnóstico de Autismo.
Deste modo, o presente trabalho pretende desenvolver aspectos relacionados com a síndrome do autismo onde veremos alguns domínios e a metodologia usada para a realização do mesmo optou-se por fazer uma pesquisa bibliográfica com objectivos de recolher informações para o seu desenvolvimento.

1.1. Objectivos do trabalho

Geral
-        Conhecer as características da síndrome do autismo nas pessoas afectadas.
Específicos
-        Descrever os domínios e suas características;
-        Explicar as manifestações da síndrome do autismo nas pessoas afectadas.


2. Síndrome de Autismo

As perturbações do espectro do autismo constituem uma síndroma e, por essa razão, os indivíduos com perturbações do espectro do autismo podem evidenciar uma sintomatologia diversificada, associada a um diagnóstico de deficiência mental que pode ser moderada ou severa, daí apresentarem capacidades e funcionamentos distintos, pelo que se torna imperioso a realização de um diagnóstico diferenciado.
“O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que afecta múltiplos aspectos da forma como a criança vê o mundo e aprende a partir das suas próprias experiências” (SIEGEL, 2008:21).
O autismo é um atraso de desenvolvimento complexo que surge durante os primeiros três anos de vida e que interfere com o desenvolvimento normal do raciocínio, nas interacções sociais e nas capacidades de comunicação (PÉREZ, GONZÁLEZ, COMÍ e NIETO, 2007). Caracteriza-se por uma limitação generalizada em várias áreas, uma das quais implica níveis distintos de limitações qualitativas nas interacções sociais. Independentemente do nível de funcionamento cognitivo ou da idade cronológica, e à excepção de uma pequena minoria de crianças com autismo, esses défices ao nível da conduta social manifestam-se precocemente no desenvolvimento e permanecem como uma limitação ao longo da vida (Mcgovern & Sigman, 2005, citados por CUNNINGHAM, 2012). Faz parte de um grupo de perturbações colectivamente designadas por Perturbações Globais do Desenvolvimento.

3. Domínios e suas Características

3.1. Domínio Afectivo

A tese Kanner de que crianças com autismo sofreriam de uma inabilidade anata de se relacionarem emocionalmente com outras pessoas foi retomada por Hobson em 1993. A teoria afectiva sugere que o autismo se origina de uma disfunção primária do sistema afectivo, qual seja, uma inabilidade inata básica para interagir emocionalmente com os outros, o que levaria a uma falha no reconhecimento de estados mentais e a um prejuízo na habilidade para abstrair e simbolizar (Borges, 2000, Bosa &Callias, 2000; Lippi, 2005 citado por SANTOS & SOUSA, s/d).

3.2. Socialização

As relações sociais. Kanner (citado por FOLGADO, 2013) refere que constituem a característica mais marcante da síndrome autista, na medida em que é manifesta a incapacidade destas crianças para se relacionarem com pessoas e situações. Kanner destaca a extrema solidão que afecta estas crianças.
Características gerais neste domínio
(a) Acentuado défice no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contacto ocular, expressão facial, postura corporal e gestos reguladores de interacção social;
(b) incapacidade para desenvolver relações com os companheiros, adequadas ao nível do desenvolvimento;
(c) ausência da tendência espontânea para partilhar com os outros prazeres, interesses ou objectivos (por exemplo, não mostrar, trazer ou indicar objectos de interesse);
(d) falta de reciprocidade social ou emocional.
(e) incapacidade de usar de forma adequada o contacto ocular, as expressões faciais, a postura corporal e os gestos reguladores de interacção social;
(f) incapacidade para desenvolver (de forma adequada à idade mental e apesar de amplas oportunidades) relações com os pares que envolvam a partilha de interesses, de actividades e de emoções;
(g) raramente procura ou recorre a outras pessoas para receber conforto e afecto em momentos de tensão ou de angústia e/ou para oferecer conforto e afecto a outros, quando se mostram angustiados ou tristes;
(h) ausência de partilha de prazer, em termos de satisfação pela felicidade de outras pessoas e/ou procura espontânea de partilhar o seu próprio prazer através do envolvimento com outros;
(i) falta de reciprocidade social e emocional, revelada por uma deficiente resposta ou por resposta desviante às emoções de outras pessoas; e/ou ausência de modulação do comportamento em resposta ao contexto social e/ou fraca integração de comportamentos sociais, emocionais e de comunicação.

3.3. Comunicação

Para as crianças com perturbações do espectro do autismo, o uso da linguagem com finalidade de comunicar está gravemente afectado. Grande parte destas crianças não desenvolve funções comunicativas, o que resulta em interacções sociais comunicativas limitadas.
A comunicação e a linguagem. Kanner assinalou um conjunto de deficiências e alterações ao nível da comunicação e da linguagem das crianças autistas, destacando algumas características como o uso de uma linguagem pouco relevante e metafórica ecolalia, a inversão do pronome pessoal e a falta de atenção dada à linguagem.
Características gerais neste domínio
(a) Atraso, ou ausência total, de desenvolvimento da linguagem oral (não acompanhada de tentativas para compensar através de modos de alternativos de comunicação, tal como gestos ou mímica);
(b) nos sujeitos com um discurso adequado, uma acentuada incapacidade na competência para iniciar ou manter uma conversação com os outros;
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática;
(d) ausência de jogo realista espontâneo, variado, ou de jogo social imitativo adequado ao nível de desenvolvimento;
(e) atraso, ou total ausência, de linguagem oral, não acompanhado por tentativas para compensar através do recurso a gestos ou a mímica, como formas alternativas de comunicação (frequentemente precedidos por ausência de balbucios com intenção de comunicar);
(f) incapacidade relativa para iniciar ou manter uma conversação (independentemente dos níveis de competência linguística do sujeito), não se verificando reciprocidade nem reacção à comunicação por parte de outras pessoas;
(h) uso estereotipado e repetitivo da linguagem e/ou uso idiossincrático de palavras ou de expressões;
(i) volume de voz, entoação, velocidade, ritmo e acentuação anormais;
(j) ausência de jogo realista variado e espontâneo, ou quando o sujeito é muito novo de jogo social imitativo.

3.4. Autonomia

A qualidade de vida da criança autista pressupõe um direito inalienável a que todo o ser humano deve ter direito, possibilitando-lhe a capacidade de viver a sua vida da forma mais autónoma possível, o que implica a capacidade de eleger e tomar as suas próprias decisões (Gómez, 2008 citado por FOLGADO, 2013).
De acordo com Luckasson et al (2002, citada por Lamoureux-Hébert e Morin, 2009), os apoios individualizados apropriados podem melhorar o funcionamento e reduzir a incapacidade dos indivíduos.
Também Thompson et al (2004, citado por Lamoureux-Hébert et al., 2009) advertem que os apoios necessários dependem do número e da complexidade das actividades em que os sujeitos estão envolvidos e dos padrões de vida, da saúde física e mental e do nível de desenvolvimento intelectual.
A incapacidade deve ser vista como o resultado da interacção do indivíduo com o meio onde se encontra inserido devendo este oferecer condições de aproveitamento dentro das limitações funcionais da pessoa, através de meios de que necessita (Santos & Morato, 2007 citado por FOLGADO, 2013).
Segundo Folgado (2013) nesta perspectiva plural de encarar o sujeito com necessidades educativas especiais, persiste a existência de articulação entre as reais necessidades do indivíduo e a prestação de apoios adequados para que seja capaz de melhorar as suas capacidades funcionais. Verifica-se, por isso, a necessidade de equipas multidisciplinares na avaliação e na determinação das áreas das suas necessidades realizadas através de avaliações neurológicas, psiquiátricas, sociais e educacionais, através de procedimentos de medição do funcionamento intelectual e das competências adaptativas, nomeadamente, a nível social (Fonseca, 1995, citado por Santos e Morato, 2002).
Nesta perspectiva, consideramos pertinente reflectir sobre o comportamento adaptativo na criança autista, ou seja, o conjunto de habilidades conceptuais, sociais, e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às exigências da vida quotidiana, uma vez que as limitações nestas habilidades podem prejudicar o indivíduo na sua relação com o ambiente e dificultar a interacção e a integração social. Sendo o comportamento adaptativo definido como o conjunto de habilidades conceptuais, sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às exigências da vida quotidiana, as limitações nestas habilidades podem prejudicar o indivíduo na sua relação com o ambiente e dificultar a interacção e a integração social (Mundy et al., 2007).

3.5. Motricidade

No que concerne ao desenvolvimento da psicomotricidade, Candeias (1993) defende que as crianças autistas apresentam alterações tónicas posturais e psicomotoras, referindo que denotam a falta de atitude antecipadora perante a aproximação materna, patente no facto de não estenderem os braços para a mãe. Por outro lado não parece ocorrer ajustamento corporal bebé-mãe, sendo notória a sua hipotonia quando se lhes pega ao colo. Este facto parece denotas a presença de um atraso considerável no que concerne ao desenvolvimento cognitivo do sujeito

3.6. Domínio Sensorial

Nas crianças autistas, também ao nível dos aspectos sensoriais se verifica um certo paralelismo entre as manifestações da Perturbação Autista e da Síndrome de Asperger, pelo que serão descritas de forma indeterminada (SOUSA & SANTOS, s/d).
Aarons e Gittens (1992) defendem que a percepção e o reconhecimento do estímulo visual constitui uma das áreas de capacidade nas crianças autistas, constatando-se a sua frequente habilidade em fazer coincidir formas e na elaboração de puzzles.
Outro aspecto importante é a sua aparente hipersensibilidade ou hiposensibilidade a tipos de estímulos específicos, podendo exprimir-se através de comportamentos agressivos (DUNLAP, PIERCE & KAY, 1999). É, ainda apontada a aparente “(…) preferência das pessoas com autismo para os receptores proximais, tacto, olfacto, etc.” (PEREIRA, 1996:78), dependendo mais da actividade perceptiva que da análise perceptiva.
De forma resumida (SOUSA & SANTOS, s/d) dizem que os autistas apresentam determinadas manifestações que levam a considerar a existência de perturbações a nível da percepção, algo que parece imprimir alterações significativas no mundo sensorial destes indivíduos.

3.7. Domínio Cognitivo

No aspecto cognitivo, uma dificuldade com que se deparam as crianças autistas mais aptas é a sua inabilidade para generalizar. Aarons e Gittens (1992) referem que elas até podem saber o que fazer e como agir numa determinada situação, contudo são incapazes de usar essa experiência e de a adaptar quando uma nova situação surge. Essa capacidade de generalizar estender-se-á a toas as áreas da vida diária, em níveis de dificuldades acentuadas. À medida que as crianças autistas vão crescendo, torna-se possível ensinar-lhe estratégia de coping para situações novas; contudo “(…) elas permanecerão vulneráveis por ser impossível ensinar capacidades adaptativas para todas as alterações e variações que são parte da vida diária.” (AARONS & GITTENS, 1992:38).
Quanto à formação de conceitos, Aarons e Gittens (1992) apontam o facto das crianças autistas aprenderem na ausência de compreensão, para que o conhecimento que aparentemente possuem não possa ser utilizado e generalizado, tal como se esperaria numa criança normal.
Entretanto, as crianças autistas, de um modo geral, possuem perturbações de índole cognitiva. A maioria denota défices no âmbito da aprendizagem, da formação de conceitos e da imaginação. Por outro lado, o nível de inteligência parece não evoluir com a idade, enquadrando-se frequentemente nos casos de atrasos severos ou ligeiros (PEREIRA, 1996), enquanto concomitantemente apresentam uma rigidez peculiar de pensamento e comportamento, acompanhada de uma pobreza imaginativa (FRITH, 1996; JORDAN & POWELL, 1995).


4. Conclusão

Compreendeu-se neste trabalho que o autismo é uma das mais graves perturbações do desenvolvimento que pode afectar o ser humano. No entanto, proporcionar às crianças com autismo oportunidades de conviver com outras da mesma faixa etária faculta o estímulo às suas capacidades interactivas, coibindo o isolamento contínuo. Pensamos nós que, possibilidade de interacção com pares é a base para o seu desenvolvimento, assim como para o de qualquer outra criança. Desse modo, acredita-se que a convivência compartilhada da criança com autismo na escola, a partir da sua inclusão no ensino comum, possa favorecer os contactos sociais e proporcionar não só o seu desenvolvimento, mas o das outras crianças, na medida em que estas últimas convivam e aprendam com as diferenças.









5. Referência Bibliográfica

AARONS, M. & GITTENS, T. (1992). The handbook of autismo: a guide for parents and professionals. London: Routledge.
CANDEIAS, M. (1993). Autismo: sinais precoces. Fórum Sociológico, 3, 25-31.
CUNNINGHAM, A. (2012). Measuring Change in Social Interaction Skills of Young Children with Autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, 42, 593-605.
FRITH, U. (1996). Autism: Explaining the enigma. Oxford, UK: Blackwell.
FOLGADO, S. B. (2013). A Comunicação e a Interacção na Criança Autista: Um Estudo de Caso. Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Educação Especial – Domínio Cognitivo e Motor.
JORDAN, R. (1995). Understading and teachinh«g children with autism. Chichester: John Wiley & Sons.
LAMOUREUX-HÉBERT, M. & MORIN, D. (2009). Translation and Cultural Adaptation of the Supports Intensity Scale in French. American Association on Intellectual and Developmental Disabilities, 114 (1), 61-66.
PÉREZ, J., GONZÁLEZ, P., COMÍ, M. & NIETO, C. (2007). Early Manifestations of Autistic Spectrum Disorder During the First Two Years of Life. In J. Pérez, P. González, M. Comí & C. Nieto (Eds.), New Developments in Autism (pp. 33-57). London: Jessica Kingsley Publishers.
SIEGEL, B. (2008). O mundo da criança com autismo: Compreender e tratar perturbações do espectro do autismo. Porto: Porto Editora.
SOUSA, P. M. L.; & SANTOS, I. M. S. C. (s/d). Caracterização da síndrome autista.pdf

SOUSA, P. M. L.; & SANTOS, I. M. S. C. (s/d). Como intervir na perturbação autista.pdf